Bonde 42 passando em 1968 pela Rua Augusto Severo, defronte da loja Ferreira de Souza
Foto: José Dias Herrera, publicada no mesmo
Almanaque de Santos - 1969
SMTC - do caos à evolução
O Serviço Municipal de
Transportes Coletivos, responsável pela execução de todo transporte coletivo urbano no município de Santos, é uma autarquia municipal, criada pela
lei 1.297, de dezembro de 1951.
Iniciou sua operação nesse setor no dia 1º de janeiro de 1952, assumindo o acervo da
Cia. City, encampado pelo Poder Municipal pela importância de Cr$ 17.500.000,00, acervo esse constituído exclusivamente do sistema de bondes
elétricos e composto de 138 carros-motores, 47 reboques e 33 gôndolas.
Todo esse material se encontrava em estado precário, a maioria paralisado nas
oficinas, existindo em tráfego apenas 40 unidades e, mesmo essas, necessitando de reparos gerais. A rede aérea e a via permanente também já estavam
com o seu tempo de vida útil ultrapassado, já que a antiga concessionária, tendo denunciado o contrato, deixou de investir qualquer parcela nesse
setor.
Com esse acervo totalmente esfacelado, iniciou o SMTC as suas atividades. Sem qualquer
verba para a recuperação do material, foi a sua primeira administração, orientada pelo eng. Mário Lopes Leão e pelos conselheiros Álvaro Rodrigues
dos Santos e Sócrates Aranha de Menezes, quem traçou os planos para a recuperação do serviço. Foram então apresentados ao prefeito municipal dois
estudos completos, um com um plano de recuperação a curto prazo, visando melhorar de pronto o sistema de transporte coletivo, bastante precário e
outro a longo prazo, traçando então a transformação do serviço, inclusive com a implantação do sistema de trólebus.
O plano a curto prazo foi sendo posto em prática e o serviço, apesar de não ser
plenamente satisfatório, foi melhorando gradativamente, aumentando o número de bondes em circulação. O plano a longo prazo também foi levado na
devida consideração; em 1956, quatro anos após a sua criação, o SMTC já realizava a concorrência pública para a implantação do serviço de ônibus
elétricos.
Ônibus - Em setembro de 1955 a então permissionária do serviço de ônibus
urbanos denunciou o contrato e, por meio de notificação judicial, feita ao SMTC, à Prefeitura e à Câmara Municipal, determinou o prazo de 30 dias
para a paralisação dos seus serviços.
Sem tempo necessário para qualquer outra providência, foi dada ao SMTC a incumbência
de executar o serviço de ônibus, em substituição ao da empresa que vinha de denunciar o contrato.
A autarquia, então dirigida pelo eng. Antônio Lotufo, e tendo ainda como companheiros
de direção aqueles mesmos conselheiros, teve o prazo de 30 dias para organizar esse serviço. Claro que, com prazo tão exíguo, nada pôde ser
organizado. E em 5 de outubro de 1955 o SMTC pôs em circulação os seus primeiros ônibus, com uma frota comprada de improviso e constituída com
aquilo que foi possível comprar para funcionar dentro de poucos dias. Composto de vários tipos de veículos, o serviço funcionou precariamente. E
precariamente foi se arrastando, uma vez que o planejamento, com a infra-estrutura necessária para a sua manutenção, demandava investimento vultoso
a que o SMTC não podia fazer face prontamente, com seus próprios recursos.
A situação do SMTC foi se tornando séria, pois fatores os mais diversos contribuíram
para que tudo se tornasse cada vez pior, atingindo a beira do caos.
Em 1965, quando tudo parecia desesperador para o SMTC, foi eleito prefeito municipal
de Santos, por expressiva votação do eleitorado santista, o engenheiro Sílvio Fernandes Lopes. Conhecedor profundo de seus problemas, tendo já dado
todo o seu apoio ao SMTC na sua primeira gestão à frente dos destinos municipais (1956-1960), voltou de imediato suas vistas para a autarquia, cuja
situação difícil conhecera nas suas visitas como candidato. Preocupadíssimo com os problemas ali existentes e tendo feito dos transportes coletivos
meta das mais importantes no seu governo, convidou para dirigir o SMTC o ex-secretário da Segurança Pública do Estado, general Aldévio Barbosa de
Lemos.
Aceito o convite, o general Aldévio Barbosa de Lemos foi empossado no cargo de
diretor-superintendente do SMTC no dia 16 de junho de 1965, tendo como companheiros, no Conselho Diretor, o professor Laurindo Chaves e o engenheiro
Pérsio de Novaes Chaves.
De pronto e após rápido estudo realizado do estado em que se encontrava a autarquia, o
general Aldévio constatou, desde logo, a gravidade da situação econômico-financeira, próxima do caos. Além do déficit mensal vultoso, constatado
entre a receita da operação e a despesa, verificou que os compromissos com fornecedores e entidades oficiais eram os seguintes:
INPS |
NCr$ 921.692,00 |
Fornecedores |
NCr$ 289.911,35 |
Títulos a pagar |
NCr$ 128.059,16 |
No que se refere ao material rodante, a frota era constituída de 80 bondes, 17
trólebus e 8 ônibus.
