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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 01/11/00 13:54:50
Novos tempos, novas perspectivas
(é o crescimento do código aberto)

Concorrentes podem ser potenciais parceiros em novo projeto

Paulo César Fernandes (*)
Colaborador

A Microsoft estuda a possibilidade de abrir o código fonte do Windows, segundo afirmação de seu presidente Steve Ballmer. Enfim, até o gigante se deixa levar pela força da onda das tecnologias abertas, ou, melhor dizendo, se rende às evidências. Estarão contados os dias dos ambientes e sistemas operacionais proprietários e fechados?

Olhando atrás no tempo, temos condições de perceber uma trajetória, uma mudança de postura nas empresas com relação a seus produtos. Ganham força, dia a dia, os produtos de tecnologia aberta.

Na década de 60, a área de informática se caracterizou pela presença de grandes corporações, cujos produtos só falavam consigo mesmo, ou com algum outro produto dessa mesma empresa.

No Brasil, o mercado se dividia entre duas grandes corporações de âmbito mundial: a Burroughs, hoje Unisys, e a Big Blue IBM. Eram plataformas distintas, e em geral os partidários de uma não aceitavam a outra. 

Anos 80 – A década de 80, por sua vez, foi marcada pelo surgimento e pela disseminação massiva dos microcomputadores. Uma empresa, a Microsoft, desponta como a grande da década, embora não consiga ser soberana. Outras empresas e outras plataformas estão na disputa desse mercado altamente competitivo. Os produtos Microsoft são padrão de mercado, porém não são os únicos, podendo o comprador optar por produtos de quaisquer outros fornecedores.

No que diz respeito ao hardware (máquina) temos algo mais amplo ainda. A Intel lidera o mercado dos processadores, mas logo atrás conta com adversários como a AMD e a Cyrix.

Nesse mercado, a multiplicidade de opções torna a concorrência mais acirrada, contando com empresas fornecedoras de diversos países, e dos mais variados portes econômicos.

Plataformas abertas – A novidade na década é o surgimento das plataformas abertas. Uma nova mentalidade ganhou corpo a partir da disseminação mais ampla da Internet.

Grandes consórcios se formam no sentido de estabelecer especificações para cada um dos componentes, sejam estes de hardware, sejam de software. Nesses consórcios, as grandes empresas participam através da cessão de técnicos; e, mais do que isso, têm interesse de, através deles, participar no processo, sendo esta uma maneira de influenciar e marcar presença nas diversas decisões relativas aos produtos de seu interesse.

Em entrevista encontrada no site da Sun, George Paolini, seu vice-presidente de Marketing, explica as idéias que norteiam a licença do código fonte da empresa:
“A idéia é criar um ambiente na qual seja simples o acesso ao código fonte, que incentive inovações nesse código, e faça tudo isso assegurando compatibilidade. Acreditamos que isto criará uma comunidade colaborativa e voltada a uma única plataforma.” 

Notamos a abertura a possíveis sugestões dadas ao produto.

E mais, para obter licença desse produto, no caso o código fonte Java, basta uma solicitação através do site da empresa, o que é feito sem qualquer custo. Tal solicitação o habilita a:

1) usar e modificar o código fonte da Sun para desenvolvimento de produtos de sua empresa. Mesmo que sua empresa seja uma desenvolvedora de software.

2) promover inovações nesse fonte sem a necessidade de se reportar à Sun sobre o fato.

3) modificar e partilhar códigos fonte com outras empresas, sem custo e sem a necessidade da mediação da Sun no processo.

Tal política só se aplica ao Java 1.2, também chamado de Java 2. Esta é a mais nova versão do produto.

A questão presente nesse processo é: quando a Sun ganha dinheiro nesse processo ? Segundo a citada entrevista, quando o produto feito a partir dos fontes da Sun chega ao mercado. Seja através de distribuição comercial, seja através de uso interno na empresa licenciada (quando temos o aparecimento do valor agregado ao produto da empresa licenciada ). Em resumo, a Sun ganha quando a empresa licenciada começa a ganhar.

Apache – Não é só a Sun que conta com estrutura aberta. Em 1995, através de iniciativa de um Centro de Aplicação da Universidade de Illinois, se formou o Grupo Apache e o Projeto de Servidor HTTP Apache.

Tal projeto se estabeleceu através da adesão de pessoas espalhadas ao redor do mundo, os quais se comunicavam via Internet, planejando e desenvolvendo o servidor, e sua documentação. A isso se somou a colaboração de centenas de usuários, através de idéias, código mesmo, ou documentação. Maiores informações são encontradas na página da empresa na Internet, no endereço acima citado.

Os dois exemplos não são únicos, diversos outros poderiam ser encontrados e aqui citados se fizéssemos uma pesquisa mais acurada. Estes nos servem apenas como referencial de análise das possíveis tendências do mercado na área de informática.

Num momento em que a própria Microsoft aventa a possibilidade de abertura de seu código, todos nós: desenvolvedores, empresários, ou mesmo usuários domésticos, devemos atentar a este novo momento, buscando saber das possíveis vantagens que as plataformas abertas poderão trazer.

Desenvolverei para que plataforma e com qual linguagem? Qual o melhor equipamento para minha empresa ou para minha casa? Pela dinâmica do mercado, não existem respostas certas a tais questões, até porque não sabemos para onde deverá caminhar um mercado tão dinâmico.

Devemos sim, saber que não existem apenas a Microsoft e a Intel. Novas empresas vem crescendo em qualidade e em volume de negócios; e, mais ainda, na maneira de encarar seus concorrentes; não mais como inimigos, porém como potenciais parceiros para um novo projeto.

(*) Paulo César Fernandes é microempresário na Baixada Santista e consultor. Vem se dedicando à pesquisa das novas tecnologias, como plataformas abertas, desenvolvimento de software orientado a objetos com linguagens como C++ e Java.