Foco ou miopia?
Mário Persona (*)
Colaborador
Há
alguns anos, fiz uma viagem à Europa em companhia de um amigo norte-americano.
Viajando de Londres à Escócia, paramos em uma cidade, onde
ficaríamos hospedados na casa de um casal de velhinhos muito amáveis,
que já haviam recebido meu amigo em outras ocasiões. Eles
foram muito gentis, e jamais iriam permitir que ficássemos em um
hotel.
Quando nos mostraram o quarto, onde
dormiríamos por duas noites, comecei a ficar preocupado. É
que havia ali uma grande cama de casal, um guarda-roupas... e só.
A idéia de dormir na mesma cama com meu amigo norte-americano não
me agradava nem um pouco. Todavia fiquei sem jeito de perguntar ao casal
se aquele era o costume na Inglaterra, e transferi o problema para a noite.
Quando chegou a hora de dormir, resolvi
que o melhor mesmo era deixar a cama para meu amigo que era mais velho
que eu. Peguei um cobertor no guarda-roupas, vesti as roupas mais quentes
que tinha e fui dormir no chão. Dormir é modo de dizer. Tremi
por duas noites naquele chão gelado e não deixei que meu
amigo contasse ao hospitaleiro casal de velhinhos para não desapontá-los.
No último dia, antes de irmos
embora, dei uma olhada debaixo da cama para ver se não estava esquecendo
algum chinelo. E lá estava ela: uma cama dessas de puxar, arrumadinha
para mim, com travesseiro, cobertor e tudo mais. Nossos anfitriões
devem ter se esquecido de nos avisar e a cama ficou ali o tempo todo, intacta,
enquanto eu dormia como um picolé no inverno inglês.
Sem foco - A falta de uma
visão mais ampla para enxergar o que está acontecendo em
redor é o que leva muitas empresas a sofrerem com a atual geada
da falta de negócios. Enquanto tremem com as primeiras lufadas dos
ventos de uma nova economia, cujas regras não conseguem compreender,
desconhecem que essa mesma economia decorre, em boa medida, dos novos mecanismos
e ambientes de negócios criados pela era da informação.
E nada está mais diretamente relacionado a isso do que a Internet.
É comum encontrarmos empresas
que continuam mantendo a Internet debaixo da cama ao lado, alegando que
seu foco não está no uso da rede mundial. E por que deveria?
O foco de uma empresa deve estar no produto ou serviço que disponibiliza.
A Internet é a ferramenta, o meio, o ambiente, ou qualquer nome
que se queira dar, que torna possível a uma empresa participar de
forma competitiva na nova economia. Não enxergar isso é pura
miopia.
Algo mais - Antes que você
pense em contratar alguém para desenvolver um site para sua empresa,
é bom entender que ter uma home-page é apenas um começo.
A Internet é muito mais que páginas bonitas. Ela é
um ambiente de relacionamento entre empresas, e para isso os sites empresariais
devem ser verdadeiros softwares, dinâmicos o suficiente para efetuarem
negócios na rede.
Enquanto o e-commerce voltado para
o varejo recebe o maior destaque, é no e-business, ou negócios
entre empresas, que a rede movimenta o maior montante de transações
online. Como toda essa atividade toda acontece sob a superfície,
utilizando sistemas seguros protegidos por senhas, ela acaba não
sendo percebida pelo internauta comum. E algumas empresas preferem até
não fazer muito alarde das ferramentas Web que lhes estão
dando uma boa vantagem em relação à concorrência.
Trocando dados - Um exemplo
disso são os sistemas de troca de dados entre parceiros de negócios.
A própria Widesoft desenvolveu um sistema chamado Invosys, que faz
a integração da empresa com seus fornecedores e clientes
via Internet. Sistemas assim inauguram uma era de relacionamentos mais
dinâmico e de maior fidelização entre as empresas,
podendo funcionar integrado a sistemas corporativos como SAP, BAAN, Oracle,
MFG/PRO, BPCS, Magnus e outros, muitos deles já anunciando também
o lançamento de versões Web. À medida que cresce uma
cultura de negócios em rede, surge a oportunidade das pequenas e
médias empresas ocuparem posições estratégicas
na cadeia de suprimentos. Causando, obviamente, calafrios em seus concorrentes
mais sonolentos.
Se o sono causado pelas noites mal
dormidas por falta de novos negócios estiver levando você
a olhar debaixo da cama em busca do chinelo, olhe um pouco mais longe e
irá enxergar a cama arrumada da Internet. Nela você vai encontrar
o aquecimento que sua empresa está precisando para suportar o inverno
que cairá sobre os incautos.
Se no passado a preocupação
do empresário estava no congelamento dos preços, hoje é
o congelamento dos negócios que preocupa mais. Continuar fazendo
negócios do modo usual, sem perceber as mudanças que estão
ocorrendo na nova economia, é morrer de frio. Sem direito a hibernação.
(*) Mário
Persona é diretor de comunicação da Widesoft,
que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos
via Internet. |