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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 04/08/00 14:04:52
Uma veterana na passarela 

Mário Persona (*)
Colaborador

O artigo que li no Chicago Sun-Times parecia promissor. Trocado em miúdos, o texto mostrava que o conceito Application Service Provider (ASP - Provedor de Serviços de Aplicativos) permitiria às empresas ter acesso a uma tecnologia de ponta, sem que precisassem pagar altas somas de dinheiro para isso. E continuava alardeando esta modalidade de aluguel de software como se fosse algo inédito. A última moda em termos de software para empresas. 
Em um dos parágrafos dizia que o conceito ASP, que inclui uma variedade de formas de se desenvolver, hospedar, manter e alugar software, existiria há apenas 18 meses. Li outra vez, fiz as contas, e era isso mesmo. Ele estava dizendo que o negócio deve ter surgido há um ano e meio aproximadamente. Mas a história não é bem assim. Muito antes, sistemas ASP já desfilavam, não nas passarelas da moda, mas nas áreas de suprimento de grandes indústrias. 

Dando uma de arqueólogo, resolvi cavar as camadas geológicas de meus escritos e desenterrei uma vaca. Um artigo, "A Vaca dos Meus Sonhos", que escrevi há um ano e pouco, falava exatamente da utilização da Internet como forma de se disponibilizar software. Mediante apenas o pagamento de uma mensalidade por sua utilização. Ali, eu já escrevia que os aplicativos deixavam de ser instalados nas máquinas dos usuários, para ficar disponíveis em algum endereço na Web. Algo como um self service de bits e bytes. 

Nomes - Quando escrevi meu artigo, a melhor palavra que encontrei para descrever isso foi outsourcing, ou terceirização. Mas o nome trazia um pouco do estigma da execução de serviços por terceiros, sem controle da empresa. Todavia, a diferença entre ter seus processos executados por terceiros, e utilizar uma ferramenta disponibilizada por terceiros, é grande. Neste último caso, é a empresa que detém o controle de tudo. Um modelo que dá total mobilidade a quem o veste.

Talvez o correto seria dizer que a expressão ASP, ou Provedor de Serviços de Aplicativos para quem prefere o português, seja recente. Mas o serviço não é. Muito antes da época que aquele jornalista imaginou ter surgido o ASP, a Widesoft já fornecia serviços desta forma. E tudo o que as empresas que utilizavam o sistema precisavam ter era uma conexão à Internet e um browser ou navegador instalado no micro. E uma boa dose de visão.

Primeiros - O primeiro software ASP, criado pela Widesoft em 1996, foi o Invosys. Um sistema de auxílio à gestão dos processos de compra e venda, dentro de uma cadeia de suprimentos. A maior diferença entre o sistema da Widesoft e um software convencional era que tudo funcionava na Web, sem a necessidade de instalação, manutenção ou atualizações de software nos micros das empresas que o utilizavam. Cada empresa pagava apenas uma pequena taxa mensal de aluguel do sistema, para poder se relacionar com seus parceiros de negócios, enviando informações de estoque, compra, venda, controle de qualidade, etc. O sistema tem funcionado desde 1997 na Freios Varga, que hoje pertence ao grupo TRW, provavelmente a maior indústria de autopeças do mundo. Desde 1998 o sistema é utilizado também pela Xerox do Brasil.

No final de 1999 foi lançada a nova versão do sistema, com novas funcionalidades e um novo nome, WideLog. Nos últimos anos o sistema vem sendo sendo utilizado, sem grandes alardes nas colunas da moda, mas com grandes resultados no bolso. Por ter sido lançado antes da moda ASP, talvez não tenha chamado tanto a atenção da mídia. Precisavam inventar uma sigla anglo-saxônica - "ASP" - para ajudar a lançar o modelo na passarela da moda. Hoje é um grande consolo saber que não estávamos fora de moda, mas que nos adiantamos às tendências.

Custo reduzido - Usar um aplicativo ASP nada mais é do que alugar um software, o que a Internet permitiu fazer a custos infinitamente menores dos praticados pelas empresas que faziam isso em redes convencionais. É como ir a uma festa vestindo um modelo só acessível às maiores estrelas, e pagando apenas pelo aluguel da roupa. Em um certo sentido, estamos assistindo a um "De Volta Para o Futuro" no mundo da Informática. Não faz muito tempo, era comum encontrar grandes empresas utilizando os serviços de imensos e caros mainframes para executar parte de seu processamento de dados. Usando, para isso, redes igualmente caras.

Hoje o princípio é semelhante, porém mais eficiente e abrangente. Se alugar um serviço de software no passado era algo que estava restrito às grandes montadoras de automóveis ou a empresas do mesmo porte, hoje qualquer empresa pequena ou média pode fazê-lo, com maior eficiência do que se conseguia há quase 30 anos. E por um preço muito menor. 

Para as empresas, sempre preocupadas em reduzir seus custos e ganhar competitividade, o conceito de aplicativos ASP chega em boa hora. E começa a correr na contramão da tendência que víamos até ontem. Refiro-me às fortunas que eram gastas em software e consultoria de implementação para instalar, on site, sistemas que hoje podem ser acessados com a facilidade via Internet. E a um preço que não difere muito do que se gasta para abrir uma torneira, acender uma lâmpada ou atender a uma chamada telefônica. 

Pequenas e médias - Hoje é possível que pequenas e médias empresas tenham acesso a sistemas complexos pagando apenas uma taxa mensal, coisa que nem imaginavam fazer há poucos anos. Com a vantagem de não precisar pagar por upgrades, já que a cada atualização do sistema, todos os usuários passam automaticamente a usufruir da versão atualizada. 

Há inúmeras possibilidades de software e serviços que podem ser disponibilizados dentro do conceito ASP. E com suas vantagens particulares potencializadas pela facilidade e mobilidade de uso em um ambiente como a Internet. No caso do WideLog, quem utiliza o sistema tem festejado uma dramática redução em seus estoques, graças à otimização de seus processos de compras.

Quando terminei de ler o artigo no Chicago Sun-Times, minha impressão era de estar lendo uma página da história. Pelo menos da história de uma empresa tipicamente brasileira, que se antecipou a uma moda que só hoje desponta nas passarelas do mundo dos negócios. Pude sentir aquele prazer que sentem os precursores quando percebem que há outros seguindo suas pegadas. O prazer de constatar que a Widesoft estava no rumo certo, por ter desenvolvido há anos algo que só hoje merece a atenção dos holofotes. O que, por si só, já demonstra ser muito mais do que uma simples moda.

(*) Mário Persona é diretor de comunicação da Widesoft, que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos via Internet.