HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - Naufrágios
Embarcações naufragadas (4)
Em cinco séculos de história recente, pelo menos, inúmeros foram os acontecimentos que provocaram o afundamento de embarcações de todos os tipos
no estuário do porto e na baía de Santos: tempestades, ataques piratas, incêndios, colisões etc. Um desses navios, que seria um galeão inglês de nome Vivian, teria afundado após um incêndio ao largo do porto, no século XIX, sendo encontrado
durante os trabalhos de aprofundamento do canal de navegação do porto, conforme relata o jornal santista A Tribuna, na edição de 30 de janeiro de 1974, páginas 1 e 9 (ortografia atualizada nestas transcrições):
Camadas de tabatinga conservaram bem o madeirame do barco inglês através dos tempos
Foto publicada com a matéria, na página 1
Galeão inglês retirado do Estuário
Abrindo novo berço de atracação de navios destinados ao cais da Alemoa, uma draga do DNPVN tocou num corpo resistente encontrado no fundo do mar. Depois da
primeira sondagem, feita pela equipe de mergulhadores da Submarine Service, contratada para remover o obstáculo, o dono da empresa, Wladimir Grievs, afirmou tratar-se de um galeão inglês do século XVII, que está enterrado abaixo do leito do mar.
Com a ajuda de dinamite, o antigo barco, todo de madeira, está sendo retirado do local aos pedaços.
Grievs afirma que é um galeão inglês do século XVII
Foto publicada com a matéria
Encontrado galeão de 3 séculos
Um galeão inglês, construído presumivelmente no início do século XVII, foi encontrado no fundo do canal de acesso à Cosipa,
a 20 metros do píer de atracação do Terminal de Granéis Líquidos do Cais da Alemoa. O engenheiro naval Wladimir Grievs, que está tentando remover os restos da embarcação para permitir a desobstrução da área, diz que se trata de um barco de nome
Vivian, da marinha mercante da Inglaterra, conforme inscrição existente no casco.
O navio, de 40 a 50 metros de comprimento, é inteiramente construído em carvalho e pinho de riga de quatro a seis polegadas de espessura.
Grievs garante que o barco inglês está inteiro: não sofreu o processo de decomposição por estar totalmente coberto de uma espécie de lama negra, pegajosa, conhecida por tabatinga. Da mesma forma, as peças de metal não foram destruídas pelo
ferrugem devido à absoluta ausência e oxigênio no nível de profundidade em que se encontra o galeão.
Embora preferisse trabalhar com sua equipe o tempo que fosse necessário para resgatar o galeão, Grievs está realizando cerca de 20 explosões diárias, removendo o navio aos pedaços. É que, naquela área, o Departamento Nacional de Portos e Vias
Navegáveis está preparando um novo berço de atracação de navios para o Terminal de Granéis Líquidos, entre o píer e a beira do mangue, e a obra é de caráter prioritário, devendo estar pronta em fins de fevereiro.
Descoberta – O local reservado para o novo berço de atracação tem apenas quatro metros de profundidade, devendo ser dragado para atingir pelo menos dez metros. Há duas semanas, operava ali uma draga do DNPVN e Companhia Docas, quando o
sistema mecânico de profundidade tocou em um corpo resistente que impediu a continuação dos serviços.
Para realizar pesquisas no local, o DNPVN e a CDS contrataram a Submarine Service, dirigida pelo engenheiro naval Wladimir Grievs, que desde 1953 realiza obras de desobstrução no estuário de Santos, para o que vem contando com uma embarcação de
sua empresa – a Baleia Branca – construída com o aproveitamento da proa do navio Recreio, que há cinco anos encalhou na Ponta da Praia, onde foi desmontado.
Na semana passada, os mergulhadores da Submarine Service encontraram, no fundo do canal, a proa do galeão. Para isso, tiveram que usar equipamentos de ar comprimido e jatos de água acionados por bombas de alta pressão, a fim de remover a camada
de tabatinga que encobria a embarcação.
Com a descoberta, Wladimir Grievs delineou o contorno do navio, estabelecendo sua verdadeira posição sob as camadas de lama. Daí para o planejamento da obra de desobstrução foi um passo apenas. Imediatamente Grievs deu início à série de
explosões, abrindo 30 braças por baixo do navio soterrado.
Resgate – De acordo com o contrato firmado com o DNPVN e CDS, a Submarine Service tem prazo até 25 de fevereiro para limpar o canal. Grievs afirma que poderá terminar antes do prazo, embora as detonações permitidas no local sejam de baixa
potência, devido à proximidade do píer de atracação que o Governo Federal inaugurou na Alemoa, no ano passado. Espera concluir o serviço até 10 de fevereiro.
O engenheiro conduz a tarefa diária de sua equipe preocupando-se apenas com o interesse da obra projetada pelo DNPVN, apesar de calcular que o galeão inglês estaria carregado de minério de prata e outras mercadorias de valor, que levou para o
fundo do mar.
Mesmo assim, Wladimir Grievs está satisfeito com os resultados do serviço já realizado, porque conseguiu retirar pedaços do Vivian que, segundo declarou, "são verdadeiras obras do artesanato dos anos 1600".
Após 220 explosões já feitas ao redor do Vivian, o guincho de bordo do Baleia Branca retirou do fundo do mar vários pedaços da quilha do navio, além de peças de metal, como um eixo de manivelas, produzido em ferro fundido, no qual
se observa toda a arte dos antigos ferreiros pelos sinais das batidas que davam forma à peça sobre a bigorna.
Mostrando as partes de madeira retiradas do casco do galeão, Grievs fala, entusiasmado, sobre o porte do material empregado na construção de navios do século XVII. Ontem à tarde ele resgatou a "caverna", grande peça de madeira onde são montadas a
quilha e a sobrequilha das antigas embarcações. Minutos antes, o guincho da Baleia Branca havia içado o "cadastro de leme", que, segundo Grievs, é a parte em que se encaixa a asa do leme.
O engenheiro observou ainda que a autenticidade do galeão é assegurada por outro importante detalhe: as partes de madeira, planas ou curvas, são unidas sem qualquer peça de rosca, tendo sido usados somente os grandes pregos, de até 40 e 50
centímetros, feitos em bronze e arrebitados nas extremidades.
Detonações – A dinamitação do Vivian está sendo feita por um novo processo, aprovado pelo engenheiro Wladimir Grievs. Ele projetou e encomendou à Empresa Mineira de Explosivos – Minex – um tipo de explosivo de gelatina de alumínio.
