Férias frustradas na Internet
Mário Persona (*)
Colaborador
Era para
ser pura diversão. Entretenimento. Satisfação a cada
clique. A única frustração ficava por conta do modem,
da velocidade de conexão, ou das linhas ocupadas. Nada que não
pudesse ser resolvido pela tecnologia. Surfar, visitar, comprar. Férias
de verdade. Desligar-se do mundo real e viajar pelo virtual. Apertando
só os cintos do cartão de crédito.
Era tudo isso que a Web prometia. Todavia,
para muitos, as férias virtuais acabaram frustradas. O parque estava
fechado. O site era complicado. Você pagou e a compra não
chegou. Ou nem comprou, e a loja debitou. Começamos a sentir os
efeitos do mau atendimento na rede. Desvirtuaram o virtual.
Alto risco - Frustração
é um perigo para a empresa hoje. Porque na rede o cliente tem poder.
Adquiri um e-book de uma empresa americana, que continuou debitando 17
dólares de meu cartão nos três meses após a
compra. Fiquei frustrado. Frustração transformada em um e-mail
para uma lista de discussão de negócios, a I-Sales. Que virou
um tema que agora é acompanhado pelas 16 mil pessoas, de 70 países,
que participam da lista.
Um cliente frustrado pode ser um
pesadelo para qualquer negócio na Web. Seu poder de comunicação
pode ser maior que o de muitas emissoras de TV. Porque e-mails, correntes
e todos os tipos de mensagem continuam correndo a Internet anos depois
de geradas. Ou você nunca recebeu a corrente da menininha doente?
Apesar de todo o poder do e-mail,
é incrível que as empresas explorem tão pouco esta
ferramenta. Quando o fazem, é para algum tipo de spam ou propaganda
inoportuna. Mas, no atendimento ao cliente, muitas ficam a dever. Como
revelam as pesquisas feitas pelo Yankee Group, Gartner Group, Rainier Communications
e Forrester Research.
Máquinas - Vinte e
três das cem maiores empresas dos Estados Unidos não podem
ser acessadas via e-mail a partir de seus web sites. Apenas
30% das empresas pesquisadas respondem e-mails em 24 horas. E muitas
delas usam autoresponders, serviços de resposta automática.
Sem qualquer envolvimento humano.
Devem ter se acostumado com o que
já faziam por telefone. Atendimentos automáticos repetindo
com voz de lata, "Vendas, disque 2", "Compras, disque 3", "Reclamações...".
A cada número, a árvore de possibilidades vai se desdobrando.
Se você tomar o caminho errado, precisará desligar e discar
de novo. Se conseguir linha. O telefone não tem tecla "Voltar".
Pela sua própria natureza,
os negócios na Web já pecam pela falta do elemento humano.
Daí a necessidade de carregar no relacionamento por e-mail ou chat.
As mesmas pesquisas revelaram que dois terços dos compradores em
sites de e-commerce interrompem o processo da compra por falta de ajuda
humana. E os 50 maiores sites de e-commerce receberam notas baixas quando
o assunto foi o relacionamento com o cliente.
Um e-mail não respondido pode
destruir a confiança que você demorou para construir. Um cliente
sem resposta é um cliente ofendido. Você mostrou que não
se interessa pelo problema dele. Se a primeira impressão é
a que fica, no atendimento ficam todas elas. Principalmente a última.
Necessidade - Algumas empresas
esperam o circo pegar fogo antes de dar uma satisfação ao
cliente. Preferem investir em uma boa brigada contra incêndio para
resolver frustrações. Acham mais barato indenizar alguns
que chegam às vias de fato, do que investir em um procedimento do
tipo ombro amigo.
Por mais automatizado que seja um
processo, existe sempre um ponto onde a presença humana - real ou
virtual - é indispensável. É preciso responder sempre.
Se usar um autoresponder, que seja apenas para dizer que a mensagem foi
recebida e que um ser humano de carne e ossos estará retornando.
Robôs não servem para relacionamentos duradouros. Só
para perdidos no espaço.
Ninguém de sã consciência
instalaria um sistema de resposta automática no interfone de sua
casa, como costuma fazer com o telefone da empresa. Porque na vida "civil",
acreditamos que relacionamentos acontecem entre pessoas. Alguém
precisa atender a porta. Por isso se chama atendimento. Imagine alguém
tocar a campainha de sua casa e o interfone responder: "Pedido de esmolas,
tecle 1", "Venda de rifas, tecle 2", "Pesquisa do Censo, tenho três
filhos, uma geladeira, duas caixas d'água...".
(*) Mário
Persona é diretor de comunicação da Widesoft,
que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos
via Internet, editor da Widebiz
Week e moderador da lista de debates
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