Schürmann: quase mil dias no
mar e na Net
Seguindo
a rota do navegador português Fernão de Magalhães pelos
oceanos Pacífico, Índico e Atlântico, a família
de navegadores Schürmann está retornando ao Brasil, depois
de mais de dois anos no mar, numa viagem que os internautas vêm acompanhando
pela Internet, no site oficial
da expedição.
Tendo partido em 23/11/1997, os seis
integrantes da família aportarão o veleiro Aysso em
Porto Seguro no dia 22/4, exatamente na data em que o Brasil comemora o
quinto centenário do Descobrimento. Aliás, sua expedição,
Magalhães Global Adventure, foi aprovada como evento oficial pela
Comissão Nacional para as Comemorações do V Centenário
do Descobrimento do Brasil.
No dia 22/4, o veleiro deverá
ser avistado por volta das 16 horas na Baía de Porto Seguro, ocorrendo
a Navegada de Saudação, e atracando meia hora depois no trapiche
local, onde ocorre a cerimõnia de chegada ao trapiche. Em seguida,
os navegadores e convidados seguem para o Paradise Resort, onde haverá
entrevista coletiva à imprensa e jantar.
Internautas - Nesses 881 dias
de aventura no mar, Vilfredo, Heloísa, Pierre, David, Willhelm e
Kat Schürmann estão sendo acompanhados por mais de 1,5 milhão
de internautas, um terço dos quais no Brasil. Transmissões
fotográficas e textos em português e inglês estão
sendo enviados diretamente do barco para o mundo, através da Internet.
Os visitantes do site acompanham
a rota dos navegadores, exploram as informações sobre a cultura
e a história dos povos, o meio-ambiente, a navegação,
a meteorologia, ciências e educação ambiental - entre
outros assuntos - em meio a cenários exuberantes, vivenciando a
cada dia uma nova experiência.
Vários equipamentos de última
geração foram incorporados ao veleiro: dois computadores
modelo torre, três laptops e uma rede intranet. A tecnologia possibilita
a transmissão de textos, fotos e sons digitais e de imagens em movimento,
via satélite, pelo sistema Inmarsat. Para as teleconferências,
usam uma super-maleta que contém um microcomputador com câmera
digital e microfone, tudo à prova d'água e de choque.
Circunavegação
- A rota de Fernão de Magalhães, percorrida entre 1519 e
1522, foi escolhida para o Magalhães Global Adventure por ser uma
fascinante aventura da primeira circunavegação feita pelo
homem. A expedição de Fernão de Magalhães foi
um sucesso de muitas descobertas: a Zona do Tempo, o Estreito de Magalhães
que liga o Atlântico ao Pacífico, a prova definitiva de que
a Terra é redonda. Alcançou seu objetivo de encontrar uma
nova rota para as Índias, possibilitando, assim, maiores lucros
para os patrocinadores da expedição.
Apesar de ter perdido a vida sem
completar sua viagem, Fernão de Magalhães passou para a história
como um dos maiores navegadores de seu tempo. Sua viagem abriu horizontes
para outros navegadores que, como os Schürmann, puderam navegar pelos
mares.
Dados
e informações interessantes:
Países
visitados: 15 países e 8 territórios
Milhas
navegadas: 29.384 milhas ou 54.420 quilômetros
Maior
profundidade: 5.841 metros
Ventos
mais fortes: 55-60 nós no Estreito de Magalhães
Navegação
mais longa: de Cocos Keeling a Madagascar 2.933 milhas
Lugar
mais frio: Seno Pingüim, Patagônia
Lugar
mais quente: Sultanato de Brunei (36º C)
Maior
perigo: Piratas no Mar da China
Maior
surpresa: Mog Mog, Micronésia, e sua tradição
Maior
decepção: Não poder filmar na Ilha Pitcairn
Animal
mais incrível: O macaco Tarsier, nas Filipinas
Mergulho
mais emocionante: Arraias-jamantas de 3,5 m em Yap e tubarão
branco na África do Sul.
Melhor
marina: Waterfront, na Cidade do Cabo
Pior
marina: Jacarta, Indonésia
Lugar
mais caro: Papeete, Taiti
Lugar
mais barato: Filipinas
Costume
mais diferente: A Casa das Mulheres, em Mog Mog. É onde as mulheres
têm que ficar durante o período menstrual e o resguardo, sendo
proibida a entrada de homens.
