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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 09/25/00 17:20:48
Web-pêsames 

Mário Persona (*)
Colaborador

Se você é daquelas pessoas que costumam babar lendo notícias trágicas, sugiro uma visita a www.dotcomfailures.com. Mas não se anime. O sangue não vai jorrar de seu monitor. As vítimas ali são empresas ponto-com, em fase terminal ou mortas. E expostas aos pontapés críticos dos visitantes. O slogan do site é "Kick'em while they're down". Uma tradução alternativa seria, "desce a lenha porque essas não podem se defender".
Outra mostra da desgraça alheia está em www.upside.com/graveyard, um obituário de empresas como Reel.com, site de cinema cuja sétima arte foi gastar 90 milhões
de dólares em três anos. Ou a Boo.com, empresa que vendia roupas e torrou 120 milhões em apenas seis meses, ficando com uma mão na frente e outra atrás. A ToyTime.com saiu da brincadeira publicando em seu finado site uma patética mensagem de agradecimento aos investidores e clientes: "Jamais teríamos
conseguido sem a sua ajuda".

Quando mostrar milionários ponto-com atraía público, não faltava combustível para a imprensa. A sensação era de que havia sido revogado tudo o que aprendemos sobre economia, retorno de investimento, lucro e coisas semelhantes. Inaugurava-se uma era em que cachorros virtuais eram amarrados com linguiças reais, e não causava surpresa alguém como Stuart Skolman, fundador da Reel.com, declarar, "Lucro? Você está brincando? Estamos funcionando em modo Amazon.com!".

Na real - Mas o mundo virtual caiu na real, e chegou a vez da imprensa anunciar a morte das outrora promissoras empresas virtuais. Uma carnificina que não poupou nem o site da APB Online Inc., especializado em noticiar crimes hediondos. Segundo o DotComFailures, a empresa gastou 30 milhões de dólares até ser vendida por meros 575 mil. Definitivamente, o crime não compensa.

Mas nem todos saíram perdendo. Enquanto há vida, há esperança, e agora são os serviços de consultoria que estão ganhando, na tentativa de salvar empresas moribundas. É o caso de Jakob Nielsen, um especialista em usabilidade que, segundo o The Guardian, costumava cobrar dez mil dólares por dia para apontar falhas em sites. Com a epidemia de fracassos no auge, a demanda por serviços dessa natureza aumentou, e agora Nielsen pode ser contratado pela bagatela de 20 mil dólares diários.

A morte de empresas nunca foi novidade. Diariamente milhares fecham suas portas, sem merecer uma linha sequer nas manchetes dos jornais. Apenas uma fração muito pequena das empresas, virtuais ou não, consegue chegar ao seu primeiro ano de vida. Ultrapassar os cinco anos já é uma façanha. E um nadinha dessa parcela consegue entrar para o clube das milionárias ponto-sem ou ponto-com.

O que causou sensação mesmo foi o volume de dinheiro envolvido na febre digital. Nunca se pagou tanto por tanta coisa nenhuma. Acabada a pujança irreal, grandes empresas continuarão sendo notícia quando nascerem ou morrerem. E pequenas empresas só voltarão a aparecer nas manchetes quando estiverem envolvidas nos escândalos das grandes empresas.

Pequenos, sim - "Para seus diferentes propósitos, o homem necessita de várias estruturas diferentes, algumas pequenas, outras grandes... para o trabalho construtivo a meta é sempre buscar a restauração de algum tipo de equilíbrio. Hoje sofremos de uma idolatria quase universal do gigantismo. Portanto, é necessário insistir nas virtudes da pequenez, onde esta for aplicável", escreveu E. F. Schumacher em "Small is Beautiful", um best-seller na década de setenta.

Muitas das grandes empresas que conhecemos hoje começaram pequenas. Por isso, apesar de tantas mortes virtuais, empreendimentos sérios continuarão sendo viáveis. Mesmo que não tenham tido chance de participar do breve show do milhão que a ilusória caixa de pandora ponto-com alardeou. É claro que precisarão ter mais do que um belo plano de negócios para sobreviver. Ou encontrarão o mesmo fim do site de decoração Living.com, cuja notícia da falência criou uma situação insólita: "The Living.com is Dead".

Esta e outras empresas morreram simplesmente porque jamais poderiam sobreviver lucrativas. Nem no mundo virtual, nem no convencional. Morreram por pensar que uma idéia inédita era suficiente para se ganhar milhões. Se uma idéia inédita servir para alguma coisa, é provável que alguém ainda venha a explorar o constrangimento causado pela onda de mortes digitais, lançando um serviço de Disk-WebFinados. Você liga e ouve um minuto de silêncio.

(*) Mário Persona é diretor de comunicação da Widesoft, que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos via Internet, editor da Widebiz Week e moderador da lista de debates Widebiz.