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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SANTOS EM 1913 - BIBLIOTECA NM
Impressões do Brazil no Seculo Vinte - [26-c]

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Clique nesta imagem para ir ao índice da obraAo longo dos séculos, as povoações se transformam, vão se adaptando às novas condições e necessidades de vida, perdem e ganham características, crescem ou ficam estagnadas conforme as mudanças econômicas, políticas, culturais, sociais. Artistas, fotógrafos e pesquisadores captam instantes da vida, que ajudam a entender como ela era então.

Um volume precioso para se avaliar as condições do Brasil às vésperas da Primeira Guerra Mundial é a publicação Impressões do Brazil no Seculo Vinte, editada em 1913 e impressa na Inglaterra por Lloyd's Greater Britain Publishing Company, Ltd., com 1.080 páginas, mantida no Arquivo Histórico de Cubatão/SP. A obra teve como diretor principal Reginald Lloyd, participando os editores ingleses W. Feldwick (Londres) e L. T. Delaney (Rio de Janeiro); o editor brasileiro Joaquim Eulalio e o historiador londrino Arnold Wright. Ricamente ilustrado (embora não identificando os autores das imagens), o trabalho informa, nas páginas 318 a 321, a seguir reproduzidas (ortografia atualizada nesta transcrição):

Impressões do Brazil no Seculo Vinte

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Drs. Francisco Salles e José Gonçalves inspecionando gado numa fazenda perto de Formiga
Foto publicada com o texto, página 318. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

Agricultura e pecuária (cont.)

A pecuária – Já nos ocupamos, na introdução histórica deste artigo, dos inícios da indústria pastoril no país. Pela abundância dos seus campos e dos seus rios, o Brasil oferece as condições mais favoráveis ao desenvolvimento da indústria pecuária, sendo mesmo de admirar que até hoje ela não tenha um desenvolvimento sequer suficiente para as necessidades de consumo.

Existem por todo o território numerosas espécies de forragens indígenas das famílias das gramíneas e das leguminosas, as quais oferecem pasto amplo para muitos milhões de animais. Se tomarmos por base o grande consumo de carne de vaca feito no país, pode ser avaliado em cerca de trinta milhões o número de reses existentes no Brasil. As raças provêm dos cruzamentos entre raças ibéricas e raças holandesas, aclimatadas no século XVII, as quais formaram afinal a raça considerada indígena que, por sua vez, passou a se cruzar com as raças asiáticas, especialmente o zebu, introduzidas desde longa data.

De tempos, porém, a esta parte, os criadores, empenhados em melhorar o seu gado, têm importado as melhores raças européias. O maior empecilho ao desenvolvimento da criação de gado no Brasil tem sido a falta de transportes. As regiões dos grandes campos incultos são justamente os estados de Goiás e Mato Grosso,no centro e Oeste, e o de Piauí ao Norte, todos três quase inteiramente desprovidos de estradas de ferro, o que obriga o gado a longuíssimas caminhadas.

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Criação de gado no estado de São Paulo: 1 e 4) Posto Zootécnico do dr. Carlos Botelho; 2) Fazenda de criação no interior do estado; 3) Um touro desenvolvido
Foto publicada com o texto, página 319. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

No Rio Grande do Sul, também a indústria pastoril vai tomando grande desenvolvimento, mas o gado vacum é aí reduzido, na sua maior parte, à carne seca salgada, ou charque, que forma uma das grandes indústrias do estado, havendo ali cerca de 30 charqueadas que empregam mais de três mil trabalhadores. Avalia-se em quase 950 milhões de quilos a produção de charque no Brasil, durante os dez anos que terminaram em 1905.

Também em Minas Gerais a criação de gado vacum assume grande desenvolvimento, sobretudo para alimentar a já muito próspera indústria de laticínios do Estado. As raças cavalares do Brasil são de ascendência árabe, tendo sido os cavalos árabes introduzidos no país pelos portugueses. Mais tarde, juntaram-se também outras raças, puro-sangue inglesas e anglo-normandas, cujos cruzamentos determinaram boas espécies cavalares, como as que se encontram ainda hoje em vários estados, especialmente Minas Gerais, Paraná, Goiás, São Paulo e Rio Grande do Sul.

O cavalo curraleiro de Goiás é afamado por sua resistência, apesar do tipo pequeno; e em Minas Gerais estão sendo produzidas raças muito convenientes para o serviço militar. Em S. Paulo, o serviço de haras se acha perfeitamente organizado, junto ao Posto Zootécnico; e no Rio Grande do Sul, o dr. Assis Brazil, entre outros criadores, tem obtido excelentes cavalos de corridas.

