Sua empresa pombo-com
Mário Persona (*)
Colaborador
O jovem
empresário estava empolgado com minha palestra. Queria a todo custo
levar sua empresa para a Internet. Em minha mente, apertei o botão
que levaria nossa conversa ao departamento "Comprando e vendendo na Web".
Mas não pude descer naquele andar. Seu nível de compreensão
estava em outro. Queria minha opinião sobre um curso de informática
que oferecia grátis uma home-page!
Embarquei em direção ao
andar "Criando seu website", mas a porta nem abriu. Agora ele ponderava
que mesmo que tivesse um site, seria impossível visitá-lo,
já que não tinha acesso à Internet. Desci no térreo,
sugerindo que assinasse um provedor de acesso. E ele, gritando do subsolo,
prometeu fazê-lo. Assim que comprasse um computador decente.
Ali estava eu, diante de um pequeno
fabricante de peças para bicicletas, cujo departamento de Tecnologia
da Informação resumia-se a um velho micro 486. Abaixo de
todas as expectativas. No porão da contramão da inovação.
Se continuar assim, dificilmente terá pedal para permanecer no mercado.
Mas é inegável que, neste momento de transição,
ele não está sozinho. Tem mais gente no subsolo.
Nos EUA, 1/3 sem - Uma pesquisa
feita pela UCLA Internet Project revelou que um terço dos norte-americanos
ainda não tem acesso à Internet. E apenas metade já
comprou na Web. Todavia, os usuários de Internet são os que
apresentam um nível financeiro e cultural mais elevado. Gastam e
pensam mais em rede. Talvez por isso nos EUA a publicidade do novo Volvo
S60 sedan seja exclusivamente via Web.
Estes números devem mudar,
pois a popularização da Internet é irreversível.
E ainda que muitos ainda não tenham acesso direto à rede,
os produtos que consomem passaram por ela em sua rota ao longo da cadeia
produtiva. Mas, numa fase de transição, empresas que fornecem
serviços de Internet devem criar rampas de acesso para quem tropeça
nos degraus.
Imagine você criando um site
para intermediar transações de cotação, compra
e venda entre pequenos varejistas e atacadistas. Sua preocupação
inicial será descobrir se mercearias, bares e mercadinhos têm
acesso à Internet, certo? Errado. Poupe sua pesquisa. Eles ainda
não têm. Sua preocupação será atender
essa clientela. No patamar financeiro, tecnológico e cultural em
que se encontram.
Cliente sem Web - Prepare-se
para descer de seu pedestal ponto-com para atender temporariamente um cliente
fax-com. Ou telefone-com. Quem sabe até correio-com. Use a ferramenta
Web como um diferencial seu, mas não faça dela o foco do
seu negócio. Este deve estar concentrado no cliente, o Dito do boteco,
ou o Manoel do mercadinho. Enquanto eles não embarcam no elevador
tecnológico, adapte-se a eles. Se quiser estar no negócio
quando eles conseguirem se adaptar a você.
Talvez você chegue ao extremo
de transformar sua empresa numa pombo-com. Ainda que seja por pouco tempo.
Uma empresa que se sujeita a usar até pombos-correio como meio de
comunicação, se valer a pena conquistar algum cliente columbófilo.
Console-se por não precisar chegar a tambor-com e a fumaça-com,
hoje ambientalmente incorretas.
Em um momento de transição,
sua pombo-com pode voar mais alto e pousar onde seu cliente está.
Com empatia, para não dizer pena. Respeitando sua dificuldade de
comunicação. Fechando o bico quando ele abrir. E abrindo,
quando ele fechar. Mas resolvendo seu problema. À altura de sua
compreensão, de sua cultura, de sua percepção. Apenas
evite tentar vender ao cliente a expressão ponto-com. Com o fracasso
das bolhas virtuais, ela está mais suja que pau de galinheiro. Ou
de pombal.
O velho mais o novo - A embriaguez
internetílica embota nossos sentidos. Nos faz esquecer que correio,
telefone e fax ainda estão no dia-a-dia de muitas empresas. Prejudicando
sua eficiência, é claro. Algumas até entram na Internet
mas insistem em manter seus métodos arcaicos. Entraram no automóvel
sem fechar o guarda-chuva. Adotaram o novo sem abrir mão do velho.
Como uma senhora que conheci, a quem
foi recomendado que comesse açúcar mascavo, além de
pão e arroz integrais, se quisesse emagrecer.
- Estou comendo tudo o que receitou
e continuo engordando - reclamou ela ao guru nutricionista.
- Impossível! - contestou
ele - A substituição do alimento refinado pelo integral faz
perder peso.
- Era para substituir?!
(*) Mário
Persona é diretor de comunicação da Widesoft,
que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos
via Internet, editor da Widebiz
Week e moderador da lista de debates
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