Bicicletas e riquixás congestionam
a Internet
Fernando Santos (*)
Colaborador
Depois
de pavimentar e alargar suas principais avenidas, um subdistrito de Pequim
não conseguiu acabar com os engarrafamentos de trânsito. O
problema era que o uso de bicicletas e riquixás estava de tal forma
arraigado no hábito urbano que faltava uma campanha cultural para
disciplinar este tráfego. Uma solução seria, por exemplo,
a criação de faixas específicas para os veículos
mais lentos, deixando caminho livre para os super-carros chineses. Tal
como acontece nesta cidade, é lícito afirmar que a lentidão
das redes corporativas está deixando de ser apenas uma questão
de banda de passagem para se tornar cada vez mais um problema de cultura,
ou melhor, de gerenciamento.
De fato, enquanto a maioria dos administradores
de rede ainda reclama da pouca banda disponível, um laboratório
da norte-americana CheckPoint fez as contas e chegou à conclusão
oposta. Tomadas as 24 horas do dia, pode-se afirmar que a Internet pública
- e, em grande medida, os backbones privados - estão bastantes subutilizados.
Com a correta distribuição do tráfego em horários
alternativos e de forma disciplinada, alguns ISPs norte-americanos estão
conseguindo diversificar seus portfolios de produtos com a venda, por exemplo,
de transporte de dados a custos reduzidos para as corporações,
em certos períodos do dia em que a Internet está vazia.
E, nos períodos de tráfego
intenso, a mais recente tecnologia de gerenciamento já permite planejar
a soução de faixas exclusivas, como corredores de dados critical
mission (N.E.: missão crítica, isto é, de prioridade
máxima) do departamento financeiro, com prioridade de passagem sobre
os uploads pessoais dos funcionários da corporação.
Com a utilização destes dosadores lógicos de tráfego
(os Flood Gates, como estão sendo chamados pelos laboratórios
da CheckPoint), o administrador da rede pode decidir pela alocação
de banda para os serviços segundo uma infinidade de critérios.
A origem-destino, por exemplo: e-mails
originados no domínio da clientela têm prioriddae para entrar
na caixa postal do setor de vendas. E-mails com definição
de subject parametrizado como preferencial devem ter prioridade na política
de alocação de bandas. Outro diferencial que o administrador
pode explorar é o parâmetro de perfil de usuário. Funcionários
da organização que dependem fundamentalmente de conexões
www têm privilégio de alocação de banda sobre
os que utilizam a Internet como apoio eventual.
Passagem livre para as ambulâncias
- E há as pistas adequadas para o tráfego de riquixás
(pacotes pequenos e que não considerem o fator "tempo de chegada"
como critério de eficiência) e para o tráfego de veículos
com sirene (ordens de pagamento, cobranças, confirmações
de expedição de mercadorias etc.). Da mesma forma, pacotes
de dados críticos e de alto nível de sigilo circulam com
maior segurança em horários de pouco fluxo; assim como grandes
serviços de backup remoto ou a atualização de software
para as estações remotas da intranet.
A tecnologia Flood Gate aproveita
também o sistema mão dupla opcional. Se o tráfego
na entrada é maior que o da saída, por que não alocar
mais banda para os pacotes que chegam? E mais: porque manter livre uma
pista de download se há pacotes acumulados na expedição
e ninguém está neste momento batendo na porta do recebimento?
E, com mecanismos de feedback e análise
de tráfego, o administrador da rede pode monitorar com clareza a
demanda de cada cliente (seja o usuário de um ISP ou o departamento
da corporação), de modo a definir políticas adequadas
de alocação e até de billing.
No momento em que as atenções
se voltam para a utilização comercial da Internet e das intranets,
a necessidade de garantir o melhor time-to-market para os competidores
impõe que as corporações comecem a explorar desde
já a eficiência máxima da grande rede, ao invés
de ficar aguardando uma eventual melhoria do backbone público ou
das redes privadas que o integram. Com uma boa console gráfica para
o gerenciamento do trânsito, um grande passo estará sendo
dado para enfrentar a atual lentidão.
(*) Fernando
Santos é mestre em Engenharia de Sistemas e gerente de segurança
e gerenciamento de redes da União Digital |