Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/santos/h0300g06b.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 11/23/09 23:58:29
Clique na imagem para voltar à página principal
HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SANTOS EM 1913 - BIBLIOTECA NM
Impressões do Brazil no Seculo Vinte - [06-B]

Leva para a página anterior

Clique nesta imagem para ir ao índice da obraAo longo dos séculos, as povoações se transformam, vão se adaptando às novas condições e necessidades de vida, perdem e ganham características, crescem ou ficam estagnadas conforme as mudanças econômicas, políticas, culturais, sociais. Artistas, fotógrafos e pesquisadores captam instantes da vida, que ajudam a entender como ela era então.

Um volume precioso para se avaliar as condições do Brasil às vésperas da Primeira Guerra Mundial é a publicação Impressões do Brazil no Seculo Vinte, editada em 1913 e impressa na Inglaterra por Lloyd's Greater Britain Publishing Company, Ltd., com 1.080 páginas, mantida no Arquivo Histórico de Cubatão/SP. A obra teve como diretor principal Reginald Lloyd, participando os editores ingleses W. Feldwick (Londres) e L. T. Delaney (Rio de Janeiro); o editor brasileiro Joaquim Eulalio e o historiador londrino Arnold Wright. Ricamente ilustrado (embora não identificando os autores das imagens), o trabalho informa, nas páginas 40 a 47, a seguir reproduzidas (ortografia atualizada nesta transcrição):

Impressões do Brazil no Seculo Vinte


Mamoeiros
Imagem publicada com o texto, página 44

Flora (b)

Dr. J. R. Monteiro da Silva,

 vice-presidente da Sociedade Nacional de Agricultura

 e comissário do Ministério da Agricultura.

Madeiras

O Brasil que possui, sobre a vastidão de sua área, principalmente na bacia amazônica e ao longo da costa oriental, imensas florestas atravessadas por caudalosos rios - entre os quais o Amazonas e seus afluentes constituem verdadeiros mares internos - é um dos países mais ricos de madeiras. E tanto isto é real, que cada hectare em floresta pode ter o valor de 4:000$ em madeiras.

As árvores colossais, algumas das quais medem até 10 metros de circunferência, como geralmente acontece com as espécies denominadas jequitibás, podem dar uma média de 10 toneladas de madeira cada uma, depois de cortadas. Todas as espécies são abundantes, constituindo grandes viveiros, de todas as idades; de maneira que o suprimento não se esgotará tão cedo, com o desenvolvimento das árvores pequenas.

As madeiras de cerne são as mais abundantes, apresentando, quase sempre, um desenho delicado no lenho duro, revesso, com ondulações brilhantes e belo polimento.

Grandes rios navegáveis, que atravessam frondosas florestas, proporcionam transportes baratos e fáceis, para a produção das florestas em suas margens; de sorte que os preços da madeira em toros, nos portos marítimos, variam de 10$ a 15$ a tonelada, ao passo que, nos mercados, quando transportada por estradas de ferro, os preços sobem a 60$ e 80$. O jacarandá (Pallissandre) é exportado para o Havre e Hamburgo, onde alcança preços fabulosos. O monopólio do comércio de madeiras nestes portos prejudica imensamente a sua exportação em maior escala. Os donos da mercadoria exigem preços elevados aos construtores, que, por sua vez, pedem caro pelos seus móveis, tornando-os um objeto de luxo, quando, se fossem baratos, se tornariam acessíveis a todas as bolsas.

Como uma demonstração de grande lucro dos intermediários, o preço de uma dúzia de jacarandás, que pese oito toneladas, custa ao exportador 600$ e mais 200$ de transporte, 80$ de imposto e 200$ para limpar e conduzir a bordo; ao todo 1:080$. Cada tonelada é vendida por 600 francos em leilão, e ao fabricante custa 1.000 francos a mesma tonelada, serrada. A exportação em 1950 foi de 355:043$.

Os estados do Sul, nos planaltos, possuem florestas imensas de pinheirais (onde já se encontram serrarias aperfeiçoadas para o desdobramento da madeira em coiceiras e tábuas) e fornecem aos mercados internos, assim como exportam para a República Argentina, que fica próxima. A exportação em 1906 foi de 208:211$.

O capital tem vasto campo de exploração nas madeiras do Brasil. Estabelecendo-se serrarias dentro das florestas, para o primeiro preparo das coiceiras, o negócio deixa enorme margem para lucros. Cada árvores é vendida pelos proprietários por 5$ e produz uma média de 10 toneladas, ou 500 réis cada uma. Com a puxada, serragem e transporte até o porto fica em 15$. O transporte até o Havre ou Antuérpia 25$, com 5% de imposto, são ao todo 45$ cada tonelada de madeiras para todas as aplicações industriais, desde a mais luxuosa mobília até a coronha de espingarda e cabos de ferramentas.

Só a margem do Rio Itabapuana, no estado do Espírito Santo, calcula-se que possui 8.000:000$ em madeiras, fazendo-se o preço de 5$ a tonelada. A Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Rio de Janeiro, Amazonas, Pará e Maranhão, têm madeiras de lei para suprir o mundo durante séculos. Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e o planalto de Minas Gerais têm pinheiros e diversas espécies para várias confecções. As madeiras brancas abundam por todo o país, e a sua aplicação para caixotaria, embalagem, palitos e caixinhas de fósforos, já tem regular procura porque vão sendo mais conhecidas.

Infelizmente, possuindo as florestas do Brasil tantas variedades de madeiras para todas as aplicações, ainda se importa em grande escala o pinho branco americano, o sueco e o russo, devido à falta de iniciativa e à carestia de transporte, que só agora vão sendo removidas.

Chega mesmo ao cúmulo da anomalia esta situação dum país, possuindo as maiores e mais ricas florestas do mundo - destinadas talvez a proverem o consumo mundial de madeira, num futuro não muito remoto, em que as florestas do Canadá e da Austrália forem dadas por esgotadas - e obrigando a importar madeiras, até para dormentes de estradas de frro que cortam essas mesmas florestas.

Este é o caso, entre outros, da estrada de ferro Madeira-Mamoré, que atravessa a rica zona florestal das margens do Madeira, e cuja empresa, depois de tentar obter fornecimento de dormentes das florestas amazônicas, foi obrigada a importá-los do Canadá e da Austrália. E isso por duas razões.

A primeira é que a escassíssima população do Amazonas - onde se acham as maiores florestas do país - é de todo insuficiente para fazer a extração da borracha, operação esta mais lucrativa do que qualquer outra indústria, razão pela qual ninguém se propõe a explorar as florestas ou fazer qualquer outra coisa que não se relacione com a extração ou o comércio da borracha. Em vista disso, a companhia não pôde obter senão uma quantidade insuficiente de material.

