Trecho da matéria na publicação original
O café na História e na legenda (2)
O café no continente americano - Sabe-se que o café entrou na América do Norte
em 1688, mas as primeiras casas de negócio especialmente instaladas para vendê-lo em estado líquido ao público só apareceram cerca de vinte anos
depois.
Em 1715 foi introduzido no Haiti e em S. Domingos. Os holandeses, tendo começado a
cultivá-lo, na Batávia, em 1718 - fica sendo essa a data precisa e incontestável da sua penetração na América do Sul. Já desde muito era conhecido o
fato de o haverem os franceses colhido ali, clandestinamente, a fim de plantarem-no em Caiena. Sobre isso correm versões, que ainda exigem
averiguação.
Uma delas afirma que, em 1719, o fugitivo Rosier le Breton, residindo em Suriname,
escreveu para Caiena, pedindo que se lhe perdoasse certo delito, comprometendo-se, em troca do perdão, a levar para ali sementes e café capazes de
germinar e cuja exportação era proibida em Suriname, sob ameaça de rigorosas penas. Combinado o trato, foi assim introduzido o café em Caiena, sendo
os grãos entregues ao comissário da Marinha, que se chamava D'Albon.
Outra versão diz que "em suas viagens de comércio, o
ousado e temerário Morgues, garimpeiro da Guiana, introduziu o café em Caiena, em 1725, indo, com risco da própria vida, tirar frutos maduros de
árvores cultivadas na Guiana Holandesa, para vendê-los por bom preço ou em troca de ouro. Das árvores de Caiena, originou-se o cultivo do café
no Brasil".
A abnegação de De Clieu - Cronologicamente, cumpre agora tratar do romance que
- a propósito da introdução do café na ilha de Martinica, se teceu em torno de De Clieu. Havia no jardim do rei de França, em Montpellier, pelos
fins do 1º quartel do século XVIII, mudas de cafeeiro, resultantes da planta que, em 1714, fora oferecida pelo burgomestre de Amsterdam, Branchazs,
a Luís XIV, e que saíra do Jardim Botânico daquela cidade da Holanda, onde penetrara a "Coffea arabica", em 1706.
Gabriel d'Erchigny De Clieu, nascido na Normandia em 1686, tendo sido promovido a
capitão de infantaria da Marinha em 1720, foi mandado servir na colônia francesa de Martinica. Tendo de embarcar em Nantes, em 1723, trouxe uma
única muda de cafeeiro, obtida por intermédio do médico do rei, M. de Chirac. Foi longa a travessia e, escasseando a bordo a água potável, reduziu o
dedicado oficial sua própria ração, a fim de regar e salvar a muda.
Assim esta conseguiu chegar viva e foi imediatamente plantada no jardim da casa em que
De Clieu se instalou. Das sementes que a árvore deu foi feita distribuição pelos agricultores da ilha, não tardando a constituir ali uma das maiores
fontes de riqueza, sendo as plantações de cafezais as únicas que resistiram ao terremoto ocorrido na região, em 1727.
Documentos oficiais, recentemente descobertos, comprovam que De Clieu faleceu aos 88
anos, em 1774. Em 1804, o governador da Martinica, De Lussat, projetou levantar-lhe um monumento no mesmo lugar em que ele plantara o primeiro pé de
café, mas só em 1918 se executou esse intento, com a inauguração do Jardim Botânico de Fort-de-France, em honra de De Clieu.
No resto da América Setentrional e Central são as seguintes as datas do começo da
cultura do cafeeiro: 1730, na Jamaica; 1748, em Cuba; 1755, em Porto Rico; 1779, em Costa Rica; 1790, no México; 1850, em Guatemala; 1852, na
República de Salvador.
O café no Brasil - Está provado que monsenhor Pizarro, nas suas Memórias
históricas do Rio de Janeiro (1882), errou, quando escreveu: "O café, tendo sido transplantado da Índia para o
Brasil, onde principiou a prosperar, foi contudo mandado arrancar por el-rei D. Manoel, para conservar o comércio com a Ásia, impondo pena de morte
aos que tratassem da sua cultura".
