Pra ver a banda larga passar
Mário Persona (*)
Colaborador
Se você
sempre quis saber como seria o ano 2000, agora já sabe. Se estava
meio preocupado com o bug, o pior já passou. Se estava muito
preocupado, o problema apenas começou. Você vai precisar descobrir
como consumir tanta comida em conserva e queimar tantas velas armazenadas.
Nos Estados Unidos algumas instituições de caridade já
estão sugerindo que a comida seja doada para quem não tem.
Só não aceitam as armas, roupas camufladas e os kits
de sobrevivência na selva, dos que esperavam pelo pior.
Quando disse que o pior já passou,
lembrei-me de um amigo que se casou há pouco. Após a cerimônia,
exclamou aliviado, "O pior já passou!". Engana-se. Quem é
casado sabe o que o espera. E se você está na área
de negócios, prepare-se. Este ano vai ser de adrenalina pura. Creio
que este será o ano do e-business. As pessoas já aprenderam
a primeira lição: que Internet não é mero entretenimento,
mas que se pode até fazer compras nela. O que também não
deixa de ser diversão, se a conta for paga pelo pai. A segunda lição
começa com o questionário: Se o cliente já vai à
loja via Web, como é que a loja chega à fábrica? E
a fábrica até a outra fábrica? Enquanto o varejo aproveita
o recreio para festejar os negócios virtuais, é hora da prova
dos negócios entre empresas.
Teremos duas tendências fortes
este ano: a conexão permanente e a banda larga. As empresas que
já têm Internet 24 horas sabem da influência que isto
tem nos negócios e na cultura da empresa. A disponibilidade da informação
imediata, a facilidade de comunicação interna e externa,
e a possibilidade de se integrar a fornecedores e clientes, são
elementos de uma nova cultura empresarial. Imagine tudo isso dentro de
uma comunicação de dados mais rápida. Os benefícios
mais evidentes ficarão por conta de uma maior terceirização
de serviços de informação que exijam grandes volumes
de processamento de dados. Com um baixo custo de transmissão de
dados, já não importará se o seu programa de gestão
funciona em um servidor na sala ao lado ou em um provedor de serviços
na Índia. Com a vantagem de não ser preciso fazer downloads
e atualizações de versões. Sistemas baseados na Internet
têm suas versões atualizadas nas empresas que fornecem os
serviços. Alguma vez você precisou atualizar o sistema de
busca que utiliza, como Yahoo, Cadê ou Altavista?
Para o usuário doméstico,
a aposta da indústria de entretenimento é que a banda larga
transforme a Internet em uma TV interativa. Vamos com calma, pessoal. É
importante lembrar que Internet já surpreendeu muita gente. Mesmo
com a possibilidade de vídeo em tempo real, acredito que o mouse
não irá virar um mero controle de canais. Quem me mostrou
isso há poucos dias foi minha filha. Quando perguntada por que estava
jogando fora algumas apostilas e trabalhos da faculdade, respondeu, "Se
precisar, eu pego na Internet". Sempre haverá uma Internet para
ser pesquisada, lida, e utilizada como meio de comunicação
entre pessoas.
Vamos adiantar o relógio e
imaginar que você já tenha uma conexão em banda larga.
Você gosta de gatos e acessa o http://www.discovery.com
para assistir um documentário fantástico sobre felinos. Visita
a http://www.britannica.com e aprende
tudo sobre os bichanos em uma enciclopédia multimídia, com
direito a vídeo em 3D, miados e até cheiro de pelo molhado.
Entra na http://www.pets.com e uma vendedora
aparece na tela oferecendo um tapa-ouvidos para você conseguir dormir
ao som de ninhadas ou fêmeas no cio. Satisfeito? Não. Você
irá querer pesquisar mais e achará aquele site da dona Fernanda,
com uma receita incrível para evitar queda de pelos em seu bichano.
E vai querer participar da lista de discussões felinas que ela promove,
só para aprender e conhecer pessoas. Sem vídeo, sem som,
sem estúdio, sem comerciais ou artistas de Hollywood, sejam eles
gatos ou gatas.
Acredito que a Internet continuará
a nos surpreender nos próximos meses. Se ela tivesse começado
nas mãos dos grandes conglomerados de comunicação,
tudo teria sido diferente. Estaríamos "assistindo Internet", ao
invés de "entrando" nela. Mas não foi assim. Apesar dos maciços
investimentos, da alta tecnologia e do dilúvio de conteúdo
hollywoodiano que fatalmente invadirá uma Internet de banda larga,
a rede continuará com aquelas características peculiares
que já conhecemos. Porque até as crianças sabem que
às vezes é mais gostoso brincar com a caixa do que com o
moderno brinquedo a pilha.
(*) Mário
Persona é consultor, escritor e palestrante. Esta crônica
faz parte dos temas apresentados em suas palestras. Edita o boletim eletrônico
Crônicas
de Negócios e mantém endereço
próprio na Web, onde seus textos estão disponíveis. |