Peça de Museu
Veja a peça...
Mário Persona (*)
Colaborador
Em 1995,
a Internet atingia o seu ápice. Para a maioria das pessoas, surgia
como uma nova forma de diversão. Naquela época, meu
sobrinho chegou a esperar até a madrugada para conseguir uma linha
e visitar, via Internet, um museu do outro lado do planeta. Bem devagar,
quase parando, um quadro antigo foi surgindo na tela de
seu PC 386. Era a última
moda, a última palavra em tecnologia, a última vez que meu
sobrinho visitaria um museu de madrugada. Pelo menos foi essa a decisão
que tomou no dia seguinte, enquanto lutava contra o sono e assistia às
aulas com um olho de cada vez.
Mas isso foi nos idos de 1995, há
longos e distantes cinco anos! Muita coisa mudou desde então. Das
páginas de curiosidades e diversão, a Internet passou a ocupar
o camarote do noticiário econômico nos jornais e revistas
de gente grande. Recentemente, com o sugestivo título de "Riqueza
Invisível", a revista Veja trouxe à
luz um tema importante, que remove
a Internet da vitrina das futilidades. O fato é que o comércio
eletrônico entre empresas, também conhecido como business-to-business,
movimenta hoje um volume impossível de ser considerado como brincadeira
de criança. Estamos falando em cifras de bilhões.
A matéria da Veja descreve
a rapidez com que as grandes corporações estão adotando
a Internet para integrar sua comunidade de fornecedores e distribuidores.
O caso da Volkswagen é um exemplo da urgência. Segundo a revista,
todos os fornecedores daquela montadora já foram avisados das novas
regras. Em breve só serão aceitas as propostas enviadas via
Internet.
Não tão drástica,
mas nem por isso menos importante, tem sido a admissão dos fornecedores
de empresas como a TRW (Freios Varga) e Xerox do Brasil a um processo de
compras via Internet. Há cerca de dois anos estas empresas já
utilizam o WideLog. O sistema,
cuja primeira versão era denominada "Invosys", está sendo
adotado também pela KS Pistões, Meritor Automotive e Irmãos
Gullo, esta última para o relacionamento com seus representantes.
Logo estará sendo implantado também em empresas em outros
países da América Latina.
Corrente - Para entender o
que está acontecendo, é preciso lembrar que existe, entre
empresas, uma verdadeira corrente ligando-as a seus fornecedores e clientes,
pela qual flui a matéria prima e os insumos que serão transformados
em bens. Mas não é só de bens tangíveis
que é formada essa cascata. Uma torrente de um bem intangível,
mas igualmente valioso, passa por cada envolvido no processo, desencadeando
as ações que transformarão a informação
em produtos. É a informação transportada na forma
de pedidos, programações de entrega, informações
de qualidade ou avisos de embarque. Nos últimos anos, esse fluxo
viajou por meios, como correio, telex, telefone e fax. Ou por sistemas
de EDI (Electronic
Data Interchange), para empresas
maiores. Mas a Internet está mudando tudo.
Segundo estudo da PricewaterhouseCoopers,
publicado na revista Fortune, um processo convencional de
compra entre empresas, que levava em média 7,3 dias, hoje leva apenas
2 dias pela Internet. O custo médio por pedido caiu de 107 para
30 dólares. Em uma empresa que processe treze mil pedidos por ano,
isto significa uma economia da ordem de um milhão de dólares.
Mas os ganhos não param aí. O
mesmo estudo revela uma redução
de 5 a 10% nos preços dos produtos, e de 25 e 50% nos custos de
estoque, graças à agilização dos processos
de compra.
Mas não é só
com cifrões que se mede o impacto da Internet na empresa. A agilidade
na comunicação melhorou o relacionamento entre empresas,
permitindo o desenvolvimento de fornecedores estratégicos. Com tudo
acontecendo mais rápido, os resultados ficam mais evidentes e as
empresas conseguem enxergar melhor a sua interdependência. Hoje a
medida do sucesso já não é avaliada só pelo
desempenho de uma empresa, mas da supply chain da qual ela faz parte. E
de sua capacidade de criar vínculos de fidelidade entre os
parceiros.
Integração -
Por trabalhar com arquivos e sistemas, a Internet permitiu a integração
do processo de compras com os sistemas de ERP existentes nas empresas.
Graças à automatização, foi possível
eliminar erros, comuns na transcrição manual dos pedidos.
A facilidade de rastreamento e controle dos pedidos, via Web, permitiu
também correções de curso em tempo hábil para
evitar caros setups das linhas de produção.
Quando comparada aos ganhos que a
Internet proporcionou nos processos de compra, a economia com telefonemas
e envio de fax parece irrelevante. Mas quando considerado o tempo gasto
por funcionários para o envio de pedidos, a coisa muda de figura.
A brasileira Tormep observou uma redução de 40 a 70% no volume
das
ligações telefônicas
com apenas dois de seus grande clientes.
O processo é irreversível.
As empresas entraram na Internet e a Internet entrou nas empresas. E se
hoje o meu sobrinho decidir visitar um museu na Web, já não
terá que esperar pela madrugada. Mas tenho um palpite de que, em
lugar de uma obra antiga, ele poderá ser surpreendido pela
imagem de um aparelho de fax surgindo
na tela de seu computador.
(*) Mário
Persona é diretor de comunicação da Widesoft,
que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos
via Internet.
N.E.: O fax já é
parte de museus na Internet, sim. Veja estas imagens:
Peça de Museu (!)
O fax tem uma história tão
antiga quanto o telégrafo, remontando a 1842. Esta imagem é
do Fultograph, usado em 1921 por Edouard Belin para transmitir imagens
através do Atlântico |
Muirhead Colour Fax, um dos primeiros
aparelhos para transmissão de imagens a cores. |
As duas imagens são
da página Uma
Curta História da Telegrafia
Esta página esteve disponível
na Internet até 1999 nesse endereço, e foi na época
arquivada pelo jornal Novo Milênio |
|