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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 05/23/00 19:41:35
JDF, o novo maestro da produção gráfica 

Marco Rosa (*)

A indústria gráfica evoluiu rapidamente nos últimos 25 anos. Há um quarto de século, o gráfico era um artesão habilidoso que atendia o cliente, providenciando o serviço na cor certa, no papel adequado e, o mais importante, era capaz de repetir, aproximadamente, o mesmo desempenho semanas, meses ou anos depois. Ou seja, ao pedir a repetição de um serviço gráfico, sua empresa tinha condições de receber o serviço com mais ou menos a mesma qualidade anterior.

Hoje em dia, acentuou-se a necessidade de se repetir o padrão, já que as tiragens são enormes e, além disso, ampliou-se a base geográfica. Exige-se que o serviço possa ser executado em qualquer gráfica do mundo, utilizando-se todo e qualquer tipo de equipamento de pré-impressão, de impressão e de pós-impressão disponíveis, comandados pelos mais diferentes tipos de softwares. E que mantenha a qualidade uniforme.

É por isso que o antigo artista gráfico cedeu lugar a uma enxurrada de padrões e protocolos. A indústria gráfica convive com os PS, PDF, PJTF, CIP3 e, finalmente, aguarda o lançamento do Job Definition Format (JDF) na Drupa 2000, em maio, formando uma verdadeira sopa de letrinhas que definiremos a seguir.

O JDF pretende ser a interface que unificará todas as demais. A mesma promessa foi feita pelos protocolos anteriores. Sem sucesso.

A origem dos sistemas de controle - A necessidade por serviços gráficos cresceu muito, se espalhou pelos quatro cantos do globo e o volume de serviços fez surgir o famoso printing on demand, ou seja, pedidos de serviços gráficos que se repetiam durante um longo período de tempo. Por exemplo, uma tiragem de 200 mil exemplares é pedida para ser entregue em lotes mensais de 16 mil cada durante um ano. Exige-se, para cada lote, a mesma qualidade final.

Tal necessidade impulsionou o desenvolvimento do PS (PostScript). O PS se desenvolveu entre 1984 e 1986 e foi a primeira tentativa de estabelecer um padrão confiável para se executar os serviços gráficos com a ajuda da tecnologia digital. Ganhou-se em padronização, devido principalmente à influência do mercado gráfico norte-americano que adotou o sistema, mas perdeu-se muito em qualidade.
 

Os artistas gráficos - aqueles mesmos que artesanalmente realizavam o ajuste entre o fotolito, a tinta, a pressão das máquinas e o corte final - foram simplesmente eliminados do mercado, em troca de um padrão que pudesse ser comandado e controlado por computadores.

A globalização crescente da economia e o desenvolvimento da tecnologia digital permitiram a busca de novos padrões gráficos, mais sofisticados e detalhados, que consolidariam um trabalho final de melhor qualidade. Independentemente do profisssional que montasse o fotolito, do gráfico que estivesse executando o serviço, da máquina que era destinada para impressão e de quem montava e realizava o corte final.

Um dos padrões que, com o tempo, acabou sendo aceito pela indústria gráfica foi o CIP3, que se apoiou no Portable Document Format (PDF), e é o standard que o mundo gráfico está reconhecendo como o mais válido sistema de produção na pré-impressão; e o Portable Job Ticket Format (PJTF), ambos da Adobe. O CIP3 está começando a ser estudado e aplicado por muitos dos grandes impressores.

Através da sistematização CIP3 foram estabelecidas regras para a pré-impressão, a impressão e a pós-impressão, ou seja o "prepress, o press e o postpress". Era o princípio de uma linguagem comum que permitiu à indústria gráfica se utilizar da rápida evolução da tecnologia digital.

O CIP3 deu certo por ter estabelecido um parâmetro uniforme que permite definir o inteiro processo produtivo gráfico. O CIP3 ajuda também a definir o processo de impressão, desde a montagem da chapa ao controle do software que define cada uma das cores (o ripping), e obter um padrão de impressão.
 

Mais: o CIP3 consolidou o atual estágio de eficiência da indústria gráfica ao estabelecer parâmetros para a pós-impressão. Utilizando informações fornecidas pelo CIP3, o gráfico passa a ter controle sobre o corte, a dobragem e a entrega do produto ao gosto do cliente. Por exemplo, uma lombada colada ou grampeada.

Ou seja, a indústria gráfica conseguiu um sofisticado padrão de acompanhamento e controle de cada etapa da produção. O novo sistema permitiu que fosse retomada parcialmente a qualidade perdida com a eliminação dos artistas gráficos. Conseguiu também ser adotada em quase todo o mundo.

Mas, eis que o mercado cresceu muito além do que os vãos ideólogos da indústria gráfica poderiam prever. Surge agora o JDF. O objetivo do JDF é ter um controle global sobre todos os procedimentos gráficos, com validade em qualquer canto do planeta, e ser utilizado pelos principais fornecedores, estejam eles na pré-impressão, na pós-impressão e até mesmo na distribuição do serviço.

Pretende-se ter uma linguagem que seja padrão para as equipes de venda, a criação da imagem (design), a pré-impressão e a pós-impressão (acabamento).

JDF - Nos últimos anos, as indústrias gráficas e de editoração exigiam a criação de dois parâmetros: uma infra-estrutura padronizada de produção e o estabelecimento de protocolos específicos que balizassem o processo de criação, manufatura e distribuição de material gráfico.

Quatro grandes companhias de projeção mundial, a Adobe, a Agfa, a Man Roland e a Heldelberg, se uniram para buscar um padrão que definiram como Job Definition Format (JDF).
 

