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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 05/01/00 21:35:18
Ameaça neonazista se espalha na Internet 

Carlos Pimentel Mendes
editor

Quem pensa que a morte de Adolf Hitler e o término da Segunda Guerra Mundial  representaram o fim do perigo nazista, fique atento: usando as mais modernas tecnologias, inclusive uma emissora de televisão via Internet, os nazistas estão se rearticulando em todo o mundo, e tentam inclusive reescrever a História, para apagar dela as cenas horripilantes do Holoausto judaico, como se tais fatos não tivessem existido. Enquanto em Israel são lembrados entre o anoitecer de hoje (1/5) e o de amanhã (2/5, correspondente ao dia 27 de Nisan no calendário judaico) os seis milhões de vítimas do Holocausto, no Yom Hashoah criado há 50 anos, cresce o número de páginas Web dos que advogam o revisionismo histórico, pela ótica neonazista.
Página apresenta as transmissões de TV neonazistas via satélite
As páginas neonazistas usam o manto da liberdade de expressão para fazer o que o ministro da Propaganda de Hitler comentou um dia: "Uma mentira repetida mil vezes vira verdade". Quem começa a navegar por essas páginas na Internet sempre encontra vínculos para outras do mesmo teor, que reforçam a mensagem por elas transmitida: 1) de que os crimes de guerra atribuídos aos nazistas foram exagerados pelos judeus; 2) que certos fatos relativos aos campos de concentração nazistas, usados nos tribunais de guerra, são falsos; 3) que os nazistas - suprema ironia - defendem a igualdade entre todas as raças, sem violência entre elas, pois na verdade fazemos todos parte de uma mesma raça, a humana; 4) os judeus é que são racistas; 5) é preciso fazer uma revisão na História (daí esses grupos também se chamarem revisionistas).
Charge do Zundelsite sobre a briga entre a Verdade e o Holocausto
O rápido crescimento no número de páginas de inspiração nazista na Web foi denunciado recentemente pelo jornal eletrônico ABKNet, mantido em alemão, inglês e português por um brasileiro residente na Alemanha, Antonio Bulhões, que tem entrevistado diversas vítimas do Holocausto. "Quem visitou campos de concentração como Auschwitz e Dachau e conheceu pessoalmente vítimas do nazismo e ouviu suas histórias tem pouca paciência para ouvir estes devaneios. Tolerar isto é não somente desrespeitar as vitimas, é també0m tripudiar os mortos. Inaceitável e repudiante", diz ele.

Presença - Os neonazistas marcam sua presença através de transmissões de televisão via satélite Telstar (a TV Revisionista, em inglês, transmitindo desde Toronto, no Canadá, o programa Voz da Liberdade, com o apresentador Ernst Zündel). 

Na Suécia, funciona a Radio Islam, com páginas Web inclusive em português (e mais 11 idiomas), mantida em Estocolmo pelo escritor e jornalista Ahmed Rami. Alguns de seus temas: "A extorsão sionista contra a Suíça", "Os judeus não são uma raça", "Judeus dirigem Hollywood - e daí?", "Os embaixadores judeus de Clinton" etc.

Codoh debate o holocausto pela ótica neonazista
No Brasil, a editora Revisão tem sede em Porto Alegre e páginas na Internet sobre a revisão histórica dos fatos da Segunda Guerra Mundial, e acaba de inaugurar polêmica com a Isto É porque esta revista solicitou uma entrevista com Siegfried Ellwanger Castan sobre esses temas e depois não publicou o texto, que deveria ter saído na edição de 27/2. Embora ameace processar quem qualifique tal trabalho como racista, nazista ou neonazista, mantém na Web textos do tipo: "Por quê os judeus mentem?", "Revisionista assume a Academia Sul Brasileira de Letras", "Professor Jeffries derrota o sionismo" etc. 

Explica Castan na entrevista - cujo texto foi colocado na Internet -, referindo-se à editora gaúcha: "O objetivo principal é conferir e divulgar a história em geral e não apenas as versões sionistas, que foram desmascaradas, com referência à II Guerra Mundial, nas partes mais importantes, que são o suposto holocausto, onde teriam sido assassinados 6 milhões de judeus, em inexistentes câmaras de gás, que até hoje são uma exclusividade dos EUA; o diário de Anne Frank, escrito com caneta esferográfica que só foi inventada após a morte da menina; as revelações de quem provocou e levou o mundo à guerra; a insana e criminosa destruição de mais de 90% das cidades alemãs; o massacre de milhares de soldados e intelectuais poloneses em Katyn, crime que falsamente haviam atribuido aos alemães e até terem executado oficiais por esse motivo etc. etc."

Codoh debate o holocausto pela ótica neonazista
Um dos muitos pontos de presença revisionista na Internet é o Zundelsite, com páginas em inglês, francês, alemão e russo (e algumas páginas inclusive em português), sobre temas como  "Não há provas de que o Holocausto tenha ocorrido..." e "Número de vítimas foi exagerado...". Também há páginas do Comitê para o Debate Aberto do Holocausto (Codoh), com a mesma inspiração revisionista.

Outro site, Air-Photo Evidences, procura mostrar através de imagens que 12 temas ligados ao Holocausto contêm inverdades. Por exemplo, que no campo de extermínio de Birkenau os estoques de carvão não seriam suficientes para queimar 750 pessoas ao dia: "no máximo, 100 por dia"...

Fotos aéreas provam que o massacre num campo só poderia ser de no máximo 100 pessoas por dia...
Manifestação - Todos os anos, no dia 27 de Nisan, os israelitas realizam manifestações em memória das vítimas do Holocausto, entre elas a paralisação de todas as atividades (inclusive do trânsito) por um minuto, ao toque de sirenes usadas no alarme contra ataques aéreos. 

Os israelitas estão desenvolvendo também o projeto Yad Layeled há quatro anos, no Children's Holocaust Museum of Beit Lohamei Hageta'ot' (dedicado à memória de 1.5 milhão de criancas judias, vítimas do Holocausto). O programa educativo envolve escolas de primeiro grau estadunidenses e israelenses, com a participação de estudantes, historiadores, educadores e museólogos. 

Página do Jerusalem Post de 1/5 com a história da sobrevivente
Durante o ano, as criancas, ligadas por correio eletrônico e classes virtuais, estudam o Holocausto e discutem valores pessoais, comuns e nacionais, construindo uma comunidade internacional de aprendizado. Neste ano, o projeto está sendo baseado no autor de histórias infantis e também sobrevivente do Holocausto, Uri Orlev, abordando a "vida na sombra da morte" ("Sharing life in the shadow of death") e as crianças sem infância. O projeto culmina com o encontro das crianças e pais na exposição de seus trabalhos no Museu do Holocauto. 

Enquanto isso, o jornal Jerusalem Post vem publicando nos últimos dias a história de Leah Paz, uma sobrevivente de 70 anos que também contou seu drama para o cineasta Steven Spielberg no filme Exodus.