Os burros que, por sua resistência, oferecem o meio de transporte mais seguro para as regiões montanhosas, são criados em grande número em todo o Sul, até Goiás e Bahia.

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Gado em Minas Gerais
Foto publicada com o texto, página 320. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

A criação de carneiros pode assumir grande importância no Brasil, tendo se verificado que a lã proveniente de carneiros brasileiros é de excelente qualidade. A raça que melhor se adapta às condições locais é a Southdown, mas o Posto Zootécnico de S. Paulo possui grande número de reprodutores Merinos de Rambouillet, Hampshire e ouras raças afamadas. Presentemente, a criação de carneiros só tem certa importância no Rio Grande do Sul e em S. Paulo.

Já as cabras têm o seu maior desenvolvimento nos estados do Norte, desde a Bahia até Piauí, sendo o Rio Grande do Norte o estado mais rico em cabras. Nos anos em que a seca não é longa, este último estado fornece mais de quatrocentas mil cabeças.

A criação de porcos está disseminada por todo o Brasil. Os portugueses introduziram na antiga colônia diversas espécies das suas possessões asiáticas, as quais produziram diversas sub-raças brasileiras, das quais as mais afamadas são a canastra, o canastrão e a mestiça. Estas estão sendo cruzadas com as melhores raças européias – Yorkshire, Leicester, Napolitana, Rolandt, Hampshire etc. – dando os melhores aperfeiçoamentos.

Rio Grande do Sul, Goiás, Rio de Janeiro e Santa Catarina são os estados em que a criação de porcos tem tido maior desenvolvimento. No Rio Grande do Sul, essa criação alimenta uma próspera indústria de mortadelas; e de Goiás faz-se grande exportação de toucinho, bem como de porcos vivos,para Minas e S. Paulo.

O Ministério da Agricultura tem dado também a sua atenção ao desenvolvimento da indústria pecuária, já estimulando a importação de reprodutores estrangeiros, já criando postos zootécnicos e fazendas-modelo de criação, já finalmente criando estabelecimentos de veterinária para combater as doenças que atacam o gado em diferentes pontos do país.


Cacique, touro zebu puro sangue. Comprado por 7 contos, e vencedor da medalha de ouro na Exposição Agro-Pecuária de Uberaba. Propriedade de Joaquim Machado Borges, Fazenda Cascata
Foto publicada com o texto, página 321

Do que fez esse ministério, durante o ano passado, em bem da indústria pastoril, dão conta os seguintes tópicos da mensagem presidencial de 1912: "Particularmente empenhado em fomentar o aperfeiçoamento progressivo e o desenvolvimento da indústria pecuária no Brasil, o governo tem procurado disseminar pelos centros pastoris postos zootécnicos e fazendas-modelo de criação, cujo objetivo é estudar teórica e praticamente todos os assuntos relativos à criação do gado e melhoramento das respectivas raças.

"Já se acha instalado o Posto Zootécnico de Pinheiro, no estado do Rio de Janeiro, e em construção o de Ribeirão Preto, no estado de S. Paulo, e o de Lages, no estado de Santa Catarina, modelados ambos pelo seu congênere de Pinheiro. As fazendas-modelo de criação, instituídas pelo decreto nº 9.217, de 18 de dezembro de 1911, visam difundir entre os criadores os conhecimentos de zootécnica e higiene do gado e se propõem a fazer a seleção sistemática do gado indígena das diversas espécies úteis, a aclimatar e multiplicar animais de raças européias aperfeiçoadas, julgadas capazes de melhorar as espécies autóctones, e a produzir cavalos do tipo exigido e apropriado à remonta das nossas forças militares.

"Já existem instalados dois estabelecimentos dessa natureza, um no estado do Paraná e outro no estado do Rio de Janeiro, devendo instalar-se o terceiro, brevemente, no município de Uberaba, estado de Minas Gerais. Os rebanhos que esses estabelecimentos possuem são numerosos e seletos e apropriados ao fim a que se destinam, constituídos por animais finos das raças européias especializadas para determinadas funções econômicas. A 21 do mês transato foi inaugurada, solenemente, a Escola Média ou Teórico-Prática de Agricultura, anexa ao Posto Zootécnico Federal, na estação de Pinheiro, estando matriculados no 1º ano do respectivo curso 35 alunos.

"De acordo com o regulamento anexo ao decreto de 25 de janeiro de 1911, entraram no país, procedentes da Europa, Ásia, Estados Unidos e Argentina, 508 animais de diversas espécies de raças, destinados à reprodução nas propriedades de 103 criadores, nos estados de S. Paulo, Rio de Janeiro, Minas, Paraná, Rio Grande do Sul, Amazonas, Bahia, Pernambuco e Ceará e no Distrito Federal. Foram concedidos transportes para 1.093 animais diversos, pertencentes a 138 criadores. Foi criado em Belo Horizonte, no estado de Minas, um Posto de Observação, tendo uma enfermaria para animais, devendo ser instalados no corrente ano mais dois postos veterinários, em Campos e na Vitória, nos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo.