Provou o erro, entre outros, Francisco Freire Allemão, em suas Memórias, lidas
no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, em 1856: "Basta ver que, quando el-rei D. Manoel faleceu, em 1561,
ainda o café não era conhecido na Europa, não podendo, portanto, ser objeto de comércio. Evidentemente, monsenhor Pizarro interpretou mui de ligeiro
uma passagem da carta do padre Antonio Vieira a Duarte Ribeiro de Macedo, datada de 1675, que é a seguinte: 'Há muitos
anos que sei se dá no Brasil a pimenta e quase todas as outras drogas de Índia, como se experimentou no primeiro descobrimento; e el-rei Manoel, por
conservar a conquista do Oriente, mandou arrancar todas as plantas asiáticas, com lei capital que ninguém as cultivasse; e assim se executou,
ficando somente o gengibre, que, como raiz, dizem no Brasil, se mete pela terra dentro; mas ainda assim conserva a proibição, e se tem-no por
perdido'."
Francisco de Mello Palheta - o bandeirante do café - Dentre as zonas do nosso
gigantesco solo, coube ao Pará a prioridade do cultivo da preciosa rubiácea; e a Francisco de Mello Palheta a glória de ser o portador de mil e
tantas bagas e cinco espécimes dela, desde a Guiana Francesa até aquela circunscrição da nossa pátria, então simples possessão portuguesa.
Por ocasião do ingresso do café, ali, era governador o capitão-general do Estado do
Maranhão e Grão-Pará, João da Maia Gama, que sucedeu, em 1727, a Bernardo Pereira de Merredo - o depois autor dos Annaes Históricos do Maranhão.
Houve, a esse tempo, necessidade de mandar-se à fronteira, assim como a Caiena, para
quaisquer entendimentos com os franceses da Guiana, uma ligeira missão de caráter oficial. A fim de dirigi-la, foi escolhido o sargento-mor (posto
hoje correspondente a major) do exército colonial e brasileiro de nascimento, Francisco de Mello Palheta, que já se salientara muito, em 1722-23, na
exploração do rio Madeira, e que também tinha o posto de capitão-tenente da Guarda Costa, sendo assim militar de terra e mar.
Pois bem, ao retornar a expedição da Guiana, trazia consigo o seu esforçado comandante
mil e tantas frutas e cinco plantas do vegetal alienígena, que se tornaria, de futuro, o tesouro da agricultura nacional.
Que a Mello Palheta se enderece, pois, a gratidão de todos nós, brasileiros, pelas
meritórias conseqüências da sua ação prestimosa e relevante. E aqui seja dito de passagem: De Clieu, o introdutor do café na Martinica, como acima
vimos, já teve, em Fort-de-France, a devida consagração, enquanto que a memória de Palheta ainda espera a homenagem que indeclinavelmente lhe deve a
nacionalidade.
Assim é narrada a viagem da expedição: "Deixando Belém em
1727 - conforme opinou Manoel Barata no seu trabalho A antiga producção e exportação do Pará (1915) - o denodado sargento-mor, chegando a
Caiena, conheceu de perto a valiosa rubiácea, que já viçava havia alguns anos. Percebeu, logo, com aguda perspicácia, os magníficos proventos que
adviriam para a Pátria e a Real Coroa do vegetal exótico, e procurou sem tardança obter mudas e bagas novas".
É de crer lhe custasse isso riscos e sacrifícios, pois entre os franceses se adotara o
terrível monopólio holandês, a ponto do governador decretar que ninguém desse aos portugueses café capaz de reproduzir-se.
