Querida, encolhi o mundo!
Mário Persona (*)
Colaborador
Após
ter escolhido Jeff Bezos da Amazon.com para homem do ano, a revista Time
aproveitou o embalo e criou o "The Person of the Century". Albert Einstein
foi o contemplado com uma homenagem que só voltará a acontecer
daqui a cem anos. Se ainda existir revista de papel.
Albert Einstein causou um impacto
tão grande na ciência que ultrapassou suas fronteiras. Hoje,
qualquer criança sabe como desenhar um cientista: basta representá-lo
com cabelos brancos e despenteados. Isto graças ao símbolo
de inteligência em que se transformou o homem cuja foto, com a língua
de fora, enfeita as paredes, de lanchonetes a repúblicas de estudantes.
Para quem nunca foi líder político, cantor de rock ou ator
de cinema, isto é significativo. Tudo começou quando, em
1905 e com apenas 26 anos, Einstein publicou três trabalhos que viriam
a causar vertigens na ciência. Por um deles mereceu o Prêmio
Nobel; o outro era a Teoria da Relatividade.
Encolhimento - Do pouco que
sei sobre o assunto, uma de suas idéias faz concluir que os objetos
encolhem quando em movimento. Não me peça para explicar.
Não sou matemático, físico ou qualquer outra coisa
que exija o trabalho de um número maior do que os dois neurônios
que tenho em funcionamento. Mas gosto da idéia de que a velocidade
faz com que as coisas encolham, pois vejo isto acontecer com o mundo. O
mundo está encolhendo graças à velocidade da informação.
Nunca estivemos tão perto de tudo e de todos. Este fenômeno
faz com que as distâncias cheguem a zero.
Não é de agora que
o mundo está encolhendo. É certo que, na velocidade atual,
logo estaremos todos tentando nos equilibrar sobre um ponto, mas o encolhimento
tem sido progressivo. Ele aumenta à medida que a evolução
tecnológica vai permitindo que as pessoas troquem informações
com maior rapidez. Com a criação da escrita, do navio à
vela, do papel e da imprensa, idéias isoladas passaram a encontrar
seus pares com maior rapidez, materializando-se na forma de outras grandes
conquistas tecnológicas.
Rapidez - Se precisamos de
quase dois séculos para assistir aos primeiros avanços em
engenharia hidráulica, já o tempo necessário para
a mecanização da lavoura, teares mecânicos, estruturas
de ferro e máquinas a vapor foi de menos de cem anos. Menos tempo
ainda levou para a bateria, a lâmpada elétrica, o telégrafo
e o rádio chegarem às prateleiras, acelerando a chegada do
motor de combustão, do automóvel, do avião e do aço.
Era sempre a dupla informação e tecnologia fazendo seus shows
ao longo dos últimos séculos, e gerando riqueza onde quer
que se apresentasse.
Nas asas da tecnologia, a informação
aterrisa hoje instantânea onde existir um dispositivo de acesso à
Internet. Nem Einstein poderia prever que o mundo iria encolher assim,
e suas fórmulas não contemplavam tal fenômeno. As grandes
idéias, embora caminhem nas pisadas dos que vieram antes, só
se tornam grandes realizações quando começam a desbravar
terreno virgem, deixando um caminho atrás de si. São impulsionadas
por aquela mola que existe em homens e mulheres que, à semelhança
de Einstein, são destemidos o suficiente para acreditarem que existe
algo de novo além da curva.
Previsões - Quando
a curva é a passagem para o ano 2000, vou ousar fazer alguns prognósticos.
Se 1999 foi o ano do e-commerce, o ano 2000 será o ano do e-business.
É fácil prever isto. O efeito do click do mouse do consumidor,
que elegeu empresas como a Amazon.com em 1999, não termina no bolso
de Jeff Bezos ou de qualquer outro comerciante eletrônico. Ele continua
ao longo de toda a cadeia produtiva, levando riqueza e informação
ao escritor, ao editor, à gráfica, ao fabricante de papel,
tintas, solventes, impressoras, parafusos, chapas, e assim por diante.
Uma solução de e-business baseada na Internet permite que
todos os elementos de uma cadeia assim sejam afetados quase que simultaneamente.
Minha previsão é que
veremos o ano novo começar com as empresas correndo procurar seu
lugar nessa fila produtiva. Muitos empresários já começarão
o ano como gatos escaldados, não querendo mais correr o risco de
estarem desatualizados. Até lá, terão aprendido que
a desatualização pode custar caro. Refiro-me, não
ao "Homem do Ano", nem à "Pessoa do Século", mas à
"Personalidade do Milênio".
É que tenho um palpite de
quem poderia ser, caso alguma revista queira fazer a campanha. O único
problema é que se a revista que a eleger chegar às bancas,
sua influência não terá sido suficiente para merecer
o título. E se a sua influência fizer jus ao título,
a revista não chegará às bancas. De qualquer modo,
fica aqui minha sugestão de "Personalidade do Milênio" para
a revista que quiser arriscar: o Bug.
(*) Mário
Persona é diretor de comunicação da Widesoft,
que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos
via Internet. Artigo distribuído em dezembro de 1999. |