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Artigo escrito em 1999
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 01/15/02 14:25:36
Pra ver a banda larga passar 

Mário Persona (*)
Colaborador

Se você sempre quis saber como seria o ano 2000, agora já sabe. Se estava meio preocupado com o bug, o pior já passou. Se estava muito preocupado, o problema apenas começou. Você vai precisar descobrir como consumir tanta comida em conserva e queimar tantas velas armazenadas. Nos Estados Unidos algumas instituições de caridade já estão sugerindo que a comida seja doada para quem não tem. Só não aceitam as armas, roupas camufladas e os kits de sobrevivência na selva, dos que esperavam pelo pior.

Quando disse que o pior já passou, lembrei-me de um amigo que se casou há pouco. Após a cerimônia, exclamou aliviado, "O pior já passou!". Engana-se. Quem é casado sabe o que o espera. E se você está na área de negócios, prepare-se. Este ano vai ser de adrenalina pura. Creio que este será o ano do e-business. As pessoas já aprenderam a primeira lição: que Internet não é mero entretenimento, mas que se pode até fazer compras nela. O que também não deixa de ser diversão, se a conta for paga pelo pai. A segunda lição começa com o questionário: Se o cliente já vai à loja via Web, como é que a loja chega à fábrica? E a fábrica até a outra fábrica? Enquanto o varejo aproveita o recreio para festejar os negócios virtuais, é hora da prova dos negócios entre empresas.

Teremos duas tendências fortes este ano: a conexão permanente e a banda larga. As empresas que já têm Internet 24 horas sabem da influência que isto tem nos negócios e na cultura da empresa. A disponibilidade da informação imediata, a facilidade de comunicação interna e externa, e a possibilidade de se integrar a fornecedores e clientes, são elementos de uma nova cultura empresarial. Imagine tudo isso dentro de uma comunicação de dados mais rápida. Os benefícios mais evidentes ficarão por conta de uma maior terceirização de serviços de informação que exijam grandes volumes de processamento de dados. Com um baixo custo de transmissão de dados, já não importará se o seu programa de gestão funciona em um servidor na sala ao lado ou em um provedor de serviços na Índia. Com a vantagem de não ser preciso fazer downloads e atualizações de versões. Sistemas baseados na Internet têm suas versões atualizadas nas empresas que fornecem os serviços. Alguma vez você precisou atualizar o sistema de busca que utiliza, como Yahoo, Cadê ou Altavista? 

Para o usuário doméstico, a aposta da indústria de entretenimento é que a banda larga transforme a Internet em uma TV interativa. Vamos com calma, pessoal. É importante lembrar que Internet já surpreendeu muita gente. Mesmo com a possibilidade de vídeo em tempo real, acredito que o mouse não irá virar um mero controle de canais. Quem me mostrou isso há poucos dias foi minha filha. Quando perguntada por que estava jogando fora algumas apostilas e trabalhos da faculdade, respondeu, "Se precisar, eu pego na Internet". Sempre haverá uma Internet para ser pesquisada, lida, e utilizada como meio de comunicação entre pessoas. 

Vamos adiantar o relógio e imaginar que você já tenha uma conexão em banda larga. Você gosta de gatos e acessa o http://www.discovery.com para assistir um documentário fantástico sobre felinos. Visita a http://www.britannica.com e aprende tudo sobre os bichanos em uma enciclopédia multimídia, com direito a vídeo em 3D, miados e até cheiro de pelo molhado. Entra na http://www.pets.com e uma vendedora aparece na tela oferecendo um tapa-ouvidos para você conseguir dormir ao som de ninhadas ou fêmeas no cio. Satisfeito? Não. Você irá querer pesquisar mais e achará aquele site da dona Fernanda, com uma receita incrível para evitar queda de pelos em seu bichano. E vai querer participar da lista de discussões felinas que ela promove, só para aprender e conhecer pessoas. Sem vídeo, sem som, sem estúdio, sem comerciais ou artistas de Hollywood, sejam eles gatos ou gatas. 

Acredito que a Internet continuará a nos surpreender nos próximos meses. Se ela tivesse começado nas mãos dos grandes conglomerados de comunicação, tudo teria sido diferente. Estaríamos "assistindo Internet", ao invés de "entrando" nela. Mas não foi assim. Apesar dos maciços investimentos, da alta tecnologia e do dilúvio de conteúdo hollywoodiano que fatalmente invadirá uma Internet de banda larga, a rede continuará com aquelas características peculiares que já conhecemos. Porque até as crianças sabem que às vezes é mais gostoso brincar com a caixa do que com o moderno brinquedo a pilha.

(*) Mário Persona é consultor, escritor e palestrante. Esta crônica faz parte dos temas apresentados em suas palestras. Edita o boletim eletrônico Crônicas de Negócios e mantém endereço próprio na Web, onde seus textos estão disponíveis.