As três grandes qualidades do JDF são:
1) Sua habilidade de estabelecer parâmetros que permitam executar um serviço gráfico desde a criação até a entrega para o cliente, eliminando as falhas de comunicação entre a produção e o gerenciamento do serviço;

2) Empresas gráficas de qualquer tamanho podem usar o JDF, desde as que tenham apenas produção individual ou poucos serviços por ano até editoras com entregas diárias de serviços;

3) O JDF cria meios de estabelecer comunicação entre sistemas de diferentes origens, ampliando o leque de origem dos trabalhos, o que facilita a atuação das equipes de vendas, exigindo-se um mínimo de configuração. Tal aspecto facilita a execução de todos os aspectos de qualquer serviço gráfico, da criação à entrega.

Desenvolvedoras - Todas as quatro empresas envolvidas no JDF têm credencial na indústria gráfica.

A Adobe desenvolveu aplicações-chaves na pré-impressão, tais como o Adobe PageMaker, Adobe InDesign e Adobe Photoshop, e estabeleceu, na prática, os parâmetros para o PostScript e o PDF. A Adobe também desenvolveu o Print Job Ticket Format (PJTF), que estabelece os parâmetros de funções utilizadas na pré-impressão.

A Agfa tem papel fundamental também em material de apoio durante a pré-impressão. Tanto a MAN Roland quanto a Heidelberg trabalham nas duas pontas da pré-impressão e tecnologias adotadas na pós-impressão, incluindo sistemas de automação e informação.

Ao se implantar o JDF, previsto para estar no mercado a partir de junho de 2000, o que se espera é aumentar a agressividade das equipes de vendas das empresas gráficas. Tendo-se um padrão aceito pela grande maioria da indústria gráfica, respeitada em cada segmento da produção (pré-impressão, impressão e pós-impressão), os vendedores poderiam oferecer grande variedade de serviços. Teriam a facilidade de distribuí-los para toda e qualquer indústria gráfica que tivesse ociosidade de demanda.

O mais importante aspecto ressaltado pelas quatro grandes empresas que desenvolvem o JDF é a criação de um Sistema de Gerenciamento de Informação eficaz.
 

O aspecto mais importante do JDF é ser capaz de atender a três categorias:
1) Sua habilidade de completar qualquer parte de um serviço gráfico, do princípio ao fim;

2) sua habilidade de repassar as informações de cada etapa que estiver sendo executada para o Sistema de Gerenciamento de Informações; e

3) Sua habilidade de executar as tarefas previstas nos ítens 1 e 2 em qualquer tipo de máquinas.

Como funciona o JDF - O JDF consegue seus objetivos traduzindo cada fase do processo de um serviço no que se chama node (nódulo). O serviço, na sua totalidade, é representado por uma árvore de nódulos. O conjundo de nódulos permite a visualização e o acompanhamento do fluxo de produção.

Cada nódulo individual, em cada etapa, é definido em termos de inputs e outputs. Os inputs do processo definem os recursos a serem utilizados e quais parâmetros o controlarão. Por exemplo, o input em um nódulo para descrever o processo para se criar a capa de uma brochura deve incluir as tintas, o papel, as chapas de impressão e o número de páginas a serem produzidas. O output de um nódulo será a definição do conjunto de páginas impressas.

Os recursos a serem alocados para um processo podem ser modificados ou ser parte de um segundo processo. Por exemplo, as páginas impressas da brochura são o input do processo de dobra e corte. E assim por diante.

O JDF, por ser um sistema de informações de duas vias, permite alterar a ordem na fila de execução dos trabalhos, interrompê-lo, adiá-lo etc. Sob o aspecto de gerenciamento contábil, o JDF agrega informações sobre os custos de cada etapa do processo, permitindo monitorá-las e compará-las permanentemente.

Mas, o que mais se espera como destaque do JDF é a possibilidade de a nova interface se transformar na ferramenta de venda por excelência. As quatro empresas que apresentarão o JDF na Drupa, em Düsseldorf, na Alemanha, querem criar um sistema que sirva de apoio para todos os segmentos gráficos, igualando as chances de todo e qualquer vendedor de serviços gráficos.

Internet - Assim que o JDF estiver implantado, seus parâmetros serão analisados pelo World Wide Web Consortion (W3C).

O lançamento do JDF está sendo preparado desde fevereiro de 1999. Em fevereiro de 2000, foi anunciado seu conceito na conferência de Seybold, em Boston, Estados Unidos. Em maio de 2000, na Drupa, em Düsseldorf, serão anunciadas as especificações finais. Em junho de 2000, o JDF será formalmente proposto para a indústria gráfica mundial.
 

Resta saber se o JDF será aceito rapidamente pela indústria gráfica, incluindo aí as grandes e principalmente as pequenas empresas. Especialistas ouvidos pela Gráfica Virtual alertam para as dificuldades de muitas gráficas brasileiras, principalmente as pequenas e familiares, de se adaptarem a um sistema de controle e gerenciamento tão sofisticado quanto o JDF. Muitas gráficas brasileiras de porte, dizem, ainda não sabem nem mesmo o que é CIP3.

O que não se duvida é que o JDF está vindo para testar e ser testado pelo mercado. Ficar indiferente à nova interface pode significar perder cliente, aqui dentro, para gráficas de fora; ou ter dificuldade de competir com as gráficas lá de fora.

(*) Marco Rosa é editor da revista PrintBR, produzida pela Gráfica Virtual. Este artigo foi reproduzido da edição de março de 2000 dessa publicação.