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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 07/21/00 12:25:28
Apartheid digital pode aumentar no Brasil 

No ano em que o Brasil chega a 11 milhões de micros e 35 milhões de linhas de telefone fixas, a Internet ainda é coisa para poucos. O número de internautas não passa de 5% da população. Este número remete a mais um grave problema social: o "apartheid digital" - a divisão entre ricos e pobres, que poderá crescer ainda mais. 

Conforme alguns dados levantados  pela revista Update, da Câmara Americana de Comércio de São Paulo (Amcham-SP) que circula a partir do dia 20/7, mesmo com as previsões dos negócios na rede este ano movimentando por volta de US$ 1,7 bilhão, podendo ultrapassar US$ 54 bilhões até 2005, a relação de máquinas por habitantes é mais baixa do que na Argentina – apenas quatro para cada grupo de 100 pessoas. 

Essa exclusão social se evidencia mais ainda se sairmos das previsões e nos determos aos números atuais: segundo o Ibope, 80% dos internautas pertencem às classes A e B, 16% à classe C e apenas 4% às classes D e E. 

Barreira - Segundo a matéria "O risco da exclusão digital" a maior barreira para mudar esse quadro  é a falta de poder aquisitivo. Mesmo com as vendas de computadores crescendo 30% ao ano, a relação de máquinas por habitantes ainda é baixa quando comparada a outros países – apenas quatro para cada grupo de 100. Nos Estados Unidos, 41 entre 100 pessoas têm um computador. No Japão, 29. Até a vizinha Argentina leva vantagem, ainda que ligeira, em relação aos brasileiros, com cinco PCs por 100 habitantes.

O Brasil escolheu um caminho errado para chegar à era digital, a reserva de mercado para fabricantes de computadores. Quando de fato entrou no jogo, na década passada, andou rápido. Mas é um país com desigualdades sociais tão fortes que hoje corre o risco de novamente privilegiar as camadas sociais mais ricas, aumentando a distância entre os que têm telefones e computadores e os que não têm, entre uma elite diminuta de universitários e a massa de semi-analfabetos. Um quadro de exclusão não é bom ambiente para negócios, afirma a reportagem. 

Ninguém ganha com esse abismo entre um Brasil.com e um Brasil excluído do mundo da tecnologia, que reproduz e alarga a distância entre ricos e pobres, os com escolaridade e os sem instrução, centros urbanos e zona rural, micro e grandes empresas. Enquanto a Internet não se abrir para o mercado, o comércio eletrônico não irá deslanchar e a era da nova economia será apenas uma miragem. Essa convicção provoca uma reação que ganha força a cada dia, com a mobilização de empresas, organizações não-governamentais e governo. 

Educação - A Internet deve desempenhar um papel crucial na melhoria do ensino, criando novas fontes de conhecimento, viabilizando projetos de educação a distância ou oferecendo suporte à escola tradicional. Na medida em que se limita à elite, ela tende a aprofundar diferenças e a restringir ainda mais as oportunidades para as camadas de menor renda. Daí o risco da exclusão social, do "apartheid" digital – um gigantesco e dramático fosso entre uma minoria plugada no mundo moderno e uma grande massa de sem-Internet, à margem da principal mudança tecnológica das últimas décadas. 

"O apartheid digital é uma realidade no Brasil", afirma Rodrigo Baggio, 31 anos, diretor executivo da ONG Comitê para a Democratização da Informática (CDI). Criada em 1995 no Rio de Janeiro, o CDI mantém hoje 140 escolas de informática e cidadania em 14 estados e é um dos exemplos da disposição de alguns setores de lutar contra a segregação digital. "Essas comunidades não querem só comida, mas diversão, arte e tecnologia", diz Baggio.