Mas, além de insuficientes, esses poucos dormentes lhe ficavam por tal preço que lhe pareceu, não só mais seguro, como também mais barato, pagar o preço e mais o transporte de dormentes vindos da Austrália, isto é, com quase dois meses de viagem. Este, por ser o mais característico, não é caso único, como seria fácil mostrar.

Dada, pois, esta circunstância anômala, as madeiras do Brasil, e especialmente as da região amazônica, que provocam os maiores elogios nas muitas exposições a que têm concorrido, não têm sido até aqui uma fonte de riqueza para o país, mas apenas uma grande reserva, de que poderão vir a tirar grandes lucros os capitais que - favorecidos, mais tarde, pelas condições de transporte e outras garantias do governo brasileiro - se decidirem a explorá-la resolutamente.

Madeiras para construções civis - Angelim amargoso (Andira anthelminthica, Benth.) - cerne amarelo, quando recentemente serrado, passando à cor parda algum tempo depois. Aplicação: engradamento de casas, tendo a propriedade de resistir aos insetos, principalmente ao cupim, que não o persegue devido ao princípio amargo - um alcalóide - que contém nos tecidos. Só por este fato merece o mais vasto emprego nos climas quentes e úmidos em que as madeiras são vorazmente atacadas pelos térmitas ea vários outros insetos. Altura, 20 a 25 metros; diâmetro, 1 a 2 metros.

Angelim pedra (Andira spectabilis, Sald. Gam.) - cerne de fibras salientes e escuras, lenho pesado. Aplicação: engradamento e obras imersas; muito resistente e imune aos insetos. Altura, 25 a 30 metros; diâmetro, 1 a 2 metros.

Arapoca vermelha (Galipea rudra, Mart.) - cerne vermelho, tecido compacto. Aplicação: madeiramento interno, barrotes, vigamento e frechais etc.

Araçá do mato ou guarajuba (Psidium araça, Raddi.) - cerne roxo claro, com veios escuros; tecido compacto. Aplicação: assoalho, vigamento, portaladas etc.

Angico (Piptadenia rigida, Benth.) - cerne vermelho com manchas escuras, lenho pesado e compacto. Aplicação: madeiramento interno. É uma árvore de muita utilidade: presta-se para o replantio das matas nos lugares devastados, de crescimento rápido, mais rápido do que o próprio eucalipto; o seu tronco produz boa madeira; a casca contém curtim e exsuda uma goma de muita aplicação na indústria de chapéus, e os galhos dão excelente lenha. Nas proximidades das cidades e à margem das vias férreas, dever-se-ia cultivar o angico como produtor de boa madeira, boa lenha, dormentes rijos, curtim, goma; e a casca ainda é muito medicinal.

Bicuíba (Myristica becuhyba, Schott.) - cerne vermelho, tecido poroso. Aplicação: caibros, vigamentos e móveis baratos. As sementes contêm 48% de óleo denominado sebo de bicuíba, que, empregado como lubrificante, evita a ferrugem.

Canela preta ou prego (Nectandra amara, Mees.) - cerne pardo escuro; tecido compacto. Aplicação: tabuado para assoalho e forro, vigamento.

Grapiapunha ou garapa (Apuleia precox, Mart.) - cerne amarelo, de um ondeado característico; lenho muito compacto. Aplicação: excelente madeira para tabuado, portaladas e vigamentos.

Guapeva vermelha (Lucuma laurifolia, De Cand.) - cerne vermelho compacto. Aplicação: baldrame e engradamento.

Oiticica (Soaresia nitida, Fr. Allem.) - cerne vermelho claro com linhas brancas. Aplicação: engradamento e assoalho.

Canela capitão-mor (Nectandra myriantha, Meissn.) - cerne amarelo com listas pretas. Aplicação: engradamento e obras internas.

Cutucanhe (Phopala brasiliensis) - cerne vermelho claro com achamalotado característico. Aplicação: vigamento e todas as construções civis.

Madeiras para construção naval, obras hidráulicas e imersas - Tapinhoã -  cerne amarelo pardo com veios mais escuros, tecido compacto e muito cruzado. Aplicação: construção de navios e qualquer obra hidráulica, pois resiste à umidade e à água salgada. Presta-se também para esteios, estacadas ou dormentes, e ainda para a fabricação de tonéis, pipas e barris, representando no Brasil o mesmo papel do carvalho na Europa. Altura, 25 a 30 metros; diâmetro, 0,80 a 2 metros.

Peroba parda ou ipê peroba (Aspidosperma gomesianum, Fr. Allem.) - cerne pardo com veios mais escuros. É a madeira mais empregada no Brasil pela sua resistência e durabilidade; presta-se para construções navais, obras hidráulicas, armações de casas, móveis de luxo e construções civis. No Rio de Janeiro, é a madeira mais procurada. Quem não conhece as magníficas mobílias de peroba, que têm sempre procura e são as preferidas pelas famílias abastadas? Para assoalho, é a primeira madeira, não só pela duração, como pela beleza dos desenhos. Mas é nas construções navais que se pode avaliar o seu enorme consumo, sendo ela empregada com vantagem nas cavernas dos navios de guerra, nas quilhas etc. A peroba das montanhas é mais escura e revessa; a da várzea e baixada, mais amarela, ondeada, e mais resistente para obras hidráulicas. É muito abundante nos estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo. Altura, 30 a 35 metros; diâmetro, 1 a 3 metros.

Peroba amarela ou de campo (Aspidosperma peroba, Fr. Allem.) - cerne amarelo com ondulações muito interessantes; tecido compacto e resistente. As mesmas aplicações da precedente, marcenaria, escadaria, vagões e armações. Altura, 30 a 35 metros; diâmetro, 1 a 3 metros.

Ipê preto ou ipê una (Tecoma curialis, Fr. Allem.) - cerne pardo escuro, tendo um pó louro entre as fibras. Aplicação: obras de porto, estacadas e todas as obras hidráulicas. Os argentinos a denominam Lapacho e têm uma grande confiança em sua durabilidade. Altura, 25 a 30 metros; diâmetro, 1 a 2 metros.

Maçaranduba vermelha ou apraiú (Lucuma procera, Mart. ) - cerne vermelho homogêneo, tecido resistente e muito compacto. Aplicação: obras imersas, estacadas e qualquer obra hidráulica, dormentes. Há um gênero, Mimnusops, que é próprio do extremo Norte, sendo a Mimusops elata, Fr. Allem., a verdadeira maçaranduba vermelha. A espécie de que tratamos encontra-se na Serra do Mar, desde o estado do Rio até a Bahia. O tronco deixa exsudar um látex que, coagulado, presta o mesmo serviço da guta-percha.

Jatobá ou jataí (Hymenoea courbaril, Linn.) - aplicação: rodas d'água, esteios, estacadas e obras imersas.

