Novos tempos, novas perspectivas
(é o crescimento do código
aberto)
Concorrentes podem ser potenciais
parceiros em novo projeto
Paulo César Fernandes (*)
Colaborador
A Microsoft
estuda a possibilidade de abrir o código fonte do Windows, segundo
afirmação de seu presidente Steve Ballmer. Enfim, até
o gigante se deixa levar pela força da onda das tecnologias abertas,
ou, melhor dizendo, se rende às evidências. Estarão
contados os dias dos ambientes e sistemas operacionais proprietários
e fechados?
Olhando atrás no tempo, temos
condições de perceber uma trajetória, uma mudança
de postura nas empresas com relação a seus produtos. Ganham
força, dia a dia, os produtos de tecnologia aberta.
Na década de 60, a área
de informática se caracterizou pela presença de grandes corporações,
cujos produtos só falavam consigo mesmo, ou com algum outro produto
dessa mesma empresa.
No Brasil, o mercado se dividia entre
duas grandes corporações de âmbito mundial: a Burroughs,
hoje Unisys, e a Big Blue IBM. Eram plataformas distintas, e em geral os
partidários de uma não aceitavam a outra.
Anos 80 – A década
de 80, por sua vez, foi marcada pelo surgimento e pela disseminação
massiva dos microcomputadores. Uma empresa, a Microsoft, desponta como
a grande da década, embora não consiga ser soberana. Outras
empresas e outras plataformas estão na disputa desse mercado altamente
competitivo. Os produtos Microsoft são padrão de mercado,
porém não são os únicos, podendo o comprador
optar por produtos de quaisquer outros fornecedores.
No que diz respeito ao hardware (máquina)
temos algo mais amplo ainda. A Intel lidera o mercado dos processadores,
mas logo atrás conta com adversários como a AMD e a Cyrix.
Nesse mercado, a multiplicidade de
opções torna a concorrência mais acirrada, contando
com empresas fornecedoras de diversos países, e dos mais variados
portes econômicos.
Plataformas abertas – A novidade
na década é o surgimento das plataformas abertas. Uma nova
mentalidade ganhou corpo a partir da disseminação mais ampla
da Internet.
Grandes consórcios se formam
no sentido de estabelecer especificações para cada um dos
componentes, sejam estes de hardware, sejam de software. Nesses consórcios,
as grandes empresas participam através da cessão de técnicos;
e, mais do que isso, têm interesse de, através deles, participar
no processo, sendo esta uma maneira de influenciar e marcar presença
nas diversas decisões relativas aos produtos de seu interesse.
Em entrevista encontrada no site
da Sun,
George Paolini, seu vice-presidente de Marketing, explica as idéias
que norteiam a licença do código fonte da empresa:
“A idéia é criar um
ambiente na qual seja simples o acesso ao código fonte, que incentive
inovações nesse código, e faça tudo isso assegurando
compatibilidade. Acreditamos que isto criará uma comunidade colaborativa
e voltada a uma única plataforma.”
Notamos a abertura a possíveis
sugestões dadas ao produto.
E mais, para obter licença
desse produto, no caso o código fonte Java, basta uma solicitação
através do site da empresa, o que é feito sem qualquer custo.
Tal solicitação o habilita a:
1) usar e modificar o código
fonte da Sun para desenvolvimento de produtos de sua empresa. Mesmo que
sua empresa seja uma desenvolvedora de software.
2) promover inovações
nesse fonte sem a necessidade de se reportar à Sun sobre o fato.
3) modificar e partilhar códigos
fonte com outras empresas, sem custo e sem a necessidade da mediação
da Sun no processo.
Tal política só se
aplica ao Java 1.2, também chamado de Java 2. Esta é a mais
nova versão do produto.
A questão presente nesse processo
é: quando a Sun ganha dinheiro nesse processo ? Segundo a citada
entrevista, quando o produto feito a partir dos fontes da Sun chega ao
mercado. Seja através de distribuição comercial, seja
através de uso interno na empresa licenciada (quando temos o aparecimento
do valor agregado ao produto da empresa licenciada ). Em resumo, a Sun
ganha quando a empresa licenciada começa a ganhar.
Apache – Não é
só a Sun que conta com estrutura aberta. Em 1995, através
de iniciativa de um Centro de Aplicação da Universidade de
Illinois, se formou o Grupo Apache e o Projeto de Servidor HTTP Apache.
Tal projeto se estabeleceu através
da adesão de pessoas espalhadas ao redor do mundo, os quais se comunicavam
via Internet, planejando e desenvolvendo o servidor, e sua documentação.
A isso se somou a colaboração de centenas de usuários,
através de idéias, código mesmo, ou documentação.
Maiores informações são encontradas na página
da empresa na Internet, no endereço acima citado.
Os dois exemplos não são
únicos, diversos outros poderiam ser encontrados e aqui citados
se fizéssemos uma pesquisa mais acurada. Estes nos servem apenas
como referencial de análise das possíveis tendências
do mercado na área de informática.
Num momento em que a própria
Microsoft aventa a possibilidade de abertura de seu código, todos
nós: desenvolvedores, empresários, ou mesmo usuários
domésticos, devemos atentar a este novo momento, buscando saber
das possíveis vantagens que as plataformas abertas poderão
trazer.
Desenvolverei para que plataforma
e com qual linguagem? Qual o melhor equipamento para minha empresa ou para
minha casa? Pela dinâmica do mercado, não existem respostas
certas a tais questões, até porque não sabemos para
onde deverá caminhar um mercado tão dinâmico.
Devemos sim, saber que não
existem apenas a Microsoft e a Intel. Novas empresas vem crescendo em qualidade
e em volume de negócios; e, mais ainda, na maneira de encarar seus
concorrentes; não mais como inimigos, porém como potenciais
parceiros para um novo projeto.
(*) Paulo
César Fernandes é microempresário
na Baixada Santista e consultor. Vem se dedicando à pesquisa das
novas tecnologias, como plataformas abertas, desenvolvimento de software
orientado a objetos com linguagens como C++ e Java. |