Dentre os vultos santistas que brilharam na campanha constitucionalista de 9132, O
Diário conta em seu seio com um dos que, pelo menos no setor jornalístico, colaborou eficazmente para o enraizamento, no coração de todos os
paulistas, do sublime ideal legalista de São Paulo. Repórter fotográfico, ligado jornalisticamente aos acontecimentos de maior repercussão de nossa
cidade, Pedro Peressin, o "Barbado", foi, em 1932, um dos soldados constitucionalistas que, orgulhosamente, empunhou armas contra as tropas
ditatoriais, integrando o glorioso Tiro Naval e combatendo sob o comando do intrépido e valoroso capitão Armando Erbisti.
O "Barbado", que até 1932 escanhoava diariamente o rosto, adquiriu durante a
revolução paulista o gosto esquisito de deixar a barba crescer, reduzindo-a depois do encerramento da campanha, a esse tradicional cavanhaque, com
base no qual os amigos de Pedro Peressin alcunharam-no de "Barbado".
Contudo, fosse ou não barbado, a verdade é que Pedro Peressin, nos primeiros dias de
rosto escanhoado e nos últimos recoberto de enormes fios, tomou parte ativa na Revolução Constitucionalista, entrincheirando-se lá pelas bandas de
Cachoeira e Silveiras, onde tão gloriosamente brilhou o Batalhão Naval do cap. Armando Erbisti.
Empunhava sucessivamente o fuzil e a máquina fotográfica e enquanto caçava passarinho
com o primeiro, ia tirando suas fotografias, as quais eram enviadas para o jornal da época A Praça, do qual Pedro Peressin era
correspondente. Com sua cordial franqueza, "Barbado" confessou que realmente não tomou parte em nenhum combate, mas em compensação tirou aí por umas
mil a mil e quinhentas fotografias, que estão distribuídas por este mundo de Deus, nos fundos das gavetas ou nos álbuns de recordações dos bravos de
1932.
- "Quantas daquelas fotografias não trouxeram a noivas e namoradas de Santos um
pedacinho de seu bem amado, entrincheirado em Silveiras, sob o fogo do inimigo e a intranqüilidade da saudade".
Romântico como ele só, sente-se feliz por ter colaborado com suas fotografias, para
restabelecer um pouquinho o ânimo daquelas senhoritas de 1932, que viram os noivos e namorados se lançarem numa revolução em defesa de São Paulo.
Mas nem tudo foi ouro sobre azul, lá nas bandas em que esteve entrincheirado o Pedro
Peressin. Disse ele que as coisas, em certas épocas, eram duras, principalmente quando aparecia o vermelhinho ou o pemba ou seja lá
como eram chamados os aviões inimigos daquela época. Contou, sem rodeios, que havia um, pilotado por um tal tenente Eduardo Gomes, que não dava
sossego à turma do Batalhão Naval. Mas, com isso, o "Barbado" não quis ser político, pois de uma maneira ou outra, não havia mesmo U.D.N. naquela
época...
Está faltando contar, entretanto, o melhor da festa... digo, a parte romântica da
Revolução Paulista, no setor onde estava o Pedro Peressin. Acreditem ou não, não é que o "Barbado" veio a se apaixonar, lá em Silveiras!!! E notem,
que ele já era casado.
- "Mas era tão bonitinha, tão doce a Lanour - diz ele - Servia-nos café, refeições,
tratava dos feridos, tudo com tanto carinho e com tanta dedicação que era de se ver. Estudava no curso normal da escola de Cachoeira e prestava
serviços em Silveiras, para o Batalhão Naval..."
E com essas e outras, acabou o já então "Barbado" por se apaixonar pela bonitinha e
doce Lanour. Mas como quem gosta de barba é só camarão, o nosso Pedro Peressin voltou a Santos, no final da campanha, e esqueceu a sua "paixão de
guerra".
Hoje, continua como repórter fotográfico do O Diário e é também um próspero
comerciante. Acima de tudo, Pedro Peressin é um valoroso ex-combatente de 19332, que só não combateu mesmo, por que nunca viu inimigo e porque a
fome era tanta, que tinha de matar passarinhos para se alimentar.
Ex-integrante do Batalhão Naval (para ficar mais certo), O Diário se orgulha
de ter em sua corporação jornalística um dos muitos santistas que, de uma maneira ou outra, brilhou na Revolução Constitucionalista que está
completando o seu jubileu de deflagração.
Pedro Peressin, o popular "Barbado", dono de brevê internacional após 10 anos de estudo teórico e
prático, na época do Movimento Constitucionalista, ocasião em que resolveu deixar crescer a barba, advindo daí seu apelido
Foto publicada com a matéria