Ao contrário da dinamite comum, o novo explosivo não contamina a água, oferecendo maior segurança para os mergulhadores. Da mesma forma, as espoletas têm um dispositivo de segurança que permite a realização da tarefa sem qualquer risco. As
explosões são provocadas por uma faísca de apenas um volt e maio. Um raio caído durante uma tempestade causava as explosões antes do tempo previsto, o que não ocorre agora, com o dispositivo de segurança adaptado nas espoletas.
Além disso, a área onde está o galeão, junto ao Terminal de Granéis da Alemoa, exige todo o cuidado na manipulação de explosivos. Ontem, no Terminal, o navio Lago Erie estava descarregando nafta, um derivado do petróleo altamente
inflamável. A operação exigiu inclusive a interdição do píer para quaisquer veículos movidos a motor de explosão.
Explosões na Alemoa tiram pedaços do velho barco
Foto publicada com a matéria |
O tema continuou na edição de quinta-feira, 31 de janeiro de 1974, páginas 1 e 30 (última) desse jornal:
A pilha de madeira carcomida, as pedras identificadas como minério de prata e a placa com o nome Vivian, retiradas por
mergulhadores da embarcação encontrada no fundo do canal de acesso à Cosipa, junto ao píer de atracação do Terminal de Granéis Líquidos da Alemoa, ainda não são suficientes para confirmar a origem exata do navio. Ontem, depois de realizar 242
explosões sob 4 metros de lama negra, Wladimir Grievs, responsável pelo resgate do navio, só podia garantir que se trata de um galeão, construído entre os anos de 1700 a 1750, baseado em suas pesquisas da técnica de construção da época
Foto publicada com a matéria, na página 1
Minério de prata a bordo do galeão
Embora já tenha retirado muitos pedaços de madeira carcomida, uma dúzia de pedras identificadas como minério de prata e até uma placa
com o nome Vivian, o engenheiro naval Wladimir Grievs ainda não sabe com certeza se a embarcação encontrada no fundo do canal de acesso à Cosipa, a 20 metros do píer de atracação do Terminal de Granéis Líquidos do cais de Alemoa, é
realmente de origem inglesa. Só sabe dizer que é um galeão construído entre os anos 700 e 1750, com base em seus estudos da técnica de construção da época. Agora, sua única preocupação é concluir o serviço de resgate, até 23 de fevereiro, prazo
especificado no contrato assinado com o Departamento Nacional de Portos e Vias Navegáveis, e a Companhia Docas de Santos. Isso porque a draga Mato Grosso, que está operando na área, está há poucos metros do local de resgate.
A nacionalidade e a origem da embarcação só poderão ser confirmadas na próxima semana, quando os três mergulhadores começarão a retirar a parte da proa onde, segundo Grievs, deve estar gravado o nome do galeão. Mas, para atingir a proa, ele
precisa que a draga retire os 4 metros de lama negra, pegajosa, conhecida por tabatinga, que está cobrindo totalmente os prováveis 50 metros da embarcação. Logo que a draga conseguir abrir uma vala em direção ao galeão, os mergulhadores terão
condições de chegar à proa.
Galeão – Ontem à tarde, entre os cuidados para transportar tubos de oxigênio para a embarcação Baleia Branca, construída com o que restou do navio Recreio, que há cinco anos encalhou na Ponta da Praia, e entrevistas para
canais de televisão, o engenheiro naval procurava explicar sua teoria de que o navio afundado é um galeão.
"Tenho certeza de que se trata de um galeão, tipo de veleiro, porque encontramos parte do mastro e da verga que seguram as velas e sobre a quilha localizamos os suportes do encaixe do mastro. Ele está sob uma camada de lama de mais ou menos
[… - N.E.: número ilegível] metros, enterrado em pelo menos mais 6 metros de lama. Posso garantir que é um galeão porque no século XVIII
já não existiam caravelas. Creio que é de origem inglesa, devido à placa com o nome Vivian, mas não estou certo se essa é a denominação do navio, pode ser também o nome da fábrica que construiu a embarcação. Só haverá possibilidades de
confirmação quando atingirmos a proa. Ainda não sei o que farei com os restos do galeão, mas pelo contrato com a Cia. Docas, tudo que for encontrado será de minha propriedade. Estou recebendo Cr$ 3 mil a Cr$ 4 mil por dia para realizar os
serviços. Porém, meus gastos atingem a cerca de 80% dessa quantia".
Praia – Ao lado das dúvidas de Grievs, há uma certeza: as pedras retiradas do barco são mesmo minério de prata. Isso ele garantia para todos que foram assistir aos mergulhadores resgatarem os pedaços de madeira soltos pelas 242 explosões
com o Minex, um tipo de explosivo de gelatina de alumínio, próprio para esse tipo de trabalho, sem problemas de contaminação da água, oferecendo maior segurança aos trabalhadores.
"Fizemos uma análise química das pedras e constatamos que realmente é minério de prata, sem valor comercial. Poderia ter valor se fossem lavadas, moídas, fundidas e industrializadas. Nossas maiores dificuldades são provocadas pela lama negra,
que não permite visibilidade maior do que 50 centímetros. Posso afirmar que o navio não sofreu incêndio ao naufragar porque os pedados de madeira, depois de um exame mais minucioso, não mostram sinais de queimadura". Todas essas afirmações são
categóricas, baseadas na experiência de Grievs como engenheiro naval especializado em serviços submarinos, e nos cinco navios que já retirou do fundo do mar.
Alarma – Foi a draga do DNPVN que descobriu o galeão quando seu sistema mecânico de profundidade tocou um corpo resistente impedindo a continuação da dragagem. Imediatamente, as autoridades portuárias foram avisadas e contrataram os
serviços da Submarine Service, pertencente a Wladimir Grievs, para o resgate. O engenheiro delineou o contorno do navio, determinando sua posição exata sobre a lama e iniciou os trabalhos de retirada, realizando uma média de 20 explosões
diárias para não atrapalhar a preparação do novo berço de atracação de navios para o Terminal de Granéis Líquidos, entre o píer e a beira do mangue. As explosões são realizadas com um produto especial, com o máximo cuidado, porque a área serve
de ponto para descarga de materiais altamente inflamáveis.
