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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 01/16/00 16:30:38
JIT - quando tempo é dinheiro 

Mário Persona (*)
Colaborador

Prometi a mim mesmo não tocar mais no assunto do Bug do Milênio, ou YK2 para quem escreve "mil" com "K" de quilo americano. Mas das outras vezes acho que me esqueci de falar do JIT. Não, não se trata de algum novo membro da confraria de Jedi, parente do Yoda de Star Wars. JIT significa apenas Just In Time, uma expressão que as noivas jamais conseguirão compreender.

Just In Time equivale ao "Chegar na Hora", "Na Hora H" ou "Em Cima da Hora" de nosso idioma. Na minha opinião, se existisse uma sigla brasileira adequada, esta seria o "UFA!". O JIT é cada vez mais utilizado na indústria para ajudar as empresas a economizarem com a redução do estoque de insumos até um nível suficiente apenas para manter a linha de produção funcionando.

Para entender melhor o JIT, imagine uma fila de pedreiros descarregando um caminhão de telhas. As telhas são jogadas de um para outro, até que o último da fila joga para alguém no alto da casa. E o telhado vai sendo construído. Se alguém parar, o telhado pára. Essa corrente só é possível porque existe um perfeito sincronismo entre os participantes. Quem falhar vai ver a telha virar caco ou, o que é pior, perder a unha do dedão.

EDI - Na indústria, esse "jogo de telhas" só é possível graças a um sistema de comunicação eletrônica de dados, ou EDI (N.E.: Electronic Data Interchange). O vendedor de uma concessionária fecha um negócio e os detalhes do veículo são transmitidos eletronicamente para a montadora. Na fábrica, o sistema interpreta o pedido, faz a explosão dos componentes e gera pedidos específicos, que são transmitidos por EDI para cada fornecedor. Estes irão iniciar processos semelhantes com seus próprios fornecedores, até que os componentes sejam fabricados e os pedidos atendidos. É a linha de pedreiros que vai do telhado até o barro da olaria.

Do mesmo modo como a cadência dos pedreiros varia, dependendo de estarem passando telhas, tijolos ou o saleiro na hora do almoço, o mesmo acontece com o timing de produção e fornecimento de cada componente. O sistema todo depende de prazos - horas e datas. Como um automóvel pode ter milhares de peças, cada uma desencadeará um processo próprio de solicitação, produção e atendimento, com especificações de hora, dia, mês e ano atreladas a ele. Toda essa informação poderá estar sendo transmitida por meio de um sistema de EDI projetado com dois dígitos para o ano, e aí existe o perigo de no primeiro minuto do ano 2000 o sistema achar que está em 1900.

Muitas empresas estão correndo atrás do problema e já existem soluções para isso. Mas não é fácil corrigir processos que dependem de uma cadeia, como são os sistemas que utilizam VANs (Value Added Network). Os dados podem passar por VANs intermediárias antes de chegarem ao destino, com um número de conexões, pontes e desvios que pode variar de um sistema para outro. Se em algum ponto a mensagem encontrar um bloqueio causado pelo bug do milênio, vai ficar tão incapaz de prosseguir quanto motorista em greve de caminhoneiro.

Mas o que o assunto tem a ver com uma coluna sobre Internet? Muito, quando entendemos que fazer negócios na Internet não se restringe a uma home-page de marketing institucional. A Internet é uma enorme malha de comunicação de dados que está causando uma revolução também na área de EDI. Como a malha viária da Internet foi criada com fins militares e para tempos de crise, é por isso que ela funciona tão bem mesmo nas condições mais adversas. Nela, um pedreiro pode até parar para se coçar, que a telha acaba achando outro caminho.

A Boeing é uma empresa que já está cuidando de garantir que mais de mil de seus fornecedores da fábrica de motores para foguetes no Arizona comecem a usar um sistema de Web EDI. O exemplo está sendo seguido por um grande número de empresas preocupadas em não deixar a peteca cair. Ou a telha, se continuarmos com o exemplo dos pedreiros. Porque, se cair, vão perder muito mais que uma simples unha.

(*) Mário Persona é diretor de comunicação da Widesoft, que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos via Internet. Este artigo foi distribuído em agosto de 1999.