JDF, o novo maestro da produção
gráfica
Marco Rosa (*)
A indústria
gráfica evoluiu rapidamente nos últimos 25 anos. Há
um quarto de século, o gráfico era um artesão habilidoso
que atendia o cliente, providenciando o serviço na cor certa, no
papel adequado e, o mais importante, era capaz de repetir, aproximadamente,
o mesmo desempenho semanas, meses ou anos depois. Ou seja, ao pedir a repetição
de um serviço gráfico, sua empresa tinha condições
de receber o serviço com mais ou menos a mesma qualidade anterior.
Hoje em dia, acentuou-se a necessidade
de se repetir o padrão, já que as tiragens são enormes
e, além disso, ampliou-se a base geográfica. Exige-se que
o serviço possa ser executado em qualquer gráfica do mundo,
utilizando-se todo e qualquer tipo de equipamento de pré-impressão,
de impressão e de pós-impressão disponíveis,
comandados pelos mais diferentes tipos de softwares. E que mantenha a qualidade
uniforme.
É por isso que o antigo artista
gráfico cedeu lugar a uma enxurrada de padrões e protocolos.
A indústria gráfica convive com os PS, PDF, PJTF, CIP3 e,
finalmente, aguarda o lançamento do Job Definition Format (JDF)
na Drupa 2000, em maio, formando uma verdadeira sopa de letrinhas que definiremos
a seguir.
O JDF pretende ser a interface que
unificará todas as demais. A mesma promessa foi feita pelos protocolos
anteriores. Sem sucesso.
A origem dos sistemas de controle
- A necessidade por serviços gráficos cresceu muito, se espalhou
pelos quatro cantos do globo e o volume de serviços fez surgir o
famoso printing on demand, ou seja, pedidos de serviços gráficos
que se repetiam durante um longo período de tempo. Por exemplo,
uma tiragem de 200 mil exemplares é pedida para ser entregue em
lotes mensais de 16 mil cada durante um ano. Exige-se, para cada lote,
a mesma qualidade final.
Tal necessidade impulsionou o desenvolvimento
do PS (PostScript). O PS se desenvolveu entre 1984 e 1986 e foi a primeira
tentativa de estabelecer um padrão confiável para se executar
os serviços gráficos com a ajuda da tecnologia digital. Ganhou-se
em padronização, devido principalmente à influência
do mercado gráfico norte-americano que adotou o sistema, mas perdeu-se
muito em qualidade.
Os artistas
gráficos - aqueles mesmos que artesanalmente realizavam o ajuste
entre o fotolito, a tinta, a pressão das máquinas e o corte
final - foram simplesmente eliminados do mercado, em troca de um padrão
que pudesse ser comandado e controlado por computadores. |
A globalização crescente
da economia e o desenvolvimento da tecnologia digital permitiram a busca
de novos padrões gráficos, mais sofisticados e detalhados,
que consolidariam um trabalho final de melhor qualidade. Independentemente
do profisssional que montasse o fotolito, do gráfico que estivesse
executando o serviço, da máquina que era destinada para impressão
e de quem montava e realizava o corte final.
Um dos padrões que, com o
tempo, acabou sendo aceito pela indústria gráfica foi o CIP3,
que se apoiou no Portable Document Format (PDF), e é o standard
que o mundo gráfico está reconhecendo como o mais válido
sistema de produção na pré-impressão; e o Portable
Job Ticket Format (PJTF), ambos da Adobe. O CIP3 está começando
a ser estudado e aplicado por muitos dos grandes impressores.
Através da sistematização
CIP3 foram estabelecidas regras para a pré-impressão, a impressão
e a pós-impressão, ou seja o "prepress, o press e o postpress".
Era o princípio de uma linguagem comum que permitiu à indústria
gráfica se utilizar da rápida evolução da tecnologia
digital.
O CIP3 deu certo por ter estabelecido
um parâmetro uniforme que permite definir o inteiro processo produtivo
gráfico. O CIP3 ajuda também a definir o processo de impressão,
desde a montagem da chapa ao controle do software que define cada uma das
cores (o ripping), e obter um padrão de impressão.
Mais: o CIP3
consolidou o atual estágio de eficiência da indústria
gráfica ao estabelecer parâmetros para a pós-impressão.
Utilizando informações fornecidas pelo CIP3, o gráfico
passa a ter controle sobre o corte, a dobragem e a entrega do produto ao
gosto do cliente. Por exemplo, uma lombada colada ou grampeada. |
Ou seja, a indústria gráfica
conseguiu um sofisticado padrão de acompanhamento e controle de
cada etapa da produção. O novo sistema permitiu que fosse
retomada parcialmente a qualidade perdida com a eliminação
dos artistas gráficos. Conseguiu também ser adotada em quase
todo o mundo.
Mas, eis que o mercado cresceu muito
além do que os vãos ideólogos da indústria
gráfica poderiam prever. Surge agora o JDF. O objetivo do JDF é
ter um controle global sobre todos os procedimentos gráficos, com
validade em qualquer canto do planeta, e ser utilizado pelos principais
fornecedores, estejam eles na pré-impressão, na pós-impressão
e até mesmo na distribuição do serviço.
Pretende-se ter uma linguagem que
seja padrão para as equipes de venda, a criação da
imagem (design), a pré-impressão e a pós-impressão
(acabamento).
JDF - Nos últimos
anos, as indústrias gráficas e de editoração
exigiam a criação de dois parâmetros: uma infra-estrutura
padronizada de produção e o estabelecimento de protocolos
específicos que balizassem o processo de criação,
manufatura e distribuição de material gráfico.
Quatro grandes companhias de projeção
mundial, a Adobe, a Agfa, a Man Roland e a Heldelberg, se uniram para buscar
um padrão que definiram como Job Definition Format (JDF).
