Receita para pequenas fortunas
Mário Persona (*)
Colaborador
Se você
quer criar uma pequena fortuna, a receita é simples. Pegue uma grande
fortuna, sua ou de investidores, contrate uma equipe para produzir um site
de Internet, e saia vendendo espaço para propaganda. Mas não
deixe faltar marketing. Se quiser imitar os grandes, o investimento
na divulgação de seu negócio virtual deve ser algo
em torno de 625% da receita que você obterá com a venda dos
banners. Dê adeus ao mundo real. Seja bem-vindo ao mundo virtual.
Esta receita é infalível
para se criar uma pequena fortuna. Da grande fortuna que você terá
investido no início. Isto se sobrar algo daquilo que, em seus melhores
dias, costumava fechar casas noturnas repletas de convidados. Não
me deixam mentir as centenas de presuntos ponto-com que estão sendo
desovados nas páginas dos noticiários econômicos. Seguidos
por outros que estão sendo caçados pela realidade implacável
das regras econômicas.
Albert Einstein não conhecia
a Internet, quando disse que "o único lugar onde o sucesso vem antes
do trabalho é no dicionário". Ele viveu antes que as bolhas
virtuais tentassem revogar essa máxima, criando a ilusão
de que na Internet a festa nunca acaba. Mas acabou. Pelo menos para os
que beberam demais.
Momento - Passado o delírio
e tiradas do salão as vítimas do excesso, é hora dos
sóbrios começarem a se divertir. Empresas e investidores.
Mas nenhum deles poderá negar que chegou a ser tentado por um trago
a mais na hora do "vira-vira-vira". Contiveram-se. Talvez tenham sido chamados
de covardes, por terem evitado opções de alto risco. Ou miseráveis,
por não estarem despejando pela goela da propaganda desenfreada
a mesada de muitos pais.
No auge da volúpia em que
se transformou essa falsamente chamada "economia", confesso que cheguei
a ficar em dúvida se o caminho que havíamos traçado
para a empresa era a melhor opção. A tentação
de empresas como a Widesoft, de mergulharem nesse romance de verão,
foi grande. Era fácil sentir inveja de empresas bem mais novas,
sem qualquer estrutura ou serviço palpável, desfilando nas
primeiras páginas dos jornais, vestidas de milhões.
Mas, deixar de lado a infra-estrutura
de sistemas em que investíamos desde a era pré-Internet,
teria sido loucura. Seria o mesmo que embarcar nos carros alegóricos
dos sites cujo samba enredo era gerar-tráfego-e-vender-banner, acreditando
que o carnaval iria durar. Seria abandonar nossa vocação
inicial, que era de construtores de pontes. Sistemas que iriam ligar o
mundo real ao virtual, para que empresas reais pudessem reduzir custos
e aumentar seus lucros. Sem tirar os pés do chão.
Sensata - Hoje, enquanto assistimos
ao desmoronamento dos castelos de sonhos, respiramos aliviados. Sentimos
pelos que tombaram numa guerra perdida. Mas descansamos na certeza de uma
estratégia sensata. Se não demos atenção aos
acenos dos negócios etéreos desse período de acomodação
tectônica da rede, foi porque estávamos ocupados assentando
os trilhos do modelo de empresa de Internet que deve prevalecer daqui para
a frente. De mãos dadas com o real.
Pelo menos é o que o mercado
tem sinalizado, a julgar pelo número de empresas convencionais,
nem um pouco carnavalescas, que vão engrossando nosso rol de clientes.
Muitas delas cansadas e desiludidas com as miragens criadas por bem elaboradas
peças de marketing, que conseguiam travestir o nada em lingotes
de pirita para arrebanhar incautos.
Quem investiu muito no pouco ficou
sem nada. Grandes fortunas viraram pequenas fortunas. Quem investiu o suficiente
no muito, tem hoje os alicerces firmes para sustentar a revolução
que nem começou. A hora é de valorização de
empresas que já navegavam antes da onda, atravessaram a turbulência
sem mudar de rumo, e seguem com todas as velas, dando adeus a um mundo
apenas virtual. Seja bem-vindo ao mundo real.
(*) Mário
Persona é diretor de comunicação da Widesoft,
que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos
via Internet, editor da Widebiz
Week e moderador da lista de debates
Widebiz. |