Galanteria de uma dama francesa - A insciência do modo exato por que foi
conseguido na Guiana o café introduzido no Brasil, em maio de 1727, pelo audaz explorador, e bem assim a alta valia dessa façanha, contribuíram para
tecer-se em torno do caso uma sorte de lenda - propalada pelo bispo d. João de S. José, monge beneditino, em sua Viagem e visita ao bispado do
Grão-Pará em 1762 e 1763, e abraçada por escritores subseqüentes:
"Aqui vimos, pela primeira vez, a árvore do cacau,
plantada pela natureza, de que estas linhas do Rio abundam nas vizinhanças de Gurupá, não assim das árvores do café, pois todas desta espécie têm
sido plantadas, e primeiro vindas de Caiena, em tempo do governador do Estado - João da Maia -, o que se deveu à generosidade de uma francesa,
mulher do governador da praça, que, sabendo a proibição e estudo com que andavam os seus nacionais para que se não comunicasse a um português, de
quem ignoramos o nome, e só sabemos ser Palheta, que ali se achava, indo este visitar seu marido, e saindo todos a passeio, ela generosamente lhe
ofereceu, em presença do esposo (que se sorriu) uma mão cheia de pevides de café, praticando a galanteria de ser a mesma que lhas introduziu no
bolso da casaca, obrigando-o de tal sorte que lhe não sobejaram as expressões com que mostrou agradecer muito à madame esta franqueza e bizarria; e
logo em Belém se repartiram pelo governador e homens de negócio, entre os quais não foi dos segundos Agostinho Domingos, natural do arcebispado de
Braga, junto às Caldas do Gerez, e casado em Belém, homem de muita honra, verdade e cabedais, cujo procedimento autoriza bem as suas cans na
avançada idade de oitenta anos, de quem recebemos imediatamente essa espécie, quando nos mostrou seus cafezais do rio Guamá".
A verdade através curiosa petição de Mello Palheta - Acham-se os meandros do
problema, no entanto, positivamente iluminados por uma petição do próprio Palheta, inserta aos Annaes da Bibliotheca e Archivo Publico do Pará,
reproduzida por Manoel Barata (obra citada), conforme se lê a seguir, e dirigida a D. João V:
"Sr. - Diz Francisco de Mello Palheta, Capp. Thenente da
Guarda-Costa: 1º - elle, suppte., está a actualme. occupado no servo. De V. Magde. e somente com quarenta e outo mil rs. de soldo; fazendo gastos
excessivos e experimentando grandes perdas, como na viagem do descobrimento do Rio da Madra, fez do gasto hum conto e duzentos mil rs.; porq' o
mandou o Govor. João da Maya Gama ao do. descobrimo. athe as Indias de Espanha, como fez, athe chegar à Side de S. Cruz, e nas grandes Cachoeyras
teve tres alagações em que perdeo tudo quanto levava, e depois foy mandado pelo nosso Govor. a correr a Costa e à Va. de Cayana; e vendo o Supp. que
o Govor. de Cayana deitava um bando à sua chegada que ninguém désse caffé aos Portuguezes capaz de nascer, se informou o Suppe. do valor daquella
droga, e vendo o q' hera fez deligas., por trazer algumas sementes com algum despendio da sua Fazda., zeloso dos augmentos das Reaes rendas de V.
Magde.; e não só trouche mil e tantas fructas q' entregou aos Officiaes do Senado (vereadores da Câmara Municipal)
pa. que as repartissem com os moradores, como também sinco plantas do que já hoje há muito no Estado; e como o Suppe. se acha muito falto de servos
e tem mil e tantos pés de Caffé, e três mil pés de Cacao, e não tem quem lhos cultive, e se acha com sinco filhos, P. A. V. Magde., lhe faça mcê.
conceder por seo Alvará cem cazaes de escravos de Certão do Rio Negro, ou outro qualquer, que se lhe offerecer, como também mandar se dem ao Suppe.
Sincoenta Indios das Aldayas de Cahahe (por Caoté, hoje Bragança), Mortigure
(por Mortigura, hoje Vila do Conde), Simouma (por Sumaúma, hoje Beja),
Bocus (por Cocas, hoje Oeiras), Caricurú (por Maricurú, hoje
Melgaço), Mongobeiras (por Mangabeiras, hoje Ponta de Pedra),
Camutá, Gorjones (por Guayanas, depois Logar de Villar, hoje extinto), pe. fazer os ditos
resgattes; e como o Supp. está alcançado, e não tem com que comprar o necessario pa. fazer os dittos resgattes, mandar se lhe dê tudo o necessario
da Fazda. dos resgattes pa. que depois o Suppe. inteyre, e pague da mesma viagem o custo que fizer. E. R. Mcê.".
Consumado o ingresso do café no Pará, daí em diante encarregar-se-ia a laboriosidade
de outros homens de fazê-lo propagar por todo o país. Aliás, Manoel Barata assegura que, em 1731 ou 1732, pequenas quantidades de café já eram
embarcadas para o Reino. E é bem sabido que desde então se sucederam os alvarás reais, dispondo sobre a produção, exportação e direitos sobre o
café.