"As obras do edifício do embarcadouro e desembarcadouro de gado no porto do Rio de Janeiro já foram iniciadas. Junto à Inspetoria foi instalado, na cidade de Florianópolis, estado de Santa Catarina, um instituto Pasteur, seguindo para a mesma cidade uma comissão com instruções organizadas pela diretoria, para dar combate à epizootia de raiva que, de algum tempo a esta parte, flagela com intensidade o gado da região litorânea daquele estado. Têm sido distribuídos, gratuitamente, aos criadores, soros e vacinas diversas, preventivos e curativos das epizootias mais comuns aos animais domésticos, bem como atendidas com presteza as requisições de profissionais veterinários para providenciarem sobre o tratamento e profilaxia das moléstias reinantes.

"Sob a presidência do ministro da Agricultura, reuniram-se nesta capital, em fins do ano passado, os delegados dos governadores e presidentes dos estados para acordarem sobre as bases da organização de um serviço de polícia sanitária animal efetivo em todo o território da República. Convidado, o Brasil se fez representar no Congresso de Polícia Sanitária Animal e Medicina Veterinária que, por iniciativa do governo da República Oriental do Uruguai, deve nesta data estar reunido em Montevidéu".


Esplêndido espécime de touro zebu, Lontra, neto do famoso Lontra vencedor da medalha de ouro na Exposição Agro-Pecuária, aos 2 anos de idade. Propriedade de José Caetano Borges, Fazenda Cassu
Foto publicada com o texto, página 318

Fazenda Cassu

Fica esta fazenda no município de Uberaba, a 9 quilômetros da cidade do mesmo nome, à qual está ligada por uma boa estrada e rodagem e uma linha telefônica. A fazenda, que é cortada pela Estrada de Ferro Mogiana, tem de área 800 hectares, pequena parte dos quais destinados à agricultura e o restante à criação de gado bovino zebu, das raças Nelore e Gujerat, que se dão otimamente no Brasil.

O proprietário da fazenda, sr. José Caetano Borges,importou da índia o primeiro lote de gado, o qual compreendia, entre bois e vacas, 47 cabeças; mais tarde, mandou vir outros lotes. Sendo o clima de Uberaba, bem como o de todo o estado de Minas Gerais e de outros estados, superior ao da Índia, o gado zebu criado na zona é muito melhor que o importado.

A fazenda está dividida em duas seções, com 28 subdivisões, todas elas cercadas a arame farpado, de pastagens naturais e cultivadas. Há também na propriedade matas virgens e capoeiras com excelentes e variadas madeiras. Todas as dependências da fazenda são iluminadas a eletricidade, para o quê há um dínamo acionado por um motor da força de 4 cavalos.

A produção anual da propriedade vai de 500 a 600 cabeças, sendo 200 de puro sangue e as restantes de 7/8 para cima. Os animais puro-sangue são vendidos ao preço de Rs. 700$000 até Rs. 2:000$000 e os outros de Rs. 200$000 a Rs. 600$000. Os produtos desta fazenda foram premiados com medalhas de ouro em diversas exposições em Uberaba e Belo Horizonte.

O pai do atual proprietário rejeitou, em tempo, a oferta de Rs. 42:000$000 por um reprodutor zebu, nacional, de nome Lontra, do qual existe na fazenda numerosa descendência. Atualmente, entre os reprodutores puro-sangue importados ou criados na fazenda, figuram os belos touros Lontra, Panamá, Pachá, Pará, Durban e Togo. Os estábulos da fazenda obedecem às condições mais modernas e apropriadas. A casa de moradia do proprietário é dotada de todo o conforto.

O sr. José Caetano Borges, dono da fazenda, é filho do falecido sr. Antonio Borges de Araújo e d. Maria Brigida de S. José. Nasceu em 1873, em Uberaba, onde foi educado. Desde os 16 anos se ocupou na fazenda paterna, que é hoje propriedade sua. Comprou outra fazenda anexa à Cassu e possui ainda uma terceira, no estado de Goiás, ambas com campos naturais e matas virgens, onde se encontram excelentes madeiras. É também proprietário dum prédio e alguns terrenos em Uberaba.


Lontra, touro zebu puro sangue, aos 3 anos de idade. comprado por 42 contos de réis, e pai de uma prole avaliada em mais de 200 contos. Propriedade do sr. José Caetano Borges, Fazenda Cassu
Foto publicada com o texto, página 320

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