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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 01/16/00 16:55:38
A Internet e a comunicação sem papel 

Mário Persona (*)
Colaborador

Quando saía para ir à Comdex 99, perguntei ao meu filho se queria que eu comprasse algum livro de informática em uma das livrarias da feira. Respondeu que não, pois estava conseguindo bons textos de programação na própria Internet e seu notebook lhe dava a mobilidade necessária para ler em qualquer lugar. E quando ele fala em mobilidade, pode acreditar. Não é incomum vê-lo levar o notebook para o banheiro, ou ficar digitando na cama com o micro sobre a barriga.

Esses novos hábitos demonstram a revolução que a Internet está causando na leitura e no uso do papel de uma maneira geral. Hoje, uma das molas que impulsionam o comércio na Internet é a venda de livros, e a possibilidade do próprio livro, jornal ou revista vir em formato eletrônico já é uma mudança histórica causada pela entrada da rede em nossa vida.

À venda - A Barnes and Noble já vende livros eletrônicos para serem lidos no Rocket E-Book. Você paga online, obtém permissão para retirar o arquivo e depois o transfere do micro para a memória do Rocket E-Book. Com um preço ainda salgado para o hardware - cerca de 399 dólares - este é apenas um dentre muitos dispositivos usados para a leitura de livros eletrônicos. O dispositivo que conseguir se impor como padrão poderá definir nossos hábitos de leitura no futuro.

Não apenas os livros, mas jornais e revistas já têm suas versões online e outras formas de textos e documentos vão seguindo o mesmo rumo, causando uma revolução também nas empresas e repartições públicas, onde o documento eletrônico chegou para ficar. Receitas médicas, processos e guias de pagamento de taxas e impostos já ganham suas versões eletrônicas. Se a preocupação com a burocracia era que o mundo pudesse acabar em papel, podemos dormir tranqüilos. Se depender da Internet essa ameaça está afastada.

Faltou papel para a mensagem - Aliás, um pretenso fim do mundo foi também o assunto em pauta na Internet há alguns dias, com direito até ao eclipse online. Pelo menos quatro notícias que li falavam de Alto Paraíso de Goiás, aparentemente a cidade com maior concentração de místicos do território nacional. Estive lá pela primeira vez no final da década de 70, quando o lugar ainda não estava na moda. 

A julgar pela experiência que passei, posso afirmar que a falta da Internet e a necessidade de se utilizar papel trazia dificuldades até na comunicação interplanetária. Corro o risco de ser apedrejado por algum ufologista mais exaltado, mas a história é curiosa demais para deixar de ser contada.

Há em Alto Paraíso uma montanha conhecida por Monte da Baleia, por causa de seu formato. Como naquela época meu físico ainda não lembrava a montanha e eu era capaz de escalar mais que um lance de degraus, um rapaz que apareceu por lá, e dizia se comunicar com extraterrestres, pediu que eu o acompanhasse ao cume. Segundo ele, um disco voador iria passar sobre o local e o melhor ponto para ele fazer um contato telepático seria o pico da montanha. Não me pergunte o por quê de ele precisar subir algumas dezenas de metros para receber uma transmissão vinda de uma nave a milhares de quilômetros no espaço.

O rapaz disse que iria psicografar a mensagem que iria receber dos ETs. Como em 1978 ainda não existia Internet, e-mail ou ICQ, tudo o que ele levava era um lápis e uma folha de papel para anotar a mensagem proveniente do espaço. Lá fomos nós em direção ao cume, com uma breve parada no caminho para que meu amigo fizesse suas necessidades terrenas, com sua privacidade garantida por uma grande pedra. 

Quando chegamos ao cume, esperei... e nada. Depois de uma boa olhada ao redor, ele disse que já poderíamos descer. A essa altura, morto de curiosidade, perguntei se não iria psicografar a mensagem. Até hoje dou boas risadas quando me recordo do detalhe técnico que impediu aquele contato com os ETs. Tinha acabado o papel!

(*) Mário Persona é diretor de comunicação da Widesoft, que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos via Internet. Este artigo foi distribuído em agosto de 1999.