Metal – Desde que começou o serviço, embora esteja preocupado em não prejudicar o andamento da obra projetada pelo DNPVN, Wladimir Grievs já retirou do fundo do mar vários pedaços da quilha do galeão, um eixo de manivelas produzido em
ferro fundido, peças de metal e partes de madeira, além do cadastro do leme, parte em que encaixa a asa do leme e o cavername, uma grande peça de madeira onde são montadas a quilha e a sobrequilha dos galeões.
Cinco navios – Paralelamente ao resgate do veleiro, presumivelmente inglês, Grievs está retirando uma parte de um navio que afundou antes da II Guerra em frente ao estaleiro da Wilson Sons, na Ponta da Praia, com o aproveitamento nos
serviços da tripulação, formada por nove homens.
Ele conta que já retirou cinco navios afundados no porto, na Baía de Santos e em Itajaí. "Essa é minha primeira embarcação de madeira, todas as outras eram de ferro. Já resgatei o Vernia brasileiro, que estava entrando no proto e foi
abalroado por um navio sueco na Ponta da Praia, em 1957. Depois, foi a vez do Araguari, afundado no cais do Valongo. Em seguida, trabalhei no Austral, que pegou fogo em frente ao armazém 31. Depois, retirei o Britt Marie,
sueco, que afundou em 1935, depois de pegar fogo, onde morreram seis homens. Foi no ano passado, e a embarcação estava em frente ao cais do armazém 26. Também resgatei o Lili' que foi a pique em Itajaí".
Russo – Wladimir Grievs nasceu na Rússia, em Leningrado, e chegou ao Brasil em 1949. Foi ferido na II Guerra, em Viena, na Áustria, quando ocupava o posto de comandante de uma esquadrilha russa de torpedeiros. Foi salvo pelos
norte-americanos e, diplomado em engenharia naval. Decidiu vir trabalhar no Brasil.
Navios afundados – Entre as 68 embarcações afundadas no Porto e na Baía de Santos, Litoral Norte e Sul, Baixada Santista e Paranaguá, segundo levantamento da Polícia Marítima, consta uma embarcação pirata, o Casco, que foi a pique
em março de 1713, na Ilha Cotinga, na Baía de Paranaguá.
Esta é a relação: 1) Congar, 5-10-59, navio espanhol, na Ponta Pirassununga, em São Sebastião; 2) França, 1908, navio francês, Ponta Pirassununga, São Sebastião; 3) Guarani, 4-9-1913, rebocador brasileiro, Ponta do Boi, em
São Sebastião; 4) Principe Asturias, 6-4-1906, paquete espanhol, na Ponta do Boi, em São Sebastião; 5) Atílio, 1905, brasileiro, no Largo da Ilha de São Sebastião; 6) Tritão, 1921, rebocador brasileiro, a 3 milhas de São
Sebastião; 7) Vathor, 1904, navio inglês, na Ponta de Sepetiba, em São Sebastião; 8) Ciegmundo, 1920, navio alemão, em Borrifos, São Sebastião; 9) Therezinha, 1920, navio brasileiro, na Ponta da Sela, em São Sebastião; 10)
São Janeco, 1920, veleiro inglês, na Ponta da Sela, em São Sebastião; 11) Velasquez, 11-4-1908, paquete inglês, Ponta da Sela, em São Sebastião; 12) Aymoré, 10-7-1920, navio brasileiro, na Ponta do Ribeirão, em São
Sebastião; 13) Victoria, 1908, navio brasileiro, na Laje do Araçá, São Sebastião; 14) Urucânia, 11-4-1961, pesqueiro brasileiro, no Costão do Frade, em S. Sebastião; 15) Eliunus Vasaburno, 1943, navio-mor norte-americano;
16) Campos, 12-9-1943, paquete brasileiro, ao largo dos Alcatrazes; 17) Nova Tereza, 17-8-1893, paquete paraguaio, ao largo do litoral; 18) Tiradentes, 1925, brasileiro, Ilha da Moela; 19) Carioca, 10-4-1959, corveta
brasileira, na enseada da Ilha de Santo Amaro; 20) Vannin, 3-12-1961, iate brasileiro, 6 milhas ao largo do Guarujá; 21) Manny, 12-8-1890, barco alemão, na Baía de Santos; 22) Dart, 1924, navio inglês, na Laje Sapata, Ilha
dos Alcatrazes; 23) Minas, rebocador, brasileiro, Porto de Santos; 24) Guararema, 1949, navio brasileiro, a 3 milhas da Ponta do Limão; 25) Eitel Fritz, 9-5-1894, barca alemã, na Baía de Santos; 26) Casco, 1894,
veleiro, brasileiro, na Praia do José Menino, em Santos; 27) Britt Marie, 20-9-1935, navio-mor sueco, na altura do Armazém 26, no Porto de Santos; 28) Concórdia, 1920, veleiro brasileiro, na Ilha das Palmas; 29) Denderah,
31-7-1929, navio alemão, Baía de Santos, Ponta da Praia; 30) Vernia, 23-9-1957, iate brasileiro, no estuário; 31) Araguary, 3-5-1950, navio brasileiro, no cais do Valongo; 32) Mondolym, 2-8-1962, iate argentino, junto a
Vicente de Carvalho; 33) DER 9, 1957, balsa brasileira, no canal de Santos; 34) Calbacman, 1894, barca inglesa, na Enseada do Itaipu; 35) Milda, 9-1-1899, barca inglesa, Praia Grande; 36) Maidencity, 1895, veleiro
inglês, Praia Grande; 37) Janota, iate brasileiro, Praia Grande; 38) Peralta, pesqueiro brasileiro, no costão da Ilha Porchat; 39) Rápido, 1883, veleiro brasileiro, Itanhaém; 40) Ramos 1, 1946, iate brasileiro, Ilha
do Guaraú; 41) Tocantins, 1933, navio brasileiro, Ilha da Queimada Grande; 42) Rio Negro, navio brasileiro, Ilha da Queimada Grande; 43) Araponga, 1943, navio brasileiro, ao lado da Ilha da Queimada Grande; 44) Guasca,
3-7-1907, navio brasileiro, ao largo de Cananéia; 45) Tutóia, 10-6-1943, navio brasileiro; 46) Ociania I, 12-7-1962, pesqueiro brasileiro, Cananeia; 47) Elisa Sims, 22-9-1891, barca norte-americana, Cananeia; 45) Casco,
1891, galera inglesa, Ilha do Cardoso; 49) Umgava, iate brasileiro, Cananeia; 50) Casco, veleiro, Cananeia; 51) Laguna, 10-9-1963, navio-mor brasileiro, largo da Ilha do Bom Abrigo; 52) Elizabeth, 1879, veleiro
inglês, Baía de Paranaguá; 53) Desterro, brasileiro, Largo da Pescada, em Paranaguá; 54) Cármen, 1926, brigue brasileiro, em Bento Alves, Paranaguá; 55) S. Paulo, navio brasileiro, Ponta do Vapor, em Guaratuba; 56) Astro,
1890, brigue brasileiro, Baía de Paranaguá; 57) Sereia, 1-7-1850, bergantim brasileiro, destruído pelo fogo, Morro da Concha; 58) Dona Ana, 1-7-1850, bergantim brasileiro, também destruído pelo fogo, Morro da Concha; 59) Casco,
9-3-1713, navio pirata francês, Ilha Cotinga, na Baía de Paranaguá; 60) Anna, 1862, navio alemão, no Farol das Conchas; 61) Rio Branco, brasileiro, ao norte do Farol das Conchas; 62) S. Salvador, 1906, patacho brasileiro,
na Pedra da Baleia; 63) Camaquã, 1920, rebocador brasileiro, na Baía de Paranaguá; 64) Dasland, 17-8-1953, navio-mor sueco, no Canal de Paranaguá; 65) Cometa, 4-9-1929, navio dinamarquês, no Largo da Pescada; 66)
Argentino, 12-4-1962, navio-mor argentino, na Ilha do Mel, em Paranaguá; 67) Adolfo de Barros, 1893, navio brasileiro, Rio Itiberê, próximo a Paranaguá; e 68) Mariam, 1932, brasileiro, Barra de Paranaguá.