De posse de todas essas observações e estudos, concluiu o novo superintendente que
urgia a elaboração de programas a curto e médio prazo, como fase preliminar de um plano futuro de maior envergadura, a longo prazo.
A primeira etapa, com um plano batizado como Operação Relâmpago - curto prazo - tinha
por principais objetivos:
a) estabelecer medidas drásticas de economia;
b) restaurar o espírito de equipe;
c) entrosar entendimentos harmônicos entre a cúpula e a força de trabalho;
d) normalizar a situação creditícia no comércio, saldando os compromissos assumidos.
Satisfeito com os resultados obtidos, com a execução do plano inicial, o general
Aldévio Barbosa de Lemos, deu início à Operação Tempestade, com o objetivo de gerar receita para orçar despesas, com as seguintes metas:
a) incutir na autarquia, tanto quanto possível, u'a mentalidade empresarial, já
preconizada no art. 3º da lei que a criou;
b) reduzir as despesas com horas extras ao mínimo possível, cortando vantagens e
privilégios dispensáveis;
c) reestruturação dos serviços, em bases mais orgânicas e racionais;
d) manter a folha de pessoal sem qualquer alteração que implicasse em aumento de
despesas;
e) proceder ao reajuste das tarifas pelo preço justo, em face do aumento salarial,
decorrente da observância das leis trabalhistas.
As duas etapas foram satisfatoriamente cumpridas e os índices mais positivos do que
eram esperados foram:
1) manifestação do Sindicato dos Trabalhadores da autarquia, em memorável assembléia,
pondo à disposição da superintendência, a título de empréstimo, a importância correspondente a três meses do aumento de salário concedido em 1/4/66,
com o objetivo de lhe propiciar condições financeiras para prosseguir no seu plano de investimentos;
2) constatação de que no exercício d 1966 a receita e a despesa equilibraram-se, com
ligeiro superávit;
3) o crédito de confiança que, facilmente, foi concedido ao SMTC pelo povo santista,
ratificado oficialmente pelo prefeito Sílvio Fernandes Lopes e pela Câmara Municipal.
Considerou, pois, o general Aldévio Barbosa de Lemos estar em condições de por em
execução a Operação Bonança, que visava, precisamente, a realizações ostensivas e palpáveis no setor viário, utilizando o crédito já restaurado em
investimentos no material rodante, por meio de operações financeiras em bancos particulares.
O esforço principal da Operação Bonança concentrou-se nos transportes em si, seu
planejamento e esquematização, levando-se em consideração que a espinha dorsal de uma cidade é, inegavelmente, o seu sistema de transportes
coletivos.
Para concretização desses objetivos, havia necessidade da aquisição de ônibus, para
que o plano global do transporte coletivo pudesse apresentar um serviço dinâmico, versátil, elástico e econômico.
Realizou o SMTC uma concorrência pública, visando a determinar o tipo de ônibus que
melhor se adaptasse aos seus serviços, permitindo os editais a apresentação de ônibus monobloco.
A única fábrica que se apresentou à concorrência com os dois tipos de ônibus (com
carroçaria sobre o chassi e monobloco) foi a Mercedes-Benz, que foi assim a vencedora da concorrência pública em ambos os tipos de veículos.
Optou então o SMTC pelos ônibus monobloco e com base na concorrência realizada,
efetuou a primeira compra, em junho de 1966, de 15 unidades monobloco Mercedes-Benz.
Os veículos postos em tráfego apresentaram resultados técnicos e operacionais
satisfatórios, além de terem sido recebidos com grande satisfação pelos usuários. Esses carros percorrem hoje, em média, 28.000 km por dia.
Baseado nesses fatores positivos, considerou o SMTC definido o tipo de veículo para
unificação de sua frota de ônibus Diesel.
E novas compras foram sendo efetuadas: em agosto de 1966 - 5; em setembro de 1966 -
10; em março de 1967 - 15; em julho de 1967 - 20; em novembro de 1967 - 20; em janeiro de 1968 - 20; e em fevereiro de 1968, mais 20, perfazendo,
até o presente, uma frota de 125 unidades; essas unidades integram hoje o sistema global de transporte coletivo da autarquia, oferecendo um serviço
eficiente e confortável à população santista.
A par dessas aquisições, o SMTC programou, no setor de trólebus, o integral
aproveitamento dos 34 veículos que permaneciam nas garagens, por falta de cabos aéreos, implantando as linhas necessárias ao funcionamento dos 50
trólebus, hoje em plena operação.
Ao mesmo tempo, o sistema de bondes teve as linhas aéreas substituídas por novas, a
via permanente recuperada e os bondes, em número de 60, totalmente reformados, com bancos estofados, venezianas e exaustores apresentando belíssimo
aspecto, tanto interna como externamente, aí estão a atestar a plena recuperação do SMTC.
Dedica-se agora o SMTC à preparação da infra-estrutura
destinada a manter a operação de tráfego dentro dos moldes mais avançados de racionalização do trabalho, não só no que se refere à parte
administrativa, como também à financeira e contábil, estando em fase final os estudos dessa reestruturação.
A seguir, daremos um passeio num maravilhoso bonde de
burros de 1911... |