Bips
Entre
os comerciantes, é bem conhecida a "estatística": um cliente
satisfeito comenta sua satisfação com mais três pessoas;
já o cliente insatisfeito espalha sua indignação para
ao menos mais 17 pessoas.
Está na hora de se repensar
essas estatísticas, considerando o novo poder de "botar a boca no
trombone" que os clientes insatisfeitos têm, com a Internet. Pelo
custo de apenas uma mensagem eletrônica, qualquer um pode espalhar
sua insatisfação para milhares de pessoas. Conforme a gravidade
do caso, essas pessoas podem, em poucos minutos, espalhar para milhões
de pessoas a história do problema acontecido em determinada loja,
seja ela eletrônica ou convencional.
Dois grandes problemas atuais do
comércio eletrônico são a falta de estoque e os problemas
com aprovação do crédito. O cliente muitas vezes vê
o anúncio, faz o pedido na hora pela Internet, recebe a promessa
de que em dois ou três dias o produto estará em sua casa.
Dez dias depois, recebe o aviso de que vai demorar um pouco mais. Um mês
depois, recebe - depois de várias mensagens iradas ao lojista virtual
- a informação de que o produto está em falta no estoque
e a informação de que será reembolsado da despesa
feita ou terá estornado o débito em seu cartão de
crédito.
Isso não é coisa de
lojinha da esquina, não, está acontecendo com quase todas
aquelas consideradas grandes lojas virtuais brasileiras, Novo Milênio
já recebeu mensagens circulares bem explícitas sobre os aborrecimentos
de clientes de cada uma dessas lojas. As mesmas reclamações
estão chegando a muitos outros jornais e jornalistas, órgãos
de defesa do consumidor etc.
Crédito - Há
também casos como o acontecido com uma das maiores lojas virtuais
(e reais) do Brasil, em que o cliente tenta fazer a compra, a loja responde
dias depois que tem de cancelar o pedido por não ter como efetuar
a venda, já que a operadora do cartão - sugerida pela própria
loja - usa uma política de segurança em que valores mais
elevados dependem de contato com o cliente para aprovação.
O cliente pergunta: quando firmou contrato com a operadora do cartão,
a loja não sabia que era assim que a operadora procedia?
No caso, há um problema logístico:
a loja é on-line, mas não on-site, isto é,
embora opere com vendas on-line, não executa toda a transação
no mesmo instante, informando ao cliente sobre a aprovação
do crédito, por exemplo. A grande maioria das lojas recebe o número
do cartão e o armazena no computador, para que um funcionário
depois pegue esse número e o digite na maquininha de consulta da
operadora do cartão (como é feito na compra em uma loja convencional).
Algumas grandes lojas estão
experimentando um sistema automático, em que em nenhum momento os
dados do cartão de crédito ou sequer a aprovação
ou negação do pedido ficam armazenados em seus computadores
ou em sua memória de trabalho. O objetivo é oferecer maior
segurança ao cliente, evitando que um funcionário desonesto
ou um hacker obtenha e use indevidamente tais informações.
O problema é que nem todas as operadoras de cartão de crédito
estão preparadas para operar dessa forma, o que gera problemas para
tais lojas.
Casos assim podem gerar mais do que
insatisfação do cliente e negócios perdidos: a loja
pode ser processada pelo cliente por divulgação enganosa
- o mesmo valendo para certas promoções em que basta o internauta
fazer o pedido para que repentinamente deixem de ser válidas, ou
para lojistas que omitem detalhes importantes, dando ao cliente uma falsa
idéia das condições do produto, do pagamento ou da
entrega da mercadoria.
Consultas ao SPC - Outro problema
detectado em sites de comércio eletrônico é que alguns
obrigam o internauta a preencher um cadastro antes mesmo de conhecer os
produtos à venda. O internauta não fica sabendo, mas esse
cadastro pode ser usado para consulta ao Serviço de Proteção
ao Crédito (SPC). Até aí, tudo bem. O problema é
que os lojistas recebem a informação de quantas consultas
ao SPC foram feitas nos últimos 90 dias e alguns usam esse número
como parâmetro para negar o crédito ao cliente, temendo a
ação de golpistas. Os lojistas supõem que, como a
consulta geralmente é feita ao se decidir a compra, a compra foi
feita e portanto o cliente já tem essa dívida a pagar, o
que compromete sua capacidade de endividamento.
