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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 01/16/00 18:35:18
Querida, encolhi o mundo!

Mário Persona (*)
Colaborador

Após ter escolhido Jeff Bezos da Amazon.com para homem do ano, a revista Time aproveitou o embalo e criou o "The Person of the Century". Albert Einstein foi o contemplado com uma homenagem que só voltará a acontecer daqui a cem anos. Se ainda existir revista de papel. 

Albert Einstein causou um impacto tão grande na ciência que ultrapassou suas fronteiras. Hoje, qualquer criança sabe como desenhar um cientista: basta representá-lo com cabelos brancos e despenteados. Isto graças ao símbolo de inteligência em que se transformou o homem cuja foto, com a língua de fora, enfeita as paredes, de lanchonetes a repúblicas de estudantes. Para quem nunca foi líder político, cantor de rock ou ator de cinema, isto é significativo. Tudo começou quando, em 1905 e com apenas 26 anos, Einstein publicou três trabalhos que viriam a causar vertigens na ciência. Por um deles mereceu o Prêmio Nobel; o outro era a Teoria da Relatividade.

Encolhimento - Do pouco que sei sobre o assunto, uma de suas idéias faz concluir que os objetos encolhem quando em movimento. Não me peça para explicar. Não sou matemático, físico ou qualquer outra coisa que exija o trabalho de um número maior do que os dois neurônios que tenho em funcionamento. Mas gosto da idéia de que a velocidade faz com que as coisas encolham, pois vejo isto acontecer com o mundo. O mundo está encolhendo graças à velocidade da informação. Nunca estivemos tão perto de tudo e de todos. Este fenômeno faz com que as distâncias cheguem a zero.

Não é de agora que o mundo está encolhendo. É certo que, na velocidade atual, logo estaremos todos tentando nos equilibrar sobre um ponto, mas o encolhimento tem sido progressivo. Ele aumenta à medida que a evolução tecnológica vai permitindo que as pessoas troquem informações com maior rapidez. Com a criação da escrita, do navio à vela, do papel e da imprensa, idéias isoladas passaram a encontrar seus pares com maior rapidez, materializando-se na forma de outras grandes conquistas tecnológicas. 

Rapidez - Se precisamos de quase dois séculos para assistir aos primeiros avanços em engenharia hidráulica, já o tempo necessário para a mecanização da lavoura, teares mecânicos, estruturas de ferro e máquinas a vapor foi de menos de cem anos. Menos tempo ainda levou para a bateria, a lâmpada elétrica, o telégrafo e o rádio chegarem às prateleiras, acelerando a chegada do motor de combustão, do automóvel, do avião e do aço. Era sempre a dupla informação e tecnologia fazendo seus shows ao longo dos últimos séculos, e gerando riqueza onde quer que se apresentasse.

Nas asas da tecnologia, a informação aterrisa hoje instantânea onde existir um dispositivo de acesso à Internet. Nem Einstein poderia prever que o mundo iria encolher assim, e suas fórmulas não contemplavam tal fenômeno. As grandes idéias, embora caminhem nas pisadas dos que vieram antes, só se tornam grandes realizações quando começam a desbravar terreno virgem, deixando um caminho atrás de si. São impulsionadas por aquela mola que existe em homens e mulheres que, à semelhança de Einstein, são destemidos o suficiente para acreditarem que existe algo de novo além da curva.

Previsões - Quando a curva é a passagem para o ano 2000, vou ousar fazer alguns prognósticos. Se 1999 foi o ano do e-commerce, o ano 2000 será o ano do e-business. É fácil prever isto. O efeito do click do mouse do consumidor, que elegeu empresas como a Amazon.com em 1999, não termina no bolso de Jeff Bezos ou de qualquer outro comerciante eletrônico. Ele continua ao longo de toda a cadeia produtiva, levando riqueza e informação ao escritor, ao editor, à gráfica, ao fabricante de papel, tintas, solventes, impressoras, parafusos, chapas, e assim por diante. Uma solução de e-business baseada na Internet permite que todos os elementos de uma cadeia assim sejam afetados quase que simultaneamente. 

Minha previsão é que veremos o ano novo começar com as empresas correndo procurar seu lugar nessa fila produtiva. Muitos empresários já começarão o ano como gatos escaldados, não querendo mais correr o risco de estarem desatualizados. Até lá, terão aprendido que a desatualização pode custar caro. Refiro-me, não ao "Homem do Ano", nem à "Pessoa do Século", mas à "Personalidade do Milênio". 

É que tenho um palpite de quem poderia ser, caso alguma revista queira fazer a campanha. O único problema é que se a revista que a eleger chegar às bancas, sua influência não terá sido suficiente para merecer o título. E se a sua influência fizer jus ao título, a revista não chegará às bancas. De qualquer modo, fica aqui minha sugestão de "Personalidade do Milênio" para a revista que quiser arriscar: o Bug.

(*) Mário Persona é diretor de comunicação da Widesoft, que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos via Internet. Artigo distribuído em dezembro de 1999.