Denderah – O cargueiro alemão Denderah, segundo registros de A Tribuna de 1º de agosto de 1929, aguardava a chegada do prático para descarregar, no porto, ferro bruto, máquinas e tubulações, entre outras mercadorias,
na altura da barra, perto da Fortaleza, quando abalroou o vapor Mandu, do Lloyd Brasileiro, às 23 horas do dia 31 de julho de 1929.
A embarcação brasileira deixava o porto com 25 mil sacas de café e carga geral com destino ao porto de Nova Iorque. Depois do choque, o Denderah, agenciado em Santos pela Theodor Wille & Cia., ficou com um rombo no casco a boreste,
recebendo um corte que foi até a braçola da escotilha do porão nº 2, atingindo o passadiço. O navio corria perigo de partir-se ao meio. Nos porões 3 e 4 havia 2.800 toneladas de carga geral para Santos. Enquanto o cargueiro alemão ficou
aguardando socorro, o Mandu, bastante avariado, conseguiu atracar no porto.
Grievs diz que a madeira só serve para o lixo
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Publicado em A Tribuna, sexta-feira, 1º de fevereiro de 1974, páginas 1 e última:
Draga ajuda na retirada do galeão inglês
Retirar intacta parte da proa do Vivian e descobrir, com pesquisa, se a embarcação encontrada a cerca de vinte metros do cais da Alemoa é
realmente um galeão inglês construído entre os anos de 1700 e 1750, é o trabalho que Wladimir Grievs, que retira o barco, inicia hoje com o auxílio da draga Mato Grosso, do DNPVN. Ontem, os mergulhadores encontraram peças de cobre que
poderiam ser parte de grilhões utilizados para prender escravos no porão, ou punir tripulantes apanhados em falta.
Do Litoral Norte a Paranaguá, o mar guarda 63 embarcações naufragadas
Foto publicada com a matéria, na última página
Proa revelará se o galeão é mesmo inglês
Wladimir Grievs inicia hoje uma nova tentativa para resgatar pelo menos uma parte inteira do Vivian, e dar assim
importante passo para determinar se a embarcação que está retirando da lama, a 20 metros do cais da Alemoa, é realmente um galeão inglês construído entre os anos 1700 e 1750, como supõe. O trabalho será feito com a ajuda da draga Mato
Grosso, do Departamento Nacional de Portos e Vias Navegáveis, que começa a abrir um canal em direção ao local onde o galeão está afundado.
O engenheiro naval explica o processo a ser utilizado e que, acredita, poderá dar certo. "A draga abre um canal em direção à proa do galeão, que está a 6 m de profundidade, na lama. Esta lama que é do tipo tabatinga, vai escorrendo pelo
canal, atraída pela sucção da draga, e deixando livre a proa do navio. Assim, talvez seja possível içar uma parte inteira da embarcação".
Esta será também a maneira mais simples, talvez até única, de descobrir a origem do Vivian, já que a conclusão a que Grievs chegou (galeão inglês do século XVI) baseia-se na observação do material colhido (grandes pedaços de madeira) e
na maneira como ele foi construído.
Utilizando dinamite, os operários também recolhem pedaços de ferro; mas, algumas peças fogem à expectativa do engenheiro Grievs: ele não encontra finalidade técnica para elas, nesse tipo de embarcação, segundo seus profundos conhecimentos de
construções navais antigas.
Escravos? – Um exemplo disto aconteceu ontem à tarde. Em um de seus mergulhos, após explosões de dinamite, "Prego", um dos mergulhadores da equipe de Grievs, içou junto com a madeira uma peça de cobre "que bem poderia ser utilizada
para aprisionar escravos no porão do navio", como explicou o engenheiro, entusiasmado com o achado.
Ele admira cada peça que os guinchos da Baleia Branca (flutuante utilizado nos trabalhos de resgate) trazem do fundo e começa imediatamente a estudá-la, levantando suposições e tentando descobrir sua utilidade técnica na estrutura do
galeão.
A peça a que Grievs se refere é formada por uma argola de cobre contínua, sem emendas (fato interessante é que nada no galeão foi feito de ferro, que não era utilizado em construção naval na época), com duas pontas formando pequenas argolas,
apertadas em direção uma da outra, com um parafuso. Este tem as mesmas características dos outros encontrados no barco, sem rosca, com arrebite, simplesmente, e que prende também um cabo do mesmo material, com aproximadamente 1 metro de
comprimento.
"Isto bem que pode ter sido um grilhão utilizado para prender escravos no porão do navio. A argola maior ficaria presa ao pescoço (o tamanho do diâmetro sugere isto) Para que o homem não ficasse totalmente imobilizado, havia o cabo, preso, na
extremidade, a um ponto fixo, com comprimento suficiente, para permitir os movimentos essenciais".
Mas, Grievs pensa um pouco e logo sua imaginação encontra outra finalidade para o mais novo achado: "também pode ser uma peça especial para castigar marinheiros apanhados em falta por seus superiores. Eles ficariam presos ao mastro da
embarcação, pelo tempo que durasse o castigo".
