Desafiando as probabilidades
Mário Persona (*)
Colaborador
Todos adoramos
estatísticas, mesmo sabendo que 43% delas não podem nos ajudar.
A julgar pelas estatísticas, o Mc Donald's nunca teria dado certo
no Brasil. Antes do Big Mac desembarcar na terra do "churrasquinho", as
estatísticas deviam mostrar que, dos brasileiros comiam fora de
casa, 100% eram amantes do arroz-feijão, preferiam um prato-feito
150% cheio, e achavam que sanduíche tinha que ser 99% bife e 1%
pão francês. Você ousaria competir em um mercado assim
com um sanduíche de carne moída, com pão de batata
e uma rodela de picles, a preço de prato comercial?
Para não correr riscos, corremos
para as estatísticas, vemos o que está dando certo e simplesmente
imitamos com outras cores. Mas, na Internet, os negócios bem sucedidos
só existem porque não imitaram. Foram iniciativas únicas
em sua concepção. Enquanto a maioria estava fazendo uma autópsia
dos negócios existentes, tentando transplantar para a rede os órgãos
já desgastados dos negócios offline, os pioneiros da nova
economia davam à luz novos negócios. E, assim como acontece
com as pessoas, o mercado sempre preferiu freqüentar maternidades
a velórios.
Muito tarde - Em um ambiente
de mutação rápida como é a Internet, quando
as pesquisas ficam prontas e mostram onde é bom investir, pode não
ser mais. Lembro-me de quando os comerciantes acordaram para as estatísticas
do aumento da longevidade em nosso país, e virou mania abrir loja
de produtos ortopédicos e de higiene para idosos. Em minha cidade,
em um único quarteirão, havia três lojas, seguidas
de mais duas em um raio de duzentos metros. Obviamente nem todas chegaram
à terceira idade.
É importante ter em mente
que todo mundo tem igual acesso às estatísticas. Comece um
negócio levando em conta apenas as estatísticas e você
vai descobrir que entrou em um mercado que mais se assemelha ao filme "101
Dálmatas". As estatísticas podem ser uma ótima ferramenta,
mas serão uma péssima bússola se a criatividade não
entrar na receita. E a criatividade que produz os grandes negócios
é como a cozinheira que prepara o almoço enquanto todos ainda
estão tomando o café da manhã. Ele fica pronto na
hora exata da próxima fome.
O Napster - Uma dessas idéias
que pode acabar fazendo sucesso está em http://www.napster.com.
Sem entrar no mérito da questão dos direitos autorais ou
da segurança do sistema contra invasões, achei a idéia
muito interessante. Trata-se de um programa de chat que é também
um ambiente de troca de arquivos de músicas no formato MP3. Você
cadastra as músicas que tem em seu micro, permitindo que pessoas
de todo o mundo possam fazer um download diretamente de sua máquina.
É claro que você também poderá fazer o download
de milhares de músicas que estão nos micros de outros participantes
da rede.
Não é a música
que interessa aqui, mas a possibilidade da tão sonhada computação
em rede, onde a rede é o computador. Ao invés de alguns servidores
espalhados pelo mundo, cada computador pessoal passa a ser também
um servidor nessa grande rede. Há programas que já fazem
uso deste conceito, utilizando a capacidade ociosa de milhares de micros
pessoais ligados à Internet, para o processamento de cálculos
complexos demais para serem feitos por uma única máquina.
Os grandes negócios virtuais
são grandes idéias que antes eram impossíveis sem
a tecnologia de computação em rede. Se você conhece
um problema e sabe como resolvê-lo com uma nova tecnologia, pode
ter em mãos um bom negócio. Mas para conseguir o extraordinário,
não bastará acrescentar um "extra" ao "ordinário".
Se fosse assim, eu teria grandes chances de competir no mercado de fast-food
lançando um hambúrguer quadrado para caber melhor na caixinha.
Não sei qual será a
próxima grande idéia na Internet, mas tenho certeza de que
será algo que aparentemente estará indo contra todas as possibilidades.
Talvez inventado por algum garoto que não sabia que sua idéia
seria impossível, ou alguém que não teve acesso a
todas as pesquisas e estatísticas e ousou desafiar as probabilidades.
E dedicou 187% de sua energia no negócio.
(*) Mário
Persona é diretor de comunicação da Widesoft,
que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos
via Internet. |