O navio oceanográfico, atracado em Santos
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Prof. W. Besnard
Quatro décadas de contribuição científica
Texto publicado em 03 de Abril de 2006 às
23h09
Cláudia Dominguez
jornalista
O ano de 2006 será de comemoração para a comunidade
científica de todo o país, especialmente para os pesquisadores do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP). Em agosto próximo,
serão celebrados 40 anos em que o navio-oceanográfico Prof. W. Besnard foi lançado ao mar da Noruega.
Inúmeras foram as contribuições do navio para o desenvolvimento da pesquisa científica
no Brasil ao longo desse período. Até hoje, o navio já fez cerca de 240 expedições oceanográficas tanto em busca da realização de projetos da
própria universidade quanto uma série deles de caráter internacional. Propiciou ainda a realização de convênios para pesquisas e prestação de
serviços.
O navio oceanográfico Participou do Programa Antártico Brasileiro (Proantar)
integrando a 1ª Expedição Brasileira à Antártica no ano de 1982 levando o Brasil a participar do Sibex (Second International Biomass Experiment) no
ano de 1983. As atividades foram encerradas em 1988 devido ao desgaste do navio sofrido pelas rigorosas condições de mar na região, ocasionando a
quebra do eixo da embarcação.
A diretora do IO-USP, Drª Ana Maria Setubal Pires Vanin, adiantou que haverá uma
comemoração, no mês de agosto, aos 40 anos de lançamento do navio ao mar. "Vamos comemorar com uma cerimônia no Porto de Santos a bordo do navio
Prof. W. Besnard".
A idéia - O professor Wladimir Besnard, nascido em 1890 na cidade de São
Petesburg, na Rússia, e convidado em 1945 para organizar e dirigir o Instituto Oceanográfico, acalentava um sonho desde a fundação do Instituto, em
1946. Era o de possuir uma embarcação que tivesse capacidade de enfrentar o mar aberto. Muitos processos foram percorridos por ele e por uma equipe
de empreendedores na busca de obter um navio de pesquisa.
Em 13 de dezembro de 1958 foi publicada no Diário Oficial da União a Lei 3.487
na qual seria liberada uma verba de Cr$ 15.000.000,00 (quinze milhões de cruzeiros) para a construção do navio.
Dez dias depois, o diretor geral do Instituto Oceanográfico designou uma comissão,
inicialmente composta por quatro pessoas para a escolha e compra do navio oceanográfico. A partir do ano seguinte diversos estaleiros em todo o
mundo foram consultados sobre a possibilidade da construção do navio.
O custo seria bancado pelo governo federal, estadual e a maior parte pelo Ministério
da Agricultura, através de uma emenda, e outra parte através do Grupo de Planejamento do Plano de Ação do Governo do Estado. À época representaria
um investimento de 400 mil dólares.
Em 1961, o governo estadual liberou mais 60 milhões de cruzeiros, verba enviada pelo
Ministério da Fazenda através do Fundo do Trigo. O custo total do navio sairia em torno de 616 mil dólares.
No ano de 1962 optou-se pelo estaleiro norueguês A/S Mjellem Karlsen, localizado em
Bergen, para a execução do projeto de construção do navio. O contrato de construção foi firmado em 16 janeiro de 1964. Após dois anos, em 18 de
agosto de 1966, o casco do navio oceanográfico foi lançado ao mar, sendo escolhido o nome de Prof. W. Besnard em homenagem póstuma ao
primeiro diretor do Instituto Oceanográfico, falecido em 11 de agosto de 1960. A embarcação foi entregue ao Instituto Oceanográfico da USP em 05 de
maio de 1967.
A primeira expedição - A viagem de vinda para o Brasil no ano de 1967 foi
também a primeira expedição científica denominada Vikindio. O navio aportou em Santos, dia 5/8/1967, e a partir de então teve uma intensa
atividade, possibilitando grande desenvolvimento de estudos e pesquisas de caráter nacional e internacional.
Características do Navio Oceanográfico Prof. W. Besnard:
Local e ano da
construção: A/S Mjellem & Karlsen, Bergen, Noruega, em 1967
Data de
lançamento ao Mar: 18/8/1966
Dimensões: 49,35
metros de comprimento, 9,33 metros de boca, 4,20 metros de calado
Capacidade de
armazenamento de combustível: 119.000 litros de óleo diesel
Deslocamento: 703
toneladas
Velocidade de
cruzeiro: 12 nós
Autonomia: 15
dias de aguada
Tripulação: 22
Vagas para
pesquisa: 15
Principais
comissões realizadas: Remac, Proantar, Coroas, Opiss, Padct, Revizee, Deproas, entre outras
Outras
informações pertinentes: no convés principal possui um laboratório molhado, um laboratório químico, um laboratório de temperatura constante e um
laboratório seco geral
E-mail:
wbesnard@usp.br ou
wbesnard@edu.usp.br
Telefone: (13)
3232-7575, Santos/SP.
