Mais vale um pássaro na mão
Mário Persona (*)
Colaborador
Ser original.
Algo que pouca gente está conseguindo hoje na Web. Estamos vivendo
uma fase em que muitos negócios na Web não estão concorrendo
ao prêmio de originalidade. Contentam-se com alguma menção
honrosa de estereótipo de um site famoso. Se já nos acostumamos
com os "covers" de cantores e bandas, chegou a hora de nos acostumarmos
aos webclones, ovelhas Dolly idênticas e passivas, cantando todas
em "bé" maior.
A diversidade de clones nos confunde,
fazendo pensar que temos diversidade de fato. Não temos. Os
padrões de clonagem são tantos que acabam parecendo originais.
Na realidade, mudam as tatuagens, mas os tatuados permanecem os mesmos.
E a intenção é sempre agradar os já agradados.
Porque parece ser jogo ganho.
Original? - Quem está
com aquele site na cabeça, lê isto e reage. Retruca
que sua idéia é original. Um portal sobre blá, blá,
blá, que irá atrair um webilhão de visitantes. Receita
certa para atrair investidores, convencidos de que os patrocinadores disputarão
no tapa espaço para pendurar seus reclames. Exatamente como
acontece na TV. Seguindo a doutrina do televisismo, a grande maioria dos
chamados grandes negócios de Internet não passa de
barra de calça aguardando carrapicho.
Serra-se aqui, prega-se ali, cola-se
acolá e pinta-se tudo com cores bonitinhas para esconder o papel
mata-mosca. "Faça seu site que eles virão", era a máxima
utilizada pela primeira geração dos auto-proclamados gurus
da Web, e ainda obedecida por muitos. O "eles virão" entregava o
jogo. Para eles, o importante era atrair gente. E vender banner. Mira-se
em um milhão para acabar sem nenhum na mão.
Ficar parado olhando para cima atrai,
em questão de minutos, uma congregação de seguidores.
Todos igualmente mirando o nada. Se indagado, o guru da recém formada
seita do torcicolo irá argumentar que está dando àquelas
pessoas o que elas estavam procurando, uma direção para olhar.
Ainda que seja para o inóspito vazio.
É diferente - A fórmula
da busca por audiência funciona na TV, onde o "mostre o que o povo
quer ver" é a palavra de ordem. Tentar transplantar a mesma estratégia
para a Web pode causar rejeição. No mundo televisivo temos
meia dúzia de canais para entreter milhões de telespectadores
passivos. Na Web temos milhões de participantes ativos em busca
de interação com gente e informação. E cada
um deles é um canal em potencial. Uma estação repetidora,
se usarmos vocabulário de propagação de sinal de TV.
Saber usar isso, e não querer atingir diretamente milhões
de webespectadores, é o caminho seguro na rede.
Moral da história: na Internet
ninguém conseguirá ser tão líder de audiência
quanto consegue ser na TV. Moral da história dois: Os investimentos
em propaganda na rede nem sempre serão suficientes para patrocinar
tanto quanto na TV por estarem pulverizados em um universo de opções.
Moral da história três: Pensar em atingir milhões é
uma armadilha para o empreendedor Web. Seu foco deve estar no um a um.
Para fazer com que o "um" alcançado seja o canal propagador no próximo
um a um que ele próprio fizer.
Como ninguém é de ferro,
confesso que eu mesmo sou levado a me embriagar com o sonho de campeão
de audiência. Em um de meus artigos ponderei que, pela tiragem conjunta
dos sites, jornais e revistas que publicam meus artigos, eu estaria atingindo
um número de leitores na casa dos seis dígitos. Minha esposa
e filhos, fiéis membros da "Brigada Familiar Anti-Orgulho", não
deixaram por menos e aplicaram o antídoto. Segundo eles, a popularidade
de meus artigos estaria restrita aos passarinhos. Já que as páginas
que publicam minha coluna acabam mesmo é servindo de forração
para gaiolas. E minha foto para o lazer dos penados, na hora do tiro ao
alvo.
(*) Mário
Persona é diretor de comunicação da Widesoft,
que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos
via Internet, editor da Widebiz
Week e moderador da lista de debates
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