Assim, se você entrar em algumas
lojas virtuais e preencher esse cadastro, mesmo não comprando nada
poderá parecer a muitos lojistas que você está devendo
muito mais do que ganha mensalmente, sendo surpreendido com uma negativa
de crédito na primeira vez em que dele precisar realmente...
Trombones - Já existem
na Internet brasileira - para ficarmos só em nosso País -
dezenas e dezenas de endereços especializados em coletar e divulgar
essas reclamações dos internautas. Esses endereços
já funcionam como uma lista negra de maus sites, consultada
com a mesma regularidade como os comerciantes consultam as publicações
dos cartórios de protestos para identificar golpistas e empresas
em véspera de falência. Exemplos: Quero
Reclamar, Reclame & Ame, Ivox,
SakoCheio,
Solte
a Língua e MeteBronca.
O Ivox vai além: formou uma
comunidade de 40 mil internautas que emitem opiniões sobre os mais
diversos produtos, publicadas no site, o que permite a um comprador em
potencial conferir primeiro ali se o produto é bom como diz o comerciante,
se a loja (virtual ou real) atua direito etc. Outros exemplos nacionais
nessa linha: Digame e Ebit.
O refinamento já chega ao
ponto de haver uma lista atribuindo notas aos melhores sites de comércio
na Web, como a publicada dias atrás pelo site Qualibest:
Super Oferta 8.2
Sony 7.7
Americanas.com 7.6
Livraria Cultura 7.0
Shoptime 6.4
Microsite 6.3
Amazon.com 6.1
Saraiva 5.8
Submarino 5.4
Brasoftware 5.3
Passeata virtual - Poucos
sabem, mas em alguns casos o protesto do cliente pode estar no próprio
site da loja. Alguns programas usados na Internet permitem que o internauta
deixe um recado aos demais, para ser visto no próprio momento em
que chamam a página da loja. Esses recados são visíveis
para todos os que possuam o mesmo programa de visualização,
embora fiquem invisíveis para quem usa um navegador (browser)
comum.
Agora, imagine o lojista anunciando
na página as maravilhas de seu produto e, por cima, o recado "É
tudo mentira! Aconteceu comigo..." - é o mesmo que uma loja convencional
ter permanentemente à porta uma passeata de clientes furiosos, com
cartazes informando como é péssimo o atendimento. Algum novo
cliente se arriscaria...?
Corrente - Para terminar,
eis um exemplo de queixa que está sendo difundida pela Internet,
omitindo apenas o nome do queixoso e da loja. A mensagem é real
e foi difundida em várias listas de debates de negócios,
como a Widebiz. Para se ter idéia do alcance, os concorrentes da
loja estão entre as centenas de destinatários dessa corrente
de correio eletrônico:
ATENÇÃO
>
>Cuidado a
XXX, empresa que vende livros e CDs. Ela esta com mal
>hábito,
vende e não entrega.
>
>Fiz uma compra
no dia 28 de julho de 2000 (pedido 449059), com prazo de
>entrega em
4 dias e até agora nada.
>
>Após
muitas reclamações disseram que entregariam em mais 3 dias
e até agora
>nada.
>
>Cuidado para
não cair neste conto do vigário
>
>A empresa
é XXX o site é www.XXX.com.br
>
>Divulgue
este e-mail para o maior número de pessoas possíveis...Vamos
tirar
>essas empresas
que não são sérias do ar.
>
>Um abraço
>
>Gerson
>PS se você
souber de alguém que caiu neste mesmo conto escreva-me. Já
tenho
>agendando
mais de 20 e-mail (com documentação) neste sentido. Logo
começo a
>divulga-los.
>
Novo Milênio recebe
dezenas de mensagens desse tipo, e elas também são postadas
em muitas listas de debates, mesmo que o assunto principal das mesmas não
seja o mau atendimento por parte dos comerciantes... |