Madeiras para dormente - Sapucaia mirim (Lecytis minor, Velle) - cerne vermelho intenso com veios escuros. Aplicação: qualquer obra que demande resistência e duração. Excelente para dormentes, esteios e cercas. Altura, 25 a 30 metros; diâmetro, 0,80 a 2 metros.

Pau-ferro (Swartzia tomentosa) - cerne de cor parda avermelhada; tecido rijo e compacto. Pela sua resistência e durabilidade é muito procurado para dormentes. É tão duro que quebra o machado. Altura: 12 a 15 metros; diâmetro, 40 a 80 centímetros.

Sapucaia (Lecythis pisonis, Cambe.) - cerne vermelho e lenho duro. Aplicação: dormentes, cercas, esteios, mourões. Pode ser rachada perfeitamente. A casca produz uma excelente estopa para calafetar embarcações.

Mocitaíba preta (Zollernia nigra, Fr. Allem.) - cerne vermelho pardo com veios escuros. Aplicação: dormentes e esteios.

Óleo pardo, jataúba, óleo de macacão (Myrocarpus frondosus, Fr. Allem.) - cerne pardo com veios pretos. Excelente para chão, como dormentes e calçamento de ruas e pavimentos térreos.

Braúna, graúna, maria-preta (Melanoxylon brauna, Schott.) - Cerne da cor de pó de café escuro. É uma das madeiras mais resistentes das florestas do Brasil. Além da braúna preta, há mais duas variedades: braúna maneca e braúna parda, que são inferiores em resistência e durabilidade. Para dormentes, é uma das mais próprias; em esteios de casas, mourões, cercas e estacadas, ou qualquer obra no subsolo, dura um século e mais.

Chibatã, ubatã (Astronium commune, Jacq.) - cerne vermelho pardo; tecido compacto. Excelente madeira para dormentes.

Ipê tabaco (Tecoma ipe, Mart.) - cerne pardo esverdeado. Produz, quando é serrado, um pó que faz espirrar os carpinteiros e serradores; pó amarelado, que se forma nos intervalos do tecido fibroso e é conhecido por tabaco de ipê. É um alcalóide natural, aplicável nas moléstias sifilíticas. Aplicação: estacadas, mourões, dormentes, em geral todas as obras imersas. É uma das melhores madeiras das florestas. Altura, 25 a 30 metros; diâmetro, 0,60 a 1 metro.

Carobuçu (Jacaranda copaia, Don.) - cerne preto de tecido compacto e fibras entrelaçadas. Aplicação: dormentes, mourões, cercas e cubos de moinho.

Aroeira da mata (Schinus aroeira, Linn.) - cerne escuro e avermelhado; lenho muito pesado e compacto, de uma rigidez de ferro. Enterrada, como esteio, dura eternamente. A madeira contém tanta matéria extrativa tânica como o quebracho argentino, podendo substituí-lo na indústria do curtim. Há também aroeira do campo e aroeira da praia.

Madeiras para marcenaria e placagem - Jacarandá cabeúna (Dalbergia nigra, Fr. Allem.) - cerne de cor chocolate, com veios pretos; tecido ondulado, de um belo efeito. Madeira especial para mobílias de luxo e para pianos. A Europa importa grande quantidade desta espécie e bem assim dos jacarandás tan e violeta, que se denominam englobadamente Palissandre. A exportação desta madeira está concentrada no Espírito Santo e Sul da Bahia. Em vista do seu preço elevado, é empregado em placagem. Altura, 15 a 20 metros; diâmetro, 0,40 a 1 metro. Preço de procedência: 800$ a 1:000$, a dúzia de toras, pesando 8 toneladas mais ou menos. Imposto no Espírito Santo: 9$300 por m³.

Gonçalo Alves (Astronium fraxinifolium, Schott.) - cerne vermelho desbotado, com veios pretos, de um efeito muito bonito. Rica madeira para móveis e placagem, pela sua dureza e brilho de suas ondulações. Há quatro variedades: preto, rajado, sabão e amarelo, também conhecido por aroeira do sertão. Altura, 25 a 30 metros; diâmetro, 1 a 3 metros.

Óleo vermelho (Myrospermum erythroxylum, Fr. Allem.) - cerne vermelho; é um mogno sem veios; tem um perfume delicioso. Aplicação: móveis de luxo, eixos de carro. A casca e a madeira propriamente dita contêm uma essência tão ativa e penetrante que poderia substituir o sândalo em suas variadas aplicações. Altura, 20 a 25 metros; diâmetro, 0,80 a 2 metros.

Pequiá marfim (Aspidosperma eburneum, Mart.) - cerne amarelo claro, cor de flor de enxofre. Aplicação: marcenaria, confecção de móveis e objetos de luxo, caixas para jóias etc. Altura, 15 a 20 metros; diâmetro, 0,40 a 0,80 metro.

Carne de vaca (Rhopala elegans, Schott.) - cerne cor de carne, com o tecido achamalotado. Aplicação: móveis, bancos, mesas, travessas de bondes e vagões.

Araribá amarelo, putumuju (Centrolobium robustum, Mart. ) - cerne amarelo vivo, com veios cor de ouro, de muito bonito efeito. Aplicação: móveis de luxo; o lenho absorve perfeitamente o verniz e tintas diversas.

Peroba revessa (Aspidosperma) - é uma variedade de tecido da própria peroba amarela e ipê peroba. As fibras são de tal modo entrelaçadas que dão um belo aspecto ao lenho d a madeira, que é muito procurada para móveis de valor por causa de sua anormalidade. As perobas amarelas e o ipê peroba são empregados em móveis, que são os mais cotados no Rio de Janeiro.

Imbuia (Nectandra sp.) - cerne pardo, com veios pretos muito bonitos, produzindo belo aspecto. Excelente madeira para móveis de luxo e armações de gosto.

Vinhático (Echirospermum balthazaru, Fr. Allem.) - cerne amarelo, com veios e poros visíveis. Aplicação: móveis e armações, sendo considerada uma das primeiras. Apresenta as variedades "testa de boi" e "flor de algodão". Altura: 25 a 30 metros; diâmetro, 1 a 3 metros.

Sebastião de Arruda (Physocabymma floridum, Pohl.) - cerne de lenho compacto, com veios paralelos vermelhos, amarelos escuros e roxos. Preciosíssima madeira rara, para móveis de luxo, bengalas e placagem. Preço de procedência: 50$ a 60$ o m³.

Guatambu amarelo (Aspidosperma sessiliflorum) - cerne amarelo canário. Aplicação: mobílias e placagem. Preço de procedência: 40$000.