As três grandes qualidades
do JDF são: |
1) Sua habilidade de estabelecer
parâmetros que permitam executar um serviço gráfico
desde a criação até a entrega para o cliente, eliminando
as falhas de comunicação entre a produção e
o gerenciamento do serviço;
2) Empresas gráficas de qualquer
tamanho podem usar o JDF, desde as que tenham apenas produção
individual ou poucos serviços por ano até editoras com entregas
diárias de serviços;
3) O JDF cria meios de estabelecer
comunicação entre sistemas de diferentes origens, ampliando
o leque de origem dos trabalhos, o que facilita a atuação
das equipes de vendas, exigindo-se um mínimo de configuração.
Tal aspecto facilita a execução de todos os aspectos de qualquer
serviço gráfico, da criação à entrega. |
Desenvolvedoras - Todas as
quatro empresas envolvidas no JDF têm credencial na indústria
gráfica.
A Adobe desenvolveu aplicações-chaves
na pré-impressão, tais como o Adobe PageMaker, Adobe InDesign
e Adobe Photoshop, e estabeleceu, na prática, os parâmetros
para o PostScript e o PDF. A Adobe também desenvolveu o Print Job
Ticket Format (PJTF), que estabelece os parâmetros de funções
utilizadas na pré-impressão.
A Agfa tem papel fundamental também
em material de apoio durante a pré-impressão. Tanto a MAN
Roland quanto a Heidelberg trabalham nas duas pontas da pré-impressão
e tecnologias adotadas na pós-impressão, incluindo sistemas
de automação e informação.
Ao se implantar o JDF, previsto para
estar no mercado a partir de junho de 2000, o que se espera é aumentar
a agressividade das equipes de vendas das empresas gráficas. Tendo-se
um padrão aceito pela grande maioria da indústria gráfica,
respeitada em cada segmento da produção (pré-impressão,
impressão e pós-impressão), os vendedores poderiam
oferecer grande variedade de serviços. Teriam a facilidade de distribuí-los
para toda e qualquer indústria gráfica que tivesse ociosidade
de demanda.
O mais importante aspecto ressaltado
pelas quatro grandes empresas que desenvolvem o JDF é a criação
de um Sistema de Gerenciamento de Informação eficaz.
O aspecto mais importante do
JDF é ser capaz de atender a três categorias: |
1) Sua habilidade de completar qualquer
parte de um serviço gráfico, do princípio ao fim;
2) sua habilidade de repassar as
informações de cada etapa que estiver sendo executada para
o Sistema de Gerenciamento de Informações; e
3) Sua habilidade de executar as
tarefas previstas nos ítens 1 e 2 em qualquer tipo de máquinas. |
Como funciona o JDF - O JDF
consegue seus objetivos traduzindo cada fase do processo de um serviço
no que se chama node (nódulo). O serviço, na sua totalidade,
é representado por uma árvore de nódulos. O conjundo
de nódulos permite a visualização e o acompanhamento
do fluxo de produção.
Cada nódulo individual, em
cada etapa, é definido em termos de inputs e outputs. Os inputs
do processo definem os recursos a serem utilizados e quais parâmetros
o controlarão. Por exemplo, o input em um nódulo para descrever
o processo para se criar a capa de uma brochura deve incluir as tintas,
o papel, as chapas de impressão e o número de páginas
a serem produzidas. O output de um nódulo será a definição
do conjunto de páginas impressas.
Os recursos a serem alocados para
um processo podem ser modificados ou ser parte de um segundo processo.
Por exemplo, as páginas impressas da brochura são o input
do processo de dobra e corte. E assim por diante.
O JDF, por ser um sistema de informações
de duas vias, permite alterar a ordem na fila de execução
dos trabalhos, interrompê-lo, adiá-lo etc. Sob o aspecto de
gerenciamento contábil, o JDF agrega informações sobre
os custos de cada etapa do processo, permitindo monitorá-las e compará-las
permanentemente.
Mas, o que mais se espera como destaque
do JDF é a possibilidade de a nova interface se transformar na ferramenta
de venda por excelência. As quatro empresas que apresentarão
o JDF na Drupa, em Düsseldorf, na Alemanha, querem criar um sistema
que sirva de apoio para todos os segmentos gráficos, igualando as
chances de todo e qualquer vendedor de serviços gráficos.
Internet - Assim que o JDF
estiver implantado, seus parâmetros serão analisados pelo
World Wide Web Consortion (W3C).
O lançamento do JDF está
sendo preparado desde fevereiro de 1999. Em fevereiro de 2000, foi anunciado
seu conceito na conferência de Seybold, em Boston, Estados Unidos.
Em maio de 2000, na Drupa, em Düsseldorf, serão anunciadas
as especificações finais. Em junho de 2000, o JDF será
formalmente proposto para a indústria gráfica mundial.
Resta saber
se o JDF será aceito rapidamente pela indústria gráfica,
incluindo aí as grandes e principalmente as pequenas empresas. Especialistas
ouvidos pela Gráfica Virtual alertam para as dificuldades de muitas
gráficas brasileiras, principalmente as pequenas e familiares, de
se adaptarem a um sistema de controle e gerenciamento tão sofisticado
quanto o JDF. Muitas gráficas brasileiras de porte, dizem, ainda
não sabem nem mesmo o que é CIP3. |
O que não se duvida é
que o JDF está vindo para testar e ser testado pelo mercado. Ficar
indiferente à nova interface pode significar perder cliente, aqui
dentro, para gráficas de fora; ou ter dificuldade de competir com
as gráficas lá de fora.
(*) Marco
Rosa é editor da revista PrintBR,
produzida pela Gráfica
Virtual. Este artigo foi reproduzido da edição de março
de 2000 dessa publicação. |