Apartheid digital pode aumentar
no Brasil
No ano
em que o Brasil chega a 11 milhões de micros e 35 milhões
de linhas de telefone fixas, a Internet ainda é coisa para poucos.
O número de internautas não passa de 5% da população.
Este número remete a mais um grave problema social: o "apartheid
digital" - a divisão entre ricos e pobres, que poderá crescer
ainda mais.
Conforme alguns dados levantados
pela revista Update, da Câmara Americana de Comércio
de São Paulo (Amcham-SP)
que circula a partir do dia 20/7, mesmo com as previsões dos negócios
na rede este ano movimentando por volta de US$ 1,7 bilhão, podendo
ultrapassar US$ 54 bilhões até 2005, a relação
de máquinas por habitantes é mais baixa do que na Argentina
– apenas quatro para cada grupo de 100 pessoas.
Essa exclusão social se evidencia
mais ainda se sairmos das previsões e nos determos aos números
atuais: segundo o Ibope, 80% dos internautas pertencem às classes
A e B, 16% à classe C e apenas 4% às classes D e E.
Barreira - Segundo a matéria
"O risco da exclusão digital" a maior barreira para mudar esse quadro
é a falta de poder aquisitivo. Mesmo com as vendas de computadores
crescendo 30% ao ano, a relação de máquinas por habitantes
ainda é baixa quando comparada a outros países – apenas quatro
para cada grupo de 100. Nos Estados Unidos, 41 entre 100 pessoas têm
um computador. No Japão, 29. Até a vizinha Argentina leva
vantagem, ainda que ligeira, em relação aos brasileiros,
com cinco PCs por 100 habitantes.
O Brasil escolheu um caminho errado
para chegar à era digital, a reserva de mercado para fabricantes
de computadores. Quando de fato entrou no jogo, na década passada,
andou rápido. Mas é um país com desigualdades sociais
tão fortes que hoje corre o risco de novamente privilegiar as camadas
sociais mais ricas, aumentando a distância entre os que têm
telefones e computadores e os que não têm, entre uma elite
diminuta de universitários e a massa de semi-analfabetos. Um quadro
de exclusão não é bom ambiente para negócios,
afirma a reportagem.
Ninguém ganha com esse abismo
entre um Brasil.com e um Brasil excluído do mundo da tecnologia,
que reproduz e alarga a distância entre ricos e pobres, os com escolaridade
e os sem instrução, centros urbanos e zona rural, micro e
grandes empresas. Enquanto a Internet não se abrir para o mercado,
o comércio eletrônico não irá deslanchar e a
era da nova economia será apenas uma miragem. Essa convicção
provoca uma reação que ganha força a cada dia, com
a mobilização de empresas, organizações não-governamentais
e governo.
Educação - A
Internet deve desempenhar um papel crucial na melhoria do ensino, criando
novas fontes de conhecimento, viabilizando projetos de educação
a distância ou oferecendo suporte à escola tradicional. Na
medida em que se limita à elite, ela tende a aprofundar diferenças
e a restringir ainda mais as oportunidades para as camadas de menor renda.
Daí o risco da exclusão social, do "apartheid" digital –
um gigantesco e dramático fosso entre uma minoria plugada no mundo
moderno e uma grande massa de sem-Internet, à margem da principal
mudança tecnológica das últimas décadas.
"O apartheid digital é uma realidade
no Brasil", afirma Rodrigo Baggio, 31 anos, diretor executivo da ONG Comitê
para a Democratização da Informática (CDI).
Criada em 1995 no Rio de Janeiro, o CDI mantém hoje 140 escolas
de informática e cidadania em 14 estados e é um dos exemplos
da disposição de alguns setores de lutar contra a segregação
digital. "Essas comunidades não querem só comida, mas diversão,
arte e tecnologia", diz Baggio. |