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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 09/25/00 17:29:58
Percepção do mercado 

Mário Persona (*)
Colaborador

O que os seus clientes pensam de sua marca? Não perguntei o que você vende ou quer vender. Negócios são relacionamentos entre pessoas. Eventualmente elas trocam algo, que não precisa ser necessariamente um bem tangível. O produto não é tão importante quanto o efeito que a sua marca causa nas pessoas. É a percepção delas que conta. De uma maneira geral, seus clientes sempre irão querer suprir suas necessidades básicas, sentir prazer ou alcançar status. Comprarão se perceberem isso em seus produtos.
Um grande fabricante de canetas descartáveis teve uma experiência desastrosa quando tentou vender perfumes. A percepção que o mercado tinha de sua marca era de algo barato e descartável. Foi um erro não entender isso. Se a caneta podia ser jogada fora quando terminasse a tinta, as pessoas não iriam querer ser descartadas quando acabasse a fragrância. Gastaram milhões tentando mudar a percepção que o mercado tinha da marca. Se ao menos o diretor de marketing tivesse consultado a esposa...

Tudo isso é potencializado quando os clientes são jovens ou adolescentes. Um mercado que exige um apurado senso do comportamento do jovem. Principalmente do seu humor. Ou falta dele. O jovem é especialmente sensível e, com freqüência, guiado por paixões impetuosas. Munido de um cartão de crédito, pode se transformar no pesadelo dos pais. Ou no sonho de quem vende, se este souber fazer sua marca soar em uníssono com a percepção que o jovem tem dela.

Cabeça jovem - É interessante conhecer o resultado de uma pesquisa feita pela empresa www.Look-Look.com com pessoas de quatorze a trinta anos de idade. Quais as dez coisas que os jovens mais desejavam conhecer? Encabeçando a lista estão diferentes idiomas e culturas. Se o ser humano é gregário, o jovem é gregário ao quadrado. Gosta de fazer amizades, conhecer pessoas e lugares. Principalmente pessoas. Mas basta uma espinha aparecer na testa e o jovem vira eremita. Continua querendo conhecer pessoas e lugares, mas sem coragem de sair da caverna.

Em segundo lugar na pesquisa aparece o desejo que o jovem tem de conhecer tudo sobre computadores, tecnologia e hacking. Um resultado que complementa a necessidade número um, de aprender idiomas para conhecer pessoas e lugares. Aqui ele quer conhecer o veículo tecnológico que lhe permitirá viajar, conhecer e comprar, sem revelar as espinhas. É natural que o jovem queira explorar e dissecar os lugares por onde pretenda viajar na rede etérea. Daí o interesse por hacking. Estar lá sem ser notado e ver sem ser visto. Uma versão cibernética do buraco da fechadura.

A influência da rede na população mais jovem ficou ainda mais evidente quando perguntaram quais equipamentos e tecnologias despertavam o interesse do jovem. Em primeiro lugar ficou o computador, seguido de dispositivos de Internet sem fio. As motos, coqueluche dos jovens do meu tempo, aparecem em oitavo lugar. Na época eram elas que simbolizavam a liberdade de viajar, conhecer pessoas e lugares. Hoje se viaja sem despentear o cabelo.

Na Rede - É importante perceber que tudo aponta para a Rede. Como conquistar este mercado vasto e inquieto é um desafio. Quem conseguir criar algo que gere, no jovem, uma percepção que atenda a seus anseios terá um negócio vencedor. Mas é preciso ter a ótica do jovem. Entendê-lo. Falar como ele fala. Enxergar como ele enxerga. É mais inspiração do que transpiração. Mas tentar agradar o jovem dentro de sua própria ótica nem sempre é o caminho mais fácil. Se você não consegue agradar sua filha adolescente, como acha que irá agradar um batalhão de iguais?

Alguém sugeriu que as empresas deveriam contratar crianças, e deixar que elas indicassem como um produto poderia ser usado. Deixando que sua ótica e linguagem próprias traduzissem seus benefícios. E usassem isso, sem tirar nem por. Para evitar o que aconteceu com aquele vendedor, o Paiva, ao chegar nos Estados Unidos. Foi só entregar um cartão com seu nome, "Mr. Paiva", para o americano pronunciar "Peiva". Como queria agradar o cliente, o jeito foi mandar fazer um novo cartão escrito "Mr. Peiva". O primeiro americano que leu chamou-o de "Piva". O Paiva imprimiu novos cartões, agora com "Mr. Piva", achando que era assim que os clientes gostariam de chamá-lo. A partir daí todos passaram a chamá-lo de "Paiva".

(*) Mário Persona é diretor de comunicação da Widesoft, que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos via Internet, editor da Widebiz Week e moderador da lista de debates Widebiz.