Megafusões
Mário Persona (*)
Colaborador
A megafusão,
que coloca a American Online Inc. e a Time Warner dividindo um mesmo quarto,
traz um volume de consequências maior que a bolsa necessária
para carregar os bilhões de dólares envolvidos no casamento.
A mais óbvia está no fato de uma empresa de Internet englobar
um gigante da mídia convencional. Ou o inverso, se considermos o
ponto de vista da Time Warner.
A ação se faz sentir na
cotação das ações de empresas de Internet.
E na avaliação da ação a ser tomada pelas empresas
de mídia convencional, que até aqui investiam em uma bicicleta
própria para entregar o jornal na casa do internauta. A dúvida
das solteiras é: será que valeu a pena gastar tanto para
fazer omelete na Internet, ou teria sido melhor procurar um parceiro que
já soubesse cozinhar? A única coisa que todo mundo sabe,
é que todo mundo não sabe fazer tudo. Daí a necessidade
de se buscar parceiros para fortalecer um negócio e criar família.
E ter filhos.
Para quem ainda não percebeu,
outra mensagem clara que está sendo passada é a de que a
Internet é informação, e que informação
é Internet. De agora em diante, se alguém quiser sobreviver
na Era da Informação, seja o seu ramo Internet ou não,
informação ou não, precisará estar de braços
dados com ambas.
Insider - Nathan Rotshild
sabia disso há muito tempo. Já li esta história em
dois lugares diferentes, uma dizendo que Rotschild tinha uma rede de comunicação
eficiente, com cavalos e barcos, e outra que ele esteve em Waterloo e tomou
um atalho até Londres depois da derrota de Napoleão. A história
não importa muito aqui, mas a lição sim.
Ao saber que a Inglaterra era vitoriosa,
Rotschild ordenou a venda de títulos da dívida pública
na bolsa de Londres. Pensando que ele tinha informações de
uma derrota, todo mundo fez o mesmo. Os preços despencaram. No final
do dia, antes que a notícia oficial da vitória chegasse a
Londres, ele ordenou a recompra em grande escala. A agilidade e posse da
informação foram os ingredientes na criação
de riqueza. Para ele, pelo menos.
Ouvi dizer que o uso da luneta foi
popularizado pelo mesmo motivo. Naquele tempo ninguém estava interessado
em olhar para a Lua, exceto os namorados. O que os comerciantes queriam
mesmo era enxergar qual era o navio que estava chegando, para especular
no mercado de futuros. A informação, que chegava ao olho
do mercador à velocidade da luz, gerava riqueza.
Por isso há todo esse interesse
da mídia convencional na Internet. Ela não é apenas
uma estrada da informação. É a estrada que transporta
todas as estradas da informação. Quem controlar essa estrada
controla todas. Ou não?
Expansões - Quando
acontece uma megafusão, não são derrubados muros.
Apenas é expandida a área do terreno ocupado pela fortaleza.
Estaremos, com certeza, assistindo a novas megafusões entre gigantes,
mas será que resta alguma alternativa viável para os médios,
pequenos e menores ainda? Creio que sim.
Nossa sociedade é pluralista.
Muitos todos formados por pequenas células. A Internet deu força
às células, permitiu que criassem agrupamentos por afinidades,
algo que a distância física muitas vezes não permitia.
E ajudou para que esses grupos fossem inter-relacionais. Assim, eu posso
fazer parte do grupo de empresas A, B e C em um projeto, mas fazer parte
também do grupo D, E e F em outro. A isto damos o nome de comunidades
que, na Internet, não precisam ser necessariamente possuir fronteiras
sólidas. Você se lembra daquele desenho da professora, ensinando
intersecção de conjuntos?
A Internet permitiu a existência
desses conjuntos, criando fronteiras tênues que se interceptam e
mudam conforme a necessidade. São comunidades de negócios,
sobrepondo-se em alguns casos, reformulando seus relacionamentos em outros,
mas sem criar muros. Encontram sua força na união da diversidade.
Diferente da simples soma e complementação de forças
buscada hoje pelo gigante A ao unir-se com o gigante B.
Posso estar errado? Certamente. Mas
agrada-me pensar em uma rede de negócios transpondo muros, ao invés
de criá-los. Criando relacionamentos transoperacionais, transnacionais,
transculturais, ou trans-o-que-você-imaginar. Se quiser americanizar,
transbusiness.
Não uma fusão, mas uma colaboração orgânica
entre pessoas, empresas pequenas, médias ou grandes, transpondo
barreiras, distâncias, culturas ou especialidades. Uma alternativa,
para os pequenos, à megafusão dos gigantes. Algo que represente
a transferência da vitalidade criativa entre negócios. Como
tudo em business precisa ter nome, que tal chamarmos essa tendência
de "Transfusão"?
(*) Mário
Persona é consultor, escritor e palestrante. Esta crônica
faz parte dos temas apresentados em suas palestras. Edita o boletim eletrônico
Crônicas
de Negócios e mantém endereço
próprio na Web, onde seus textos estão disponíveis. |