No entanto, tudo isto são apenas suposições. A utilidade real da peça ele vai saber daqui a algum tempo, quando recolher mais elementos sobre a embarcação, o que só será possível após a recuperação de outras partes. Além do grilhão, foi
retirada, também ontem, outra peça de cobre, possivelmente uma ponta de âncora.
O trabalho que Grievs inicia hoje com o auxílio da draga exige muita perícia para que a força da sucção não danifique partes do Vivian, que pretende recuperar inteiras. Nos poucos dias que restam para que Grievs retire o galeão
(trabalho que visa especificamente a desobstrução do canal) – o prazo termina dia 25 de fevereiro – segundo contrato assinado com o DNPVN e CDS, ele pretende retirar a proa da melhor maneira possível, sem muitos danos.
Utilização – Apesar de o barco ter aproximadamente 50 metros e do curto prazo para retirada, o trabalho é feito em turnos, por um mergulhador de cada vez. O engenheiro explica que tem que ser assim porque a recuperação obedece a uma
sequência determinada. Um mergulhador desce, localiza uma peça, amarra, coloca dinamite e sobe para orientar o içamento, feito pelos guinchos do Baleia Branca. No local, a visibilidade é de apenas 50 centímetros e um mergulhador não
entenderia o trabalho de outro, prejudicando seu desenvolvimento. Por isso, eles trabalham sozinhos e em turnos.
Grievs mostra a madeira retirada do fundo, ainda quase nova, coberta por grossa camada de tabatinga, revestida por uma fina chapa de cobre, que poderia ser a parte externa do casco, e diz que a recuperação para museu é praticamente
impossível. "Isto só será possível se retirarmos a proa intacta. Então, doaremos o material a um museu ou instituição científica.
"A madeira que estamos retirando agora e que era parte da estrutura do navio não tem utilidade nenhuma porque sai em pedaços. Por enquanto, ficará acumulada no porão da Baleia Branca. Depois, mandaremos talhar em uma serraria e faremos
uma cobertura, já projetada, que será construída com outro material, para este flutuante. Então, em cada uma das peças colocaremos plaquetas com especificações de origem, data de construção e de localização e outros elementos que reunirmos no
fim dos trabalhos de recuperação. Por exemplo, a âncora se encontrada intacta, será uma relíquia importante e enfeitará a Baleia Branca.
O prazo curto para retirada foi a determinante para que Grievs não tentasse tirar o navio inteiro. "Isto só seria possível com um trabalho especial, em que determinadas partes seriam soltas, numeradas e depois facilmente reunidas. E, com
algum trabalho de restauração, teríamos o navio outra vez inteiro. Mas, isto não foi possível. Para acelerar a retirada, a equipe passou a trabalhar também à noite, desde ontem.
Outro detalhe: Vivian pode não ser o nome da embarcação. Estava numa plaqueta encontrada na popa e pode significar a marca do fabricante ou o nome de um porto sede, por exemplo. Grievs explica que este é mais um detalhe que só saberá
ao certo quando tirar a proa, onde deve haver uma inscrição.
O galeão foi encontrado no fim de dezembro, por uma draga do DNPVN que aprofundava o canal de acesso à Cosipa. Como a rápida desobstrução do canal é indispensável aos trabalhos de ampliação do porto, a firma de Grievs foi contratada para
realizá-la. Está situado 4 m abaixo da água barrenta, coberto com uma camada de 4 metros de lama. Na direção da proa há mais 6 metros de lama. |
A Tribuna, sábado, 2 de fevereiro de 1974, página 6:
Só após a retirada da maior parte das peças é que se poderá estabelecer a origem
Foto publicada com a matéria
Cônsul inglês interessado no galeão
Uma novidade nos trabalhos da retirada do galeão inglês Vivian do fundo do canal do porto, na Alemoa: o cônsul
britânico em Santos, Donald Alexandre Kealman, foi até o local, ontem, para conversar com Wladimir Grievs, engenheiro naval que faz o serviço, e saber a quem pertence o material recuperado.
Ele chegou às 16 horas, caminhando pelo píer do terminal de granéis líquidos da Alemoa, acompanhado por Ary de Souza, vice-presidente do Clube dos Ingleses, e Michael Ronald Barker. Olhando para o flutuante Baleia Branca, que Grievs
utiliza em seu trabalho, perguntava onde exatamente se localiza o Vivian, sob a água barrenta que não permite o mínimo de visibilidade, e outros detalhes da operação. Grievs não estava no flutuante – tinha ido à Companhia Docas
resolver alguns problemas – e o cônsul voltou, sob chuva forte, com as informações que buscava.
De saída, tentou saber o endereço dos escritórios da firma de Grievs para poder entrar em contato com ele rapidamente. Mais uma vez ficou sabendo que isto seria inútil, pois o engenheiro permanece o dia inteiro no Baleia Branca,
orientando pessoalmente o trabalho de sua equipe de mergulhadores. Muito interessado, o cônsul deixou seu endereço e prometeu voltar para falar diretamente com Grievs.
Segundo informações do próprio Wladimir Grievs, todo material que foi recuperado na operação, seja qual for sua natureza, lhe pertence. São detalhes que estão especificados no contrato que assinou com o Departamento Nacional de Portos e
Vias Navegáveis e com a Companhia Docas. Esse mesmo contrato estabelece prazo até dia 25 para limpeza total da área.
Clube – Ary de Souza explicava sua presença no local com o interesse de adquirir algumas peças recuperadas no Vivian, para colocar no Clube dos Ingleses, como decoração. "A placa em que está escrito o nome do galeão, por
exemplo, seria muito interessante para nós". Mas também ele aguarda outra oportunidade para falar com Grievs sobre a possibilidade de ser atendido.
Além disso, ainda não ficou bem clara a procedência do galeão e mesmo a categoria do barco ainda não foi determinada. Grievs afirma que só saberá ao certo do que se trata quanto toda ou grande parte da embarcação for retirada do mar. Por
enquanto, faz apenas suposições, baseadas em seus profundos conhecimentos sobre construção naval antiga e no que foi possível concluir partindo de pedaços de madeira, pregos também de madeira e arrebites de bronze, único material que
conseguiu retirar até o momento.
