Programa santista facilita uso do
PC pelos deficientes visuais
Blindsoft lê os comandos
e os textos digitados em ambiente Windows
Primeiro
software nacional para portadores de deficiência visual a
ser produzido por estudantes em universidade particular, o Blindsoft foi
desenvolvido em 1999 por um grupo de alunos do curso de Ciência da
Computação da Universidade Santa Cecília (Unisanta),
como trabalho de conclusão do curso. Em 2000, os autores, mesmo
formados, pretendem continuar aperfeiçoando o programa (que não
tem fins lucrativos), por meio de contatos com instituições
ligadas aos deficientes visuais.
O software foi demonstrado no
final de 1999 na presença de Alzer Augusto dos Santos, deficiente
visual e estudante de Direito, que colaborou com o projeto e presta assistência
a outro deficiente visual, estudante do curso de Jornalismo da mesma universidade,
Marcos Antonio de Andrade. Alzer trabalha com informática há
alguns anos, tendo montado um curso de Computação para o
Lar das Moças Cegas.
O Blindsoft foi desenvolvido em linguagem
Delphi, em ambiente Windows 95, usando a placa de som SoundBlaster para
emitir os sons. Eles funcionam como uma espécie de guia ao usuário,
que pode abrir e fechar arquivos, editar textos, copiar, ler, apagar e
renomear arquivos, entre outras operações simples. Assim,
o deficiente visual pode escrever seus trabalhos, lê-los e mostrá-los
a outras pessoas, que também poderão lê-los normalmente
na tela do computador, não havendo necessidade do método
Braille.
A equipe desenvolvedora foi integrada
pelos estudantes Rodrigo Silva de Araújo, Marcus Vinicius dos Santos,
Regina Yumi Omizo, Eduardo da Silva Oliveira e André Luiz Saad.
Os alunos foram orientados pelos professores Fernando Branquinho e Carlos
Coletto.
“Trata-se de um trabalho de conclusão
de curso, que reflete o que a faculdade investiu em nós em termos
de conhecimento – explica Rodrigo -. O tema escolhido pelo grupo foi avaliado
pelos professores e tivemos menos de um ano para desenvolver o programa.
A idéia surgiu quando vimos um deficiente visual usando um sistema
simples para DOS, com recursos modestos. Tentamos apresentar um programa
que partisse de uma interface visual”.
Dificuldades – “Fizemos um levantamento
dos sistemas existentes para a interação entre o deficiente
visual e o computador e tivemos uma surpresa, o nível de desenvolvimento
estava além do que imaginávamos. Um banco vinha desenvolvendo
um sistema assim há três anos, mesmo tempo em que atuavam
alguns professores de uma universidade do Rio de Janeiro. Poderíamos
trocar experiências com eles, mas resolvemos desenvolver um sistema
independente dos demais, e livre para outros trabalharem sobre ele.”
Rodrigo continua, explicando que
seu grupo desenvolveu um sintetizador que permita ao deficiente ouvir o
som como resposta e ter assim consciência do que estava fazendo no
computador: o sintetizador narra todos os processos. Há um aplicativo
que oferece recursos como os do Explorer do Windows 95, como copiar e mover
arquivos.
“Fizemos um estudo linguístico
em cima de fonemas, pois a divisão convencional das sílabas
deveria atrasar o desenvolvimento. Trabalhamos a partir da estrutura clássica
da palavra: na divisão convencional, [carro] é palavra com
dois erres, com a divisão silábica [car-ro]. Mas ninguém
lê assim. Por isso, montamos a divisão como [ca-rro]. Da mesma
forma, [casa] tem [s] entre duas vogais, e neste caso a letra tem zom de
[z]; [exercício] é com [x] mas também com som de [z].
Desenvolvemos uma alternativa que trabalha com esse conceito mas de forma
a reproduzir os sons de forma rápida e clara, usando mais de 5 mil
sílabas gráficas que se reduzem a cerca de mil arquivos ([cha]
e [xa], por exemplo, são foneticamente o mesmo som).”
“O apelo visual – lembra Rodrigo
- é o que mais atrai quem enxerga. Procuramos dar um visual agradável
para quem está vendo o sistema funcionar, mas ainda assim dando
segurança ao deficiente. O programa verifica consistências
como alertar que um disquete está protegido contra gravação,
por exemplo, embora ainda não tenha condições de alertar
de forma sonora na ocorrência dos erros gerais de proteção
do Windows (GPFs).
“O sistema santista é parecido
com o DosVox, desenvolvido no Rio de Janeiro, que funciona no Windows mas
usando uma janela do DOS. A forma de leitura é parecida, mas o Blindsoft
atua diretamente na plataforma gráfica, o que representa um avanço
sobre outros programas. Inclui ainda um bloco de notas, parecido com o
Notepad do Windows, que pode ler o texto digitado tanto na forma fonética
como citando ainda a pontuação e os parágrafos. Também
inclui um teclado com resposta audível, para facilitar o treinamento
na digitação, que pode servir como ponto de partida para
aperfeiçoamentos a serem implementados pela próxima turma
de quartanistas do curso”, completa Rodrigo. |