Vencendo distâncias - Daí em diante, lenta mas progressivamente, o arbusto foi
vencendo distâncias e radicando-se nos estados do Norte, até chegar, em 1760, ao Rio de Janeiro, por intermédio do desembargador João Alberto de
Castello Branco, para, cerca de trinta anos depois, penetrar em Minas Gerais e em S. Paulo, pelo vale do Paraíba, em cujo solo acharia a sua mais
profícua localização, o seu habitat predestinado e inigualável.
A feracidade da "terra roxa": um cafeeiro ostentando o seu rico carregamento de frutos
Imagem publicada com a matéria
O primeiro plantio e a propagação do cafeeiro em S. Paulo - O primeiro plantio,
em nosso Estado, teria tido lugar na zona de Areias, prolongando-se daí para Guaratinguetá, Pindamonhangaba, Taubaté, Caçapava, Jacareí etc.
O cafeeiro, porém, continuou a perlustrar a senda que o conduziria à maravilhosa "terra
roxa" de S. Paulo, e, em breve, consolidaria as bases do seu máximo reflorescimento. Não há dúvida que as lavouras intensivas começaram em
Jundiaí e Campinas, onde, de 1809 e a 1880, as plantações multiplicaram-se.
Em 1872, já com quase 200 fazendas, a produção de Campinas era volumosa. O cultivo
sempre, espraiando-se rapidamente, máxime no Oeste paulista. E na época em que a Lei Áurea, libertando o braço escravo, surgia como um golpe
tremendo na agricultura nacional, já S. Paulo previdentemente havia aberto suas portas à imigração subvencionada, poupando-se assim um perigoso
colapso econômico, e impulsionando ainda mais a lavoura do café.
Com esse auxílio, segundo escreve Basílio de Magalhães, "no
curto espaço de um decênio, isto é, de 1890 a 1900, estenderam os paulistas as suas plantações a uma área de cerca de um milhão de hectares, num
total aproximado de 700 milhões de cafeeiros".
Crises vencidas pela energia paulista - Com a exuberância do café, o fim do
século XIX veio encontrar S. Paulo numa fasae de pleno e veloz engrandecimento. O século XX, porém, no seu início, traria ao produto paulista uma
forte crise de doze anos, e da qual só saiu à custa de muitos sacrifícios, pertinácia e ousadia. Os preços haviam caído e, a prolongar-se a baixa
intencionalmente mantida pelos operadores do estrangeiro, a ruína da lavoura cafeeira no Brasil seria certa.
S. Paulo, porém, resistiu valentemente. Só a praça de Santos antecipou aos fazendeiros
mais de 200.000 contos de réis. Em 1906, promoveu o Estado o "Convênio de Taubaté", do qual participaram também o de Minas e o do Rio de Janeiro.
Começou a era da valorização, que, se depois deveria dar amargos frutos, constituiu-se absolutamente necessária na época, em face, além do mais, de
uma safra (a de 1906-07) de 16 milhões de sacas. Fugir a esse imperativo seria, então, decretar a falência total da lavoura, e o próprio orçamento
do Estado se despenharia em temeroso desequilíbrio.
Mas todas as fases por que passou a nossa política cafeeira são bem conhecidas de
quantos se dedicam ao magno problema do café, para que seja necessário detalhar aqui todas elas.
Uma etapa notável na política cafeeira - A fase atual marca, porém, uma etapa
notável nessa política, que se orientou toda no sentido de uma reação pela reconquista dos mercados, dos quais ainda há pouco menos de dois anos
estávamos em pleno recuo. Eliminando taxas de exportação, abolindo parte do confisco cambial, incentivando a produção de melhores qualidades,
dando-lhes preferência nos embarques do Interior para Santos, tornando os respectivos preços francamente acessíveis aos mais modestos consumidores,
conseguiu o Departamento Nacional de Café, sob a chefia dinâmica e patriótica do seu presidente, sr. Jayme Fernandes Guedes, estabelecer verdadeiros
recordes em nossa exportação, como o que acaba de se assinalar no ano de 1938, em que as remessas do café brasileiro para o exterior superaram de
cerca de cinco milhões de sacas as efetuadas no decurso do ano anterior de 1937.
