Contava Manuel Henriques Ribeiro,
funcionário da Cia. City e da Companhia Municipal de Transportes Coletivos na época áurea dos bondes santistas:
"Quando comecei a trabalhar na City, em 1933, o superintendente era Bernardo Browne. Nessa
época, ainda havia lampiões a gás nas ruas. Muitos empregados ganhavam ordenado extra para acender e apagar os lampiões.
"Os bondes então já eram todos elétricos, mas a City ainda mantinha a cocheira dos burros na
Rua Júlio Conceição, porque os reboques dos bondes eram tirados da estação na Vila Mathias e puxados pelos burros até a Rua Rangel Pestana, para
serem ligados aos bondes. A empresa também tinha uma locomotiva elétrica com dois vagões para transportar o gado, que vinha de trem pela estação
Santos-Jundiaí até um cercado junto à estação de carga e descarga do Saboó (o "Desvio do Gado"). A locomotiva da City levava o gado até a estação do
Emmerick (o Matadouro), na Avenida Nossa Senhora de Fátima.
Manoel (com o característico boné da SMTC) e companheiros,
junto ao jipe de inspeção da empresa, por volta de 1965
"No tempo da guerra (Segunda Guerra Mundial), todos os bondes receberam quebra-luzes para
não serem vistos à noite pelos aviões inimigos. Os faróis da frente foram pintados de preto, para darem um mínimo de iluminação possível ao
motorneiro. As casas tinham de permanecer de janelas fechadas e a iluminação das ruas tinha globos especiais para não ser vista de cima.
"Os bondes na época eram todos do tipo aberto. E estavam sempre no horário. Perguntava-se ao
motorneiro de que horário ele era, e ele dizia: - Sou de 58... - Sou de 39. Os minutos eram contados e ele tinha que estar em determinado lugar
naquele horário.
"Na linha 1,
ligando a Praça dos Andradas a São Vicente, havia um motorneiro apelidado de mata-burros: era raro o mês em que ele não matasse um burro - os
animais se metiam na linha, e ele não parava o bonde...
A história continua! |