Cientistas brasileiros criam carro
a hidrogênio
Pesquisadores apoiados pelo
Cietec também desenvolvem um scanner 3D
Com o
auxílio do Centro Incubador de Empresas Tecnológicas de São
Paulo (Cietec), situado
no campus da Cidade Universitária em São Paulo (USP), cientistas
nacionais estão desenvolvendo novas tecnologias de alto nível,
como sistemas de controle da célula do combustível que viabilizam
um carro que não polui o ar: movido a hidrogênio, produz apenas
vapor d'água como resíduo.
O projeto é de autoria do
engenheiro eletrônico Gilberto Janólio e do engenheiro químico
Gerhard Ett, que são sócios da Eletrocell, empresa incubada
no Cietec, que recebe apoio para se lançar no mercado. Os cientistas
estão criando hardware e software específicos para controlar
o funcionamento de todos os componentes da célula combustível
(uma espécie de pilha), coração do novo motor.
As pesquisas dos dois brasileiros
já atraíram a atenção de uma multinacional
que desenvolve o novo automóvel. A empresa, que por enquanto prefere
não ser identificada, tem planos de terceirizar parte da sua futura
produção na América Latina. Veículos experimentais
movidos a hidrogênio já circulam em alguns países e
a empresa Daimler-Chrysler prevê lançar seu primeiro automóvel
com essa tecnologia em 2003. Também a Toyota, a General Motors,
a Renault e a Ford trabalham em veículos desse tipo.
"O carro a hidrogênio não
polui o meio ambiente, porque não queima combustível. Seu
motor gera energia elétrica do hidrogênio por meio de reações
químicas limpas.", explica Janólio. O automóvel conta
com uma célula combustível (espécie de pilha) que
combina átomos de hidrogênio e de oxigênio, gerando
energia por corrente elétrica e vapor d'água como resíduo.
Por fazerem parte do Cietec, os dois cientistas tiveram acesso aos dados
de pesquisa do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen)
e da Universidade de São Paulo (USP). "Avançamos muito graças
à troca de experiências com os pesquisadores do IPEN que trabalham
com células combustíveis", diz Ett.
Scanner 3D - Além
da Electrocell (empresa pesquisadora da célula do combustível),
o Cietec abriga outras 14 empresas, que contribuem no mercado brasileiro
com propostas bastante inovadoras em pesquisas para produtos com alta tecnologia
de diversas áreas. A Tecnolab é outro exemplo de empresa,
que com o apoio do Cietec, conseguiu ser pioneira no mundo ao desenvolver
um scanner magnético que localiza e dá a dimensão
de objetos metálicos inseridos em qualquer material não metálico.
A tecnologia torna possível ver através do concreto, indicando
se a estrutura de ferro de construções está em boas
condições. O projeto é de autoria do engenheiro mecânico
Isaac Newton da Silva e do químico Kenneth Armstrong.
A Lasertools é outro exemplo
de empresa que se solidifica no mercado atuando no corte, solda, marcação
e tratamento térmico de materiais duros, feitos a laser. O ex-diretor
do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares da USP, Afonso
Morato Penha, é especializado em laser e vendeu o projeto de rádios
que brilham à noite para a Ford americana. Hoje, mais de 17 mil
carros nos Estados Unidos utilizam o sistema de marcação
criado pelo cientista brasileiro.
No Cietec foi desenvolvido ainda
pela Hormogen Biotecnologia um hormônio do crescimento que, feito
com biotecnologia totalmente nacional, deverá custar 40% menos que
o importado. A Pro-Line Serviços e Produtos Odontológicos
é outra incubada de sucesso comandada por cientistas, que já
criaram uma linha de oito produtos no setor de biomateriais, com mais de
200 clientes em todo o país, capazes de gerar um faturamento de
R$ 25 mil.
Acompanhada do principal critério
da Centro, que é a busca de propostas inovadoras em pesquisas para
produtos com alta tecnologia, vem a viabilidade comercial de novos produtos
no mercado. Para se ter uma idéia, cerca de 70% das incubadoras
brasileiras são da área de tecnologia e juntas elas criaram
desde 1990 mais de 3,8 mil produtos comercializados no país, tudo
feito com o apoio do governo.
Novas vagas - O Cietec está
recebendo inscrições para novos candidatos. O edital pode
ser retirado no prédio do IPEN (Travessa R, 400, Cidade Universitária,
USP), na capital paulista, e as inscrições podem ser entregues
até o dia 11/9. O pré-requisito para os candidatos é
ter propostas inovadoras para o desenvolvimento de produtos de alta tecnologia
e com boas possibilidades mercadológicas nas áreas de tecnologia
da informação, biotecnologia, biomedicina, química,
meio ambiente, técnicas nucleares e softwares especiais. Mais detalhes
pelo telefone (0**11) 212-8466.
O Centro foi criado em abril de 1998
por um convênio entre a Secretaria da Ciência, Tecnologia e
Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo, o Sebrae-SP
(Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São
Paulo), a USP (Universidade de São Paulo), o IPEN (Instituto de
Pesquisas Energéticas e Nucleares) e o IPT (Instituto de Pesquisas
Tecnológicas). Em dois anos de existência, transformou dez
cientistas brasileiros em promissores empresários da área
de tecnologia de ponta. O Cietec também acolheu cinco jovens empreendedores,
com boas idéias e muita vontade de apostar em ousadas inovações.
Espécie de berçário
e pré-escola para empresas que desenvolvem produtos e serviços
de alta tecnologia, a entidade vem obtendo resultados tão positivos
que está sendo ampliado o número de empresas incubadas das
atuais 15 para 134. A ampliação transformará o Cietec
no maior centro incubador de empresas do País, primeiro passo de
um projeto que culmina com a criação do Parque Tecnológico
de São Paulo, previsto para dentro de dois ou três anos.
"O panorama é promissor para
pequenas empresas de base tecnológica", acredita o diretor do Cietec,
Sérgio Risola. Uma novidade do projeto é a pré-incubadora
que vai manter em um Hotel de Projetos 42 assessorados até terem
estrutura para passar para a incubadora. O diretor destaca ainda que neste
ano até empresas que já atuam no mercado poderão participar
da seleção. "Uma companhia que está desenvolvendo
um produto e que necessita de apoio tecnológico também poderá
ser uma empresa incubada e contar com toda nossa infra-estrutura", diz
Risola. |