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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 01/16/00 19:05:45
Desafiando as probabilidades

Mário Persona (*)
Colaborador

Todos adoramos estatísticas, mesmo sabendo que 43% delas não podem nos ajudar. A julgar pelas estatísticas, o Mc Donald's nunca teria dado certo no Brasil. Antes do Big Mac desembarcar na terra do "churrasquinho", as estatísticas deviam mostrar que, dos brasileiros comiam fora de casa, 100% eram amantes do arroz-feijão, preferiam um prato-feito 150% cheio, e achavam que sanduíche tinha que ser 99% bife e 1% pão francês. Você ousaria competir em um mercado assim com um sanduíche de carne moída, com pão de batata e uma rodela de picles, a preço de prato comercial?

Para não correr riscos, corremos para as estatísticas, vemos o que está dando certo e simplesmente imitamos com outras cores. Mas, na Internet, os negócios bem sucedidos só existem porque não imitaram. Foram iniciativas únicas em sua concepção. Enquanto a maioria estava fazendo uma autópsia dos negócios existentes, tentando transplantar para a rede os órgãos já desgastados dos negócios offline, os pioneiros da nova economia davam à luz novos negócios. E, assim como acontece com as pessoas, o mercado sempre preferiu freqüentar maternidades a velórios. 

Muito tarde - Em um ambiente de mutação rápida como é a Internet, quando as pesquisas ficam prontas e mostram onde é bom investir, pode não ser mais. Lembro-me de quando os comerciantes acordaram para as estatísticas do aumento da longevidade em nosso país, e virou mania abrir loja de produtos ortopédicos e de higiene para idosos. Em minha cidade, em um único quarteirão, havia três lojas, seguidas de mais duas em um raio de duzentos metros. Obviamente nem todas chegaram à terceira idade.

É importante ter em mente que todo mundo tem igual acesso às estatísticas. Comece um negócio levando em conta apenas as estatísticas e você vai descobrir que entrou em um mercado que mais se assemelha ao filme "101 Dálmatas". As estatísticas podem ser uma ótima ferramenta, mas serão uma péssima bússola se a criatividade não entrar na receita. E a criatividade que produz os grandes negócios é como a cozinheira que prepara o almoço enquanto todos ainda estão tomando o café da manhã. Ele fica pronto na hora exata da próxima fome.

O Napster - Uma dessas idéias que pode acabar fazendo sucesso está em http://www.napster.com. Sem entrar no mérito da questão dos direitos autorais ou da segurança do sistema contra invasões, achei a idéia muito interessante. Trata-se de um programa de chat que é também um ambiente de troca de arquivos de músicas no formato MP3. Você cadastra as músicas que tem em seu micro, permitindo que pessoas de todo o mundo possam fazer um download diretamente de sua máquina. É claro que você também poderá fazer o download de milhares de músicas que estão nos micros de outros participantes da rede.

Não é a música que interessa aqui, mas a possibilidade da tão sonhada computação em rede, onde a rede é o computador. Ao invés de alguns servidores espalhados pelo mundo, cada computador pessoal passa a ser também um servidor nessa grande rede. Há programas que já fazem uso deste conceito, utilizando a capacidade ociosa de milhares de micros pessoais ligados à Internet, para o processamento de cálculos complexos demais para serem feitos por uma única máquina.

Os grandes negócios virtuais são grandes idéias que antes eram impossíveis sem a tecnologia de computação em rede. Se você conhece um problema e sabe como resolvê-lo com uma nova tecnologia, pode ter em mãos um bom negócio. Mas para conseguir o extraordinário, não bastará acrescentar um "extra" ao "ordinário". Se fosse assim, eu teria grandes chances de competir no mercado de fast-food lançando um hambúrguer quadrado para caber melhor na caixinha. 

Não sei qual será a próxima grande idéia na Internet, mas tenho certeza de que será algo que aparentemente estará indo contra todas as possibilidades. Talvez inventado por algum garoto que não sabia que sua idéia seria impossível, ou alguém que não teve acesso a todas as pesquisas e estatísticas e ousou desafiar as probabilidades. E dedicou 187% de sua energia no negócio.

(*) Mário Persona é diretor de comunicação da Widesoft, que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos via Internet.