Você já ouviu falar?
Mário Persona (*)
Colaborador
Na minha
opinião, o primeiro veículo de comunicação
foi o ser humano. Sim, a própria pessoa, cujas pernas eram responsáveis
por vencer o espaço e transportar a informação, gerada
entre as orelhas e transmitida pela boca. A informação não
só vencia o espaço trotando, mas resistia à
ação do tempo graças a um intricado conjunto de fatores
que a transformava em tradição oral. A informação
do "ouvi dizer..." e "soube da última?".
Por funcionar em uma rede dependente
da memória e da boa vontade de seus depositários para passá-la
adiante, a informação precisava apresentar algumas características.
Precisava ser clara, para não dificultar a rapidez na retransmissão.
E devia incutir credibilidade, levando na garupa uma boa dose de paixão
para criar
o clima de urgência necessário
à ação. Um caxangá que até os escravos
de Jó sabiam jogar.
A invenção da escrita,
por si só, não tornou a informação mais ágil.
Sempre foi difícil competir com o rastilho de pólvora criado
pelo "sabe o que me contaram?". Um político, quando abordado por
alguém que queria lhe contar um segredo, negou-se a ouvir. "Se você
que é o dono do segredo não está conseguindo guardá-lo,
eu também não vou conseguir", justificou.
A transformação da
informação em ideogramas ou caracteres não a tornou
mais móvel de início. O software ainda ficava residente no
hardware, o que transformava o envio de uma carta de amor à namorada
em uma tarefa para poucos. Os e-mails da época eram digitados em
paredes de cavernas encravadas em montanhas cuja capacidade de manter-se
teimosamente no mesmo lugar é conhecida até hoje. Pelo menos
a informação já podia existir sem a presença
de seu criador.
Mobilidade - A tecnologia
permitiu o passeio da informação, em peles de animais, tabletes
de argila, papiros, até chegar no papel chinês. Era a mobilidade
tão sonhada para transportar a informação ao redor
do mundo. Caminha podia ficar no Brasil. Quem caminhava era sua carta.
O princípio era o mesmo usado em lajes de pedra, mas a tecnologia
já permitia um hardware mais portátil, ainda que restrito
a alguns poucos escribas.
A grande revolução
veio com a imprensa de tipos móveis, espalhando a informação
como praga. Pelo menos era esta a opinião dos inquisidores, que
não queriam perder os privilégios que só a ignorância
coletiva permitia manter. A tecnologia causou uma evolução
cada vez maior da mídia. Veio o telégrafo, uma versão
melhorada do tambor das selvas, o telefone, o rádio e a TV. Porém
até os meios chamados de comunicação de massa mantinham
as massas em apenas uma ponta. Uma comunicação de mão
única.
Volta às origens -
A Internet fez a informação recuperar as características
que tinha no passado, quando o veículo era humano. Implantou pernas
mais longas, uma voz mais potente e ouvidos mais sensíveis no homem
do século 21. E permitiu que o gerador da informação
voltasse a ser também seu próprio veículo. A informação
foi humanizada. Hoje, quem conseguir divulgar sua mensagem de forma clara,
rápida, confiável e apaixonada, terá sucesso. Porque
desde o princípio estas foram as características essenciais
de uma boa comunicação, seja ela de idéias ou produtos.
Se você estiver entre os poucos
que ainda não dormiram com minha aula de história, irá
entender como essa evolução pode ter um grande impacto na
forma de pensar o marketing de sua empresa. Hoje, qualquer um com acesso
à
tecnologia e à rede é um ser multimídia, capaz de
interagir e publicar suas idéias. A Internet restaurou o poder da
comunicação do "ouvi dizer", permitindo que sua mensagem
seja multiplicada e retransmitida por cada pessoa que entrar em contato
com ela.
Usando a ferramenta certa e colocando
em sua mensagem temperos essenciais - clareza, rapidez, credibilidade e
paixão - você terá sucesso no marketing de rede. As
pessoas não estarão vendo um pássaro, nem um avião,
nem um super-homem, mas a forma de comunicação mais poderosa
já inventada. Com um poder de propagação igual ao
de um boato ou vírus de computador transmitido pela rede. Algo só
conhecido no passado, quando não havia nada além de boca
e ouvidos. O poder da comunicação pessoal. Ou você
nunca ouviu falar?
(*) Mário
Persona é diretor de comunicação da Widesoft,
que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos
via Internet. |