Normal – Ontem, a equipe de mergulhadores continuou seu trabalho quase ininterrupto no local. Seguindo o esquema que adotaram desde o primeiro dia, iam descendo um de cada vez, amarrando partes do navio que descobriam principalmente
pelo tato, colocando as cargas de dinamite e subindo. Depois da explosão, voltavam ao local e orientavam a retirada, feita pelos guinchos do flutuante Baleia Branca.
O resultado desse trabalho foram diversos pedaços de madeira, com as mesmas características dos anteriores e que vão servindo para delinear, aos poucos, o formato da embarcação. Foi um dia sem muitas novidades no que se refere à recuperação
especificamente, pois não apareceu nenhuma peça que chamasse a atenção como o grilhão encontrado na quinta-feira.
Nos próximos dias o trabalho continuará e as tentativas para recuperar a proa do galeão inteira serão repetidas. Isto será possível com o auxílio da draga Mato Grosso, do DNPVN, que começa a abrir um canal em direção ao navio para
tentar soltá-lo da tabatinga em que está preso, a seis metros de profundidade. Se a proa for retirada inteira, a identificação exata será mais fácil. |
A Tribuna, quinta-feira, 7 de fevereiro de 1974, páginas 1 e 32 (última):
Escada estreita identificaria o galeão inglês
Uma escada de ferro corroída, com apenas 35 centímetros de largura, foi a descoberta mais importante no início desta semana, entre as peças retiradas
do galeão encalhado a 20 metros do cais da Alemoa. Segundo o engenheiro Wladimir Grievs, esta peça reforça sua suspeita de que a embarcação seja realmente um galeão inglês do século XVIII, porque naquela época todas as acomodações dos
navios não ofereciam mobilidade adequada para seus tripulantes. Até domingo, as outras partes do galeão serão retiradas.
Escada é a mais recente descoberta de Grievs
Foto publicada com a matéria
Segredos do galeão poderão vir à tona
Aos poucos, os segredos de um provável galeão inglês do século XVIII, escondido em 6 metros de lama, 4 metros abaixo
do nível do mar, começam a vir à tona. A embarcação está a 20 metros do cais da Alemoa, mas o curto prazo para o resgate, que termina domingo, impediu que ela fosse retirada inteira pelo engenheiro Wladimir Grievs, contratado para o
serviço.
Talvez por isso será muito difícil determinar com exatidão a origem e o ano da construção do galeão, pois suas partes chegam à tona à força de detonações de dinamite.
As próximas horas serão decisivas para o trabalho de Grievs, porque até domingo ele pretende retirar todas as partes do galeão, de popa a proa. Depois disso, a Companhia Docas se encarregará de fazer a sondagem do local, na segunda-feira,
para retirar o que sobrar da embarcação.
Durante esta semana, uma das peças encontradas deu a Grievs a confirmação de suas suspeitas, consequentes de um profundo conhecimento sobre construções navais antigas; uma escada de ferro com 25 centímetros de largura reforça sua teoria de
que a embarcação é um galeão inglês do século XVIII.
As peças – Falando com a segurança característica de quem entende do assunto, Grievs comenta a descoberta da escada: "Nas embarcações antigas dos anos de 1700 a 1750 aproximadamente, as escadas eram pequenas como todas as acomodações
dos navios, que não ofereciam conforto a seus tripulantes. Só depois da Batalha de Trafalgar, quando o almirante Nélson derrotou as esquadras francesas de Napoleão, os governos da Europa começaram a construir navios com mais espaço,
procurando dar melhores condições à tripulação". Além disso, Grievs explica que não há parafusos nas junções da escada, só pinos de ferro, porque não existia o aço naval no século XVIII.
Entre a grande quantidade de pedaços de madeira que estão no porão da Baleia Branca, flutuante onde Grievs supervisiona o serviço, foi encontrado esta semana uma viga de madeira de 7 metros de comprimento, que fazia parte da quilha
da embarcação. Também foi encontrado um pedaço de madeira que formava a curva da proa, com ângulos de 90 graus em uma extremidade e 15 graus na outra.
Garrafas – O mergulhador "Prego", no início desta semana, encontrou perto da proa da embarcação uma garrafa de vidro escura, tampada e com muita lama endurecida em volta. Satisfeito com o achado, levou-o rapidamente para a
superfície. Mas, quando a garrafa entrou em contato com o sol, cobriu-se com uma fina camada branca e estourou. Grievs conta que o líquido de seu interior era viscoso e doce e com características de rum, e que a garrafa estourou devido à
fermentação de tantos anos.
Como prevenção, Grievs já deu instruções a seus mergulhadores, para quando encontrarem outras garrafas, antes de levá-las à superfície devem enrolá-las em uma toalha, que poderá evitar o estouro provocado pela pressão.
Também no interior do galeão havia barris de madeira destruídos a dinamite, cujo conteúdo, um óleo amarelado, subiu à superfície.
A retirada das partes da embarcação está dando muito trabalho aos mergulhadores. Itamar Antônio Guimarães explica que a grande quantidade de lama impede a visão e eles localizam as peças pelo tato.
Sem draga – Até a semana passada, Grievs ainda tinha esperanças de retirar pelo menos a proa do navio inteira, com a ajuda de uma draga do Departamento Nacional e Portos e Vias Navegáveis. Ontem, isso já não era possível porque a
draga não poderia se aproximar do local sem o perigo de quebrar sua lança.
Interesse – O galeão, encontrado em fins de dezembro por uma draga do DNPVN, em serviço na área do canal de acesso à Cosipa, tem provocado o interesse e a curiosidade de muitas pessoas. O cônsul britânico, por exemplo, já foi ao
local e, mesmo sem informar nada oficialmente, deixou transparecer que seu governo estaria interessado no navio. Também um funcionário do Ministério da Educação tentou entrar em contato com Grievs, para saber das possibilidades de adquirir
as peças encontradas. |
A Tribuna, sexta-feira, 8 de fevereiro de 1974, página 1 e 28 (última):
Galeão teria naufragado após incêndio
Uma viga de madeira chamuscada, retirada ontem da lama, foi o primeiro sinal de que o galeão inglês que está sendo resgatado no cais da Alemoa
naufragou depois de um incêndio na proa. As outras partes da proa chegarão hoje à superfície e talvez seja possível encontrar a inscrição – caso o fogo não tenha destruído – com o nome do barco encalhado, que permitirá a exata
determinação de sua origem. Por outro lado, a Marinha vai adquirir o material recolhido do galeão, para ser enviado ao Museu Naval.
