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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 10/19/00 15:46:56
A roleta está ruça 

Mário Persona (*)
Colaborador

O cassino fechou. A roleta parou. A bolinha sapeca já não atrai a ganância. Não se discute mais quem irá apagar a luz. Foi cortada por falta de pagamento. Não fizeram suas apostas, senhores? Então, mixou a chance de ganhar e perder no mundo virtual. Para quem apostou às cegas, a coisa ficou ruça.
O oráculo da Oracle, Larry Ellison, vaticina o fim do cassino Web. Quem insistir no velho cassino da Nova Economia irá passar do poker para o buraco. Sorry, periferia, mas só ficam os grandes. No segundo plano das segundas intenções a música bem pode ser, "liga pra mim, não liga pra eles..." Porque as apostas continuam. Só que os melhores lances acontecem no golfe.

Microsoft, Intel, Cisco e Dell, a geração do PC, reinou numa bolsa para poucos. Antes das ponto-com de garagem lava-rápido. E bota rápido nisso! Quem lavou, lavou, quem não lavou, não lava mais. Hoje as apostas escorrem para a Oracle, Sun, EMC e Cisco. Mudam os players, mas a especulação permanece. Aposta-se agora no computador do futuro. De "personal computer" para "network computer". E gira a roleta. Da qual o cidadão comum só vê cotovelos.

Opções - Em que negócio investir? - ecoa a pergunta mais frequente hoje no Vale do Silicone, tradução ruim em revista tupiniquim. Criar sites de informação? Não. Grandes jornais e revistas ainda esperam sentados na boca de uma cornucópia de informação grátis sem saber de onde vão tirar. Investiram na mídia sem papel. Papel moeda.

Informação tem demais. Falta conhecimento. Tutano. Aquela sacada de mestre. O Wall Street Journal enxergou isso e já fatura. Vende informação oportuna para investidores abonados. Que compram para ganhar mais ou perder menos. Dê a um homem um peixe, e você mata sua fome. Ensine-o a pescar e você cria mercado para varas, anzóis, redes e motores de popa.

Conhecimento e comércio, é dobradinha que funciona em vendas virtuais. Lojas vazias proliferam na Web. Porque está mais fácil abrir uma loja virtual. E fechar também. Mas o verbo vender agora inclui ensinar, atender, empacotar e entregar. Nessa arena concorrem grandes e pequenos. Graças aos nichos ainda inexplorados.

Investir em nichos é não fazer o que já foi feito. Fazer o oposto daqueles que querem lançar um novo site de busca. Um serviço que ainda pode perder a razão de ser, quando cada micro conseguir xeretar com segurança o que há em cada outro micro na rede. Algo como um pier-to-pier de buscas.

Tamanho do portal - Há quem ainda pensa em criar um portal. Para ser maior que o do slogan "o maior conteúdo da Internet". Uma incoerência. Um conjunto menor não pode conter um maior. Não pode haver na Internet um conteúdo maior que a Internet. Ganha-se com a ignorância dos inexperientes. Mas, diz um provérbio russo que você pode seguir em frente mentindo. Só não pode voltar.

Quando ouço falar em portal, penso nos velhos portões da escola onde fiz o primário. O prédio virou biblioteca e o espaço integrou-se com a praça. Permanecem os portões de ferro, equilibrados entre muros que já não existem. Aquilo que dava passagem, hoje a restringe. E desperta a curiosidade: "Mãe, por que puseram um portão aqui se a gente pode entrar pelo lado?"

Mas enquanto existir quem escolha provedor de acesso pelo jornal que este oferece haverá clientes para portais. Que não sabem que há centenas de jornais escancarados por toda a Web. Talvez seja por isso que a famosa série de livros "for Dummies", traduzidos aqui como "para Leigos" para amenizar a burrice, nunca tenha publicado "Portals for Dummies". Seria redundância.

Mas não se desespere. Não acredito que tenha acabado sua chance de lucrar na Web. O que acabou foi o cassino. O jogo com dados com meia dúzia de seis. Quando Serra Pelada acabou, não foi o fim do negócio do ouro. Ele continua, com menos riscos, mas não menos rico. Já na Serra virtual, pelado ficou o investidor que apostou e não viu a cor do ouro. Só resta se consolar com o sorriso do pupilo investido. Amarelo.

(*) Mário Persona é diretor de comunicação da Widesoft, que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos via Internet, editor da Widebiz Week e moderador da lista de debates Widebiz.