Criar: princípio fundamental
no uso da informática como ferramenta educacional
Cristina Tuzzolo Vidaller (*)
Colaboradora
Uma leitura
dos dias atuais:
1. A sociedade:
Hoje, estamos vivendo o ápice
do capitalismo, do avanço da Ciência; apesar de trazer benefícios,
pagamos muito caro por esse avanço desenfreado, tendo em vista que
os conflitos atuais opõem o mundo da ação instrumental
ao da cultura.
A chamada "modernidade", nomeou a
razão, como único meio para a busca do desenvolvimento, do
conhecimento, e da "liberdade", anulando por completo a tradição,
os valores, a espiritualidade, encarados como ultrapassados, representando
uma época que deveria ser esquecida.
Lutamos muito contra os regimes políticos
totalitários, e hoje, quando parece que nos vemos livres dos mesmos,
estamos diante de um totalitarismo demasiadamente cruel, onde o poder absoluto
está no tecnicismo.
Com o poder do tecnicismo, vem a
"era da informação", centralizando o poder nas mãos
dos que tem maior quantidade de informações.
Estamos em uma era onde a cada momento
surgem inúmeras especializações e infinitas informações,
criando um saber cada vez mais fragmentado, distante do universal.
Para garantir um lugar no mercado
de trabalho extremamente competitivo, "fabricam-se" seres que incorporaram
a regra do "vale tudo" e do "salve-se quem puder".
A identidade individual e coletiva
é sugada pela corrida da sobrevivência: os valores tornam-se
confusos, quando não extintos; a cidadania é desconhecida.
2. A educação
Fruto dessa realidade, a educação
origina uma ruptura do equilíbrio, antes existente, entre uma formação
para a vida plena, com a busca do saber filosófico, e uma formação
para o trabalho, com a busca do saber prático, gerando assim, um
saber cada vez mais acumulativo e um ser interior cada vez mais empobrecido.
Há informações
demais e conhecimento de menos. Informar não é acumular,
mas filtrar, selecionar, comparar, avaliar, sintetizar o que realmente
é relevante, o que nos ajuda mais. O excesso de informações,
sem a devida interpretação do conteúdo, resulta numa
visão periférica dos assuntos, sem aprofundá-los,
sem integrá-los num paradigma consistente.
O que mais se vê atualmente
é, tanto professores quanto alunos, incorporarem pensamentos de
outros, como sendo próprios, sem permitir alguma reflexão
à respeito.
O conteúdo, sem a devida interpretação,
não tem significado algum na educação, ele não
é assimilado, e sim, decorado.
Os alunos realmente assimilam, quando
conseguem dialogar com o conteúdo, através da reflexão,
da crítica, da agregação de valores.
Somente quando conquistado esse diálogo
o aluno é capaz de utilizar o conteúdo de forma criativa,
inovando o seu pensamento.
A invenção, a criatividade,
é o único ato intelectual verdadeiro. O resto é cópia,
impostura, reprodução, preguiça, convenção,
batalha, sono.
Só a descoberta desperta.
Só a criatividade e a invenção provam que se pensa
de verdade.
É preciso que o aluno se pronuncie,
reaja, crie seu próprio pensamento, produza algo na íntegra,
decida, inter-relacione idéias, atividades. Tudo isso está
envolvido no processo de criação. É preciso romper
a casca, fazer algo novo por si e sem muletas: criar.
A verdadeira educação
acontece, quando numa certa altura da vida, a pessoa esquece a maior
parte das informações que recebeu, mas deixa registrado em
sua consciência os valores que foram despertados na interpretação
de tais informações, como a cidadania, a ética, a
moral, a capacidade de cooperação social, e aplica-os em
sua vida.
Conclusões:
Para que a ciência liberte-se
do paradigma de destruidora do "ser humano", se faz urgente uma reflexão,
e discussão muito mais rica e profunda na análise da utilização
de forma integrada e criativa das novas tecnologias na educação,
e a compreensão da comunicação como um processo de
humanização individual, comunitário e social.
É necessário que se
possa, além de trabalhar com a informática interligada com
o conteúdo acadêmico, despertar a criatividade, buscar
as leis fundamentais da vida e a valorização de uma consciência
social, nacional, ecológica e espiritual para que possamos atingir
a dimensão global do ser humano.
Acredito que somente desta forma
a tecnologia possa ser utilizada como ferramenta no verdadeiro processo
educacional, proporcionando, às crianças, experiências
que enriqueçam o seu crescimento como ser humano.
(*) Cristina
Tuzzolo Vidaller é consultora em Informática Educacional |