Análise histórica
projeta o futuro de Santos
Arquitetura, História,
Arte e Informática se unem num projeto universitário
Carlos Pimentel Mendes (*)
Resgatar
e analisar as tendências que determinaram a conformação
atual da cidade de Santos, especialmente seu histórico relacionamento
com as atividades portuárias, permitindo assim projetar seu futuro
e propor um olhar sobre a cidade e seu porto, são os objetivos de
um trabalho iniciado recentemente por um grupo de pesquisadores santistas
que inclui historiadores, arquitetos, artistas, colecionadores de imagens
antigas, fotógrafos, jornalistas e técnicos em computação,
entre outros profissionais e estudantes: o projeto Portocidade, realizado
em parceria entre a Universidade Santa Cecília (Unisanta) e a Fundação
Arquivo e Memória de Santos.
No dia 17 de abril, o projeto inaugurou
seu site na Internet.
A proposta inclui ainda jornal, televisão, livro, CD-ROM, vídeo,
grupos de debates, painéis e apresentação em seminários
e congressos sobre o tema.
No ano do quinto centenário
dos Descobrimentos Portugueses, o temário está sendo enfocado
dentro dessa ótica, sendo intitulado “Viagens por 5 séculos”
- de Lisboa a Santos, de Santos aos Campos de Piratininga, voltando
do cafezal a Santos e de Santos para a própria cidade.
Viagens – Através de
imagens antigas e atuais, algumas bastante raras, entre mapas, desenhos,
pinturas e fotos, viaja-se desde as origens portuguesas quinhentistas até
a cidade atual, passando pelas etapas da colonização, interiorização
do processo civilizatório, retorno ao litoral paulista com o ciclo
cafeeiro, sempre enfocando características arquitetônicas
e urbanas, integradas aos vários usos que a cidade foi tendo ao
longo do tempo.
As diferentes visões – arquitetônica,
literata, poética, fotográfica, tinturesca – são cada
vez mais exploradas no trabalho, conforme avança no tempo. Assim,
na primeira viagem são mostradas as influências lusas e indígenas
na então Vila de Santos; na segunda viagem, é mais explorada
a arquitetura urbana colonial em função da cidade como elo
de ligação entre os caminhos marítimos e o interior
paulista; na terceira, são mostradas as influências do ciclo
cafeeiro, da arquitetura neoclássica, da ferrovia e do saneamento,
do novo porto organizado e como a cidade colonial era vista por pintores,
urbanistas e fotógrafos.
A última viagem é para
o íntimo da própria cidade, com seus poetas, o turismo, as
novas concepções urbanísticas, a influência
econômica e cultural do complexo portuário e suas transformações,
culminando numa análise das alterações arquitetônicas,
da influência das novas mídias e as perspectivas para o binômio
porto-cidade – que, formando uma palavra só, Portocidade, denomina
o projeto e simboliza a união indissolúvel entre essas duas
entidades que se interpenetram e se influenciam mutuamente.
Internet – Um exemplo das
novas influências é a Internet, onde existem alguns sites
sobre Santos que veiculam uma imagem particular da cidade, afirmando especialmente
seu aspecto turístico. O projeto prenuncia o momento em que a cidade
real começará a ser modelada pela cidade virtual, sofrendo
as influências dessa visão cibernética.
O conhecimento que teremos no futuro
sobre a cidade se baseará cada vez mais nessas imagens trabalhadas
em computador, da mesma forma como a fotografia produziu profundo impacto
nas iconografias do século XIX, criando novos imaginários
coletivos. Ao mesmo tempo, a tecnologia disponível permite o acesso
a detalhes micro ou macro das imagens do passado, ampliando de forma inimaginável
nosso conhecimento sobre as origens da cidade e a influência de aspectos
culturais sobre sua formação.
Conforme citação incluída
no site Portocidade, “Se por um lado a confiabilidade nessas imagens, pelo
seu potencial de manipulação, é relativa, o processamento
e a criação de simulações digitais permitem
uma ampliação infinita no potencial de conhecimento que a
imagem pode gerar, permitindo a reconstituição de objetos
inacessíveis aos sentidos humanos tanto em nível macro como
micro físico, numa relação em que mesmo a fotografia
ou o cinema jamais poderiam supor.”
Perspectivas – Lembram os
pesquisadores que não é possível formular uma visão
de futuro sem levar em conta o passado. Ao longo da História, essa
reflexão sobre o relacionamento entre porto e cidade ocorreu de
formas diferentes: havia uma simbiose no período colonial (“quando
os territórios não eram demarcados e os trapiches com suas
pontes precárias levavam a cidade até os navios. Estabeleceram
a parceria no ciclo do café que permitiu o desenvolvimento de ambos,
do porto e da cidade, na mesma medida que um dependia do outro. Parceria
essa que, a partir da industrialização, se transformou numa
relação de dependência e conflito”).
Rompido o equilíbrio dessa
relação, vivemos agora novamente a substituição
do projeto político-econômico por outro, decorrente da globalização
e das mudanças nos sistemas de comunicação e portanto
da competitividade com outros centros econômicos e portuários.
“Essas transformações
precisam atender ao aumento do movimento e características das cargas,
sua estocagem e operação cada vez mais rápida e eficiente,
gerando modificações inevitáveis nas formas de relação
do trabalho. Para superar esses conflitos devemos prever o restabelecimento
da parceria entre porto e cidade, aplicado às condições
de legitimidade das políticas urbanas, onde o planejamento estratégico
e a idéia de desenvolvimento sustentável estejam presentes”,
afirmam os autores do projeto.
Para eles, embora parte considerável
dos conceitos de planejamento urbano estratégico partam do âmbito
empresarial, a complexidade das cidades precisa considerar outros fatores,
como o peso dos movimentos sociais e a disputa entre atores sociais pela
institucionalização e durabilidade de seus pressupostos políticos
de modelo de cidade.
Três modelos – O trabalho
identifica e pretende aprofundar o estudo de três modelos básicos
de cidade encontráveis em Santos: a cidade-empresa, a cidade energeticamente
eficiente e a cidade de políticas públicas. No primeiro caso,
busca-se atrair investimentos fortalecendo as vantagens competitivas em
relação a outras cidades; a idéia de uma cidade energeticamente
eficiente implica em cuitados ecológicos como redução
do volume de rejeitos e da degradação ambiental e energética;
o terceiro modelo pugna pela adaptação da oferta de serviços
públicos (infra-estrutura) à quantidade e qualidade das demandas
sociais.
Um projeto político comum
da sociedade deverá conciliar os vários modelos, e nesse
processo as universidades têm papel fundamental, “na medida que reúnem
a pluralidade do pensamento ao princípio da pesquisa e da geração
de conhecimento”. Outros parâmetros poderão ser as experiências
de cidades norte-americanas, européias ou latino-americanas: comparadas,
analisadas e adaptadas, servem como orientação para o processo
de criação coletiva do futuro desse binômio porto/cidade,
em termos de conciliação do desenvolvimento com a qualidade
de vida.
(*) Carlos
Pimentel Mendes é editor do jornal eletrônico Novo
Milênio.
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