Muirape-nima, pau-tartaruga (Brosimum discolor, Aubletil.) - cerne cor de chocolate, com manchas pretas imitando a tartaruga. É uma das mais belas madeiras do Brasil. Serve para móveis de luxo, bengalas e obras de marchetaria, sendo duríssima. Altura, 4 a 8 metros; diâmetro, 0,30 a 0,50 m. Preço de procedência, 50$ a 60$000 o m³. Vale do Amazonas.

Muirapiranga (Mimusops balata, G.) - cerne vermelho, quase roxo, muito resistente e pesado. Aplicação: mobílias. Área: vale do Amazonas e Maranhão.

Madeiras para esquadras, segeria etc. - Cedro rosa (Cedrela brasiliensis, St. Hil.) - cerne cor de rosa, aromático, macio, com os poros visíveis. Aplicação: muito empregado para esquadrias, caixas para charutos e confecções de lápis, sendo muito leve e macio. Altura, 25 a 30 metros; diâmetro, 1 a 3 metros.

Canjirana (Cabralea cangerana, Sald. Gam.) - cerne vermelho, igual ao cedro, com o qual se confunde; é muito aromático o lenho. Madeira de primeira qualidade para tabuado, esquadrias, portaladas etc.

Jequitibá rosa (Couratari legalis, Mart. ) - cerne vermelho róseo, tecido frouxo. Madeira de lenho leve, que se emprega para forro, esquadria, vagões de estrada de ferro e bondes. É uma das maiores árvores das florestas, verdadeiro tipo de elegância e majestade. Altura, 30 a 35 metros; diâmetro, 1 a 6 metros.

Roxinho ou gurubu (Peltogyne discolor) - cerne roxo. Aplicação: raios de roda e varais de carroça. Atualmente se emprega também, conjuntamente com a peroba, para assoalho.

Sucupira (Bowdichia major, Mart.) - cerne pardo avermelhado, fibras salientes. Muito empregada para cambotas e mesa de carro. Excelente também para dormentes, esteios e obras imersas.

Jaguá ou Pirutinga - cerne branco amarelado. Aplicação: cabos de ferramenta. Madeira macia e polida, não esquentando a mão.

Pau Pereira (Geissospemum vellosii, Fr. Allem.) - cerne amarelo desbotado. Aplicação: cabos de enxada, foice, picareta etc.

Catuaba falsa (Myrtacea) - cerne vermelho desbotado. A melhor madeira para cabos de enxada.

Louro pardo (Cordia exelsa, Mart. ) - para caixotaria, palitos e caixinhas de fósforos.

Caixeta (Tabebuia obtusifolia, Bur.), bóia ou unha d'anta (Sterculia chichá, St. Hilaire), bacurubu (Schizolobium excelsum, Vogel.), pinho do brejo (Talauma ovata, St. Hil.), gameleira (Urostigma doliarum, Miq.), pinho do Paraná (Araucaria brasiliensis) - as mesmas aplicações.

Monjolo cambui (Enterelobium lutescens, Fr. Allem.), monjolo preto (Enterelobium sp.), jacaré (Enterelobium monjolo, Mart.), angico vermelho (Piptadenia rigida, Benth.), angico branco (Piptadenia sp.), mangalô folha larga (Peraltea erythrinoe folia, Mart.), copaíba (Copaifera Langsdorff) - para coronhas de espingarda.


Palmeiras selvagens
Foto publicada com o texto, página 45

Fibras

Esta importante indústria vai tomando certo incremento no Brasil, onde algumas companhias se vão formando para a exploração de plantas têxteis. A Cooperativa Sanseveriana, em Macaé, foi instalada na Fazenda de Sant'Antonio, cedida graciosamente pelo Governo do Estado do Rio, como estímulo à nascente indústria de tanto consumo mundial.

Uma companhia com o capital inicial de 200:000$ foi fundada no próspero estado do Rio Grande do Sul, para a cultura da piteira (Foucroya gigantea, Vent.), que é um vegetal já aclimado, dando 3 a 4% de superior fibra, já conhecida nos mercados pelo nome de Maurice Hemp.

A indústria do rami (Bohemeria Nivea, Grand.), em pouco tempo será uma realidade, encontrando nas baixadas fluminense e espírito-santense o seu terreno favorito, silico-argilo-humoso, e uma atmosfera úmida e quente, com chuvas regulares, que ele tanto aproveita, adquirindo todo o seu vigor e crescimento. Já começam a aparecer capitais franceses para explorar a cultura e a tecelagem dessa importante fibra.

Ativos industriais, também franceses, entusiasmados com o futuro da fibricultura no Brasil, tratam de requerer vastos territórios para a cultura de plantas que julgam ser de maior percentagem e de mais pronto e fácil aproveitamento, incluindo muitas indígenas, como: gosmenta, guaximas, vassouras, linho perini, vinagreira etc., e outras exóticas de grande percentagem, como o rami, sisal, sanseveria, piteira etc., que encontram as melhores condições de solo e clima para o seu franco desenvolvimento.

O Brasil, que importa anualmente mais de 9.000:000$ de juta, cânhamo, sisal para as suas fábricas de cordoalha e aniagem, não pode ficar indiferente ao desenvolvimento dessa indústria agrícola, que virá suprir as suas fábricas e preparar um importante artigo de exportação.

Já no município de Valença, um ativo industrial belga, o sr. Mahieu, possui extensa cultura de piteira, onde fabrica cordas comuns, cabos alcatroados tão bons como os melhores importados. Outros pequenos lavradores plantam milhares e milhares de piteiras e a Sociedade Nacional de Agricultura já tem distribuído gratuitamente mudas de sisal, henequem, piteira e outras.

Custando cada 5 hectares de superiores terras de 50$ a 100$ nas melhores zonas, servidas por estradas de ferro e rios navegáveis, a ocasião é a mais favorável para o capitalista adquirir ótimas terras baratas, aproveitando a uberdade do solo para fibricultura e outras explorações agrícolas. Possante quedas d'água para força motriz, a proximidade dos mercados e portos de embarque, clima ameno, regularidade de estações, tudo isso faz com que o capital possa ser compensado com liberalidade.

Guaxima (Urena lobata, Cav.) - Sub-arbusto muito comum nos pastos abandonados, velhas palhadas e muito abundantes no interior do Brasil. Só os depósitos naturais podem produzir milhares de toneladas de boa fibra. A sua cultura é facílima, bastando não capinar os guaximais para não mais se acabarem. Os lavradores consideram-na uma praga e não sabem como destruí-la.

As plantas novas e colhidas antes de inflorescência dão melhores fibras, mais alvas e macias. No quarto mês, depois de semeadas, já estão aptas para produzir fibras; e, pela cultura racional, se conseguem hastes longas de 3 a 4 metros e sem ramificação. Em São Paulo é conhecida pelo nome de "aramina" e no Amazonas pelo de "uaicima". Aplicações: cordoalha, tecelagem. Área: todos os estados da União.

