Patrícia Fagueiro
Da Redação
Verão é a estação do
calor, de praia. E também de morcegos. A temporada é favorável à manutenção e reprodução de espécies que se alimentam de insetos, como a Myotis
nigricans, a segunda mais encontrada em Santos, de acordo com a Seção de Vigilância e Controle de Zoonoses de Santos (Sevicoz).
No verão, os ovos de insetos se rompem mais facilmente. Assim, com a oferta
ampliada de comida, os morcegos insetívoros permanecem no local em que sua fome será mais facilmente saciada. Benéficos ao homem, esses mamíferos
se reproduzem com mais facilidade especialmente de novembro a fevereiro. Por isso, é comum se deparar nessa época com morcegos caídos no chão.
Geralmente, são insetívoros bem jovens, que tentaram sair do seu abrigo, mas não conseguiram levantar vôo.
Em Santos, a espécie mais comum é a Artibeus lituratus, frugívora, ou seja,
que se alimenta de frutos. Mas, de acordo com a Sevicoz, na Cidade também ocorre a Desmodus rotundus, única das 1.200 espécies conhecidas
que se alimenta do sangue de outros mamíferos - entre eles, o homem.
A presença cada vez mais comum de morcegos (que são animais silvestres) nas áreas
urbanas é intrigante. Mas os especialistas ajudam a entender o que pode estar por trás dessa migração.
"Os morcegos frugívoros não saem da floresta para área urbana. Eles migram para o
local onde as condições são mais propícias, onde há maior oferta de comida e abrigo. E as cidades acabam atraindo os bichos, porque o habitat
natural deles está sendo devastado", explica Wilson Uieda, especialista em morcegos e professor do Departamento de Zoologia do Campus Botucatu da
Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Nas árvores - Esqueça que os locais que podem abrigar morcegos são só
aqueles bem escuros. Os postes de luz atraem muitos insetos, especialmente cupins, no verão. Logo, chamarão também a atenção dos morcegos que se
alimentam de insetos.
O que dizer dos chapéus-de-sol ao lado de postes de iluminação? De acordo com Uieda,
essas árvores são um dos abrigos preferidos dos morcegos frugívoros, que causam medo, por conta de seus 70 centímetros de envergadura. O bicho
está longe de ser agressivo, mas os humanos devem tomar cuidado em eventuais encontros.
"Geralmente, eles, os Artibeus lituratus, voam em bandos de três ou quatro e
saem das árvores com frutos nas bocas, em vôos rasantes. Quando trombam com alguém, o cidadão toma um susto, tenta afastar o animal, também
assustado, com a mão, e acaba levando uma mordida, que pode transmitir a raiva", explica Uieda.
Segundo a Prefeitura de Santos, as solicitações mais comuns sobre a presença de
morcegos se referem a "ruas e logradouros densamente arborizados com árvores frutíferas, com pouca iluminação e também em áreas urbanizadas
próximas aos morros".
Bem perto - Forros de casas, poços de elevador, dutos de ventilação, juntas
de dilatação, caixas de persianas e bueiros são abrigos urbanos típicos para morcegos. Mesmo que esse mamífero voador entre em sua casa, a
orientação é não manipulá-lo, pois ele pode morder e transmitir raiva.
Nada de tentar matá-lo também. Além de serem animais silvestres protegidos pela lei
federal 9.605/98, os morcegos contribuem para o equilíbrio ecológico, especialmente no que diz respeito ao controle de infestações e à
polinização. A orientação é telefonar para o serviço mais indicado para realizar a remoção do animal (veja destaque).
No Brasil, já foram encontradas 166 espécies de morcegos. Nos Estados Unidos,
apenas 44. "Temos quase quatro vezes mais espécies porque, na América do Norte, as florestas são homogêneas. O espaço brasileiro é formado por
nichos diferentes de florestas", diz Uieda.
Extinção - Embora alguns pesquisadores defendam que há espécies de morcegos
em risco de extinção, o especialista da Unesp acredita que os estudos ainda estão no início.
"Há dez anos, uma espécie considerada restrita aos estados de São Paulo Rio
de Janeiro estava na lista de animais em risco de extinção. A partir do momento que se estudou mais, verificou-se que ela também ocorria nas
regiões Nordeste, Centro-Oeste, Sul, e até no Paraguai. Ela saiu da lista".
Cada espécie no seu galho
ARTIBEUS LITURATUS - Mais
comum em Santos, alimenta-se de frutas. Busca refúgio nos galhos das árvores e vive em bandos. De coloração parda, possui quatro listras brancas
na cabeça, acima e abaixo dos olhos. A espécie pode assustar pelo seu tamanho. Contribui para o aumento da arborização ao espalhar as sementes
das frutas das quais se alimenta.
Tamanho: 70 cm. Peso: 70 gramas
Foto: reprodução, publicada com a
matéria
MYOTIS NIGRICANS - Segunda
espécie mais comum na Cidade, alimenta-se de insetos, sendo fundamental para controlar infestações. Este insetívoro voador é um dos menores
mamíferos conhecidos. Sua pelagem tem tonalidade marrom escuro.
Tamanho: 13 cm. Peso: 4 gramas
Foto: reprodução, publicada com a
matéria
DESMODUS ROTUNDUS - Menos
comuns na Cidade, é a única espécie de morcego que se alimenta do sangue de mamíferos, dentre eles o homem. Ocorre apenas na América Latina,
do México à Argentina. Ele não chupa o sangue humano, apenas o lambe após a mordida. Robusto, possui pelagem cinza brilhante. Mas pode
apresentar tons avermelhados, dourados ou mesmo alaranjados.
Tamanho: 35 cm. Peso: 40 gramas
Foto: reprodução, publicada com a
matéria