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Artigo escrito em 1/2000
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 01/14/02 11:10:34
Os três mosqueteiros da nova economia 

Mário Persona (*)
Colaborador

No romance de Alexandre Dumas, D'Artagnan vai ao encontro de Athos, Porthos e Aramis para duelar. Porém, a chegada dos guardas do Cardeal Richelieu faz com que D'Artagnan fique amigo dos Três Mosqueteiros. O grupo, unido pelo interesse comum, é o tema do romance - Três Mosqueteiros com quatro capas e quatro espadas lutando por um ideal. Mas um ideal não era tudo o que os levava a enfrentar as fazedoras de peneira, empunhadas pelo inimigo. A adrenalina que corria em suas veias vinha da busca de prestígio, poder e satisfação. Um por todos, todos por um!

Diariamente novos espadachins de Internet se aventuram na conquista do espaço virtual. Empunhando o capital e a experiência adquirida no mundo convencional, escolhem a carreira de um "mosqueteiro solo" no palco da Web. Seu contato com o cliente dura a estocada de uma fria lâmina de aço. Sua preocupação está, no máximo, em como evitar as costelas para não embotar a lâmina. Ou dificultar o negócio. Nada de calor humano, nada de paixão, nada de relacionamentos duradouros entre pessoas em rede. Não entendem que, na Internet, um mosqueteiro sozinho não faz verão. E nem uma andorinha, se você for um purista de provérbios.

Os nomes - Os Três Mosqueteiros que não devem faltar na defesa dos negócios eletrônicos são mais reais que os personagens do romance. Seus nomes são Conteúdo, Comunidade e Comércio. No mundo virtual, dificilmente um consegue sobreviver sem o outro, e o outro sem o um. E como no romance os Três Mosqueteiros eram quatro, no mundo virtual o D'Artagnan, que só aparece quando o trio já está formado, chama-se Colaboração. Todos começando com "C" de "Cliente".

John Hagel III e Arthur Armstrong, autores do livro "Net Gain", escrevem que é a Comunidade que acaba criando condições para o Comércio acontecer. Mas só quando os clientes podem sorver Conteúdo, ou informação de boa qualidade. O resultado é um "mercado reverso", no qual o poder brota do cliente e lhe confere prestígio, satisfação e ganho em vantagens de compra. A empresa que não compreende isto não saberá compreender e suprir as necessidades dos clientes, recém promovidos à condição de senhores do comércio na nova economia.

Há um novo modelo de negócios nascendo no mundo virtual. Um mundo novo, onde velhos conceitos são magnificados. Conteúdo, ou informação, é um deles. Algo que sempre existiu em qualquer meio de troca. Toda negociação começa com um duelo em torno de amenidades. Tempo, futebol, o que aconteceu no fim de semana, dão os primeiros toques de um esgrima de centavos ou de milhões. Vêm depois os golpes mais fortes e calculados - troca de experiências e informações - para mostrar força e medir a do oponente. Só então vem o embate propriamente dito. E o golpe final, que é a consumação do negócio. Touché!

O valor de um negócio virtual está na capacidade de arrebanhar pessoas e agregar, a elas e por meio delas, potencial de negócio. A habilidade de reconhecer, configurar e manter unidos grupos é a moeda forte da nova economia. Conteúdo, Comunidade e Comércio formam um corpo de Mosqueteiro sem fronteiras definidas. É mais fácil dizer onde termina o pescoço de uma cobra, que definir com exatidão onde começa e termina a função de cada Mosqueteiro em um negócio on-line.

Medula - Uma vez criadas, as próprias características das Comunidades as mantém vivas. Elas funcionam como a medula que cria o sangue para manter viva a própria medula. A Colaboração entre participantes promove produtos que são de interesse comum. Para alegria dos mercadores e patrocinadores. A própria Comunidade passa a gerar Conteúdo, atrair novos membros, amalgamar pessoas diferentes com interesses comuns e fortalecer seu poder de exigir e conquistar benefícios de consumo. 

Esse intercâmbio de informações gera conhecimento, que agrega prestígio para quem compartilha, satisfação para quem recebe e poder para quem o utiliza. Neste caso, o cliente, que passa a clicar o mouse com o dedo mínimo. Só para ter a sensação da madame, que passeia pela loja e, com o mindinho, o único sem anéis e brilhantes, vai apontando e ordenando, "Um deste, dois daquele, três daquele outro...". Tudo para benefício do comerciante que tiver a seu serviço Conteúdo, Comunidade, Comércio e Colaboração. Os Três Mosqueteiros que são quatro. Um por todos, todos por um!

(*) Mário Persona é consultor, escritor e palestrante. Esta crônica faz parte dos temas apresentados em suas palestras. Edita o boletim eletrônico Crônicas de Negócios e mantém endereço próprio na Web, onde seus textos estão disponíveis.