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Novos Horizontes - Refazer
a viagem de Fernão de Magalhães significa muito mais do que
a reedição de um acontecimento histórico, embora esta
seja talvez uma das páginas mais bonitas da História. Assim
como Fernão de Magalhães foi um precursor, o objetivo do
projeto dos Schürmann também é a busca de novos horizontes.
A rota de Magalhães levou
a Família Schürmann a lugares fantásticos, entre geleiras
e ilhas tropicais. Entretanto, este caminho tem uma característica
que o diferencia das outras rotas comerciais que passam pelo Caribe e pelo
Canal do Panamá. Ele não perdeu seu mistério original.
Ainda há segredos para serem desvendados, como, por exemplo, para
onde vão os pingüins da Patagônia quando desaparecem
no mar durante sete meses no ano. As modernas expedições,
como a que a Família Schürmann está realizando, incluem
pesquisadores com tecnologia de última geração, que
talvez possam achar as respostas para mistérios como este.
Além de Magalhães,
esta rota foi percorrida por outros navegadores. Por exemplo, Joshua Slocum,
o primeiro homem a circunavegar o mundo sozinho, no final do século
XIX. E o submarino atômico U.S. Triton que, em 1960, refez
a rota do grande navegador português. Em plena guerra fria, passou
por águas inimigas sem vir à tona nenhuma vez, durante 85
dias. Todos estes relatos ajudaram a Família Schürmann na determinação
de parâmetros seguros de estudo e comparação e a fazer
novas descobertas.
Fernão de Magalhães
- O famoso navegador que emprendeu a primeira circunavegação
da Terra nasceu em Portugal, em 1480. De família nobre, foi criado
como pagem da rainha D. Leonor, em Lisboa. Aos 25 anos, embarcou na esquadra
de Francisco de Almeida, o primeiro vice-rei português na Índia
e, depois, com Afonso de Albuquerque, fundador do império português
na Ásia.
Quando regressou a Portugal, em 1512,
atingira o posto de capitão e foi promovido a fidalgo escudeiro,
um escalão de nobreza mais elevado. Ferido em combate no Norte da
África, ficou coxo para o resto da vida. Tratado com indiferença
pelo rei ao reivindicar o aumento de sua pensão, solicitou ao rei
que o desobrigasse de sua lealdade a Portugal para que pudesse servir a
outro monarca. O rei deu-lhe permissão e Fernão de Magalhães
foi para Sevilha, na Espanha, de onde partiu, em 20 de setembro de 1519,
para a primeira viagem de circunavegação da história,
sob a bandeira de Espanha.
Com cinco naus - San Antonio,
Trinidad
(nau-capitânia), Victoria, Concepción e Santiago
- e uma tripulação de 267 homens de várias nacionalidades,
sob o comando de Fernão de Magalhães, a Armada das Molucas
partiu de Sevilha com o objetivo de encontrar uma passagem no Sul do continente
americano e estabelecer um caminho mais rápido para as Ilhas das
Especiarias, uma rota alternativa para o trajeto até então
conhecido, que era contornar a África.
Pela primeira vez na história
da navegação, uma esquadra cruzou o oceano Atlântico
em direção ao Pacífico, passando pelo Estreito que
recebeu o nome do navegador. A expedição usou técnicas
avançadas para a época, mas mesmo assim apenas 18
tripulantes sobreviveram.
Três anos mais tarde, quando
ninguém na Espanha se lembrava mais daquela esquadra, surgiu no
porto a pequena Victoria, sem mastros, com o casco avariado, fazendo
água. A bordo, dezoito sobreviventes. Um deles era Antônio
Pigaffeta, que
escreveu os acontecimentos daqueles
três anos. Fernão de Magalhães havia falecido em Mactan,
nas Filipinas, em combate com nativos, em 27 de abril de 1521 e, além
de dar seu nome ao estreito no extremo Sul das Américas, batizou
a estrela na base do Cruzeiro do Sul.
Graças a esses registros,
a Família Schürmann pôde reeditar uma das aventuras mais
fascinantes da história da humanidade: a primeira volta ao redor
do mundo, que provou que a Terra era redonda, descobriu o Oceano Pacífico,
as Filipinas e o fuso horário.
Família de navegadores
- Os Schürmann são uma família marinheira. Hoje os pais,
Vilfredo e Heloísa, são marinheiros experientes. Pierre,
David, Wilhelm e a pequena Kat cresceram e se tornaram verdadeiros homens
(e menina) do mar:.
