Os três mosqueteiros da nova
economia
Mário Persona (*)
Colaborador
No romance
de Alexandre Dumas, D'Artagnan vai ao encontro de Athos, Porthos e Aramis
para duelar. Porém, a chegada dos guardas do Cardeal Richelieu faz
com que D'Artagnan fique amigo dos Três Mosqueteiros. O grupo, unido
pelo interesse comum, é o tema do romance - Três Mosqueteiros
com quatro capas e quatro espadas lutando por um ideal. Mas um ideal não
era tudo o que os levava a enfrentar as fazedoras de peneira, empunhadas
pelo inimigo. A adrenalina que corria em suas veias vinha da busca de prestígio,
poder e satisfação. Um por todos, todos por um!
Diariamente novos espadachins de Internet
se aventuram na conquista do espaço virtual. Empunhando o capital
e a experiência adquirida no mundo convencional, escolhem a carreira
de um "mosqueteiro solo" no palco da Web. Seu contato com o cliente dura
a estocada de uma fria lâmina de aço. Sua preocupação
está, no máximo, em como evitar as costelas para não
embotar a lâmina. Ou dificultar o negócio. Nada de calor humano,
nada de paixão, nada de relacionamentos duradouros entre pessoas
em rede. Não entendem que, na Internet, um mosqueteiro sozinho não
faz verão. E nem uma andorinha, se você for um purista de
provérbios.
Os nomes - Os Três Mosqueteiros
que não devem faltar na defesa dos negócios eletrônicos
são mais reais que os personagens do romance. Seus nomes são
Conteúdo, Comunidade e Comércio. No mundo virtual, dificilmente
um consegue sobreviver sem o outro, e o outro sem o um. E como no romance
os Três Mosqueteiros eram quatro, no mundo virtual o D'Artagnan,
que só aparece quando o trio já está formado, chama-se
Colaboração. Todos começando com "C" de "Cliente".
John Hagel III e Arthur Armstrong,
autores do livro "Net Gain", escrevem que é a Comunidade que acaba
criando condições para o Comércio acontecer. Mas só
quando os clientes podem sorver Conteúdo, ou informação
de boa qualidade. O resultado é um "mercado reverso", no qual o
poder brota do cliente e lhe confere prestígio, satisfação
e ganho em vantagens de compra. A empresa que não compreende isto
não saberá compreender e suprir as necessidades dos clientes,
recém promovidos à condição de senhores do
comércio na nova economia.
Há um novo modelo de negócios
nascendo no mundo virtual. Um mundo novo, onde velhos conceitos são
magnificados. Conteúdo, ou informação, é um
deles. Algo que sempre existiu em qualquer meio de troca. Toda negociação
começa com um duelo em torno de amenidades. Tempo, futebol, o que
aconteceu no fim de semana, dão os primeiros toques de um esgrima
de centavos ou de milhões. Vêm depois os golpes mais fortes
e calculados - troca de experiências e informações
- para mostrar força e medir a do oponente. Só então
vem o embate propriamente dito. E o golpe final, que é a consumação
do negócio. Touché!
O valor de um negócio virtual
está na capacidade de arrebanhar pessoas e agregar, a elas e por
meio delas, potencial de negócio. A habilidade de reconhecer, configurar
e manter unidos grupos é a moeda forte da nova economia. Conteúdo,
Comunidade e Comércio formam um corpo de Mosqueteiro sem fronteiras
definidas. É mais fácil dizer onde termina o pescoço
de uma cobra, que definir com exatidão onde começa e termina
a função de cada Mosqueteiro em um negócio on-line.
Medula - Uma vez criadas,
as próprias características das Comunidades as mantém
vivas. Elas funcionam como a medula que cria o sangue para manter viva
a própria medula. A Colaboração entre participantes
promove produtos que são de interesse comum. Para alegria dos mercadores
e patrocinadores. A própria Comunidade passa a gerar Conteúdo,
atrair novos membros, amalgamar pessoas diferentes com interesses comuns
e fortalecer seu poder de exigir e conquistar benefícios de consumo.
Esse intercâmbio de informações
gera conhecimento, que agrega prestígio para quem compartilha, satisfação
para quem recebe e poder para quem o utiliza. Neste caso, o cliente, que
passa a clicar o mouse com o dedo mínimo. Só para ter a sensação
da madame, que passeia pela loja e, com o mindinho, o único sem
anéis e brilhantes, vai apontando e ordenando, "Um deste, dois daquele,
três daquele outro...". Tudo para benefício do comerciante
que tiver a seu serviço Conteúdo, Comunidade, Comércio
e Colaboração. Os Três Mosqueteiros que são
quatro. Um por todos, todos por um!
(*) Mário
Persona é consultor, escritor e palestrante. Esta crônica
faz parte dos temas apresentados em suas palestras. Edita o boletim eletrônico
Crônicas
de Negócios e mantém endereço
próprio na Web, onde seus textos estão disponíveis. |