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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 01/29/00 21:43:46
Bicicletas e riquixás congestionam a Internet

Fernando Santos (*)
Colaborador

Depois de pavimentar e alargar suas principais avenidas, um subdistrito de Pequim não conseguiu acabar com os engarrafamentos de trânsito. O problema era que o uso de bicicletas e riquixás estava de tal forma arraigado no hábito urbano que faltava uma campanha cultural para disciplinar este tráfego. Uma solução seria, por exemplo, a criação de faixas específicas para os veículos mais lentos, deixando caminho livre para os super-carros chineses. Tal como acontece nesta cidade, é lícito afirmar que a lentidão das redes corporativas está deixando de ser apenas uma questão de banda de passagem para se tornar cada vez mais um problema de cultura, ou melhor, de gerenciamento.

De fato, enquanto a maioria dos administradores de rede ainda reclama da pouca banda disponível, um laboratório da norte-americana CheckPoint fez as contas e chegou à conclusão oposta. Tomadas as 24 horas do dia, pode-se afirmar que a Internet pública - e, em grande medida, os backbones privados - estão bastantes subutilizados. Com a correta distribuição do tráfego em horários alternativos e de forma disciplinada, alguns ISPs norte-americanos estão conseguindo diversificar seus portfolios de produtos com a venda, por exemplo, de transporte de dados a custos reduzidos para as corporações, em certos períodos do dia em que a Internet está vazia.

E, nos períodos de tráfego intenso, a mais recente tecnologia de gerenciamento já permite planejar a soução de faixas exclusivas, como corredores de dados critical mission (N.E.: missão crítica, isto é, de prioridade máxima) do departamento financeiro, com prioridade de passagem sobre os uploads pessoais dos funcionários da corporação. Com a utilização destes dosadores lógicos de tráfego (os Flood Gates, como estão sendo chamados pelos laboratórios da CheckPoint), o administrador da rede pode decidir pela alocação de banda para os serviços segundo uma infinidade de critérios.

A origem-destino, por exemplo: e-mails originados no domínio da clientela têm prioriddae para entrar na caixa postal do setor de vendas. E-mails com definição de subject parametrizado como preferencial devem ter prioridade na política de alocação de bandas. Outro diferencial que o administrador pode explorar é o parâmetro de perfil de usuário. Funcionários da organização que dependem fundamentalmente de conexões www têm privilégio de alocação de banda sobre os que utilizam a Internet como apoio eventual.

Passagem livre para as ambulâncias - E há as pistas adequadas para o tráfego de riquixás (pacotes pequenos e que não considerem o fator "tempo de chegada" como critério de eficiência) e para o tráfego de veículos com sirene (ordens de pagamento, cobranças, confirmações de expedição de mercadorias etc.). Da mesma forma, pacotes de dados críticos e de alto nível de sigilo circulam com maior segurança em horários de pouco fluxo; assim como grandes serviços de backup remoto ou a atualização de software para as estações remotas da intranet.

A tecnologia Flood Gate aproveita também o sistema mão dupla opcional. Se o tráfego na entrada é maior que o da saída, por que não alocar mais banda para os pacotes que chegam? E mais: porque manter livre uma pista de download se há pacotes acumulados na expedição e ninguém está neste momento batendo na porta do recebimento?

E, com mecanismos de feedback e análise de tráfego, o administrador da rede pode monitorar com clareza a demanda de cada cliente (seja o usuário de um ISP ou o departamento da corporação), de modo a definir políticas adequadas de alocação e até de billing.

No momento em que as atenções se voltam para a utilização comercial da Internet e das intranets, a necessidade de garantir o melhor time-to-market para os competidores impõe que as corporações comecem a explorar desde já a eficiência máxima da grande rede, ao invés de ficar aguardando uma eventual melhoria do backbone público ou das redes privadas que o integram. Com uma boa console gráfica para o gerenciamento do trânsito, um grande passo estará sendo dado para enfrentar a atual lentidão.

(*) Fernando Santos é mestre em Engenharia de Sistemas e gerente de segurança e gerenciamento de redes da União Digital