Parte da proa apresenta vestígios do fogo
Foto publicada com a matéria, na página 28
Incêndio afundou o galeão encontrado no cais da Alemoa
Há duas novidades sobre o galeão encalhado no cais da Alemoa: a primeira é a descoberta da causa do naufrágio – um
incêndio na proa; a segunda é o interesse da Marinha, que pretende adquirir o material recolhido da embarcação para colocar no Museu Naval. O engenheiro Wladimir Grievs, encarregado do trabalho de resgate do galeão, já atendeu o pedido da
Marinha e, na próxima semana, será escolhido o material que irá para o museu.
A embarcação, provavelmente um galeão inglês do século XVIII, afundou depois de um incêndio na proa. Wladimir Grievs chegou a essa conclusão quando a primeira peça da proa, retirada da lama após detonações de dinamite, veio à tona: um
pedaço de madeira com quatro metros de comprimento (pinho de riga – material só existente na Europa) todo chamuscado, mostrava os sinais de um incêndio.
Esta peça é grossa (25 cm de largura) e sustentava o convés da embarcação. Grievs diz que o incêndio na proa (que poderia ter sido provocado até mesmo por uma batalha) explica perfeitamente que esta parte do galeão seja a mais afundada na
lama. Desde o início do resgate, os mergulhadores perceberam que a proa estava a 6 m na lama, enquanto a popa ficou encalhada a 4 metros.
Para o início da retirada da proa, os mergulhadores tiveram que lançar mão de jatos de água e ar comprimido. Em uma das tentativas realizadas ontem à tarde, o peso de uma das peças era tão grande que chegou a desequilibrar, por segundos,
o flutuante Baleia Branca. Os cabos de aço não tiveram resistência suficiente para içar todas as partes à superfície, e só uma delas foi retirada: as outras partiram-se e voltaram ao fundo da lama.
Hoje, quando os mergulhadores retirarem todas as peças da proa, será fácil para Grievs verificar se o incêndio foi de grandes proporções. Até domingo, todas as partes do galeão serão retiradas. Cerca de 100 vigas já estão no porão do
Baleia Branca.
Uma das dúvidas de Grievs é saber se poderá identificar o nome da embarcação, já que o fogo pode ter destruído a inscrição. O nome Vivian, encontrado em uma plaqueta da popa, pode ser a marca do fabricante ou mesmo do porto-sede.
Se o nome do galeão for encontrado, será fácil determinar, através de pesquisas, a origem e o ano de sua construção.
O engenheiro naval afirma que a retirada do barco não está muito difícil, mas com a pressa exigida para o resgate (o prazo que a Cia. Docas determinou para a desobstrução do canal termina domingo) afasta a possibilidade de reconstrução do
galeão. A cada peça que sobe à superfície, Grievs comenta que sente a sensação de estar causando um prejuízo à História. |
A Tribuna, domingo, 10 de fevereiro de 1974, página 4:
Esta peça pode ser a chave do mistério
Foto publicada com a matéria
Quilha do galeão é retirada. Pesquisa continua na Alemoa
Uma quilha de carvalho, com 11 metros de comprimento, 2 m de altura e cerca de 8 toneladas de peso, apontada como
a maior peça do galeão encalhado no cais da Alemoa, foi resgatada ontem cedo. A operação, comandada pelo engenheiro naval Wladimir Grievs, durou quase quatro horas, sendo que na oportunidade também foi retirado um pedaço do cavername da
embarcação, pesando meia tonelada. Hoje cedo, Grievs iniciará uma pesquisa a 150 metros do local onde está o galeão: uma draga da CDS localizou objetos estranhos. "Podem ser estacas ou então um novo barco. Caso seja uma nova embarcação,
pedirei auxílio a outras organizações para tentar resgatá-la sem ter que utilizar cargas de dinamite", afirmou Grievs.
O prazo para resgate do galeão, concedido pela Companhia Docas, termina hoje, mas Grievs tentará obter prorrogação e até o final da próxima semana os trabalhos estarão concluídos.
Quilha retirada – Os trabalhos pra a remoção da quilha foram iniciados por volta das 7,30 horas, participando da operação o mergulhador Itamar e mais seis tripulantes, orientados por Grievs. "Impressionante, fabuloso", disse
Grievs logo que a quilha veio à tona, exatamente às 10,35 horas. Com 11 metros de comprimento, 2 metros de altura, cerca de 8 toneladas de peso e revestida de chapas de cobre, a quilha transformou-se na mais nova atração do flutuante
Baleia Branca.
Aleksander Grievs, filho do engenheiro, confessou seu entusiasmo: "Essa peça é uma verdadeira comprovação da construção antiga. É realmente fantástico a gente poder admirar
uma coisa assim". Grievs acredita que agora será mais fácil apurar a época da construção do barco. "Espero que os técnicos do Museu Naval descubram a época em que o galeão foi construído e a quilha vai facilitar bastante o trabalho".
Mais da metade do cavername do barco – provavelmente um galeão inglês do século XVIII – já se encontra depositada no porão do flutuante Baleia Branca. Algumas peças serão doadas ao Museu Naval, enquanto grande parte do casco não está em
condições de ser aproveitada devido aos danos causados pelas explosões durante os trabalhos de resgate.
Novas pesquisas – A cábrea Titan, da Companhia Docas, já tentou a remoção de objetos estranhos localizados pela draga a 150 metros do local onde está encalhado o galeão. Grievs recebeu orientação da CDS para pesquisar o
local: "amanhã (hoje) mesmo pretendo iniciar os trabalhos". Para ele, existe a possibilidade de outras embarcações estarem encalhadas no cais da Alemoa: "Talvez uma batalha ou mesmo um saque tenha acontecido por aqui".
Caso seja confirmada a existência de outro barco submerco naquela área, o engenheiro solicitará auxílio de outras organizações. "O ideal seria remover o barco sem causar danos, o que dificilmente pode ser evitado nessas operações. Mas,
é uma operação dispendiosa e, sem colaboração, tudo fica mais difícil", afirma Grievs. |
A Tribuna, terça-feira, 12 de fevereiro de 1974, página 3:
O concurso da draga pode acelerar a retirada dos restos do Vivian
Foto publicada com a matéria
Uma draga para ajudar na retirada do galeão
A proa do galeão encontrado no cais da Alemoa ainda poderá ser recuperada inteira pela equipe do engenheiro
Wladimir Grievs: a draga Mato Grosso está auxiliando os trabalhos, e desde ontem pela manhã está sendo feita uma cava ao lado direito do navio, para que a areia acumulada sobre ele caia, e facilitando sua recuperação. O
engenheiro Carlos Ricardo Tostes Camargo, responsável pela dragagem, explicou que, com a cava, toda a areia poderá cair, facilitando os trabalhos dos mergulhadores. "Vamos tentar abrir um buraco do lado direito, com uns sete metros,
dependendo das condições do solo, e depois os mergulhadores poderão tentar tirar a proa inteira".