Gosmenta (Urena sylvestre) - É uma malvácea do mato, muito abundante e de cultura fácil, de liber rico e de fibras alvas, longas e resistentes. Não exige mais de 4 meses para alcançar o período de aproveitamento. Nestas condições, podem ser aproveitadas três vezes durante o ano; quer dizer que a mesma produz três colheitas de um vegetal de grande valor industrial.

A vantagem dessas fibras é o seu comprimento de 2 a 3 metros. É o vegetal indígena mais rico de fibras. Aplicação: cordoalha, sacaria. Área: os estados centrais do Brasil, em cujas florestas se encontram viveiros de milhares de pés.

Vassoura (Sida carpinifolia, Lin.) - Planta comum em toda a parte, detestada pelos agricultores pelo seu apego ao solo. Dá uma excelente fibra que pode substituir até o linho. Nos lugares mais úmidos e sombreados, pode alcançar um a dois metros de comprimento. A haste se bifurca, não deixando de enfraquecer os fios, mas com uma cultura inteligente este defeito poderá ser corrigido. Bastam 3 a 4 meses para produzir fibras, dando de 3 a 4 colheitas por ano. É, porém, necessária a semeadura para se conseguirem hastes direitas. A brotação tem o inconveniente de ramificar-se, prejudicando a boa qualidade da fibra. Área: Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo e Bahia.

Palmito doce (Euterpe edulis, Mart.) - O seu caule (estipite) novo dá excelente fibra, igual à piaçava, que se presta para o fabrico de vassouras, escovas etc. O suco fresco, que se faz espremer do palmito novo, é um excelente mostático. Possui uma sensação de queimadura, mas o sangue pára e a ferida cicatriza em poucos dias. O suco conservado por alguns dias fermenta e produz muito álcool. O rebento terminal ou o palmito é muito apreciado na culinária. Área: Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Bahia.

Palmito amargoso (Cocos nikaneana, Mart.) - As cascas do rebento ou palmito, quando deixadas n'água corrente por alguns dias (8 a 10), dão uma excelente fibra, muito resistente, que se presta para o fabrico de vassouras, escovas, tapetes, capachos etc. Pode-se aproveitar o palmito para a culinária, pois é gostoso e estomacal. As vassouras mais duradouras fabricadas no interior, são justamente as de palmito amargo ou palha branca. Área: Espírito Santo, Rio de Janeiro.

Gravatá de rede (Bromelia Sagenaria, Ar. Cam.) - Em toda a costa do Brasil existe este gravatá, tomando em alguns lugares tal desenvolvimento que as folhas chegam a ter 2 metros e mais de comprimento. As populações praianas tiram muita fibra desta planta para fazer redes, tarrafas, linhas de anzol, cordas etc. Infelizmente, a pequena quantidade só dá para o consumo local, não se fazendo nenhuma exportação. Logo que aparecerem máquinas apropriadas e baratas, o imenso viveiro natural poderá ser desfibrado, produzindo milhões de quilos que irão fornecer às fábricas de superior fibra, própria para tecidos finos. Além dessa qualidade, existem outras variedades também fibrosas de fácil exploração e grande abundância.

Piteira (Foucroyha gigantea, Vent.) - As fibras dessa espécie já são vulgares nas fábricas de cordoalhas e aniagem, sendo conhecidas na Europa pelo nome de Maurice Hemp. Seu preço varia de £25 a £30 a tonelada. Há imensos piteirais no Brasil, que estão sendo aproveitados industrialmente. Área: todos os estados da União.

Sanseveria (Sanseveviera Guineensis) - Apesar de ser planta africana, a sua cultura, como planta ornamental, é feita em larga escala nos jardins e chácaras. Agora é que se começa a sua cultura industrial para o aproveitamento de suas fibras excelentes.

Planta agreste, encontra nos terrenos sombrios e úmidos os melhores predicados para o seu desenvolvimento. Uma vez crescida nunca mais se acaba, devido ao risoma que brota e se estende pelo solo. Basta ceifar as folhas para virem outras no espaço de 8 meses a um ano. Um campo de sanseveria é uma riqueza perene e fácil de explorar. Área - todos os estados da União.

Esponja vegetal (Luffa oegerciaca, Mill.) - Há duas variedades: uma, de frutos muito grandes e alargados na base, que é a fibra que está à mostra; e outra de frutos menores e oblongos, de tecido muito alvo. O suco é um purgativo enérgico e o tecido do fruto, depois de bem lavado, é uma esponja excelente que serve para diversos usos de toalete, para o fabrico de chapéus, cestinhas, sapatos para banhos e outros muitos artefatos.

No Brasil, é muito usada para bucha de espingarda e como esponja para lavar pratos. A sua cultura é fácil e em três meses começa a frutificar. Torna-se necessário fazer giraus de modo que os frutos fiquem suspensos, senão apodrecem em contato com a terra. Cada pé produz 60 frutos, que são outras tantas esponjas vegetais. Área: todos os estados da União.

Cipó imbé (Philodendron imbe, Schott.) - Cipó muito conhecido no Brasil, e que se presta para variados fins. A casca, preta e resistente, serve para preparar cordas fortes, que não sofrem a podridão, mesmo imersas n'água. A parte lenhosa é aproveitada para fazer cestos, chapéus, balaios etc., e todo o cipó é usado para amarrar cercas. Área: todos os estados.

Cipó peba ou timbó (Ludovia lancifolia, Berg.) - Muito abundante e procurado como amarrilho de cercas e casas rústicas, constitui o verdadeiro prego de pobre. É tal a sua resistência que vão além de 30 anos as casas cujas peças são com ele amarradas. Um outro préstimo industrial de muito valor é a variedade de artefatos que se fazem de sua haste, desde os mais finos chapéus até o grande cesto de conduzir produtos agrícolas das roças. Podem tornar-se uma boa fonte de renda para o país e proporcionar ocupação para milhares de pessoas, sobretudo mulheres. Área: Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais.

Fibra de paineira miúda (Chorisia, S. P.) - A casca da paineira, depois de batida, posta em maceração por 5 dias n'água corrente, dá uma boa fibra própria para a indústria de aniagem. E pode substituir a juta e o cânhamo na tecelagem de sacaria. Como se trata de um vegetal abundante nas florestas, podendo ser cultivado com facilidade, as fábricas poderão estimular a sua extração como uma matéria de grande valor industrial.

As paineiras silvestres ainda virão representar um papel saliente na tecelagem e na preparação da pasta para papel, que para esse fim pode servir também a madeira leve e muito fibrosa.

Rami (Bohemeria nivea) - É a mais forte das fibras: o seu fio é quase igual ao da seda e superior a este quanto à solidez e duração. Constitui uma matéria-prima preciosa para tecelagem; pode-se misturar com a seda, dando um tecido superior.

