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Artigo escrito em 2000
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 01/15/02 14:28:18
Megafusões

Mário Persona (*)
Colaborador

A megafusão, que coloca a American Online Inc. e a Time Warner dividindo um mesmo quarto, traz um volume de consequências maior que a bolsa necessária para carregar os bilhões de dólares envolvidos no casamento. A mais óbvia está no fato de uma empresa de Internet englobar um gigante da mídia convencional. Ou o inverso, se considermos o ponto de vista da Time Warner.

A ação se faz sentir na cotação das ações de empresas de Internet. E na avaliação da ação a ser tomada pelas empresas de mídia convencional, que até aqui investiam em uma bicicleta própria para entregar o jornal na casa do internauta. A dúvida das solteiras é: será que valeu a pena gastar tanto para fazer omelete na Internet, ou teria sido melhor procurar um parceiro que já soubesse cozinhar? A única coisa que todo mundo sabe, é que todo mundo não sabe fazer tudo. Daí a necessidade de se buscar parceiros para fortalecer um negócio e criar família. E ter filhos.

Para quem ainda não percebeu, outra mensagem clara que está sendo passada é a de que a Internet é informação, e que informação é Internet. De agora em diante, se alguém quiser sobreviver na Era da Informação, seja o seu ramo Internet ou não, informação ou não, precisará estar de braços dados com ambas. 

Insider - Nathan Rotshild sabia disso há muito tempo. Já li esta história em dois lugares diferentes, uma dizendo que Rotschild tinha uma rede de comunicação eficiente, com cavalos e barcos, e outra que ele esteve em Waterloo e tomou um atalho até Londres depois da derrota de Napoleão. A história não importa muito aqui, mas a lição sim.

Ao saber que a Inglaterra era vitoriosa, Rotschild ordenou a venda de títulos da dívida pública na bolsa de Londres. Pensando que ele tinha informações de uma derrota, todo mundo fez o mesmo. Os preços despencaram. No final do dia, antes que a notícia oficial da vitória chegasse a Londres, ele ordenou a recompra em grande escala. A agilidade e posse da informação foram os ingredientes na criação de riqueza. Para ele, pelo menos.

Ouvi dizer que o uso da luneta foi popularizado pelo mesmo motivo. Naquele tempo ninguém estava interessado em olhar para a Lua, exceto os namorados. O que os comerciantes queriam mesmo era enxergar qual era o navio que estava chegando, para especular no mercado de futuros. A informação, que chegava ao olho do mercador à velocidade da luz, gerava riqueza. 

Por isso há todo esse interesse da mídia convencional na Internet. Ela não é apenas uma estrada da informação. É a estrada que transporta todas as estradas da informação. Quem controlar essa estrada controla todas. Ou não?

Expansões - Quando acontece uma megafusão, não são derrubados muros. Apenas é expandida a área do terreno ocupado pela fortaleza. Estaremos, com certeza, assistindo a novas megafusões entre gigantes, mas será que resta alguma alternativa viável para os médios, pequenos e menores ainda? Creio que sim. 

Nossa sociedade é pluralista. Muitos todos formados por pequenas células. A Internet deu força às células, permitiu que criassem agrupamentos por afinidades, algo que a distância física muitas vezes não permitia. E ajudou para que esses grupos fossem inter-relacionais. Assim, eu posso fazer parte do grupo de empresas A, B e C em um projeto, mas fazer parte também do grupo D, E e F em outro. A isto damos o nome de comunidades que, na Internet, não precisam ser necessariamente possuir fronteiras sólidas. Você se lembra daquele desenho da professora, ensinando intersecção de conjuntos?

A Internet permitiu a existência desses conjuntos, criando fronteiras tênues que se interceptam e mudam conforme a necessidade. São comunidades de negócios, sobrepondo-se em alguns casos, reformulando seus relacionamentos em outros, mas sem criar muros. Encontram sua força na união da diversidade. Diferente da simples soma e complementação de forças buscada hoje pelo gigante A ao unir-se com o gigante B.

Posso estar errado? Certamente. Mas agrada-me pensar em uma rede de negócios transpondo muros, ao invés de criá-los. Criando relacionamentos transoperacionais, transnacionais, transculturais, ou trans-o-que-você-imaginar. Se quiser americanizar, transbusiness. Não uma fusão, mas uma colaboração orgânica entre pessoas, empresas pequenas, médias ou grandes, transpondo barreiras, distâncias, culturas ou especialidades. Uma alternativa, para os pequenos, à megafusão dos gigantes. Algo que represente a transferência da vitalidade criativa entre negócios. Como tudo em business precisa ter nome, que tal chamarmos essa tendência de "Transfusão"?

(*) Mário Persona é consultor, escritor e palestrante. Esta crônica faz parte dos temas apresentados em suas palestras. Edita o boletim eletrônico Crônicas de Negócios e mantém endereço próprio na Web, onde seus textos estão disponíveis.