Vilfredo de Oliveira Schürmann
(51 anos) - Natural de Florianópolis (SC) é bacharel em Economia,
foi proprietário de uma empresa de projetos industriais e assessor
financeiro de diversas indústrias catarinenses. Hoje administra
o Magalhães Global Adventure, buscando soluções para
a viagem, retorno para os patrocinadores, e as táticas para a logística
da viagem. Dedica-se também a fazer palestras empresariais enfocando
temas como planejamento estratégico, organização,
motivação, qualidade de vida e trabalho de equipe. Foram-lhe
outorgadas a Medalha do Mérito Anita Garibaldi, pelos serviços
prestados ao Estado de Santa Catarina, em 25/11/1994, e o Diploma da Medalha
do Mérito Tamandaré, em 13/12/1994.
Heloísa Carneiro Ribeiro Schürmann
(51 anos) - Natural da cidade do Rio de Janeiro, é professora de
inglês com diploma da New York University. Em Florianópolis,
foi proprietária de uma escola de inglês com cerca de mil
alunos. Atualmente, coordena o planejamento dos projetos na área
educacional e participa na realização das palestras. Autora
de artigos para revistas, jornais e do livro Dez Anos no Mar, Heloísa
é o contato ideal para quem quiser saber sobre educação,
saúde, bem estar da tripulação e alimentação
a bordo.
Pierre Schürmann (31 anos) -
Formou-se em Administração de Empresas na Flórida.
Com experiência abrangendo diversos setores na área de finanças
e computação, especializou-se em Internet. Hoje está
trabalhando entre o Brasil e os Estados Unidos, assessorando a família
na área de informática da viagem Magalhães Global
Adventure. Pierre é o responsável pela comunicação
na Internet e via satélite.
David Schürmann (26 anos) -
Reside atualmente na Nova Zelândia, onde formou-se em Televisão
e Cinema. Começou sua carreira como diretor de televisão,
e logo se especializou em filmes, dirigindo e produzindo filmes para cinema
e comerciais. David voltou ao Brasil em setembro de 1999 para se dedicar
à parte de comunicação visual, mídia, homepage
e filmagens dos projetos da Família Schürmann .
Wilhelm Schürmann (23 anos)
- Pratica o windsurf como atividade profissional, participando de competições
de nível internacional onde conquistou diversos títulos,
como o de campeão da Nova Zelândia em 1993 e campeão
paulista e catarinense em 1995. É o atual campeão brasileiro.
Único brasileiro no ranking mundial do Professional Windsurfing
Association (PWA), regressou em setembro/1999 do circuito internacional
depois de correr as etapas de EUA, Venezuela, Aruba, República Dominicana,
Fiji, Grécia, e Inglaterra.
Katherine Schürmann (7 anos)
- A pequena marinheira está estudando por correspondência,
pelo método da Escola Calvert, dos Estados Unidos, como seus irmãos
estudaram na primeira volta ao mundo.
Diário de Bordo
por Heloísa Schürmann
Cabo Verde, 3 de abril de 2000.
Depois que a regata partiu com
seus 35 barcos, o porto ficou meio vazio, com apenas 8 barcos. Saímos
para explorar a ilha e a cidade.
Cabo Verde fica a apenas 200 milhas
da costa da África Ocidental; e é um arquipélago vulcânico.
Quando os portugueses descobriram
as ilhas em 1456, eles deram este nome por causa da vegetação
bem verdinha. São dez ilhas com um total de 400 mil habitantes.
A capital, Praia, fica na ilha
de São Tiago. Mindelo é a maior ilha e o principal porto
do arquipélago.
As ilhas sofreram um terrível
processo de devastação por causa dos desmatamentos e das
cabras trazidas pelos colonizadores. O desequilíbrio ambiental trouxe
a seca para as ilhas e do século 17 ao 19 milhares de pessoas morreram.
Muitos dos que sobreviveram foram
embora nos navios baleeiros para New England, nos Estados Unidos. Outros
foram para o Brasil durante o ciclo do ouro e fundaram a cidade de Cabo
Verde, em Minas Gerais, em 1750.
Hoje muitos cabo-verdianos moram
no exterior e mandam parte do dinheiro que ganham para cá, para
ajudar suas famílias, e esta renda ajuda muito a economia local.
Os principais produtos de exportação
são sal e pescado. As ilhas foram também um ponto importante
de abastecimento para navios. Era em Cabo Verde que os navios-negreiros
paravam para cristianizar os escravos antes de enviá-los para o
Novo Mundo. |
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