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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 01/16/00 17:35:12
Push ou puxe?

Mário Persona (*)
Colaborador

Na época em que brasileiro viajava aos Estados Unidos para comprar calça Lee, um amigo passou vergonha na casa de um americano. O interruptor que acendia a luz da sala, um botãozinho giratório que permitia regular a intensidade da luz no ambiente, era a maravilha tecnológica do momento. Confuso diante de tanta tecnologia, meu amigo ficou tentando descobrir o que fazer com o botão para acender a luz. Do outro lado da sala veio a ordem, em alto e bom som, dada pelo americano: "PUSH!". O cérebro de meu amigo, governado pelo condicionamento criado por anos de língua portuguesa, não titubeou: puxou o botão com força. E, morrendo de vergonha na sala ainda escura, não sabia o que fazer com a pecinha de plástico que agora segurava na ponta dos dedos.

Se você não sabe uma palavra em inglês, e não conseguiu comprar nada em sua última viagem a Nova Iorque porque as lojas que visitou estavam com as portas trancadas, vou dar uma dica que irá ajudá-lo em sua próxima viagem. Em português, "Push" significa "Empurre". "Puxe", em inglês, é "Pull". Conhecer estas palavras poderá ajudá-lo em suas próximas compras, e até evitar que arranque a maçaneta de alguma porta onde esteja escrito "Push".

Midias push/pull - Estas palavras são também usadas no mundo da comunicação eletrônica. Uma mídia "Push" é aquela que "empurra" a informação goela abaixo do freguês, sem que este tenha muita participação no processo. Um bom exemplo de mídia "Push" é a TV. Usando o tubo de raios catódicos desse eletrodoméstico que já virou abajur 24 horas em muitos lares, as emissoras se dedicam em despejar seu recado a milhões de espectadores ou poltronas vazias em todo o mundo. 

Esses espectadores e poltronas são incapazes de decidir o que virá sobre eles, e nem podem interagir ou escolher exatamente o que desejam receber. O fato de a TV a cabo permitir um número maior de opções não muda isso. O espectador continua tão atuante quanto a poltrona.

A Internet é um meio "Pull" de comunicação. Quem está no comando é o espectador, que só por isso já deixa de ser espectador. É ele quem dá as cartas e determina o que quer encontrar e como vai utilizar aquilo que descobrir. E graças às possibilidades criadas por links, bancos de dados e sistemas, que por sua vez também interagem entre si, o resultado obtido pela ação de um usuário pode ser único entre uma gama de inúmeras associações possíveis. É como se o mouse tivesse o poder de imprimir a digital de seu usuário em cada resultado obtido pela sua ação na rede.

Futuro - Mas não pense que estou falando de Internet como uma forma de entretenimento do tipo "Você Decide". Estou falando de uma revolução que está traçando o perfil do sistema de produção para o século 21. No futuro não será mais o fabricante quem irá determinar o que, como e quando fabricar. O poder de decisão está sendo tirado das mãos do fabricante e entregue ao consumidor, que fará uso dele a seu bel-prazer. A Internet alcançou a última milha da cadeia produtiva por permitir integrar o consumidor ao processo e dar a ele poderes de personalização de produto.

Desde montar minha própria pizza na tela do micro, ou escolher os acessórios que meu próximo carro irá ter, a cada dia estarei apto a interferir mais nos detalhes daquilo que estou comprando. E não se espante se no futuro você puder desenhar até os interruptores de luz de sua nova casa, auxiliado por programas inteligentes que compararão seu projeto com as possibilidades de associação de componentes disponíveis em todo o mundo. Feito isso, o sistema poderá indicar o fabricante mais capacitado a executar seu projeto, preços, formas de pagamento e métodos de entrega mais adequados ao seu caso. 

Aí, será você quem irá decidir se para acender a luz deverá empurrar ou puxar o botão. Mas fique atento. Se o site do fabricante estiver em inglês, e você quiser um botão de puxar, deverá selecionar a opção "Pull". Ou será "Push"...? Como era mesmo?!!

(*) Mário Persona é diretor de comunicação da Widesoft, que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos via Internet.