Clique aqui para voltar à página inicial  http://www.novomilenio.inf.br/ano00/0004a001.htm
Publicado em conjunto com o jornal santista Real Perspectiva
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 03/30/00 16:52:06
Empresas planejam a Piracicaba 2010 

Carlos Pimentel Mendes
editor

Enquanto as prefeituras e os governos estaduais se preocupam com uma folha de pagamento que consome no mínimo o máximo legal de 60%, usam o restante para pagar contas deixadas pelos governos anteriores e conseguem no máximo planejar as obras para os próximos quatro anos (na condição de que sejam inauguradas de alguma forma no mesmo mandato), o planejamento estratégico das cidades começa a ser assumido por lideranças comunitárias e empresariais. Usando modernos métodos de desenvolvimento de cenários possíveis, planejam como intervir na realidade urbana e as conseqüências de cada intervenção. Um jogo de SimCity, a sério e baseado em dados reais, usando as mais avançadas técnicas propiciadas pela Tecnologia da Informação.

Piracicaba fica cerca de 160 km a Oeste da capital paulista
Em dezembro passado, por exemplo, foi formado na cidade paulista de Piracicaba, um comitê para elaborar um planejamento estratégico para essa cidade. Participam do grupo 25 empresários, executivos e representantes diversos da comunidade piracicabana. A iniciativa foi da empresa Caterpillar, que tem sede brasileira naquele município, e recebeu o nome de Piracicaba 2010.

Cenários - Segundo o desenvolvedor de sistemas Antonio Rosselló, que há seis anos atua na área social, prestando serviços comunitários a entidades carentes, está sendo usada inicialmente "a metodologia do planejamento por cenários, com o apoio da consultoria Zumble Aprendizagem Organizacional. O método pertence à GBN, uma organização internacional de consultores e gurus cuja parceira no Brasil é a Zumble. A GBN já desenvolveu cenários para planejar o futuro de diversas cidades e de países como o Japão, a Colômbia e a África do Sul." 

Informa ainda Rosseló que "o trabalho em Piracicaba começa com a criação de uma história para mostrar à comunidade qual poderá ser o futuro se a realidade atual não for alterada e cenários sobre diferentes situações possíveis até 2010. Em seguida, será desenvolvida uma visão para a cidade, definindo metas, fatores críticos de sucesso, medições e orçamentos, para tentar envolver a comunidade num amplo debate."

Rio Piracicaba vai ligar a cidade ao Mercosul (clique para ir ao site da foto)
Com 1.312,3 km² de área total, Piracicaba é o 19º município paulista em extensão territorial, sendo que a área urbana, de 158,06 km², abriga 95% da população do município (estimada em 300.500 habitantes). Distante da capital paulista 152 km (pela Via Anhanguera) ou 175 km (pela rodovia Castelo Branco), o município está se vinculando ao Mercosul através da hidrovia formada pelos rios Piracicaba, Tietê e Paraná, contando ainda com ampla infra-estrutura urbana e industrial.

Tendências - Cada vez mais, as empresas estão se preocupando com o chamado Balanço Social, como demonstrou uma pesquisa realizada no ano passado pela Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB). O estudo revelou que, das 810 empresas pesquisadas, 33% crêem que os projetos sociais contribuem para melhorar sua imagem junto aos consumidores, e 79% delas planejam em investir em projetos no chamado Terceiro Setor.

Diversas entidades estão auxiliando nesse trabalho, como o Ibase, em que o sociólogo Betinho levantou a bandeira do Balanço Social, e que patrocina pesquisa sobre ações sociais corporativas; a ADCE realiza reflexões e seminários sobre a amplitude da responsabilidade social, com apoio da Câmara Americana e da ABRH-Rio; a entidade Fides realiza constantemente o Fórum de Balanço Social.

Prefeituras como a de Piracicaba ganham a ajuda do empresariado (clique para ir ao site da foto)
Mudanças - Quando se considera que em apenas cinco anos a Internet já mudou significativamente as relações sociais e econômicas no Brasil, facilitando o teletrabalho e o teleaprendizado, a pesquisa, a troca de correspondência e de informações em geral, basta um pequeno exercício de imaginação para se prever o impacto que essas transformações terão na infra-estrutura urbana. 

Por exemplo, muitos serviços passarão a ser realizados sem o deslocamento físico do profissional/especialista, muitas empresas estão percebendo as vantagens de seus empregados trabalharem nas próprias casas (eliminação das estruturas físicas de escritório e seus custos diretos e indiretos). Isso significa uma redução no trânsito urbano (embora o número de veículos nas ruas ainda cresça com o aumento da população). A facilidade de comunicação via satélite leva as pessoas a repensarem a necessidade de residir nas cidades, o que reduz a concentração urbana. 

As cidades também precisarão ter vias inteligentes, ou seja: toda a malha urbana deverá estar preparada para que os motoristas usem informações de geoposicionamento para os motoristas localizarem seus destinos, o trânsito seja controlado através de centrais computadorizadas, os ônibus e trens tenham seu percurso analisado por computador. Até mesmo os veículos para coleta de lixo urbano usarão sensores de peso indicando à central quando estão lotados e devem seguir para o depósito sanitário, sendo substituídos na rota de coleta por outros (mas esta é uma outra história...).

Parques e outros locais precisarão de maior planejamento dos serviços públicos (clique para ir ao site da foto)
Novas redes - O planejamento das cidades também precisará levar em conta a necessidade de novas redes, além das tradicionais (energia elétrica, água, saneamento, gás, telefonia). São as redes de fibra óptica, cabeamento de TV (que vai crescer com o uso dessa banda larga de telecomunicações em aplicativos de Internet), e também as redes sem fio (que precisam de estações radiobase, estrategicamente colocadas, para as aplicações de telefonia celular, Internet sem fio, radiomensagens etc.).

O avanço nas telecomunicações permitirá otimizar os serviços públicos e distribuí-los melhor pelas regiões da cidade. Ao mesmo tempo, será preciso analisar a tendência em relação ao crescimento dos condomínios fechados, em que se pode fazer praticamente tudo sem sair de seus territórios. Isso também é um fator de impacto no planejamento urbano, pois o papel da administração municipal passa a ser mais de integrar os fluxos de trânsito entre esses núcleos do que planejar vias de bairro. 

Concentrações - Na contramão dessas mudanças, os planejadores precisarão levar em conta que os super-shoppings, parques, centros universitários e de lazer, necessitam cada vez mais de um planejamento integrado entre os empresários e as administrações municipais, em razão do grande fluxo de trânsito criado e das necessidades incomuns de serviços urbanos. 

Analisar essas tendências é o desafio dos planejadores - categoria em que se inclui, por afinidade, os engenheiros, arquitetos, paisagistas e construtores, entre outros especialistas.