Sanduíche tecnológico
Mário Persona (*)
Colaborador
Os americanos
gostam de definir gerações. Assim fica mais fácil
identificar mercados e vender, vender e vender. Por isso ouvimos falar
tanto dos "baby boomers", a garotada que nasceu e cresceu nos EUA nos tempos
de prosperidade do pós-guerra, quando a programação
da TV não era muito interessante. A geração que veio
a seguir, nascida entre 1961 e 1980, costuma ser chamada de "Geração
X". Não me pergunte a razão. Talvez porque cresceram assistindo
"Arquivo X", ou comendo X-Burger.
Há hoje uma geração,
que vem depois da "X". Você adivinhou, "Geração Y".
Trata-se da garotada que nasceu entre 1977 e 1997, a primeira geração
na história que cresceu com a Internet. São crianças
e jovens muito à vontade com a tecnologia. Que deixaram o chocalho
para brincar com um joystick e sabem como fazer parar de piscar aquele
"12:00" de seu videocassete.
O mercado começa a olhar para
a "Geração Y" com grande interesse. Trata-se de um público
com um poder de compra sem precedentes em outras épocas, e que tem
na Internet a sua principal fonte de informação. Segundo
pesquisa do Round Table Group, 84% dessa geração prefere
a Internet à biblioteca para buscar informação. E
cerca de 68% trocam o jornal ou a TV pelo mesmo motivo. Se você somar
a familiaridade com Internet a um bolso tamanho "G" para consumir produtos
e informação, vai descobrir que o "X" da questão é
investir na "Geração Y".
Um micro para um grande bolso
- Montado o cenário, não precisa ser muito esperto para enxergar
o potencial do "Pocket PC" (www.pocketpc.com),
lançado pela Microsoft, HP, Casio e Symbol. Imagine levar no bolso
uma tabuinha, do tamanho de um mini-game, com acesso à Internet,
e-mail, chat, música, games, tela colorida, reconhecimento de escrita
e gravador embutido. Se você pertencer à "Geração
X", ou for de um modelo mais clássico como eu, vai gelar só
de pensar no quanto o seu filho vai gastar com tanto poder nas mãos.
Embora seja a "Geração
Y" que vai comer, em um prazo curtíssimo, a maior fatia do bolo
do consumo, os efeitos colaterais dos dispositivos portáteis de
acesso à Internet são impossíveis de se prever. Arrisco-me
apenas a afirmar que isso irá causar uma revolução
maior que a do telefone celular. Aliás, quando vejo empresas anunciando
telefone celular com Internet, parece que estou vendo um cardápio
em que alguém errou e escreveu: "Fritas com Filé". Quero
ter no bolso, não um celular com Internet, mas uma Internet com
celular, rádio, TV, livro, jornal, revista, correio, fax e todos
os filhos que só a mãe de todas as mídias poderia
adotar.
Enquanto faço parte do grupo
dos sem-Internet-móvel, vou continuar sonhando com as possibilidades.
Nem falo em agenda, endereços ou funções corriqueiras.
Para alguém como eu, que adora ler, imagine a facilidade disso para
ler livros em formato eletrônico. Ler ou ouvir. Porque os livros
narrados, que já costumo escutar em fita cassete, começam
a aparecer em formato digital. Imagine eu poder tomar notas em qualquer
lugar onde surja uma idéia. No meu caso, isso vai exigir um modelo
impermeável ou com tela iluminada, já que meu cérebro
funciona melhor no chuveiro e durante o sono.
Caminho do escritório
- Já estou planejando levar meu escritório inteiro em minha
caminhada matinal. Para workaholics como eu, fazer caminhadas faz
mal para o coração. Cria ansiedade, só de pensar nas
tarefas que me esperam. Com uma pequena maravilha dessas, até passear
vai virar um prazer para quem é viciado em trabalho. Já pensou
poder ditar os compromissos no gravador embutido, navegar na Web, ler os
e-mails e até ouvir música? Quem vai querer voltar para o
escritório com um negócio assim! E quem disse que vou conseguir
caminhar?
Tanta coisa junta me faz lembrar
o X-Tudo que eu costumava comer em uma padaria no centro de São
Paulo. Além do habitual pão, queijo, hambúrguer, ovo
e salada, o sanduíche trazia fatias de salame, pernil, lombo e um
vinagrete de dar água na boca. Pausa para engolir a saliva. O X-Tudo
era tão grande que causava cãibras no maxilar.
Se esse PC de bolso fizer tudo o
que promete, deveria ter outro nome. Um nome adequado à "Geração
Y", a garotada que vai estar fazendo acrobacias com o "Pocket PC", enquanto
eu, e outros de minha geração, estaremos procurando o botão
de ligar. Portanto, fica aqui a minha sugestão para os novos dispositivos
de Internet móvel. De olho no mercado emergente, eu chamaria esses
sanduíches recheados de tecnologia de "Y-Tudo".
(*) Mário
Persona é diretor de comunicação da Widesoft,
que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos
via Internet. |