Benchmark é uma ferramenta
de melhoria
Nilton Guedes (*)
Colaborador
Após
vários anos trabalhando na indústria de computadores, presenciei
inúmeras situações em que se considerou utilizar -
ou se utilizou - um benchmark para a escolha de uma opção
entre várias possíveis. Muitas pessoas têm a idéia
de que um benchmark com sistemas de computadores (hardware e/ou
software) é o mesmo que comparar dois ou mais sistemas diferentes.
Na verdade, um benchmark é
uma ferramenta um pouco mais sofisticada e complexa do que simplesmente
uma metodologia de comparação. Utilizando uma definição
clássica, benchmark pode ser descrito como processo contínuo
de medida que possiblita às empresas comparar produtos, serviços
ou práticas, dentre as mais destacadas opções possíveis,
para se incorporar melhorias. A idéia principal, ao se realizar
um benchmark, não é simplesmente comparar, mas sim adotar
e incoporar novos conceitos que possibilitem melhorias.
Existem quatro tipos básicos
de benchmark:
Interno:
normalmente realizado quando uma empresa quer avaliar funções
similares realizadas por unidades ou departamentos diferentes dentro da
companhia. O objetivo é identificar uma função-padrão
para toda a corporação. Uma grande vantagem de se realizar
um benchmark interno é otimizar processos, identificando as melhores
práticas internas, e transferi-los para toda a organização.
Uma desvantagem dessa modalidade é que ela, normalmente, é
uma visão introvertida, muitas vezes ignorando práticas destacadas
realizadas por outras empresas.
Externo:
também conhecido como benchmark competitivo, é a modalidade
mais comum. O objetivo é comparar produtos, serviços ou práticas
entre empresas concorrentes, que atuem no mesmo mercado.
Funcional:
geralmente é realizado entre empresas que tenham o mesmo produto
ou serviço, mas que não sejam concorrentes no mesmo mercado.
Um exemplo é comparar os sistemas de tarifação utilizados
pela British Telecom e pela NTT do Japão.
Genérico:
esse tipo de benchmark está focado na excelência de um processo,
e normalmente é o mais difícil de se realizar. Ele tem o
potencial de revelar "a melhor" das práticas.
Perguntas - A escolha do tipo
de benchmark a ser utilizado depende do objetivo a ser alcançado.
Assim, o ponto inicial para a realização de um benchmark
é saber "qual o objeto do benchmark e o porquê". A falta das
perguntas certas no início do processo pode resultar em um benchmark
demasiadamente prolongado e sem resultados conclusivos.
Uma vez feitas as perguntas certas,
podemos passar à etapa seguinte, que é a definção
do processo de benchmark. O benchmark deve ser tratado como um processo
estruturado, com o desenvolvimento de um modelo "passo-a-passo".
Algumas premissas devem ser consideradas
para termos um modelo bem sucedido. O importante é ter uma seqüência
lógica:
Estabeleça
um modelo básico e simples. Um benchmark com quinze etapas não
significa necessariamente um benchmark melhor do que outro com seis etapas;
Tenha
um modelo claro e preciso;
Estabeleça
uma faixa de resultados esperados, para se ter um padrão de normalização;
Identifique
a equipe para realizar o benchmark;
Defina
as ferramentas adequadas para a análise e avaliação
dos resultados;
Verifique
que todos os recursos (pessoas, tempo, sistemas, fundos) estejam disponíveis
para se atingir os objetivos.
Escala - O mais importante
para a realização do benchmark é avaliar um modelo
simplificado, um processo que corresponda à vida real. Vamos considerar,
como exemplo, a definição de um novo processo de tarifação
de uma empresa de distribuição de eletricidade. Obviamente,
esse processo, quando ocorre em um ambiente de produção real,
envolve inúmeras variáveis. Em nosso caso, poderíamos
simplificá-lo, considerando apenas as partes críticas a serem
medidas, analisadas e melhoradas. Em vez de avaliar o comportamento do
sistema numa cidade como São Paulo ou Rio de Janeiro, podemos simular
um teste com dados de uma cidade bem menor, como Jacareí.
Uma vez criado todo o ambiente de
simulação e definido um processo de escala - para que o modelo
tenha validade numa escala muito maior -, podemos realizar os testes, os
resultados e até variar as simulações, para prever
situações de anormalidade.
Uma das falhas mais comuns em benchmarks
é a consideração de processos irrelevantes ou que
possam deturpar os resultados. Um benchmark normalmente tem um custo elevado,
e uma informação utilizada de forma errada ou falha pode
acarretar desperdícios ou até conclusões equivocadas.
É muito comum utilizar-se um parâmetro numérico único
como base de todo um processo e extrapolar esse parâmetro para todo
tipo de escala. Esse tipo de erro é muito comum em benchmarks comparativos
de computadores, quando se utiliza um resultado de testes conhecidos da
indústria (tipo TPC-C ou SPEC) como referência de capacidade
de um equipamento, não considerando o aplicativo (ou software) que
será utilizado, configuração do sistema etc.
Sempre devemos lembrar que todo benchmark
tem um custo envolvido. Mas, quando ele é bem planejado e realizado
com critério, traz inúmeros benefícios. Portanto,
não deixe de responder a uma pergunta inicial básica: eu
realmente preciso realizar um benchmark?
(*) Nilton
Guedes é diretor técnico da Sun Microsystems do Brasil. |