Yes, nós temos banana
Mário Persona (*)
Colaborador
Se a sua
área de atuação na Internet é tão diversificada
que você leva um bom tempo para explicar a alguém o que faz,
é melhor começar a rever seu plano de negócio. Quanto
mais tempo você gastar falando do que faz, menos tempo terá
para fazer. E se a cada dia precisar falar mais, irá fazer cada
vez menos, até o ponto de falar o tempo todo de coisa nenhuma.
É normal que o novo empreendedor,
deslumbrado com um mundo de possibilidades que a Web oferece, acabe colocando
o foco de seu negócio em lugar nenhum. Ao invés de se concentrar
em um nicho de mercado e abrir, digamos, uma modesta barraca de bananas,
vai logo querendo ser o rei da variedade.
É melhor ter a banana que
nenhum outro tem, e que sua clientela adora, do que ter a variedade que
todo mundo oferece, em um mercado que está dando uma banana para
os seus esforços. Quem já teve quitanda sabe o que é
tomar vitamina todos os dias.
Os alfaiates - A história
dos três alfaiates ilustra bem o poder do nicho. Vizinhos em uma
mesma rua, o primeiro resolveu ser mais do que realmente era, colocando
na porta de sua alfaiataria a placa: "O Melhor Alfaiate do Mundo". O segundo
não deixou por menos. Logo sua loja ganhava uma placa ainda cheirando
a tinta: "O Melhor Alfaiate do Universo". O terceiro não se desesperou.
Pintou com calma sua placa: "O Melhor Alfaiate desta Rua".
Na Web, a rua onde estará
seu negócio virtual já é do tamanho do mundo. Mas
seu negócio não precisa ser do mesmo tamanho. A menos que
você seja um grande investidor, é melhor pensar em atuar em
nichos de mercado. É melhor ser a mais completa barraca de bananas,
do que ser o mais incompleto supermercado do mundo.
Felizmente, até no comércio
convencional ainda existem nichos que dependem de um alto grau de especialização,
algo difícil de ser encontrado em grandes empresas. É por
esta razão que ainda encontramos os pequenos centros de conhecimento,
freqüentados por clientes exigentes e habituais. São pessoas
que não procuram apenas pelo produto, mas pelo conhecimento envolvido
no seu consumo. Atendendo aos respectivos nichos, as lojas de produtos
filatélicos, aeromodelismo, alimentos naturais, tabacarias ou armarinhos
sobrevivem heroicamente ao lado dos grandes supermercados e magazines.
Portanto, se quiser ser o melhor em bananas, esqueça diversificar
para jacas ou melancias.
Árvore-pomar - A história
de meu cunhado ilustra bem o deslumbramento que ocorre quando desejamos
abraçar todas as possibilidades e perdemos o foco do essencial.
Maravilhado com um catálogo de árvores frutíferas,
repleto de fotos dessas plantas produzindo múltiplas variedades
de frutos em uma mesma árvore, não parava de falar do assunto.
Começou a sonhar em ter seu próprio pomar com árvores
assim.
Mas, como a realidade nem sempre
é colorida como os catálogos, o máximo que conseguiu
foi plantar uma muda de mangueira no quintal. Virou um ritual chegar do
trabalho e desenrolar uma mangueira para regar a outra. E sempre que encontrava
um ouvinte, voltava a exaltar as possibilidades da moderna fruticultura
e das árvores de múltiplos frutos.
Um dia, ao chegar em casa e fazer
a costumeira visita ao pé de manga, quase foi ao chão de
tanto rir. Meu pai, muito brincalhão, havia transformado o sonho
de meu cunhado em realidade, sem enxertos ou caras experiências genéticas.
Com apenas alguns pedaços de barbante e uma visita à quitanda,
havia conseguido realizar um verdadeiro milagre da fruticultura.
Ali, regada pelas gargalhadas de
meu cunhado, estava a orgulhosa mangueira, com seus galhos vergados sob
o peso de bananas, peras, laranjas, maçãs, e cachos de uva.
Exceto mangas. Porque nem as melhores quitandas conseguem abraçar
o mundo.
(*) Mário
Persona é diretor de comunicação da Widesoft,
que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos
via Internet. |