O rami é originário da China; e as suas fibras são conhecidas na Europa por "China grass". Os terrenos do Brasil são apropriados para essa cultura, conseguindo-se perfeitamente oito cortes por ano.

Em Mimoso, estação da Leopoldina Railway, estado do Espírito Santo, há uma grande cultura deste têxtil, o primeiro e mais importante em todo o Brasil. Com certeza vai ser o mais importante fornecedor desse produto às grandes fábricas da Europa. Área: Mimoso, Espírito Santo; Teresópolis, estado do Rio de Janeiro.

Vinagreira (Hibiscus bifurcatus) - A vinagreira ou caruru azedo é igual ao quiabo com as folhas roxeadas e partidas; o seu fruto tem a mesma cor roxa e não contém suco, como o quiabo (Hibiscus esculentum). A haste dessa planta produz excelente fibra, sedosa e longa, alcançando às vezes três metros de comprimento. A sua cultura é fácil e só exige quatro meses para o completo desenvolvimento, desde o plantio por meio de sementes até a colheita ou corte das hastes. Área: estado do Rio de Janeiro e capital federal (N.E.: lembrando que esta era, então, a cidade do Rio de Janeiro).

Linho perini, ou cânhamo do Brasil (Hibiscus sp.) - Produz fibras muito alvas, resistentes e longas. A sus cultura já foi iniciada com proveito no lugar denominado Rodeio por um médico italiano, o dr. Perini; por isso, a fibra é mais conhecida pelo nome de seu propagandista. É planta brasileira que vive em abundância no vale de S. Francisco, limites dos estados de Minas Gerais e Bahia. Tem muita semelhança com a vinagreira. Pode-se cultivar por meio de sementes e o seu ciclo vegetativo é de três a quatro meses apenas. Área: Minas, Bahia e Rodeio.

Tucum (Bactris setosa - Mart.) - Fibras extraídas das folhas de uma palmeira muito comum nos alagadiços desde o Amazonas até o Rio Grande do Sul. A extração é feita à mão, e a fibra, igual à lã, é considerada uma verdadeira lã vegetal. A sua resistência é extraordinária; os índios fazem do tucum redes e cordas para os seus arcos. Há outras palmeiras do mesmo gênero que dão fibras iguais. Área: todos os estados do Brasil.

Croá ou croatá (Bromelia variegata) - É um gravatá de folhas longas e estreitas, listradas e cheias de espinhos nos bordos, que vive no sertão dos estados do Norte. A outra variedade, chamada gravatá de rede (Bromelia sagenaria - Ar. Cam.), só vive no litoral, internando-se até 40 quilômetros no máximo; desta distância em diante, começa o croá ou croatá. As fibras do gravatá de rede são mais finas e sedosas, prestando-se para tecidos finos; as do croá são mais ásperas e grosseiras, próprias para cordoalha. As zonas de uma e outra espécie são bem discriminadas: um produz um fruto igual a um ananás comum, que é a Bromelia sagenaria (gravatá de rede); o outro, um cacho cheio de pequenos frutos vermelhos amarelados, de um bonito aspecto. Área: todos os estados do Norte até São Paulo.


Palmeira que emerge duma figueira
Foto publicada com o texto, página 46

As frutas

O Brasil possui muitas das mais apreciadas e saborosas frutas, tão delicadas pelo seu gosto adocicado como agradáveis pelo seu aroma intenso. Sob a ação de um clima quente e úmido, a transformação de glicose em pectose é um fato normal e constante, fazendo com que as frutas ácidas nos países frios se tornem doces e saborosas nos trópicos. As afamadas laranjas da Bahia, principalmente as cultivadas na Cabula, tão doces, são atestados vivos da excelência do clima e do solo.

Foi justamente desta qualidade a primeira muda enviada para a Califórnia, a origem dessas imensas culturas, que fazem a delícia dos ianques e o formidável comércio de frutas na Norte América. A Bahia forneceu a primeira planta que transformou os alagadiços dessa Califórnia, outrora aurífera, no mais belo pomar que abastece todo sos outros estados americanos e ainda manda, para a velha Europa, vapores e mais vapores dessas excelentes frutas.

E a Bahia, como o resto do Brasil, não exporta uma laranja e não produz para o consumo de seus mercados. É que este clima morno, de uma primavera perene, não incita ao trabalho o homem, que prefere muitas vezes esta pobreza voluntária ao esforço ou a atividade tão compensadora nos países novos e de tantos recursos.

Há diversas variedades de laranjeiras que são cultivadas em todos os estados, sobressaindo sempre em sabor e tamanho as da Bahia, conhecidas por laranjeira de umbigo, e outra qualidade também superior, lisa. Assim, poderemos citar as seguintes espécies de laranjeiras: da Bahia, de umbigo, lisa, seleta, seleta branca, pêra, natal, rosa, saúde, mandarim, campista, melão, imperial, macaé, lima, melancia, toranja, cametá, cravo, china, sanguínea e finalmente laranjeira amarga ou da terra.

Hoje não se cultivam senão aquelas que se obtêm pela enxertia e que começam a frutificar no primeiro ano; as de semente só dão frutos do sexto ano em diante. A diferença que se nota entre os pés provenientes da enxertia e dos das sementes, é que aqueles são de pequeno porte e os frutos são em menor número do que estes, que tomam grande desenvolvimento e carregam de um modo extraordinário.

A sua exportação para o estrangeiro é quase nula e não tem, por assim dizer, passado de tentativas. Ainda não se tratou de formar tipos especiais para a exportação e, em geral, as qualidades que existem são de pouca atração para os mercados exigentes, excetuando-se as de "umbiguda", da Bahia, que podem competir com as melhores da Califórnia. O seu preço nos mercados, em primeira mão, varia de mil réis a dois mi réis cada cento, quando adquiridas dos lavradores; no comércio valem de 6$000 a 10$000.

Da laranja, fabrica-se um vinho delicioso muito estomacal e saudável que conserva intacto o gosto da fruta. Em várias localidades do Norte e dos estados de Minas, Rio e S. Paulo, faz-se regular comércio desta agradável bebida, que mais tarde se tornará um sucedâneo do vinho. Das cascas e flores da laranja-da-terra extrai-se uma essência conhecida - Neroli - muito empregada na perfumaria. Das flores consegue-se uma água destilada, de vasto emprego na Medicina como calmante. As folhas, quando em infusão, constituem um excelente chá aromático e sudorífico, de grande resultado nos resfriamentos e bronquites.

O abacaxi é uma outra fruta muito saborosa e saudável. As melhores qualidades são de Pernambuco, as quais têm um sabor especial e um formato cônico, diferente das outras localidades. Vai tendo um certo incremento a exportação do abacaxi, que futuramente se tornará um artigo importante de intercâmbio.

