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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 04/26/00 09:55:38
Sanduíche tecnológico 

Mário Persona (*)
Colaborador

Os americanos gostam de definir gerações. Assim fica mais fácil identificar mercados e vender, vender e vender. Por isso ouvimos falar tanto dos "baby boomers", a garotada que nasceu e cresceu nos EUA nos tempos de prosperidade do pós-guerra, quando a programação da TV não era muito interessante. A geração que veio a seguir, nascida entre 1961 e 1980, costuma ser chamada de "Geração X". Não me pergunte a razão. Talvez porque cresceram assistindo "Arquivo X", ou comendo X-Burger.
Há hoje uma geração, que vem depois da "X". Você adivinhou, "Geração Y". Trata-se da garotada que nasceu entre 1977 e 1997, a primeira geração na história que cresceu com a Internet. São crianças e jovens muito à vontade com a tecnologia. Que deixaram o chocalho para brincar com um joystick e sabem como fazer parar de piscar aquele "12:00" de seu videocassete.

O mercado começa a olhar para a "Geração Y" com grande interesse. Trata-se de um público com um poder de compra sem precedentes em outras épocas, e que tem na Internet a sua principal fonte de informação. Segundo pesquisa do Round Table Group, 84% dessa geração prefere a Internet à biblioteca para buscar informação. E cerca de 68% trocam o jornal ou a TV pelo mesmo motivo. Se você somar a familiaridade com Internet a um bolso tamanho "G" para consumir produtos e informação, vai descobrir que o "X" da questão é investir na "Geração Y".

Um micro para um grande bolso - Montado o cenário, não precisa ser muito esperto para enxergar o potencial do "Pocket PC" (www.pocketpc.com), lançado pela Microsoft, HP, Casio e Symbol. Imagine levar no bolso uma tabuinha, do tamanho de um mini-game, com acesso à Internet, e-mail, chat, música, games, tela colorida, reconhecimento de escrita e gravador embutido. Se você pertencer à "Geração X", ou for de um modelo mais clássico como eu, vai gelar só de pensar no quanto o seu filho vai gastar com tanto poder nas mãos.

Embora seja a "Geração Y" que vai comer, em um prazo curtíssimo, a maior fatia do bolo do consumo, os efeitos colaterais dos dispositivos portáteis de acesso à Internet são impossíveis de se prever. Arrisco-me apenas a afirmar que isso irá causar uma revolução maior que a do telefone celular. Aliás, quando vejo empresas anunciando telefone celular com Internet, parece que estou vendo um cardápio em que alguém errou e escreveu: "Fritas com Filé". Quero ter no bolso, não um celular com Internet, mas uma Internet com celular, rádio, TV, livro, jornal, revista, correio, fax e todos os filhos que só a mãe de todas as mídias poderia adotar. 

Enquanto faço parte do grupo dos sem-Internet-móvel, vou continuar sonhando com as possibilidades. Nem falo em agenda, endereços ou funções corriqueiras. Para alguém como eu, que adora ler, imagine a facilidade disso para ler livros em formato eletrônico. Ler ou ouvir. Porque os livros narrados, que já costumo escutar em fita cassete, começam a aparecer em formato digital. Imagine eu poder tomar notas em qualquer lugar onde surja uma idéia. No meu caso, isso vai exigir um modelo impermeável ou com tela iluminada, já que meu cérebro funciona melhor no chuveiro e durante o sono.

Caminho do escritório - Já estou planejando levar meu escritório inteiro em minha caminhada matinal. Para workaholics como eu, fazer caminhadas faz mal para o coração. Cria ansiedade, só de pensar nas tarefas que me esperam. Com uma pequena maravilha dessas, até passear vai virar um prazer para quem é viciado em trabalho. Já pensou poder ditar os compromissos no gravador embutido, navegar na Web, ler os e-mails e até ouvir música? Quem vai querer voltar para o escritório com um negócio assim! E quem disse que vou conseguir caminhar?

Tanta coisa junta me faz lembrar o X-Tudo que eu costumava comer em uma padaria no centro de São Paulo. Além do habitual pão, queijo, hambúrguer, ovo e salada, o sanduíche trazia fatias de salame, pernil, lombo e um vinagrete de dar água na boca. Pausa para engolir a saliva. O X-Tudo era tão grande que causava cãibras no maxilar. 

Se esse PC de bolso fizer tudo o que promete, deveria ter outro nome. Um nome adequado à "Geração Y", a garotada que vai estar fazendo acrobacias com o "Pocket PC", enquanto eu, e outros de minha geração, estaremos procurando o botão de ligar. Portanto, fica aqui a minha sugestão para os novos dispositivos de Internet móvel. De olho no mercado emergente, eu chamaria esses sanduíches recheados de tecnologia de "Y-Tudo".

(*) Mário Persona é diretor de comunicação da Widesoft, que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos via Internet.