Reumatismo empresarial
Mário Persona (*)
Colaborador
Um amigo
ligou para contar que planeja abrir uma loja virtual e pediu que eu indicasse
algum curso que ensine como criar um site de comércio eletrônico.
O conselho que dei a ele vale para você que deseja ingressar no e-commerce,
ou para o empresário que vai implementar em sua empresa uma estratégia
de e-business, integrando sua empresa com fornecedores e clientes usando
a Internet. Regra número um: esqueça a informática
e concentre-se no negócio.
O fato de existir hoje uma via de
troca de dados como a Internet, e esta utilizar computadores e software,
não quer dizer que você tenha que aprender a lidar com bits
e bytes. O que você precisa saber é como lidar com sua empresa
dentro desse novo ambiente ou território, que passa a ser o mundo.
Esse é muito mais um trabalho de estratégia de negócio
do que de tecnologia.
É por isso que o relatório
Electronic Business Outlook elaborado pela Pricewaterhouse
Coopers aconselha: "Lembre-se de que o e-business deve ser uma iniciativa
de negócio, não de tecnologia da informação".
Profissionais de informática podem ajudar na análise das
ferramentas, mas o e-business continua a ser assunto da competência
dos diretores e gerentes da área de negócios da empresa.
É algo que exige uma resposta rápida às tendências
do mercado.
Mais negócios - A partir
de agora, os negócios eletrônicos serão cada vez mais
negócios e menos eletrônicos. Muito em breve, será
difícil encontrar um elo da cadeia produtiva que não esteja
sendo influenciado pela Internet para a troca e valorização
de informação. Para o empresário da Nova Economia,
é mais importante entender como usar a Internet para estreitar as
relações entre parceiros em sua comunidade de negócios
do que entender de informática. Há muito que as montadoras
de automóveis descobriram a importância do trabalho colaborativo,
investindo em seus fornecedores e distribuidores para que o conjunto todo
fosse eficiente.
Uma colméia ilustra bem o
que estou querendo demonstrar. Cada abelhinha tem sua própria produção,
atua em diferentes posições, mas tem um objetivo comum, que
é o fortalecimento e expansão da colméia como um todo.
Sei disso porque já criei abelhas. Logo de início constatei
que minhas abelhas tinham um nível de escolaridade baixíssimo.
Eu havia lido todos os livros que encontrei sobre o assunto, mas elas não
leram nenhum. Faziam tudo diferente do que estava escrito. Consegui formar
quatro caixas com colméias, as quais ficavam sobre uma mesa de madeira,
cujos pés estavam dentro de latas com óleo queimado, para
evitar o ataque das formigas, grandes adversárias das abelhas.
Apesar de todos os meus cuidados,
as formigas descobriram um meio de chegar às colméias e destruíram
os favos, expulsando as abelhas. Examinando o lugar, descobri que havia
uma única folha de capim que, quando balançada pelo vento,
encostava na perna da mesa. Na folha, uma fila de formigas aguardava a
vez da abordagem. Como piratas saltando para o navio conquistado, a cada
balanço da folha duas ou três formigas alcançavam a
mesa. Se eu entendesse o idioma das formigas, tenho certeza de que teria
escutado a voz da gerente de novos mercados dizendo, "um passinho à
frente, por favor".
Nova competição
- Conhecer de que lado soprava o vento e usar isso com criatividade levou
a comunidade das formigas a expulsar a comunidade das abelhas do mercado.
Também nos negócios, a competição hoje é
entre comunidades de negócios, e não entre empresas isoladas.
Na Nova Economia, o uso da Internet
para fortalecer o vínculo entre os elos de uma comunidade de negócios
pode fazer a diferença entre a vida e a morte de uma empresa. As
empresas mais reumáticas, com suas articulações duras
e de lenta adaptação, tendem a desaparecer. Sem direito ao
prêmio de consolação que eu tive com minhas abelhas.
Explico. Além da experiência
que ganhei como apicultor, também melhorei minha saúde. Não
que tenha conseguido consumir o mel ou a geléia real de minha produção.
Se é verdade que veneno de abelha ajuda a evitar o reumatismo, meu
prêmio de consolação é a tranquilidade de saber
que deste mal não morrerei.
(*) Mário
Persona é diretor de comunicação da Widesoft,
que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos
via Internet. |