I hate you!
Mário Persona (*)
Colaborador
Não,
eu não odeio você. A razão do título é
simples. Você abriria um e-mail chamado "I Love You", depois de receber
um zilhão de avisos sobre um vírus com este nome? É
claro que não. Meus artigos são publicados em dezenas de
sites, jornais e revistas, mas viajam também por e-mail para alguns
milhares de leitores. Não poderia ter o mesmo título do "I
Love You", o vírus que já desiludiu tantos corações
apaixonados e carentes de afeto. E deixou os computadores tão vazios
quanto as recordações de um romance de verão.
Mas não se preocupe. Este texto
está limpinho. Talvez até limpo demais para sua leitura valer
a pena. Mesmo assim, vou arriscar. Sem cair na mesmice de falar dos prejuízos
causados pelo vírus. Ou de seu criador, caçado pela polícia
como alguém inteligente o suficiente para criar um vírus,
mas estúpido a ponto de deixar nele nome e endereço. Mas
é possível, porque tive um colega assim. Ele escrevia seu
nome atrás das colas que preparava para as provas. Até a
professora encontrar uma no chão da sala de aula.
O "I Love You" possui todas as características
de uma campanha de marketing campeã. Usa um veículo poderoso
e de amplo alcance, o e-mail, com um índice de eficácia maior
que o da TV. Surpreso? Então tente imaginar milhares de pessoas
recebendo uma mensagem única e pessoal. Cujo título faz com
que executem uma ação, para abrir a mensagem, outra para
ler seu conteúdo, e mais uma, para abrir o arquivo anexado. Um efeito
dificilmente conseguido pelo fulgor lúgubre de um comercial na TV,
que em muitos lares funciona cada vez mais como abajur, e menos como mídia.
Sonho de marketing - O título
do e-mail atraiu, conquistou e gerou uma ação. O sonho de
qualquer marketeiro. E, uma vez aberto, a mensagem não deixou por
menos. "Kindly check the attached LOVELETTER coming from me". Irresistível!
Alguém pedindo gentilmente para você abrir uma carta de amor
anexada à mensagem! Quem não gostaria de receber uma carta
de amor assim? Só que deste click em diante o encanto é quebrado.
Pior que a carruagem de Cinderela voltar a ser abóbora é
você descobrir que o e-mail se transformou em pepino. Para você
resolver.
Apesar de seu aspecto destrutivo,
que a mensagem entrou em sintonia com os anseios de seu "cliente", isto
ninguém pode negar. Chegou, ganhou sua confiança, criou interatividade
e ainda conseguiu convencer o Outlook de seu micro contaminado a emprestar
uma lista de endereços de e-mail. E passou a se mandar para outras
paragens às expensas de seu hospedeiro.
Uma boa campanha de marketing atrai,
cativa, conquista e gera uma ação. E quando consegue usar
cada pessoa "contaminada" como veículo e trampolim de disseminação,
aí o sucesso é total. Como uma dona Maria que conta para
todo o bairro que a camisa do marido ficou branquíssima com o novo
sabão. Mas marketing apenas não basta. O produto precisa
ser bom. Se a cor original era azul, dona Maria vai contar para todo o
bairro, mas com outras intenções.
Conspirações
- O "I Love You" conseguiu fixar sua marca, ainda que às avessas.
Todo mundo só fala nele. Até os fanáticos por teorias
de conspiração começam a sugerir que ele destrói
arquivos de som e imagem porque vem de alguma empresa contra a pirataria
multimídia. Ou do Bill Gates, para desacreditar a Internet e vender
uma Internet mais segura junto com a próxima versão do Windows.
Também tem gente botando a culpa em quem investe em empresas de
antivírus e sistemas de segurança, para inflar as ações
que comprou. Prepare-se para ser assediado pelo vírus das teorias.
Quando o impacto da onda atingiu
o Brasil, fui procurado por um jornal querendo saber tudo sobre o vírus.
E por uma emissora de TV, para gravar uma entrevista para o telejornal
da noite. A repórter queria saber se eu já tinha recebido
algum e-mail com o título "I Love You". Nenhum. Meu filho sim. Talvez
por ser mais jovem e simpático.
Mas estou preparado para o caso de
um "I Love You" chegar à minha caixa postal. Esse não me
pega. Sei que virá de alguém tentando me enganar. Seu destino
é o lixo. Mas se, depois de você ter lido meu artigo, eu receber
um e-mail seu com o título "I Hate You", pode ter certeza de que
vou abri-lo. Sei que está vindo de um leitor sincero.
(*) Mário
Persona é diretor de comunicação da Widesoft,
que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos
via Internet. |