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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 01/11/00 13:49:50
Criar: princípio fundamental no uso da informática como ferramenta educacional

Cristina Tuzzolo Vidaller (*)
Colaboradora

Uma leitura dos dias atuais:

1. A sociedade:
Hoje, estamos vivendo o ápice do capitalismo, do avanço da Ciência; apesar de trazer benefícios, pagamos muito caro por esse avanço desenfreado, tendo em vista que os conflitos atuais opõem o mundo da ação instrumental ao da cultura.

A chamada "modernidade", nomeou a razão, como único meio para a busca do desenvolvimento, do conhecimento, e da "liberdade", anulando por completo a tradição, os valores, a espiritualidade, encarados como ultrapassados, representando uma época que deveria ser esquecida.

Lutamos muito contra os regimes políticos totalitários, e hoje, quando parece que nos vemos livres dos mesmos, estamos diante de um totalitarismo demasiadamente cruel, onde o poder absoluto está no tecnicismo.

Com o poder do tecnicismo, vem a "era da informação", centralizando o poder nas mãos dos que tem maior quantidade de informações.

Estamos em uma era onde a cada momento surgem inúmeras especializações e infinitas informações, criando um saber cada vez mais fragmentado,  distante do universal.

Para garantir um lugar no mercado de trabalho extremamente competitivo, "fabricam-se" seres que incorporaram a regra do "vale tudo" e do "salve-se quem puder".

A identidade individual e coletiva é sugada pela corrida da sobrevivência: os valores tornam-se confusos, quando não extintos; a cidadania é desconhecida.

2. A educação
Fruto dessa realidade, a educação origina uma ruptura do equilíbrio, antes existente, entre uma formação para a vida plena, com a busca do saber filosófico, e uma formação para o trabalho, com a busca do saber prático, gerando assim, um saber cada vez mais acumulativo e um ser interior cada vez mais empobrecido.

Há informações demais e conhecimento de menos. Informar não é acumular, mas filtrar, selecionar, comparar, avaliar, sintetizar o que realmente é relevante, o que nos ajuda mais. O excesso de informações, sem a devida interpretação do conteúdo, resulta numa visão periférica dos assuntos, sem aprofundá-los, sem integrá-los num paradigma consistente.

O que mais se vê atualmente é, tanto professores quanto alunos, incorporarem pensamentos de outros, como sendo próprios, sem permitir alguma reflexão à respeito.

O conteúdo, sem a devida interpretação, não tem significado algum na educação, ele não é assimilado, e sim, decorado.

Os alunos realmente assimilam, quando conseguem dialogar com o conteúdo, através da reflexão, da crítica, da agregação de valores.

Somente quando conquistado esse diálogo o aluno é capaz de utilizar o conteúdo de forma criativa, inovando o seu pensamento.

A invenção, a criatividade, é o único ato intelectual verdadeiro. O resto é cópia, impostura, reprodução, preguiça, convenção, batalha, sono.

Só a descoberta desperta. Só a criatividade e a invenção provam que se pensa de verdade. 

É preciso que o aluno se pronuncie, reaja, crie seu próprio pensamento, produza algo na íntegra, decida, inter-relacione idéias, atividades. Tudo isso está envolvido no processo de criação. É preciso romper a casca, fazer algo novo por si e sem muletas: criar.

A verdadeira educação acontece,  quando numa certa altura da vida, a pessoa esquece a maior parte das informações que recebeu, mas deixa registrado em sua consciência os valores que foram despertados na interpretação de tais informações, como a cidadania, a ética, a moral, a capacidade de cooperação social, e aplica-os em sua vida.

Conclusões:

Para que a ciência liberte-se do paradigma de destruidora do "ser humano", se faz urgente uma reflexão, e discussão muito mais rica e profunda na análise da utilização de forma integrada e criativa das novas tecnologias na educação, e a compreensão da comunicação como um processo de humanização individual, comunitário e social.

É necessário que se possa, além de trabalhar com a informática interligada com o  conteúdo acadêmico, despertar a criatividade, buscar as leis fundamentais da vida e a valorização de uma consciência social, nacional, ecológica e espiritual para que possamos atingir a dimensão global do ser humano.

Acredito que somente desta forma a tecnologia possa ser utilizada como ferramenta no verdadeiro processo educacional, proporcionando, às crianças, experiências que enriqueçam o seu crescimento como ser humano.

(*) Cristina Tuzzolo Vidaller é consultora em Informática Educacional