Ontem pela manhã, Wladimir Grievs, proprietário do Baleia Branca, esteve na Alemoa e, à tarde, apenas a draga estava trabalhando. O engenheiro Carlos, apesar de acreditar na recuperação inteira da proa, acha que isso ainda
levará algum tempo: "O galeão está muito enterrado e o trabalho será difícil. Além disso, a água não dá condições de visibilidade (trinta a quarenta centímetros), e os mergulhadores são obrigados a trabalhar com muita lentidão, quase
tateando.
Outros – Enquanto a draga Mato Grosso faz seus trabalhos de escavações, alguns tripulantes do Baleia Branca olham de longe e dizem que outros objetos foram encontrados próximos ao local. Ninguém afirma nada, porém
Wladimir Grievs acredita que ainda possam ser encontrados outros navios. "Pode até ter havido uma batalha naval, mas ninguém sabe se são navios ou estacas colocadas durante a construção do cais da Alemoa. Vamos tentar descobrir mais
alguma coisa".
As pesquisas de Grievs serão feitas a 150 metros do local, onde uma das dragas da CDS encontrou alguns objetos estranhos. Caso seja outra embarcação, ele pedirá auxílio de outras organizações para tentar retirá-la inteira, sem muitos
danos. "Pretendo recuperar a embarcação (caso exista) sem utilizar dinamite. Porém, trata-se de um trabalho moroso e muito delicado e será difícil evitar os danos. Principalmente se não tivermos colaboração".
Problemas – O engenheiro Carlos Eduardo Tostes Camargo explicou que a dragagem do local não pode ser feita com muita pressa, pois vários pedaços de madeira do galeão estão quase soltos e entram pelo sugador da draga. Nestas
condições, somos obrigados a parar os trabalhos e localizar esses pedaços, para depois dragar mais uma vez".
Apesar dos trabalhos de recuperação e dragagem já terem retirado quase metade do galeão, ainda não se sabe sua procedência ou mesmo o seu nome. Com a recuperação da proa inteira, possivelmente os técnicos poderão descobrir o nome da
embarcação, época [em] que foi construída e ainda as causas do naufrágio. Todas as peças em condições de estudo estão sendo
encaminhadas para o Museu Naval, e grande parte do cavername do barco já está depositada no porão do Baleia Branca. |
A Tribuna, quarta-feira, 20 de fevereiro de 1974, página 24 (última):
Hoje, outro vigamento do Vivian deve sair
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Metal e moeda do Segundo Império achados no galeão
Uma moeda de cobre de 30 réis e pedaços de metal contendo inscrições foram os primeiros dados históricos
retirados ontem à tarde do galeão inglês descoberto no Canal da Alemoa, há um mês. Os objetos foram encontrados pelo próprio diretor da Submarine Service, o engenheiro naval Wladimir Grievs, que realiza o trabalho de pesquisa no local
e até sexta-feira garante que terá retirado tudo que for possível da embarcação.
Por estarem bastante danificadas, até agora não foi possível a total identificação das peças, supondo-se, pelo brasão inscrito, que a moeda pertença ao II Império Brasileiro, reinado de d. Pedro II. Quanto aos metais, sabe-se que são
de procedência inglesa e alemã. No pedaço de metal inglês, pode-se perceber as palavras "Yellow Metal" e a inscrição de três coroas, em um carimbo que pode ser do fabricante. No metal alemão há a inscrição "Hamburgo". Esse é um
detalhe muito interessante – diz Grievs -, pois trata-se de uma construção revestida com metal da Alemanha e da Inglaterra".
Embora não possa dizer exatamente a data das peças encontradas, o engenheiro naval tem esperanças de, até fim da operação, recolher dados mais concretos sobre a história do galeão. "Até sexta-feira – prazo do resgate – retiraremos
tudo em pedaços e, quem sabe, teremos datas exatas em outras inscrições". |
A Tribuna, quinta-feira, 28 de fevereiro de 1974, página 3:
O material está à disposição de estudiosos
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Grievs vai partir para o resgate de mais um barco
Antes mesmo de encerrar os trabalhos da retirada dos últimos pedaços do galeão, encontrado em fins do mês
passado, no fundo do canal de acesso à Cosipa, a 20 metros do píer de atracação do Terminal de Granéis Líquidos do cais da Alemoa, o engenheiro naval Wladimir Grievs já falava, ontem, de seus planos para resgatar outro barco afundado.
Pretende também apresentar proposta e orçamento, tudo documentado, a quem se interessar, para a retirada de um navio pirata afundado na barra de Ubatuba e de uma embarcação francesa, no estuário de Santos.
"Até domingo, apresentarei à Companhia Docas meus planos para o resgate de outro barco afundado; mas, por enquanto, não posso revelar o local. Esse não poderá ser chamado de galeão, porque a madeira é sul-americana e os pregos são de
ferro, iguais aos usados nos trilhos das ferrovias. Só posso informar que essa embarcação está há muito tempo no fundo da água".
Detector – A Baleia Branca, embarcação pertencente à Submarine Service, utilizada nos trabalhos com o galeão, será desatracada amanhã. Mas antes, Grievs vai usar um detector eletrônico para procurar algumas pranchas que
ficaram perdidas na lama. Com a ajuda do sargento Itamar e de outros tripulantes, o engenheiro retirou da lama três peças da quilha do galeão com 30 metros de comprimento cada uma, aproximadamente. A quilha era tripla, idêntica à dos
velhos galeões. Isso possibilita identificar o formato da embarcação, já que a quilha da caravela é dupla, segundo Grievs.
Todo o esqueleto do barco foi retirado, juntamente com muitas pedras identificadas como minério de prata, peças de metal e uma moeda de cobre de 30 réis, supondo-se, pelo
brasão inscrito, seja do II Império de d. Pedro II, entre outras peças. O engenheiro colocou os pedaços da madeira carcomida à disposição dos interessados.
Para o resgate, que demorou cerca de 20 dias, foram feitas, aproximadamente, 400 explosões com a utilização de quase 300 quilos de explosivo especial, para evitar qualquer acidente. |
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