Ameaça neonazista se espalha
na Internet
Carlos Pimentel Mendes
editor
Quem pensa
que a morte de Adolf Hitler e o término da Segunda Guerra Mundial
representaram o fim do perigo nazista, fique atento: usando as mais modernas
tecnologias, inclusive uma emissora de televisão via Internet, os
nazistas estão se rearticulando em todo o mundo, e tentam inclusive
reescrever a História, para apagar dela as cenas horripilantes do
Holoausto judaico, como se tais fatos não tivessem existido. Enquanto
em Israel são lembrados entre o anoitecer de hoje (1/5) e o de amanhã
(2/5, correspondente ao dia 27 de Nisan no calendário judaico) os
seis milhões de vítimas do Holocausto, no Yom Hashoah criado
há 50 anos, cresce o número de páginas Web dos que
advogam o revisionismo histórico, pela ótica neonazista.
As páginas neonazistas usam o
manto da liberdade de expressão para fazer o que o ministro da Propaganda
de Hitler comentou um dia: "Uma mentira repetida mil vezes vira verdade".
Quem começa a navegar por essas páginas na Internet sempre
encontra vínculos para outras do mesmo teor, que reforçam
a mensagem por elas transmitida: 1) de que os crimes de guerra atribuídos
aos nazistas foram exagerados pelos judeus; 2) que certos fatos relativos
aos campos de concentração nazistas, usados nos tribunais
de guerra, são falsos; 3) que os nazistas - suprema ironia - defendem
a igualdade entre todas as raças, sem violência entre elas,
pois na verdade fazemos todos parte de uma mesma raça, a humana;
4) os judeus é que são racistas; 5) é preciso fazer
uma revisão na História (daí esses grupos também
se chamarem revisionistas).
O rápido crescimento no número
de páginas de inspiração nazista na Web foi denunciado
recentemente pelo jornal eletrônico ABKNet,
mantido em alemão, inglês e português por um brasileiro
residente na Alemanha, Antonio Bulhões, que tem entrevistado diversas
vítimas do Holocausto. "Quem visitou campos de concentração
como Auschwitz e Dachau e conheceu pessoalmente vítimas do nazismo
e ouviu suas histórias tem pouca paciência para ouvir estes
devaneios. Tolerar isto é não somente desrespeitar as vitimas,
é també0m tripudiar os mortos. Inaceitável e repudiante",
diz ele.
Presença - Os neonazistas
marcam sua presença através de transmissões de televisão
via satélite Telstar (a TV Revisionista, em inglês, transmitindo
desde Toronto, no Canadá, o programa Voz da Liberdade, com
o apresentador Ernst Zündel).
Na Suécia, funciona a Radio
Islam, com páginas Web inclusive em português (e mais 11 idiomas),
mantida em Estocolmo pelo escritor e jornalista Ahmed Rami. Alguns de seus
temas: "A extorsão sionista contra a Suíça", "Os judeus
não são uma raça", "Judeus dirigem Hollywood - e daí?",
"Os embaixadores judeus de Clinton" etc.
No Brasil, a editora Revisão
tem sede em Porto Alegre e páginas na Internet sobre a revisão
histórica dos fatos da Segunda Guerra Mundial, e acaba de inaugurar
polêmica com a Isto É porque esta revista solicitou
uma entrevista com Siegfried Ellwanger Castan sobre esses temas e depois
não publicou o texto, que deveria ter saído na edição
de 27/2. Embora ameace processar quem qualifique tal trabalho como racista,
nazista ou neonazista, mantém na Web textos do tipo: "Por quê
os judeus mentem?", "Revisionista assume a Academia Sul Brasileira de Letras",
"Professor Jeffries derrota o sionismo" etc.
Explica Castan na entrevista - cujo
texto foi colocado na Internet -, referindo-se à editora gaúcha:
"O objetivo principal é conferir e divulgar a história em
geral e não apenas as versões sionistas, que foram desmascaradas,
com referência à II Guerra Mundial, nas partes mais importantes,
que são o suposto holocausto, onde teriam sido assassinados
6 milhões de judeus, em inexistentes câmaras de gás,
que até hoje são uma exclusividade dos EUA; o diário
de Anne Frank, escrito com caneta esferográfica que só foi
inventada após a morte da menina; as revelações de
quem provocou e levou o mundo à guerra; a insana e criminosa destruição
de mais de 90% das cidades alemãs; o massacre de milhares de soldados
e intelectuais poloneses em Katyn, crime que falsamente haviam atribuido
aos alemães e até terem executado oficiais por esse motivo
etc. etc."
Um dos muitos pontos de presença
revisionista na Internet é o Zundelsite, com páginas em inglês,
francês, alemão e russo (e algumas páginas inclusive
em português), sobre temas como "Não há provas
de que o Holocausto tenha ocorrido..." e "Número de vítimas
foi exagerado...". Também há páginas do Comitê
para o Debate Aberto do Holocausto (Codoh), com a mesma inspiração
revisionista.
Outro site, Air-Photo Evidences,
procura mostrar através de imagens que 12 temas ligados ao Holocausto
contêm inverdades. Por exemplo, que no campo de extermínio
de Birkenau os estoques de carvão não seriam suficientes
para queimar 750 pessoas ao dia: "no máximo, 100 por dia"...
Manifestação -
Todos os anos, no dia 27 de Nisan, os israelitas realizam manifestações
em memória das vítimas do Holocausto, entre elas a paralisação
de todas as atividades (inclusive do trânsito) por um minuto, ao
toque de sirenes usadas no alarme contra ataques aéreos.
Os israelitas estão desenvolvendo
também o projeto Yad Layeled há quatro anos, no Children's
Holocaust Museum of Beit Lohamei Hageta'ot' (dedicado à memória
de 1.5 milhão de criancas judias, vítimas do Holocausto).
O programa educativo envolve escolas de primeiro grau estadunidenses e
israelenses, com a participação de estudantes, historiadores,
educadores e museólogos.
Durante o ano, as criancas, ligadas
por correio eletrônico e classes virtuais, estudam o Holocausto e
discutem valores pessoais, comuns e nacionais, construindo uma comunidade
internacional de aprendizado. Neste ano, o projeto está sendo baseado
no autor de histórias infantis e também sobrevivente do Holocausto,
Uri Orlev, abordando a "vida na sombra da morte" ("Sharing
life in the shadow of death") e as crianças sem infância.
O projeto culmina com o encontro das crianças e pais na exposição
de seus trabalhos no Museu do Holocauto.
Enquanto isso, o jornal Jerusalem
Post vem publicando nos últimos dias a história de
Leah Paz, uma sobrevivente de 70 anos que também contou seu drama
para o cineasta Steven Spielberg no filme Exodus. |