O prof. Belmiro e a Central de Dados existente a
bordo
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Instituto Oceanográfico
Projeto EcoSan da USP na reta final
Texto atualizado em 03 de Abril de 2006 às
22h24
Cláudia Dominguez
jornalista
Após 21 meses de seu lançamento e a participação de 80
pessoas, o Projeto EcoSan do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP) entra em sua fase final após a última etapa da coleta de
dados realizada na semana passada no estuário de Santos.
A diretora do IO e coordenadora do projeto, profª. Drª Ana Maria Setubal Vanin, conta
que o próximo passo é iniciar a análise dos dados e fazer apresentações previstas para o final do mês. "O objetivo geral do projeto é saber qual a
contribuição do material colhido na Baixada Santista. Realizaremos dois seminários, um sobre a baía de Santos e outro sobre a plataforma
continental". Outros ainda estão programados até o final do ano.
A coordenadora revela que meados de março do próximo ano haverá um seminário geral
para fazer as últimas discussões com o intuito de elaborar um relatório final, já que o trabalho termina em julho de 2007.
O último cruzeiro do EcoSan, de quatro dias, esteve sob o comando do chefe do
Departamento de Oceanografia Física, Química e Biológica do Instituto Oceanográfico da USP, prof. Dr. Belmiro Mendes de Castro Filho.
Doze pesquisadores juntaram-se a uma tripulação de 22 homens do navio oceanográfico
Prof. W. Besnard rumo ao litoral paulista. Dessa vez, o objetivo da comissão era fazer o mapeamento da pluma originada na baía de Santos, no
canal do estuário.
O pesquisador-chefe dessa etapa, prof. Belmiro, explica que a baía de Santos, como
toda região próxima à descarga de água doce, tem uma característica de baixa salinidade. "A água do rio quando entra em contato com o mar se mistura
e faz com que a água com a qual está se misturando tenha quantidade de sal diminuída. Essa água de baixa salinidade é o que chamamos de pluma que
transporta organismos vegetais e animais flutuantes próximos à superfície".
Além de detectar características de temperatura e salinidade, os pesquisadores tinham
como meta observar de que maneira essa pluma se comportaria, qual direção seguiria e ainda a sua variabilidade temporal.
Na costa santista, os pesquisadores utilizaram um aparelho conhecido como CTD para
fazer a medição da salinidade, temperatura e profundidade. É um equipamento capaz de coletar todos esses dados meteorológicos como pressão
atmosférica, temperatura do ar, intensidade do vento e corrente marítima.
A rotina é estafante. Os pesquisadores, estudantes da graduação e pós-graduação da
Faculdade de Oceanografia, são divididos em quatro equipes que trabalham seis horas para 12 de descanso. Ao todo, foram 142 estações, das quais
somente duas foram realizadas com o navio fundeado.
De acordo com o prof. Belmiro, há amostragens muito rápidas, com duração de apenas
cinco minutos. A comunicação é feita via rádio entre os alunos que ficam no convés principal para a coleta e os que ficam localizados na Central de
Dados do Navio.
Os trabalhos duram 24 horas por dia. Quem está de serviço deve manter total
concentração na atividade. O momento da coleta exige cuidado. Os pesquisadores ficam praticamente à beira d'água, com o navio balançando,
enfrentando chuva e barulho do motor. Os cuidados com a segurança devem ser completamente vigiados por cada um deles, já que o grupo trabalha com
equipamentos pesados como guinchos e cabos de aço.
Aliás, concentração é uma exigência para a atividade de pesquisa. Belmiro destaca
ainda que a criatividade e a intuição são primordiais para um cientista. "O que diferenciou Newton e Darwin das outras pessoas? Não foi a
inteligência e sim a capacidade de concentração em um determinado problema".
O N/OC Prof. W. Besnard, está na vanguarda quando o assunto é instrumentação
científica. Todos os seus equipamentos são importados e avaliados em 300 mil dólares. Estar a bordo deste verdadeiro laboratório experimental
flutuante é oportunidade de vivenciar os mistérios do mar.
No comando da embarcação desde julho do ano passado, o comte. José Helvécio Moraes de
Rezende, coincidentemente com formação em Oceanografia e ex-aluno do prof. Belmiro, conta que é uma experiência ótima estar no comando do único
navio de pesquisa do país de uma universidade. "É muito bom estar ao mesmo tempo trabalhando no mar e, mais do que isso, estudando o mar, conhecendo
os seus segredos. É bastante gratificante."
O aparelho CTD e o comandante José, que é formado
em Oceanografia
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