Esta fruta contém um fermento igual à papayotina; por este motivo é de vantagem usar-se às refeições como fruta saudável e de suco digestivo. Com os frutos, prepara-se uma bebida muito agradável e confortante, deixando-os em maceração n'água durante três dias; depois coa-se o líquido, junta-se açúcar e engarrafa-se, amarrando-se bem a rolha; do contrário, não resiste. No quinto dia, pode-se tomar a deliciosa bebida espumante, igual ao champanha, de tanta vantagem no tempo de verão como refrigerante e estomacal. Os frutos em fatias prestam-se perfeitamente para compotas, artigo de exportação e de grande consumo no país. Os sorvetes e abacaxi são sempre preferidos pelos cariocas e turistas, amantes das frutas tropicais.

Do ponto de vista econômico, a cultura do abacaxi deixa muito resultado. Cada hectare de terreno comporta bem 10.000 plantas, que podem produzir 8.000 frutos, do valor de cem réis cada um na porta, ou 800$ de renda por hectare. A cultura é fácil e a produção de ano a ano. Futuramente, quando forem aproveitadas as excelentes fibras das folhas do abacaxi, obter-se-á duplo resultado. Os terrenos à beira-mar prestam-se perfeitamente para essa cultura. No Rio de Janeiro, cada fruto, no tempo de colheita - dezembro a janeiro - custa de 200 a 300 réis, conforme o desenvolvimento; e esse comércio é feito em carroça, pelos próprios lavradores ou intermediários. Ainda existe uma importante fábrica de conservas que compra qualquer quantidade a preços mais reduzidos.

As bananas são outros frutos que encontram nos terrenos do Brasil os melhores predicados para o seu desenvolvimento, elevada produção e sabor agradável. Já o estado de S. Paulo cultiva em grande escala, nas encostas da serra do Cubatão, a bananeira denominada caturra, anã ou nanica, que cresce pouco e produz enormes cachos, com uma média de 150 bananas. Quando a colonização italiana era mais volumosa no estado, toda a produção era consumida pelos colonos; porém, com a sua diminuição evidente, a exportação daquela banana é feita para a República Argentina, no valor aproximado de 3.500:000$. Esta espécie de bananeira é a mais rendosa, em razão de seus cachos volumosos que contêm grande porção de frutos.

Depois dessa qualidade, a mais cultivada é a denominada banana prata que se encontra, em maior porção, nos mercados, apesar dos frutos não serem dos melhores.

A banana ouro é muito doce e saborosa; a maçã, de um gosto delicioso e aromática, sendo preciso, porém, ser colhida quando ligeiramente amadurecida, para a polpa não ficar empedrada, como dizem os roceiros.

A banana-da-terra é ótima e nutritiva; come-se frita, em fatias, ou cozida com um pouco de açúcar e manteiga, constituindo um prato o mais saboroso, superior aos melhores doces de confeitarias. Os cachos são enormes, a tal ponto que a bananeira não resiste ao peso do seu próprio produto e, ao primeiro vendaval, cai, se não se escorar, por meio de espeques, o seu tronco. Cada cacho tem, em média, 200 frutos, quando a terra é nova e bem humosa; e há cachos tão grandes que um homem, mesmo valente, não os levanta do chão.

A banana pacova é a maior da espécie, mas os seus frutos são poucos e os cachos pequenos. Ainda há muitas outras variedades; banana da Índia, figo, melão, Pará, roxa etc. etc. Há uma variedade denominada S. Tomé, que é muito usada, assada, para alimentar crianças de tenra idade, por causa de sua polpa doce e de fácil digestão e por possuir grande poder nutritivo.

Infelizmente, a exportação de bananas do Brasil é muito limitada; apesar de bons mercados no Rio da Prata, somente os estados de S. Paulo, Santa Catarina e Paraná exportam para a República Argentina. Em todos os estados, se cultivam as bananeiras para consumo local; e não há nenhuma residência no interior do País que não tenha a sua touceira do apreciado "fruto do paraíso".

Não existindo a cultura intensiva, essas touceiras no terceiro ou quarto ano deixam de produzir cachos, devido ao pouco alimento, por ficarem muito na superfície da terra as suas raízes. As covas precisam ser bem fundas e todos os anos é necessário enterrar bem os renovos.

A farinha de banana é um artigo de futuro e o seu consumo tende a aumentar de ano para ano. Também a banana passada se pode tornar uma mercadoria de grande valor comercial, pelo fato de conservar todos os predicados da fruta madura. Do seu tronco ainda se aproveitam as fibras para a confecção de tecidos para gravatas e outros artefatos.

A bananeira é planta extraordinariamente variada: do tronco, tira-se o enxoval do pobre, e a sua seiva é de muito valor medicinal no tratamento da tuberculose; o fruto é o pão e a carne; os grelos, o legume; as folhas, os pratos, a toalha, os guardanapos; a fibra, a roupa; a polpa, o vinho e o vinagre etc. O fruto maduro, o pão dos primeiros homens, come-se cru, cozido, frito ou assado. Nas zonas agrícolas, o preço do cacho é de 200 a 400 réis conforme a sua robustez; mas da banana da terra, custa mil réis cada um. Nos mercados varia de 1$ a 2$ cada cacho das bananas comuns, e 3$ a 5$ das melhores, como da terra e S. Tomé.

As goiabas merecem uma referência particular pelo seu extraordinário papel na economia do país. O afamado doce de goiaba ou goiabada é uma indústria importante no município e cidade de Campos e na Pesqueira, em Pernambuco. Felizmente, ao lado da fruta está o açúcar, de modo que a manufatura de uma ajuda a consumir o outro.

Sobretudo para o Brasil, onde há a indústria sacarina aperfeiçoada, de produção às vezes superior ao consumo local, a manufatura de suas frutas é uma necessidade, como um meio protetor do gasto do açúcar. Em lugar de exportar as frutas em natureza ou o açúcar bruto, será de melhor aviso preparar as compotas e outros doces adequados.

O marmelo, que só se desenvolve nos planaltos das montanhas elevadas ou nos campos de Minas, também tem sua manufatura, isto é, a marmelada, de muita procura e consumo nas cidades, como um excelente doce muito nutritivo e agradável. Ao contrário das goiabeiras que vivem nas baixadas quentes e arenosas, os marmeleiros gostam dos climas suaves e temperados.

O abacateiro produz boa fruta polpuda, de muito valor nutritivo - o abacate. Com ele se prepara um creme delicioso que seria muito apreciado no estrangeiro, se se pudesse exportá-lo, o que sem dúvida virá a acontecer mais tarde.

As apreciadas mangas são bem conhecidas, principalmente as oriundas das ilhas de Itamaracá, em Pernambuco, e Itaparica, na Bahia. As melhores qualidades são as seguintes: rosa, espada, carlota, augusta etc. Quem visita o Rio de Janeiro, logo recebe a impressão magnífica das colossais mangueiras, espalhadas por todo o Distrito Federal e de ramagens tão desenvolvidas que algumas podem abrigar centenas de pessoas.

