O rato que ruge
Mário Persona (*)
Colaborador
Recentemente,
o site http://www.LandmarksforSale.com,
uma empresa fictícia, colocou à venda a Ponte do Brooklyn,
em Nova Iorque. A julgar pelo número de hits que o site recebeu,
acompanhado de telefonemas e e-mails, a impressão que dava era que
havia muita gente rica e ignorante solta por aí, ou uma enorme escassez
por pontes no mercado.
Evidentemente, a velha ponte não
pode ser comprada por ninguém, muito embora vigaristas tenham feito
um bom dinheiro no final do século passado, vendendo-a para imigrantes
que acreditavam em tudo o que viam no novo mundo. Visando ajudar os incautos
do novo mundo que é a Internet, a empresa http://www.bizrate.com,
um guia de compras na Web, resolveu inventar a venda da ponte para mostrar
a importância de seus serviços de auxílio ao e-commerce.
A campanha publicitária que
alertava e-compradores a não serem enganados incluiu propaganda
em rádio e TV, outdoors espalhados pela cidade, e um anúncio
de 35 mil dólares de página inteira no New York Post. O cenário
era completado pela distribuição de panfletos nas ruas por
supostos manifestantes, que protestavam contra a venda da ponte com slogans
do tipo "NÃO PERMITA QUE ELES VENDAM A PONTE".
Caça-fantasmas - O
aparecimento de empresas de proteção ao consumidor na Web
é resultado do sucesso do e-commerce, acompanhado da proliferação
de negócios fantasmas nesse meio. Do ponto de vista de negócios,
isso só fortalece o poder da Internet como ferramenta eficaz para
a pequena e média empresa. Se empresas fantasmas conseguem parecer
algo na Web e conquistar clientes, os pequenos e médios negócios
honestos também conseguirão conquistar seu espaço.
Até ativistas políticos
e guerrilheiros já perceberam o poder de mobilização
da Web. O pequeno Exército de Libertação Nacional
Zapatista descobriu que lutar na Web dá mais resultado e menos trabalho
que ficar doando sangue para mosquitos nas selvas do México.
E, na guerra do mundo dos negócios,
empresas cujas instalações não passam de um micro
dividindo a escrivaninha com latas de refrigerante e sanduíches
meio comidos, em algum alojamento de estudantes, estão conseguindo
passar a imagem de grandes corporações. A Internet deu aos
pequenos um poder nunca antes visto. A criatividade dos ratinhos ainda
consegue ser páreo para as polpudas contas publicitárias
dos leões, já que todos têm acesso às mesmas
ferramentas. Pelo menos até que venha a Internet2 e seja preciso
um estúdio de TV para se criar uma home-page.
Diferencial - Mas não
é apenas de imagem que as empresas sobrevivem. O cliente atraído
pela fachada de grande precisa encontrar um diferencial que atenda às
suas expectativas. Mais ou menos como aconteceu com um xará que
conheci em um camping perto de Brasília. Recém-casados, eu
e minha esposa nos preparávamos para dormir dentro de nossa barraquinha,
quando o barulho começou. Eram gritos vindos de todas as partes
do camping: "O seu Mário chegou!!!", "É o carro do seu Mário!!".
Outro Mário, muito mais popular entre os habitantes usuais daquela
cidade de barracas, estava chegando ao camping.
Mas para nós, dentro de nossa
barraca, o "seu" Mário era um sujeito oculto. Só pudemos
ouvir o ruído de gente correndo, carro parando, porta abrindo, gritinhos
de emoção e... uma trovoada: "BOA NOITE, PESSOAL!!!". O homem
tinha a voz de cem Pavarottis e torcida de final de copa do mundo em decisão
por pênalti. Em nossa imaginação víamos uma
figura hercúlea, 3 metros de altura e músculos do Schwarzenegger.
Conseguimos dormir, apesar da algazarra
em torno do tal "seu" Mário ter continuado pela madrugada. Na manhã
seguinte, eu e minha esposa comíamos bolachas em uma mesa do camping,
quando ribombou a trovoada: "ACEITA UM CAFEZINHO?". Virei-me, e não
vi ninguém. Olhei para baixo, e lá estava o "seu" Mário
- a estatura de um borracheiro de Autorama. O homem cabia no bolso do gigante
que havíamos concebido em nossa imaginação. Mas, embora
pequeno em estatura, logo revelou-se grande em simpatia, querendo colocar
um pouco de sabor em nosso seco desjejum. E passamos a vê-lo outra
vez como o gigante que havia provocado aquele alvoroço no camping.
O rato sabia como rugir.
(*) Mário
Persona é diretor de comunicação da Widesoft,
que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos
via Internet. |