Web-pêsames
Mário Persona (*)
Colaborador
Se você
é daquelas pessoas que costumam babar lendo notícias trágicas,
sugiro uma visita a www.dotcomfailures.com.
Mas não se anime. O sangue não vai jorrar de seu monitor.
As vítimas ali são empresas ponto-com, em fase terminal ou
mortas. E expostas aos pontapés críticos dos visitantes.
O slogan do site é "Kick'em while they're down". Uma tradução
alternativa seria, "desce a lenha porque essas não podem se defender".
Outra mostra da desgraça alheia
está em www.upside.com/graveyard,
um obituário de empresas como Reel.com, site de cinema cuja sétima
arte foi gastar 90 milhões
de dólares em três
anos. Ou a Boo.com, empresa que vendia roupas e torrou 120 milhões
em apenas seis meses, ficando com uma mão na frente e outra atrás.
A ToyTime.com saiu da brincadeira publicando em seu finado site uma patética
mensagem de agradecimento aos investidores e clientes: "Jamais teríamos
conseguido sem a sua ajuda".
Quando mostrar milionários
ponto-com atraía público, não faltava combustível
para a imprensa. A sensação era de que havia sido revogado
tudo o que aprendemos sobre economia, retorno de investimento, lucro e
coisas semelhantes. Inaugurava-se uma era em que cachorros virtuais eram
amarrados com linguiças reais, e não causava surpresa alguém
como Stuart Skolman, fundador da Reel.com, declarar, "Lucro? Você
está brincando? Estamos funcionando em modo Amazon.com!".
Na real - Mas o mundo virtual
caiu na real, e chegou a vez da imprensa anunciar a morte das outrora promissoras
empresas virtuais. Uma carnificina que não poupou nem o site da
APB Online Inc., especializado em noticiar crimes hediondos. Segundo o
DotComFailures, a empresa gastou 30 milhões de dólares até
ser vendida por meros 575 mil. Definitivamente, o crime não compensa.
Mas nem todos saíram perdendo.
Enquanto há vida, há esperança, e agora são
os serviços de consultoria que estão ganhando, na tentativa
de salvar empresas moribundas. É o caso de Jakob Nielsen, um especialista
em usabilidade que, segundo o The
Guardian, costumava cobrar dez mil dólares por dia para
apontar falhas em sites. Com a epidemia de fracassos no auge, a demanda
por serviços dessa natureza aumentou, e agora Nielsen pode ser contratado
pela bagatela de 20 mil dólares diários.
A morte de empresas nunca foi novidade.
Diariamente milhares fecham suas portas, sem merecer uma linha sequer nas
manchetes dos jornais. Apenas uma fração muito pequena das
empresas, virtuais ou não, consegue chegar ao seu primeiro ano de
vida. Ultrapassar os cinco anos já é uma façanha.
E um nadinha dessa parcela consegue entrar para o clube das milionárias
ponto-sem ou ponto-com.
O que causou sensação
mesmo foi o volume de dinheiro envolvido na febre digital. Nunca se pagou
tanto por tanta coisa nenhuma. Acabada a pujança irreal, grandes
empresas continuarão sendo notícia quando nascerem ou morrerem.
E pequenas empresas só voltarão a aparecer nas manchetes
quando estiverem envolvidas nos escândalos das grandes empresas.
Pequenos, sim - "Para seus
diferentes propósitos, o homem necessita de várias estruturas
diferentes, algumas pequenas, outras grandes... para o trabalho construtivo
a meta é sempre buscar a restauração de algum tipo
de equilíbrio. Hoje sofremos de uma idolatria quase universal do
gigantismo. Portanto, é necessário insistir nas virtudes
da pequenez, onde esta for aplicável", escreveu E. F. Schumacher
em "Small is Beautiful", um best-seller na década de setenta.
Muitas das grandes empresas que conhecemos
hoje começaram pequenas. Por isso, apesar de tantas mortes virtuais,
empreendimentos sérios continuarão sendo viáveis.
Mesmo que não tenham tido chance de participar do breve show do
milhão que a ilusória caixa de pandora ponto-com alardeou.
É claro que precisarão ter mais do que um belo plano de negócios
para sobreviver. Ou encontrarão o mesmo fim do site de decoração
Living.com, cuja notícia da falência criou uma situação
insólita: "The Living.com is Dead".
Esta e outras empresas morreram simplesmente
porque jamais poderiam sobreviver lucrativas. Nem no mundo virtual, nem
no convencional. Morreram por pensar que uma idéia inédita
era suficiente para se ganhar milhões. Se uma idéia inédita
servir para alguma coisa, é provável que alguém ainda
venha a explorar o constrangimento causado pela onda de mortes digitais,
lançando um serviço de Disk-WebFinados. Você liga e
ouve um minuto de silêncio.
(*) Mário
Persona é diretor de comunicação da Widesoft,
que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos
via Internet, editor da Widebiz
Week e moderador da lista de debates
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