A sua produção não é constante, quando plantada de semente; por este motivo, o seu preço nos mercados é elevado. As melhores qualidades vêm de Pernambuco e Bahia, que exportam também para a Europa. Há nos estados de Minas, zona da mata e Rio de Janeiro grandes culturas de mangueiras que deixam resultado aos lavradores. No Porto Novo há uma grande fazenda que vende, à porta, mais de 30:000$ de mangas. O seu preço, no produtor, regula de 10$ a 20$ o cento, e nos mercados de 2$ a 4$ a dúzia.

A fruta-do-conde, conhecida no Norte pelo nome de pinha ou ata, é muito saborosa, saudável e de fácil digestão. Nos arredores do Rio de janeiro cultivam-se com certo incremento pelo grande resultado dessas frutas. Prosperam perfeitamente nos terrenos arenosos de beira-mar, e levam três anos para começar a produzir. Cada fruteira produz anualmente 50 frutos, que são vendidos na porta por dez mil réis, o que já é um lucro apetitoso. No mercado custam de 4$ a 10$000 a dúzia.

Esta espécie frutícola é muito perseguida por uns insetos denominados brocas, que não deixam a fruta se desenvolver, perdendo-se grande quantidade em cada pé. Por esse motivo, os fruticultores não se alargam em suas plantações, com receio da praga. Há outras variedades que não têm os mesmos atrativos de sabor: o beribá, a fruta-da-condessa, a pasmada etc.

O abieiro produz boa fruta cuja polpa, que circunda as sementes, é um verdadeiro creme natural. Fruta tropical, tem a sua origem no vale do Amazonas, onde toma grande desenvolvimento. Apesar da excelência de seu sabor, não é considerada fruta comercial pelo fato de não se poder conservar.

O sapoti é outra fruta deliciosa, muito cultivada nas chácaras das grandes cidades. Não amadurece no pé, sendo necessário colhê-lo ainda verde, conservá-lo por longos dias, em caixa, para amadurecer.

As limas, tão abundantes, são frutas medicinais, usadas como diuréticas e refrigerantes. Há duas variedades; lima "da Pérsia" e de "umbigo". O limão azedo é de muita procura nos mercados, alcançando às vezes preços altos, no tempo do verão. É empregado na confecção de limonadas refrigerantes, de grande consumo nas cidades do litoral, na época estival. O limão doce, que é um produto de enxertia, também é uma fruta muito diurética e saudável, e com ele se pode fazer grande comércio pela sua conservação e grande potência produtiva, pois as fruteiras ficam abarrotadas.

O caju, tão comum na costa, principalmente no Norte, é uma fruta muito suculenta, aproveitada para "cajuadas", que são sempre apreciadas no tempo do verão. O suco dessa fruta é considerado depurativo e algumas pessoas que sofrem de moléstias de pele comem os frutos, dos quais se prepara também um vinho de caju, muito apreciado, e que constitui importante artigo de comércio no Ceará e outros estados do Norte.

Justamente em janeiro entram em maturidade os cajus, ora amarelos, ora vermelhos. O cajueiro dá muito bem nas restingas; e nos campos de Minas há uma variedade muito saborosa e nativa, com o pé rasteiro e os frutos grandes. Pode-se preparar o fruto seco ou em compota. Os médicos receitam o vinho de caju como veículo dos sais de mercúrio e ioduretos. Bastariam as deliciosas cajuadas para dar valor a essa fruta tropical.

As jabuticabas, tão doces, são filhas dos trópicos e encontram-se em abundância nas florestas. A sua polpa parece um creme natural, tal a delicadeza e finura da massa saborosíssima. É uma pena que fruta tão gostosa não possa resistir ao transporte. As jabuticabas arruínam-se completamente em 24 horas, depois de colhidas.

O jenipapo é um fruto muito aromático, que se presta antes para licores, vinhos e xaropes do que para comer. O licor de jenipapo é um néctar com um aroma especial da fruta e muito estomacal. Há muito no Norte, à margem dos rios e junto à costa.

A pitangueira é das praias e forma um matagal emaranhado que se cobre dos pequenos frutos acídulos e de cor vermelha, como pontos rubros no verde pálido. Muitas pessoas apreciam as pitangas por serem ácidas, mas a sua melhor aplicação é no preparo de geléias e doces.

O bacupari é uma fruta silvestre, de cor vermelha, de pouco suco adocicado. Há uma variedade de grandes frutos que são muito saborosos. No Pará há o bacuri, que é a mesma fruta e se presta para compota, sendo muito apreciada nas melhores mesas. Infelizmente, a sua pequena quantidade mal chega para o consumo local, tal é a sua procura pelos apreciadores.

O maracujá, de que há muitas qualidades, tem uma polpa ácida e indigesta. Presta-se perfeitamente para doces secos, feitos de seu mesocarpo carnudo.

A guabiroba do campo, tão comum em Minas, S. Paulo, Goiás e Mato Grosso, é um fruto muito gostoso e abundante. A planta sub-arbustiva, quase rasteira, carrega-se de frutos pequenos e amarelos. O butiá do Norte, o poquaçu e outras muitas frutas indígenas são saborosas para se comerem e, ao mesmo tempo, prestam-se para compotas.

As videiras vão tendo incremento no RIo Grande do Sul, onde já se preparam vinhos superiores que são exportados para o Rio de Janeiro. Em S. Paulo, Minas e Rio de Janeiro já existe também plantio regular de videiras pra mesa e para vinhos. Além dos vinhos de videira, preparam-se outros de várias frutas do país: de laranja, de abacaxi, de caju, de araçaí (palmeira abundante no Amazonas), de jenipapo, de bacaba (palmeira do Amazonas), de cajá etc.

Seria preciso muito espaço para enumerar todos os produtos confeccionados com as frutas do Brasil. Mais tarde, a sua exportação, in natura e sob a forma de compotas, tomará tal desenvolvimento que a fruticultura se tornará um dos mais importantes ramos de agricultura. E o país tem todo o interesse em incrementar essa cultura, como fator econômico importante para o consumo do açúcar na forma de calda para conservação das frutas. É um meio fácil para exportá-lo, visto que o açúcar granulado tem pouco valor no exterior.

Só o comércio de bananas pode representar uma verba extraordinária, principalmente se um sindicato tomar a iniciativa de adquirir terrenos e constituir uma flotilha de pequenos vapores apropriados para o seu transporte. Com as boas qualidades de bananas que se dão tão bem no país, o lucro no negócio seria muito compensador e daria mais uma importante indústria ao Brasil, que precisa valorizar tanta riqueza abandonada.

Leva para a página seguinte