Baixada Santista poderia ser um
site real para a Internet
Carlos Pimentel Mendes (*)
Parece
até um paradoxo, mas é um fato: a qualidade de vida oferecida
em certas regiões do Brasil pode ser mais determinante para a instalação
de uma empresa da chamada Nova Economia, ou Economia Digital, do que fatores
como custo para a instalação física e até mesmo
que aspectos logísticos. Ora, se uma empresa pode usar os recursos
das telecomunicações, especialmente da Internet, e se instalar
em qualquer lugar do mundo, por quê haveria de levar em tão
alta conta a qualidade do lugar que acomodará suas instalações
físicas?
Algumas cidades já estão
descobrindo o motivo e tratando de se ajustar a essa realidade. Falta que
a Baixada Santista aprenda a salientar suas vantagens e correr atrás
do prejuízo. Sim, prejuízo, porque nos novos tempos um ano
tem apenas três meses, o mês demora menos de uma semana para
passar, o dia parece que acaba algumas horas depois de começado.
Pesquisa – A ficha caiu ao
analisar uma pesquisa da revista Info Exame de maio, sobre
as dez melhores cidades brasileiras para trabalhar em tecnologia – pela
ordem: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre,
Curitiba, Brasília, Campinas, Florianópolis, Blumenau e Joinville.
Participaram ainda da pesquisa, ocupando as posições 11 a
20: Londrinha, Santa Maria, Uberlândia, Fortaleza, São José
dos Campos, Ribeirão Preto, São Carlos, Ilhéus, Recife
e Campina Grande.
Ora, por quê a Baixada Santista
não aparece? Não foi Santos
classificada oficialmente como uma das melhores cidades brasileiras em
qualidade de vida? Não tem alto nível cultural, até
por tradição? Não é um bom exemplo do espírito
emprendedor que caracteriza o brasileiro, tornando-o um dos povos mais
bem preparados para enfrentar os desafios da economia virtual? Não
alia as facilidades e os serviços da capital paulista a um clima
até mais gostoso que o do Rio 40 Graus?
Não conta a cidade de Santos,
cabeça da nova metrópole santista, com infra-estrutura de
comunicações de qualidade bem superior à encontrada
em outras cidades classificadas? Não conta com um conjunto de universidades
que chega a ser responsável por um certo congestionamento no trânsito
noturno, decorrente do grande afluxo de ônibus repletos de estudantes?
Não tem um custo de vida bastante razoável, em comparação
com outras cidades listadas?
Mesmo em outros índices usados
para a classificação, a região não destoa:
frota de veículos, transporte urbano, leitos hospitalares, hotéis,
agências bancárias, custo de uma unidade habitacional, grau
de instrução médio da população... Vá
lá, Santos não tem aeroporto (Blumenau também não),
mas é bem provável que numa corrida entre um santista e um
paulistano para chegar ao aeroporto de Congonhas, por exemplo, o santista
ganhe com folga, devido ao complicado trânsito da capital paulista...
Negativo – Santos pode até
não ter um porto aéreo, mas tem um porto marítimo,
que é “apenas” o maior porto de carga geral da América Latina,
com navios mercantes ligando com todos os principais centros mundiais.
Não paga os melhores salários, mas isso quem decide não
é a infra-estrutura, são as empresas.
Afinal, são santistas muitas
das cabeças pensantes que fazem a Internet brasileira e atuam em
muitas das empresas de alta tecnologia, e se não estão em
Santos, foi na cidade em que nasceram que adquiriram a visão cosmopolita
e a base cultural que embasa seus conhecimentos. Mesmo não contando
com os que saíram, até em termos de precentual de população
plugada na Internet não é difícil adivinhar a posição
destacada da região...
A Baixada Santista – que sempre se
posicionou como um pólo de serviços – não soube atrair
as sedes das grandes indústrias (mas conta com suas unidades fabris,
em Cubatão), e em termos de economia digital globalizada isso aliás
vai perdendo sentido; em compensação, começa a desenvolver
projetos na Internet que despertam a atenção em outros países
sulamericanos e europeus – recuperando uma tradição de destaque
internacional que já possuía séculos atrás,
quando o santista Bartolomeu de Gusmão, alcunhado Padre Voador –
se apresentava nas cortes européias ascendendo aos céus num
balão – só para dar um exemplo.
Nas mais diversas áreas, é
fácil observar como o resto do Brasil vai adiando decisões
para esperar que Santos crie soluções, a serem depois adaptadas
a outros locais – a aplicação da Lei de Modernização
dos Portos foi um exemplo bem claro disso, na década que agora termina.
Então, se até a maior
necrópole vertical do mundo foi construída em Santos, o que
é que enterra o futuro da região, dificultando que usufrua
das vantagens proporcionadas pela nova Economia Digital?
Responder a isso vale uma tese de
doutorado, mas algumas pistas poderiam ser investigadas: a falta de um
trabalho de marketing para reverter a imagem de decadência econômica
– imagem que acaba aumentando essa decadência, na medida em que uma
empresa prefere se instalar num lugar em que a percepção
do mercado indique progresso; a falta de gente com “cabeça de Internet”
em postos-chave, capaz de criar situações que coloquem a
cidade em destaque positivo neste novo mundo digital (onde está
o teleporto de Santos – que sequer foi pensado, e teria importante papel
numa cidade de tão importante movimentação de cargas
e informações?).
Será que ainda não
chegou a hora de a Baixada Santista acordar para a realidade de um novo
milênio marcado por bits em vez de átomos, um tempo em que
tudo está sendo repensado e refeito, em que mesmo uma empresa formada
por estudantes na garagem de casa pode se tornar maior do que grandes conglomerados
industriais? Ou será que o lugar de Santos na Nova Economia tem
de ser lá atrás, bem depois de Santa Maria, Uberlândia,
Campina Grande, Londrina, Ilhéus, Blumenau... e talvez muitas outras
que aparecerão nas próximas pesquisas?
(*) Carlos
Pimentel Mendes é editor do jornal eletrônico Novo
Milênio... e santista! |