Bem razão assiste ao sr. Hildebrando de Magalhães, ao terminar sua esplêndida
monografia (Contribuição para a História do Café) com o seguinte hino triunfal: "Glória, pois, ao café! Glória
ao licor salutar, que alimenta, que cura, que preserva, que apraz, que encanta, que avassala, que inebria! Glória à rainha de todas as beberagens,
que restaura e dinamiza o organismo - sem arruiná-lo como outras, e que apenas o excita transitoriamente! Glória ao café, néctar dos deuses,
tombado dos arcanos excelsos do Olimpo à face da terra, a fim de derramar energia nas veias dos entes indefesos que se consagram, há milênios, ao
aperfeiçoamento pessoal e coletivo e à adaptação do planeta a uma existência mais suave dos seus descendentes".
O maior porto de exportação de café do mundo - Santos, como o maior mercado
vendedor e o maior porto de exportação de café do mundo, figura na grandeza da lavoura cafeeira de S. Paulo em plano de extraordinário destaque. A
aparelhagem com que a Cia. Docas o dotou, tão vasta quão eficiente, a ponto de se equiparar às melhores dos cinco continentes, contribuiu
consideravelmente para propulsionar a exportação da nossa mais importante riqueza agrícola.
Falar da praça de Santos, encarecendo-lhe a magnífica organização e o alto e decisivo
contingente que dá, com a energia de seu labor fecundo e ininterrupto, à prosperidade nacional, se torna tarefa supérflua, tão conhecido é o seu
relevante papel na grandeza econômica do Brasil.
Nestes cem anos em que, tendo recebido foros de cidade, tanto Santos viu progredir o
seu comércio de café, paralelamente com a vertiginosa expansão da respectiva lavoura no hinterland paulista, interessante seria,
estatisticamente, revelar o volume e o valor das exportações da rubiácia pelo nosso porto, não fora a impossibilidade de conseguir dados fidedignos
de tão remotos tempos.
Contudo, de 1850 a 1880, existem cálculos bem aproximados das quantidades escoadas
para os mercados de consumo, sendo que, daí em diante, os trabalhos estatísticos, quer quanto ao volume, quer quanto ao valor, se apóiam em cifras
incontestáveis.
Não quer isto dizer que, desde os tempos coloniais, já não saísse café pelo nosso
porto.
Segundo o eminente historiador Affonso E. de Taunay, nos Subsídios para a História
do Café no Brasil Colonial, que os baseou em vários testemunhos antigos, inclusive na obra O Ensaio Estatístico, de Daniel Pedro Muller,
o qual s.s. classifica de "benemérito e inesquecível patriarca da estatística em terras de S. Paulo" -, a exportação de café por Santos, com
intermitências maiores ou menores, pode ser fixada como tendo início em 1797, ano em que, de conformidade com documentos do Arquivo do Estado,
impressos por Antonio de Toledo Pisa, saíram para Lisboa três navios carregando 1.924 arrobas. De 1801 a 1807, foram as seguintes as remessas de
café por Santos:
Ano
|
Arrobas
|
1801
|
132
|
1802
|
116
|
1803
|
675
|
1804
|
243
|
1805
|
954
|
1806
|
1060
|
1807
|
1270
|
Os preços médios, então vigentes, assim se distribuíram, por arroba:
Anos
|
Valor
|
1797
|
3.200
|
1798
|
3.200
|
1799
|
3.200
|
1800
|
--
|
1801
|
3.000
|
1802
|
2.000
|
1803
|
2.400
|
1804
|
3.000
|
1805
|
4.000
|
1806
|
4.000
|
1807
|
3.900
|
Já na safra de 1835-36, de acordo com a citada obra de Daniel Pedro Muller, a
exportação do café por Santos subia a 76.336 sacas!
Não nos foi possível reatar a estatística senão de 1850 até 1880, assim mesmo somente
quanto ao volume. Ei-la:
Decênios
|
Sacas
|
De 1850-51 a 1859-60
|
3.000.000
|
De 1860-61 a 1869-70
|
4.500.000
|
De 1870-71 a 1879-80
|
8.250.000
|
Como se vê, a média do primeiro desses decênios atribuía a Santos uma exportação anual
de 300.000 sacas, o segundo 450.000 e o terceiro 825.000.
Cerca de 400 milhões de sacas, no valor de 32 milhões de contos!
