Percepção do mercado
Mário Persona (*)
Colaborador
O que os
seus clientes pensam de sua marca? Não perguntei o que você
vende ou quer vender. Negócios são relacionamentos entre
pessoas. Eventualmente elas trocam algo, que não precisa ser necessariamente
um bem tangível. O produto não é tão importante
quanto o efeito que a sua marca causa nas pessoas. É a percepção
delas que conta. De uma maneira geral, seus clientes sempre irão
querer suprir suas necessidades básicas, sentir prazer ou alcançar
status.
Comprarão se perceberem isso em seus produtos.
Um grande fabricante de canetas descartáveis
teve uma experiência desastrosa quando tentou vender perfumes. A
percepção que o mercado tinha de sua marca era de algo barato
e descartável. Foi um erro não entender isso. Se a caneta
podia ser jogada fora quando terminasse a tinta, as pessoas não
iriam querer ser descartadas quando acabasse a fragrância. Gastaram
milhões tentando mudar a percepção que o mercado tinha
da marca. Se ao menos o diretor de marketing tivesse consultado a esposa...
Tudo isso é potencializado
quando os clientes são jovens ou adolescentes. Um mercado que exige
um apurado senso do comportamento do jovem. Principalmente do seu humor.
Ou falta dele. O jovem é especialmente sensível e, com freqüência,
guiado por paixões impetuosas. Munido de um cartão de crédito,
pode se transformar no pesadelo dos pais. Ou no sonho de quem vende, se
este souber fazer sua marca soar em uníssono com a percepção
que o jovem tem dela.
Cabeça jovem - É
interessante conhecer o resultado de uma pesquisa feita pela empresa www.Look-Look.com
com pessoas de quatorze a trinta anos de idade. Quais as dez coisas que
os jovens mais desejavam conhecer? Encabeçando a lista estão
diferentes idiomas e culturas. Se o ser humano é gregário,
o jovem é gregário ao quadrado. Gosta de fazer amizades,
conhecer pessoas e lugares. Principalmente pessoas. Mas basta uma espinha
aparecer na testa e o jovem vira eremita. Continua querendo conhecer pessoas
e lugares, mas sem coragem de sair da caverna.
Em segundo lugar na pesquisa aparece
o desejo que o jovem tem de conhecer tudo sobre computadores, tecnologia
e hacking. Um resultado que complementa a necessidade número
um, de aprender idiomas para conhecer pessoas e lugares. Aqui ele quer
conhecer o veículo tecnológico que lhe permitirá viajar,
conhecer e comprar, sem revelar as espinhas. É natural que o jovem
queira explorar e dissecar os lugares por onde pretenda viajar na rede
etérea. Daí o interesse por hacking. Estar lá
sem ser notado e ver sem ser visto. Uma versão cibernética
do buraco da fechadura.
A influência da rede na população
mais jovem ficou ainda mais evidente quando perguntaram quais equipamentos
e tecnologias despertavam o interesse do jovem. Em primeiro lugar ficou
o computador, seguido de dispositivos de Internet sem fio. As motos, coqueluche
dos jovens do meu tempo, aparecem em oitavo lugar. Na época eram
elas que simbolizavam a liberdade de viajar, conhecer pessoas e lugares.
Hoje se viaja sem despentear o cabelo.
Na Rede - É importante
perceber que tudo aponta para a Rede. Como conquistar este mercado vasto
e inquieto é um desafio. Quem conseguir criar algo que gere, no
jovem, uma percepção que atenda a seus anseios terá
um negócio vencedor. Mas é preciso ter a ótica do
jovem. Entendê-lo. Falar como ele fala. Enxergar como ele enxerga.
É mais inspiração do que transpiração.
Mas tentar agradar o jovem dentro de sua própria ótica nem
sempre é o caminho mais fácil. Se você não consegue
agradar sua filha adolescente, como acha que irá agradar um batalhão
de iguais?
Alguém sugeriu que as empresas
deveriam contratar crianças, e deixar que elas indicassem como um
produto poderia ser usado. Deixando que sua ótica e linguagem próprias
traduzissem seus benefícios. E usassem isso, sem tirar nem por.
Para evitar o que aconteceu com aquele vendedor, o Paiva, ao chegar nos
Estados Unidos. Foi só entregar um cartão com seu nome, "Mr.
Paiva", para o americano pronunciar "Peiva". Como queria agradar o cliente,
o jeito foi mandar fazer um novo cartão escrito "Mr. Peiva". O primeiro
americano que leu chamou-o de "Piva". O Paiva imprimiu novos cartões,
agora com "Mr. Piva", achando que era assim que os clientes gostariam de
chamá-lo. A partir daí todos passaram a chamá-lo de
"Paiva".
(*) Mário
Persona é diretor de comunicação da Widesoft,
que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos
via Internet, editor da Widebiz
Week e moderador da lista de debates
Widebiz. |