Clique aqui para voltar à página inicial  http://www.novomilenio.inf.br/ano00/0001a052.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 01/16/00 19:35:30
O rei morreu! Viva o rei!

Mário Persona (*)
Colaborador

A corrida de gigantes para a Internet tem tirado o sono de muitos, principalmente dos intermediários. São os distribuidores, revendas, representantes e vendedores que ganham a vida fazendo o meio-de-campo entre o fabricante e o consumidor final.

Hoje é possível comprar um micro direto da fábrica pela Internet, com direito a dar palpite na sua montagem. A e-GM, divisão estratégica da empresa para atacar o setor de vendas virtuais, surgiu no horizonte como um buldozer abrindo caminho para novos negócios. Ou como rolo compressor, do ponto de vista de algumas revendas.

Depois foi a vez da Ford colocar a fanfarra na rua e embarcar na Internet de braços dados com a Microsoft, dona do http://www.carpoint.com/. Montadoras, empresas aéreas, fabricantes de hardware e até gravadoras começam a disputar no cotovelo o espaço virtual. Pobre revenda, pobre representante, pobre intermediário, diriam alguns. O intermediário morreu?

Jerry - Não creio. Nunca houve tanto espaço para o intermediário como hoje. Amazon.com, a maior livraria da Internet, é um intermediário. E-bay, o famoso site de leilões, é um intermediário. E Jerry Whitlock é um intermediário. Mas quem é Jerry Whitlock? Você nunca ouviu falar?

Nem eu. Pelo menos até algumas semanas atrás. Jerry, que já foi notícia até no Wall Street Journal, é o exemplo ideal do intermediário da Nova Economia. Em 1995, quando começou seu negócio na garagem, Jerry vinha de uma experiência de vinte anos viajando e vendendo juntas de vedação para máquinas e motores. Nesse tempo Jerry colecionou catálogos e abasteceu dezenas de porta-cartões, convertidos depois em um enorme banco de dados com milhares de endereços de fábricas, distribuidores e revendas de juntas em todo o mundo.

Em 1997 sua empresa, a EPM, já faturava um milhão de dólares por ano funcionando em uma garagem equipada com telefones, aparelhos de fax e micros conectados à Internet. Além dos dois funcionários de tempo integral - Jerry e sua esposa - eventualmente a irmã de Jerry aumentava o contingente, fazendo telemarketing da cozinha de sua casa. 

A EPM continuou crescendo sem sair da garagem. Hoje ele fornece juntas de vedação - daquelas difíceis de ser encontradas - para fábricas em todo o mundo. O que é um pesadelo para uma fábrica, que chega a parar sua linha de produção por causa de um vazamento em uma máquina, é um doce sonho para Jerry. Ele tem a junta que vai resolver o problema, mesmo que a máquina tenha sido fabricada na China em mil novecentos e nada. Para produzir em quantidade as juntas mais procuradas, e menos encontradas, Jerry montou uma fábrica na Índia, em conjunto com um empreendedor que conheceu pela Internet.

Mesmo quando Jerry viaja de férias com a esposa, a loja na Internet continua funcionando e os pedidos chegando. Com seu notebook e o celular, a EPM está ao alcance de qualquer cliente em qualquer parte do mundo. De seu posto - que pode ser debaixo de um guarda-sol em uma praia na Flórida - Jerry consegue receber pedidos, consultar seu banco de dados, descobrir quem tem aquela junta rara, e providenciar a entrega rápida para o cliente em qualquer parte do mundo.

Estoque mundial - O site de Jerry em http://www.epm.com anuncia 47 bilhões de juntas em estoque. Na garagem? Não, no mundo. Jerry entendeu o que significa trabalhar no mundo virtual. Ou será que você acredita que a Amazon.com tenha em estoque todos os livros que anuncia? Tirando o estoque estratégico dos mais vendidos, o resto não passa de fotos digitalizadas das capas, que provavelmente caberiam no HD de meu computador. 

Jerry Whitlock, ou "The Seal Man" - algo como "homem vedação" - apelido que ganhou no tempo de vendedor e registrou como marca, é o protótipo do intermediário da nova economia. Ele conhece seu produto, sabe quem precisa e descobre quem tem. Com seu conhecimento, Jerry agrega valor ao que vende em sua loja localizada no bairro chamado mundo. O intermediário morreu? Viva o intermediário!

(*) Mário Persona é diretor de comunicação da Widesoft, que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos via Internet.