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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - ACS
A associação comercial dos santistas (4-e)

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Texto inserido no Almanaque de Santos - 1971, editado no final de 1970 por Ariel Editora e Publicidade, de Santos/SP, tendo como redator responsável o falecido jornalista Olao Rodrigues. Nessa publicação, as páginas 170 a 300 formam uma Edição Comemorativa do Centenário da Associação Comercial de Santos:
 

Associação Comercial de Santos - 1870/1970


Eis a história que se firmou à sombra da grandeza de Santos

Ele foi fundador e primeiro presidente

Nicolau de Campos Vergueiro foi o primeiro presidente da Associação Comercial de Santos, eleito por mais duas vezes consecutivas, além de integrar a diretoria provisória, ao lado de Inácio Wallace da Gama Cócrane, Gustavo Backheuser, Carlos Wagner e José de Azurem Costa.

Jovem, com pouco mais de 20 anos, aplicou-se devotadamente à carreira comercial, que o decorrer do tempo lhe deu experiência e tino empresarial. Homem de cultura e opulentos recursos financeiros, queria bem a Santos, em cuja sociedade se destacava: filantropo, com seu nome vinculado às obras de benemerência, artes e cultura, muito se interessava pelos "talentos olvidados", como veremos no caso de Benedito Calixto. Foi vereador e presidente da Câmara Municipal em 1862.

Como afirma Costa e Silva Sobrinho, em Santos Noutros Tempos, "ele deu auxílio valedor à Santa Casa, Beneficência Portuguesa, Humanitária dos Empregados no Comércio e à Sociedade Musical União dos Artistas, além de outras".

Com o visconde de Embaré, ergueu e ofereceu ao governo um edifício na Rua 2 de Dezembro (D. Pedro II) para nele serem instaladas escolas públicas, como o Grupo Escolar Olavo Bilac, cabendo-lhe ainda papel saliente no levantamento do Teatro Guarani, organizado e fundado por uma comissão de cidadãos afeiçoados à cultura artística.

Foi um dos principais acionistas do Banco Mercantil de Santos. Durante o surto de febre amarela, em 1876, fundou à sua custa enfermarias e deu outros testemunhos de seus sentimentos de benemerência e solidariedade ao próximo.

Foi ele que estipendiou a viagem de estudos à Europa de Benedito Calixto. O grande pintor havia decorado o Teatro Guarani e desde aí granjeou a admiração de Nicolau Vergueiro, que o antevia artista de renomeada. Quando Garcia Redondo, que construiu o Guarani, em carta que lhe dirigira, elogiou o trabalho de Calixto e disse de suas tendências para a pintura, lamentando, porém, a falta de escola por sua pobreza e humildade, a resposta de Vergueiro foi imediata e incisiva: o convite a Calixto para aperfeiçoar-se no Velho Mundo.

Incumbido de fornecer a Calixto o numerário preciso para a viagem e seus preparativos, verificou Afonso de Vergueiro que o artista, casado e pai de uma filha, não possuía recursos para deixar à família. Que fez? Obteve com amigos mesada para manutenção da família, enquanto o chefe permanecia em estudos na Europa.

Quando o governo galardoou Nicolau de Campos Vergueiro com a comenda da Imperial Ordem da Rosa, em 21 de fevereiro de 1881, o povo santista tributou-lhe carinhosa homenagem, oferecendo-lhe artística medalha, no verso da qual se lia esta inscrição: "Ao Visconde de Vergueiro – Janeiro de 1881 – Gratidão da Cidade de Santos".

Foi esse o cidadão que os comerciantes da Praça escolheram, e mais quatro outros, para administrar provisoriamente a Associação Comercial de Santos; por mais três vezes consecutivas exerceu o cargo de presidente, de 874 a 1878, quando propiciou à Praça do Comércio os mais úteis serviços.

Fundando e dirigindo a Associação Comercial de Santos durante os primeiros 8 anos de vida, o comendador Nicolau Vergueiro ingressou na história de Santos!

O comendador Vergueiro, barão e depois visconde, figura evidencial no Legislativo do Município, deputado também em São Paulo, era um protetor e incentivador de talentos em iniciação, como referimos. Além de Benedito Calixto, muito se interessou por essa figura ímpar da cultura santista, Joaquim Xavier da Silveira, o Silveirinha, que, muito moço ainda, teve a valedora ajuda do primeiro presidente da Associação Comercial, admitindo-o em sua casa comercial até o ingresso na Faculdade de Direito de São Paulo.

Xavier da Silveira foi elemento excepcional em nossa via jurídica, social e intelectual. Poeta prodigioso, orador dos mais consagrados e elemento requestado no ambiente social e literário de São Paulo e Santos, teria alargado sua opulenta atividade cultural, não desaparecesse tão cedo, aos 24 anos de idade, vitimado pela varíola.

José Bonifácio de Andrada e Silva (O Moço), que foi dos maiores oradores do Brasil, referindo-se ao jovem santista sentenciou: "Xavier da Silveira não é orador comum. É um fenômeno". Por vir de onde veio, essa assertiva valeu como o maior elogio ao inolvidável poeta e tribuno de Santos.

O comendador Nicolau Vergueiro foi um benfeitor da Cidade. Não havia obra de benemerência em que seu ilustre nome deixasse de vincular-se. Durante os surtos de febre amarela, como dissemos, fundou e manteve enfermarias, como a da Beneficência Portuguesa, que lhe cedeu instalações para esse nobre fim, a seu pedido e de Camilo de Andrade. Mais tarde, concedeu importante donativo àquela casa hospitalar por haver-lhe cedido dependências para a instalação da enfermaria requerida, sabendo-se que numa das viagens que empreendera ao Velho Mundo também doou àquela Casa valioso material cirúrgico adquirido na França.

No dia 19 de dezembro de 1880, a Beneficência homenageou-o inaugurando-lhe o retrato a óleo, de corpo inteiro, em cerimônia muito concorrida, durante a qual discursou em nome da diretoria, presidida pelo sr. Adrião Luís Esteves, o sr. Carlos de Afonseca, que pôs em evidência os sentimentos de fraternidade revelados pelo distinto sócio benfeitor, notadamente durante os surtos de febre amarela e varíola.

Também falaram os srs. Júlio Gonçalves Furtado, Joaquim Pereira de Morais e Valêncio Leomil de Vasconcelos, que disseram palavras de louvor ao barão de Vergueiro, sempre na vanguarda dos movimentos que visavam ao bem estar físico e moral dos cidadãos brasileiros e portugueses.

Emocionado pela sinceridade da homenagem, o filantropo santista elogiou a obra social dos portugueses e agradeceu não apenas o ato daquele instante, senão também as demonstrações de sã amizade que em todas as horas recebera dos homens que dirigiram a Casa fundada sob os influxos da benemerência cristã.

Com. Nicolau de Campos Vergueiro

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