Uma veterana na passarela
Mário Persona (*)
Colaborador
O artigo
que li no Chicago Sun-Times parecia promissor. Trocado em miúdos,
o texto mostrava que o conceito Application Service Provider (ASP - Provedor
de Serviços de Aplicativos) permitiria às empresas ter acesso
a uma tecnologia de ponta, sem que precisassem pagar altas somas de dinheiro
para isso. E continuava alardeando esta modalidade de aluguel de software
como se fosse algo inédito. A última moda em termos de software
para empresas.
Em um dos parágrafos dizia que
o conceito ASP, que inclui uma variedade de formas de se desenvolver, hospedar,
manter e alugar software, existiria há apenas 18 meses. Li outra
vez, fiz as contas, e era isso mesmo. Ele estava dizendo que o negócio
deve ter surgido há um ano e meio aproximadamente. Mas a história
não é bem assim. Muito antes, sistemas ASP já desfilavam,
não nas passarelas da moda, mas nas áreas de suprimento de
grandes indústrias.
Dando uma de arqueólogo, resolvi
cavar as camadas geológicas de meus escritos e desenterrei uma vaca.
Um artigo, "A Vaca dos Meus Sonhos", que escrevi há um ano e pouco,
falava exatamente da utilização da Internet como forma de
se disponibilizar software. Mediante apenas o pagamento de uma mensalidade
por sua utilização. Ali, eu já escrevia que os aplicativos
deixavam de ser instalados nas máquinas dos usuários, para
ficar disponíveis em algum endereço na Web. Algo como um
self service de bits e bytes.
Nomes - Quando escrevi meu
artigo, a melhor palavra que encontrei para descrever isso foi outsourcing,
ou terceirização. Mas o nome trazia um pouco do estigma da
execução de serviços por terceiros, sem controle da
empresa. Todavia, a diferença entre ter seus processos executados
por terceiros, e utilizar uma ferramenta disponibilizada por terceiros,
é grande. Neste último caso, é a empresa que detém
o controle de tudo. Um modelo que dá total mobilidade a quem o veste.
Talvez o correto seria dizer que
a expressão ASP, ou Provedor de Serviços de Aplicativos para
quem prefere o português, seja recente. Mas o serviço não
é. Muito antes da época que aquele jornalista imaginou ter
surgido o ASP, a Widesoft já fornecia serviços desta forma.
E tudo o que as empresas que utilizavam o sistema precisavam ter era uma
conexão à Internet e um browser ou navegador instalado no
micro. E uma boa dose de visão.
Primeiros - O primeiro software
ASP, criado pela Widesoft em 1996, foi o Invosys. Um sistema de auxílio
à gestão dos processos de compra e venda, dentro de uma cadeia
de suprimentos. A maior diferença entre o sistema da Widesoft e
um software convencional era que tudo funcionava na Web, sem a necessidade
de instalação, manutenção ou atualizações
de software nos micros das empresas que o utilizavam. Cada empresa pagava
apenas uma pequena taxa mensal de aluguel do sistema, para poder se relacionar
com seus parceiros de negócios, enviando informações
de estoque, compra, venda, controle de qualidade, etc. O sistema tem funcionado
desde 1997 na Freios Varga, que hoje pertence ao grupo TRW, provavelmente
a maior indústria de autopeças do mundo. Desde 1998 o sistema
é utilizado também pela Xerox do Brasil.
No final de 1999 foi lançada
a nova versão do sistema, com novas funcionalidades e um novo nome,
WideLog. Nos últimos anos o sistema vem sendo sendo utilizado, sem
grandes alardes nas colunas da moda, mas com grandes resultados no bolso.
Por ter sido lançado antes da moda ASP, talvez não tenha
chamado tanto a atenção da mídia. Precisavam inventar
uma sigla anglo-saxônica - "ASP" - para ajudar a lançar o
modelo na passarela da moda. Hoje é um grande consolo saber que
não estávamos fora de moda, mas que nos adiantamos às
tendências.
Custo reduzido - Usar um aplicativo
ASP nada mais é do que alugar um software, o que a Internet permitiu
fazer a custos infinitamente menores dos praticados pelas empresas que
faziam isso em redes convencionais. É como ir a uma festa vestindo
um modelo só acessível às maiores estrelas, e pagando
apenas pelo aluguel da roupa. Em um certo sentido, estamos assistindo a
um "De Volta Para o Futuro" no mundo da Informática. Não
faz muito tempo, era comum encontrar grandes empresas utilizando os serviços
de imensos e caros mainframes para executar parte de seu processamento
de dados. Usando, para isso, redes igualmente caras.
Hoje o princípio é
semelhante, porém mais eficiente e abrangente. Se alugar um serviço
de software no passado era algo que estava restrito às grandes montadoras
de automóveis ou a empresas do mesmo porte, hoje qualquer empresa
pequena ou média pode fazê-lo, com maior eficiência
do que se conseguia há quase 30 anos. E por um preço muito
menor.
Para as empresas, sempre preocupadas
em reduzir seus custos e ganhar competitividade, o conceito de aplicativos
ASP chega em boa hora. E começa a correr na contramão da
tendência que víamos até ontem. Refiro-me às
fortunas que eram gastas em software e consultoria de implementação
para instalar, on site, sistemas que hoje podem ser acessados com a facilidade
via Internet. E a um preço que não difere muito do que se
gasta para abrir uma torneira, acender uma lâmpada ou atender a uma
chamada telefônica.
Pequenas e médias -
Hoje é possível que pequenas e médias empresas tenham
acesso a sistemas complexos pagando apenas uma taxa mensal, coisa que nem
imaginavam fazer há poucos anos. Com a vantagem de não precisar
pagar por upgrades, já que a cada atualização do sistema,
todos os usuários passam automaticamente a usufruir da versão
atualizada.
Há inúmeras possibilidades
de software e serviços que podem ser disponibilizados dentro do
conceito ASP. E com suas vantagens particulares potencializadas pela facilidade
e mobilidade de uso em um ambiente como a Internet. No caso do WideLog,
quem utiliza o sistema tem festejado uma dramática redução
em seus estoques, graças à otimização de seus
processos de compras.
Quando terminei de ler o artigo no
Chicago
Sun-Times, minha impressão era de estar lendo uma página
da história. Pelo menos da história de uma empresa tipicamente
brasileira, que se antecipou a uma moda que só hoje desponta nas
passarelas do mundo dos negócios. Pude sentir aquele prazer que
sentem os precursores quando percebem que há outros seguindo suas
pegadas. O prazer de constatar que a Widesoft estava no rumo certo, por
ter desenvolvido há anos algo que só hoje merece a atenção
dos holofotes. O que, por si só, já demonstra ser muito mais
do que uma simples moda.
(*) Mário
Persona é diretor de comunicação da Widesoft,
que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos
via Internet. |