Empresas planejam a Piracicaba 2010
Carlos Pimentel Mendes
editor
Enquanto
as prefeituras e os governos estaduais se preocupam com uma folha de pagamento
que consome no mínimo o máximo legal de 60%, usam o restante
para pagar contas deixadas pelos governos anteriores e conseguem no máximo
planejar as obras para os próximos quatro anos (na condição
de que sejam inauguradas de alguma forma no mesmo mandato), o planejamento
estratégico das cidades começa a ser assumido por lideranças
comunitárias e empresariais. Usando modernos métodos de desenvolvimento
de cenários possíveis, planejam como intervir na realidade
urbana e as conseqüências de cada intervenção.
Um jogo de SimCity, a sério e baseado em dados reais, usando as
mais avançadas técnicas propiciadas pela Tecnologia da Informação.
Em dezembro passado, por exemplo, foi
formado na cidade paulista de Piracicaba,
um comitê para elaborar um planejamento estratégico para essa
cidade.
Participam do grupo 25 empresários, executivos e representantes
diversos da comunidade piracicabana. A iniciativa foi da empresa Caterpillar,
que tem sede brasileira naquele município, e recebeu o nome de Piracicaba
2010.
Cenários
- Segundo o desenvolvedor de sistemas Antonio
Rosselló, que há seis anos atua na área social,
prestando serviços comunitários a entidades carentes, está
sendo usada inicialmente "a metodologia do planejamento por cenários,
com o apoio da consultoria Zumble Aprendizagem
Organizacional. O método pertence à GBN, uma organização
internacional de consultores e gurus cuja parceira no Brasil é a
Zumble. A GBN já desenvolveu cenários para planejar o futuro
de diversas cidades e de países como o Japão, a Colômbia
e a África do Sul."
Informa ainda Rosseló que
"o trabalho em Piracicaba começa com a criação de
uma história para mostrar à comunidade qual poderá
ser o futuro se a realidade atual não for alterada e cenários
sobre diferentes situações possíveis até 2010.
Em seguida, será desenvolvida uma visão para a cidade, definindo
metas, fatores críticos de sucesso, medições e orçamentos,
para tentar envolver a comunidade num amplo debate."
Com 1.312,3 km² de área
total, Piracicaba é o 19º município paulista em extensão
territorial, sendo que a área urbana, de 158,06 km², abriga
95% da população do município (estimada em 300.500
habitantes). Distante da capital paulista 152 km (pela Via Anhanguera)
ou 175 km (pela rodovia Castelo Branco), o município está
se vinculando ao Mercosul através da hidrovia formada pelos rios
Piracicaba, Tietê e Paraná, contando ainda com ampla
infra-estrutura urbana e industrial.
Tendências - Cada vez
mais, as empresas estão se preocupando com o chamado Balanço
Social, como demonstrou uma pesquisa realizada no ano passado pela Associação
dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB). O estudo revelou
que, das 810 empresas pesquisadas, 33% crêem que os projetos sociais
contribuem para melhorar sua imagem junto aos consumidores, e 79% delas
planejam em investir em projetos no chamado Terceiro Setor.
Diversas entidades estão auxiliando
nesse trabalho, como o Ibase, em que o sociólogo Betinho levantou
a bandeira do Balanço Social, e que patrocina pesquisa sobre ações
sociais corporativas; a ADCE realiza reflexões e seminários
sobre a amplitude da responsabilidade social, com apoio da Câmara
Americana e da ABRH-Rio; a entidade Fides realiza constantemente o Fórum
de Balanço Social.
Mudanças - Quando se considera
que em apenas cinco anos a Internet já mudou significativamente
as relações sociais e econômicas no Brasil, facilitando
o teletrabalho e o teleaprendizado, a pesquisa, a troca de correspondência
e de informações em geral, basta um pequeno exercício
de imaginação para se prever o impacto que essas transformações
terão na infra-estrutura urbana.
Por exemplo, muitos serviços
passarão a ser realizados sem o deslocamento físico do profissional/especialista,
muitas empresas estão percebendo as vantagens de seus empregados
trabalharem nas próprias casas (eliminação das estruturas
físicas de escritório e seus custos diretos e indiretos).
Isso significa uma redução no trânsito urbano (embora
o número de veículos nas ruas ainda cresça com o aumento
da população). A facilidade de comunicação
via satélite leva as pessoas a repensarem a necessidade de residir
nas cidades, o que reduz a concentração urbana.
As cidades também precisarão
ter vias inteligentes, ou seja: toda a malha urbana deverá estar
preparada para que os motoristas usem informações de geoposicionamento
para os motoristas localizarem seus destinos, o trânsito seja controlado
através de centrais computadorizadas, os ônibus e trens tenham
seu percurso analisado por computador. Até mesmo os veículos
para coleta de lixo urbano usarão sensores de peso indicando à
central quando estão lotados e devem seguir para o depósito
sanitário, sendo substituídos na rota de coleta por outros
(mas esta é uma outra história...).
Novas redes - O planejamento
das cidades também precisará levar em conta a necessidade
de novas redes, além das tradicionais (energia elétrica,
água, saneamento, gás, telefonia). São as redes de
fibra óptica, cabeamento de TV (que vai crescer com o uso dessa
banda larga de telecomunicações em aplicativos de Internet),
e também as redes sem fio (que precisam de estações
radiobase, estrategicamente colocadas, para as aplicações
de telefonia celular, Internet sem fio, radiomensagens etc.).
O avanço nas telecomunicações
permitirá otimizar os serviços públicos e distribuí-los
melhor pelas regiões da cidade. Ao mesmo tempo, será preciso
analisar a tendência em relação ao crescimento dos
condomínios fechados, em que se pode fazer praticamente tudo sem
sair de seus territórios. Isso também é um fator de
impacto no planejamento urbano, pois o papel da administração
municipal passa a ser mais de integrar os fluxos de trânsito entre
esses núcleos do que planejar vias de bairro.
Concentrações
- Na contramão dessas mudanças, os planejadores precisarão
levar em conta que os super-shoppings, parques, centros universitários
e de lazer, necessitam cada vez mais de um planejamento integrado entre
os empresários e as administrações municipais, em
razão do grande fluxo de trânsito criado e das necessidades
incomuns de serviços urbanos.
Analisar essas tendências é
o desafio dos planejadores - categoria em que se inclui, por afinidade,
os engenheiros, arquitetos, paisagistas e construtores, entre outros especialistas. |