A Internet e a comunicação
sem papel
Mário Persona (*)
Colaborador
Quando saía
para ir à Comdex 99, perguntei ao meu filho se queria que eu comprasse
algum livro de informática em uma das livrarias da feira. Respondeu
que não, pois estava conseguindo bons textos de programação
na própria Internet e seu notebook lhe dava a mobilidade necessária
para ler em qualquer lugar. E quando ele fala em mobilidade, pode acreditar.
Não é incomum vê-lo levar o notebook para o banheiro,
ou ficar digitando na cama com o micro sobre a barriga.
Esses novos hábitos demonstram
a revolução que a Internet está causando na leitura
e no uso do papel de uma maneira geral. Hoje, uma das molas que impulsionam
o comércio na Internet é a venda de livros, e a possibilidade
do próprio livro, jornal ou revista vir em formato eletrônico
já é uma mudança histórica causada pela entrada
da rede em nossa vida.
À venda - A Barnes
and Noble já vende livros eletrônicos para serem lidos
no Rocket E-Book. Você paga
online, obtém permissão para retirar o arquivo e depois o
transfere do micro para a memória do Rocket E-Book. Com um preço
ainda salgado para o hardware - cerca de 399 dólares - este é
apenas um dentre muitos dispositivos usados para a leitura de livros eletrônicos.
O dispositivo que conseguir se impor como padrão poderá definir
nossos hábitos de leitura no futuro.
Não apenas os livros, mas
jornais e revistas já têm suas versões online e outras
formas de textos e documentos vão seguindo o mesmo rumo, causando
uma revolução também nas empresas e repartições
públicas, onde o documento eletrônico chegou para ficar. Receitas
médicas, processos e guias de pagamento de taxas e impostos já
ganham suas versões eletrônicas. Se a preocupação
com a burocracia era que o mundo pudesse acabar em papel, podemos dormir
tranqüilos. Se depender da Internet essa ameaça está
afastada.
Faltou papel para a mensagem
- Aliás, um pretenso fim do mundo foi também o assunto em
pauta na Internet há alguns dias, com direito até ao eclipse
online. Pelo menos quatro notícias que li falavam de Alto Paraíso
de Goiás, aparentemente a cidade com maior concentração
de místicos do território nacional. Estive lá pela
primeira vez no final da década de 70, quando o lugar ainda não
estava na moda.
A julgar pela experiência que
passei, posso afirmar que a falta da Internet e a necessidade de se utilizar
papel trazia dificuldades até na comunicação interplanetária.
Corro o risco de ser apedrejado por algum ufologista mais exaltado, mas
a história é curiosa demais para deixar de ser contada.
Há em Alto Paraíso
uma montanha conhecida por Monte da Baleia, por causa de seu formato. Como
naquela época meu físico ainda não lembrava a montanha
e eu era capaz de escalar mais que um lance de degraus, um rapaz que apareceu
por lá, e dizia se comunicar com extraterrestres, pediu que eu o
acompanhasse ao cume. Segundo ele, um disco voador iria passar sobre o
local e o melhor ponto para ele fazer um contato telepático seria
o pico da montanha. Não me pergunte o por quê de ele precisar
subir algumas dezenas de metros para receber uma transmissão vinda
de uma nave a milhares de quilômetros no espaço.
O rapaz disse que iria psicografar
a mensagem que iria receber dos ETs. Como em 1978 ainda não existia
Internet, e-mail ou ICQ, tudo o que ele levava era um lápis e uma
folha de papel para anotar a mensagem proveniente do espaço. Lá
fomos nós em direção ao cume, com uma breve parada
no caminho para que meu amigo fizesse suas necessidades terrenas, com sua
privacidade garantida por uma grande pedra.
Quando chegamos ao cume, esperei...
e nada. Depois de uma boa olhada ao redor, ele disse que já poderíamos
descer. A essa altura, morto de curiosidade, perguntei se não iria
psicografar a mensagem. Até hoje dou boas risadas quando me recordo
do detalhe técnico que impediu aquele contato com os ETs. Tinha
acabado o papel!
(*) Mário
Persona é diretor de comunicação da Widesoft,
que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos
via Internet. Este artigo foi distribuído em agosto de 1999. |