De 1880-81 para cá, porém, a estatística se revela completa e segura. Damo-la abaixo,
valendo-nos, data venia, dos dados anualmente organizados, com escrupulosa exatidão, pela importante firma da nossa praça, Lima, Nogueira e
Cia., sucessora de Telles, Netto e Cia., Telles, Quirine, Nogueira e, por fim, de Freitas, Lima, Nogueira e Cia.:
A exportação de café por Santos, nas últimas 58 safras
|
Safras
|
Sacas de 60 kg
|
Valor em réis
|
1880-81
|
1.204.328
|
27.292:179$600
|
1881-82
|
1.524.486
|
37.844:370$720
|
1882-83
|
1.837.846
|
38.609:825$220
|
1883-84
|
1.929.029
|
49.071:149$520
|
1884-85
|
2.165.116
|
49.016:471$400
|
1885-86
|
1.657.176
|
39.955:381$200
|
1886-87
|
2.478.498
|
89.284:308$480
|
1887-88
|
1.309.937
|
37.905:706$800
|
1888-89
|
2.545.706
|
79.207:979$760
|
1889-90
|
2.401.503
|
65.980:726$560
|
1890-91
|
3.048.327
|
139.054:366$200
|
1891-92
|
3.686.084
|
222.049:700$160
|
1892-93
|
3.412.882
|
231.301:267$200
|
1893-94
|
1.772.679
|
149.477:793$180
|
1894-95
|
3.904.080
|
333.975:049$200
|
1895-96
|
3.135.196
|
264.682:255$680
|
1896-97
|
4.960.062
|
336.283:537$680
|
1897-98
|
6.053.521
|
336.300:778$040
|
1898-99
|
5.535.361
|
263.333:052$000
|
1899-900
|
5.742.362
|
260.434:979$200
|
1900-01
|
7.821.541
|
294.687:550$080
|
1901-02
|
9.731.921
|
319.588:983$360
|
1902-03
|
7.542.481
|
231.455:984$760
|
1903-04
|
6.537.226
|
199.600:159$200
|
1904-05
|
7.174.557
|
258.757:343$880
|
1905-06
|
7.280.162
|
188.118:921$900
|
1906-07
|
13.874.113
|
388.764:257$340
|
1907-08
|
8.515.244
|
177.645:929$940
|
1908-09
|
9.381.867
|
223.077:886$200
|
1909-10
|
10.278.215
|
286.925:658$240
|
1910-11
|
6.440.495
|
285.639:306$900
|
1911-12
|
9.143.685
|
475.078:752$540
|
1912-13
|
8.820.392
|
410.009:904$720
|
1913-14
|
11.308.345
|
373.861:835$760
|
1914-15
|
9.641.699
|
267.830:994$609
|
1915-16
|
11.445.533
|
373.474:813$800
|
1916-17
|
9.611.620
|
378.201:437$520
|
1917-18
|
7.356.862
|
353.388:363$000
|
1918-19
|
7.833.337
|
560.587:096$800
|
1919-20
|
7.561.045
|
408.778:289$280
|
1920-21
|
8.878.380
|
655.185:108$780
|
1921-22
|
8.558.764
|
839.110:406$400
|
1922-23
|
8.278.208
|
948.219:960$000
|
1923-24
|
10.192.760
|
1.725.470:756$700
|
1924-25
|
8.018.137
|
2.145.920:943$600
|
1925-26
|
9.482.605
|
1.557.486:622$980
|
1926-27
|
9.871.787
|
1.450.876:096$980
|
1927-28
|
10.000.415
|
1.885.627:537$920
|
1928-29
|
8.808.400
|
1.631.054:113$200
|
1929-30
|
9.586.494
|
1.050.814:780$680
|
1930-31
|
10.097.578
|
1.146.937:054$500
|
1931-32
|
9.692.284
|
1.215.100:602$000
|
1932-33
|
6.550.831
|
723.325:140$000
|
1933-34
|
11.328.485
|
1.037.445:444$000
|
1934-35
|
9.236.235
|
974.898:973$200
|
1935-36
|
10.573.647
|
1.064.221:971$900
|
1936-37
|
8.757.936
|
1.171.440:014$400
|
1937-38
|
9.462.605
|
1.291.942:455$000
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