A canoa virou?
Mário Persona (*)
Colaborador
Enquanto
cresce o movimento e a euforia em torno do comércio eletrônico,
muitos "comerciantes eletrônicos" já começam a fazer
o balanço dos resultados. Enquanto alguns bem sucedidos empresários
estão computando seus lucros, outros amargam prejuízos e
põem a culpa na Internet. Será que entraram em uma
canoa furada? Não, a culpa não é da canoa. Como
na canção popular, se a canoa virou e foi para o fundo do
mar, foi por causa do empresário que não soube remar.
Muitos entram na barca do e-commerce
como se estivessem participando de algo novo. Não é. Assim
como a navegação de hoje não despreza o conhecimento
adquirido pelos antigos navegantes, o comerciante da era eletrônica
deveria igualmente aprender os macetes do negócio que não
passa do velho e conhecido comércio. Vender pela Internet é
fazer o que os comerciantes sempre fizeram: trocar de valores através
de um relacionamento entre seres humanos.
Talvez o que esteja faltando seja
um "bom senso eletrônico". Em uma pesquisa feita pela Shelley Taylor
& Associates, ficou claro que o que falta mesmo não é
tecnologia, mas bom senso na construção das lojas virtuais.
Entre os cinqüenta sites de e-commerce analisados, foram descobertos
erros primários que os comerciantes do mundo real há muito
saberiam evitar.
Erros básicos - Um
bom comerciante evita alugar ou comprar lojas com escada na porta, ou expostas
ao sol da tarde nas regiões quentes. As razões são
óbvias. Se a entrada do cliente exigir esforço, ou se a loja
não oferecer um ambiente agradável, fica difícil vender.
Agora tente entrar em alguns sites de comércio eletrônico.
Depois de aguardar uma década para carregar a enorme logomarca que
só interessa ao ego do dono do site, você descobre um botãozinho
escrito "Clique aqui para entrar". Começou a aventura.
O cliente acostumado com videogames
insiste e passa de fase, apenas para cair em um ambiente de pirotecnia
tecnológica que exige um equipamento com memória de elefante,
conectado a um link amplo o suficiente para permitir a passagem de um transatlântico.
Aí abre aquela janelinha dizendo que ele terá que fazer o
download de meia dúzia de plug-ins e outros adereços apenas
para poder comprar um livro ou CD. Eu não chamaria essa atmosfera
de um ambiente amigável para vender.
Um problema muito comum é
que o mesmo comerciante do mundo real, que facilitaria ao máximo
o acesso dos clientes em sua loja de tijolos e concreto, acaba embriagado
com a tecnologia ao transferir seu negócio para o ambiente virtual.
Julga que o preço que pagou pelo site só se justifica se
este vier com bastante recheio
tecnológico. Mas tecnologia
bem aplicada é como a quilha de um barco. Ela facilita a vida do
navegante mas fica sob a superfície, imperceptível. E facilitar
a vida do cliente parece não ter sido a preocupação
dos criadores de 50% dos sites de comércio eletrônico analisados
pela pesquisa da Shelley Taylor & Associates.
Labirinto - É comum
o cliente de alguns sites de e-commerce pensar que está participando
da antiga série de TV "Perdidos no Espaço". Há muito
que os comerciantes não virtuais aprenderam a colocar o produto
ao alcance da mão do cliente, criando setas, cartazes, recursos
de áudio e tudo o que possa ajudá-lo a encontrar o que procura.
Porém alguns comerciantes virtuais insistem em levar o infeliz cliente
a uma estranha brincadeira de esconde-esconde, deixando que adivinhe onde
está o que pretende adquirir. Este problema na dificuldade de navegação
foi detectado em 24% dos sites analisados, quase um quarto do total.
Em uma loja real sempre existe a
figura do vendedor, alguém que conversa, explica, responde, e ajuda
o cliente a tomar uma decisão. Na Internet, como nas vendas por
catálogo, este é substituído por informação,
muita informação. Das lojas analisadas, 24% não ofereciam
qualquer informação sobre os produtos, e 32% nem se davam
ao luxo de explicar como a pessoa
poderia fazer uma compra. Em apenas 8% das lojas visitadas era possível
ver o total de itens já comprados, e 30% só avisavam da falta
de algum produto depois de ter sido feita a compra.
Disso resta uma lição
aos marinheiros de primeira viagem: embarquem no comércio eletrônico
com o bom senso que vocês usariam em um comércio real. Coloquem-se
no lugar do cliente. Peçam para alguém com pouca experiência
em Internet efetuar uma compra. Aprendam com os sites de sucesso, como
a Amazon.com, que oferece até
comentários de leitores para os livros que vende. E tenham em mente
que a
Internet é apenas uma nova
maneira de se fazer algo antigo: vender. Mais um aviso. Quando decidirem
entrar no fascinante mundo do comércio eletrônico, entrem
para valer. Invistam todo o seu talento e criatividade, sem se intimidarem.
Não queiram colocar apenas um pé na canoa e ficar com o outro
em terra. É água na certa.
(*) Mário
Persona é diretor comercial da WideSoft
Sistemas Ltda. |