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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 01/16/00 20:15:31
O rato que ruge

Mário Persona (*)
Colaborador

Recentemente, o site http://www.LandmarksforSale.com, uma empresa fictícia, colocou à venda a Ponte do Brooklyn, em Nova Iorque. A julgar pelo número de hits que o site recebeu, acompanhado de telefonemas e e-mails, a impressão que dava era que havia muita gente rica e ignorante solta por aí, ou uma enorme escassez por pontes no mercado.

Evidentemente, a velha ponte não pode ser comprada por ninguém, muito embora vigaristas tenham feito um bom dinheiro no final do século passado, vendendo-a para imigrantes que acreditavam em tudo o que viam no novo mundo. Visando ajudar os incautos do novo mundo que é a Internet, a empresa http://www.bizrate.com, um guia de compras na Web, resolveu inventar a venda da ponte para mostrar a importância de seus serviços de auxílio ao e-commerce.

A campanha publicitária que alertava e-compradores a não serem enganados incluiu propaganda em rádio e TV, outdoors espalhados pela cidade, e um anúncio de 35 mil dólares de página inteira no New York Post. O cenário era completado pela distribuição de panfletos nas ruas por supostos manifestantes, que protestavam contra a venda da ponte com slogans do tipo "NÃO PERMITA QUE ELES VENDAM A PONTE".

Caça-fantasmas - O aparecimento de empresas de proteção ao consumidor na Web é resultado do sucesso do e-commerce, acompanhado da proliferação de negócios fantasmas nesse meio. Do ponto de vista de negócios, isso só fortalece o poder da Internet como ferramenta eficaz para a pequena e média empresa. Se empresas fantasmas conseguem parecer algo na Web e conquistar clientes, os pequenos e médios negócios honestos também conseguirão conquistar seu espaço. 

Até ativistas políticos e guerrilheiros já perceberam o poder de mobilização da Web. O pequeno Exército de Libertação Nacional Zapatista descobriu que lutar na Web dá mais resultado e menos trabalho que ficar doando sangue para mosquitos nas selvas do México. 

E, na guerra do mundo dos negócios, empresas cujas instalações não passam de um micro dividindo a escrivaninha com latas de refrigerante e sanduíches meio comidos, em algum alojamento de estudantes, estão conseguindo passar a imagem de grandes corporações. A Internet deu aos pequenos um poder nunca antes visto. A criatividade dos ratinhos ainda consegue ser páreo para as polpudas contas publicitárias dos leões, já que todos têm acesso às mesmas ferramentas. Pelo menos até que venha a Internet2 e seja preciso um estúdio de TV para se criar uma home-page.

Diferencial - Mas não é apenas de imagem que as empresas sobrevivem. O cliente atraído pela fachada de grande precisa encontrar um diferencial que atenda às suas expectativas. Mais ou menos como aconteceu com um xará que conheci em um camping perto de Brasília. Recém-casados, eu e minha esposa nos preparávamos para dormir dentro de nossa barraquinha, quando o barulho começou. Eram gritos vindos de todas as partes do camping: "O seu Mário chegou!!!", "É o carro do seu Mário!!". Outro Mário, muito mais popular entre os habitantes usuais daquela cidade de barracas, estava chegando ao camping.

Mas para nós, dentro de nossa barraca, o "seu" Mário era um sujeito oculto. Só pudemos ouvir o ruído de gente correndo, carro parando, porta abrindo, gritinhos de emoção e... uma trovoada: "BOA NOITE, PESSOAL!!!". O homem tinha a voz de cem Pavarottis e torcida de final de copa do mundo em decisão por pênalti. Em nossa imaginação víamos uma figura hercúlea, 3 metros de altura e músculos do Schwarzenegger.

Conseguimos dormir, apesar da algazarra em torno do tal "seu" Mário ter continuado pela madrugada. Na manhã seguinte, eu e minha esposa comíamos bolachas em uma mesa do camping, quando ribombou a trovoada: "ACEITA UM CAFEZINHO?". Virei-me, e não vi ninguém. Olhei para baixo, e lá estava o "seu" Mário - a estatura de um borracheiro de Autorama. O homem cabia no bolso do gigante que havíamos concebido em nossa imaginação. Mas, embora  pequeno em estatura, logo revelou-se grande em simpatia, querendo colocar um pouco de sabor em nosso seco desjejum. E passamos a vê-lo outra vez como o gigante que havia provocado aquele alvoroço no camping. O rato sabia como rugir.

(*) Mário Persona é diretor de comunicação da Widesoft, que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos via Internet.