Mamoeiros
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Flora (b)
Dr. J. R. Monteiro da Silva,
vice-presidente da Sociedade Nacional de
Agricultura
e comissário do Ministério da Agricultura.
Madeiras
O Brasil que possui, sobre a vastidão de sua área, principalmente na bacia amazônica e ao longo da
costa oriental, imensas florestas atravessadas por caudalosos rios - entre os quais o Amazonas e seus afluentes constituem verdadeiros mares
internos - é um dos países mais ricos de madeiras. E tanto isto é real, que cada hectare em floresta pode ter o valor de 4:000$ em madeiras.
As árvores colossais, algumas das quais medem até 10 metros de circunferência, como geralmente
acontece com as espécies denominadas jequitibás, podem dar uma média de 10 toneladas de madeira cada uma, depois de cortadas. Todas as espécies são
abundantes, constituindo grandes viveiros, de todas as idades; de maneira que o suprimento não se esgotará tão cedo, com o desenvolvimento das
árvores pequenas.
As madeiras de cerne são as mais abundantes, apresentando, quase sempre, um desenho delicado no
lenho duro, revesso, com ondulações brilhantes e belo polimento.
Grandes rios navegáveis, que atravessam frondosas florestas, proporcionam transportes baratos e
fáceis, para a produção das florestas em suas margens; de sorte que os preços da madeira em toros, nos portos marítimos, variam de 10$ a 15$ a
tonelada, ao passo que, nos mercados, quando transportada por estradas de ferro, os preços sobem a 60$ e 80$. O jacarandá (Pallissandre) é
exportado para o Havre e Hamburgo, onde alcança preços fabulosos. O monopólio do comércio de madeiras nestes portos prejudica imensamente a sua
exportação em maior escala. Os donos da mercadoria exigem preços elevados aos construtores, que, por sua vez, pedem caro pelos seus móveis,
tornando-os um objeto de luxo, quando, se fossem baratos, se tornariam acessíveis a todas as bolsas.
Como uma demonstração de grande lucro dos intermediários, o preço de uma dúzia de jacarandás, que
pese oito toneladas, custa ao exportador 600$ e mais 200$ de transporte, 80$ de imposto e 200$ para limpar e conduzir a bordo; ao todo 1:080$. Cada
tonelada é vendida por 600 francos em leilão, e ao fabricante custa 1.000 francos a mesma tonelada, serrada. A exportação em 1950 foi de 355:043$.
Os estados do Sul, nos planaltos, possuem florestas imensas de pinheirais (onde já se encontram
serrarias aperfeiçoadas para o desdobramento da madeira em coiceiras e tábuas) e fornecem aos mercados internos, assim como exportam para a
República Argentina, que fica próxima. A exportação em 1906 foi de 208:211$.
O capital tem vasto campo de exploração nas madeiras do Brasil. Estabelecendo-se serrarias dentro
das florestas, para o primeiro preparo das coiceiras, o negócio deixa enorme margem para lucros. Cada árvores é vendida pelos proprietários por 5$ e
produz uma média de 10 toneladas, ou 500 réis cada uma. Com a puxada, serragem e transporte até o porto fica em 15$. O transporte até o Havre ou
Antuérpia 25$, com 5% de imposto, são ao todo 45$ cada tonelada de madeiras para todas as aplicações industriais, desde a mais luxuosa mobília até a
coronha de espingarda e cabos de ferramentas.
Só a margem do Rio Itabapuana, no estado do Espírito Santo, calcula-se que possui 8.000:000$ em
madeiras, fazendo-se o preço de 5$ a tonelada. A Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Rio de Janeiro, Amazonas, Pará e Maranhão, têm
madeiras de lei para suprir o mundo durante séculos. Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e o planalto de Minas Gerais têm pinheiros e diversas
espécies para várias confecções. As madeiras brancas abundam por todo o país, e a sua aplicação para caixotaria, embalagem, palitos e caixinhas de
fósforos, já tem regular procura porque vão sendo mais conhecidas.
Infelizmente, possuindo as florestas do Brasil tantas variedades de madeiras para todas as
aplicações, ainda se importa em grande escala o pinho branco americano, o sueco e o russo, devido à falta de iniciativa e à carestia de transporte,
que só agora vão sendo removidas.
Chega mesmo ao cúmulo da anomalia esta situação dum país, possuindo as maiores e mais ricas
florestas do mundo - destinadas talvez a proverem o consumo mundial de madeira, num futuro não muito remoto, em que as florestas do Canadá e da
Austrália forem dadas por esgotadas - e obrigando a importar madeiras, até para dormentes de estradas de frro que cortam essas mesmas florestas.
Este é o caso, entre outros, da estrada de ferro Madeira-Mamoré, que atravessa a rica zona
florestal das margens do Madeira, e cuja empresa, depois de tentar obter fornecimento de dormentes das florestas amazônicas, foi obrigada a
importá-los do Canadá e da Austrália. E isso por duas razões.
A primeira é que a escassíssima população do Amazonas - onde se acham as maiores florestas do país
- é de todo insuficiente para fazer a extração da borracha, operação esta mais lucrativa do que qualquer outra indústria, razão pela qual ninguém se
propõe a explorar as florestas ou fazer qualquer outra coisa que não se relacione com a extração ou o comércio da borracha. Em vista disso, a
companhia não pôde obter senão uma quantidade insuficiente de material.
Mas, além de insuficientes, esses poucos dormentes lhe ficavam por tal preço que lhe pareceu, não
só mais seguro, como também mais barato, pagar o preço e mais o transporte de dormentes vindos da Austrália, isto é, com quase dois meses de viagem.
Este, por ser o mais característico, não é caso único, como seria fácil mostrar.
Dada, pois, esta circunstância anômala, as madeiras do Brasil, e especialmente as da região
amazônica, que provocam os maiores elogios nas muitas exposições a que têm concorrido, não têm sido até aqui uma fonte de riqueza para o país, mas
apenas uma grande reserva, de que poderão vir a tirar grandes lucros os capitais que - favorecidos, mais tarde, pelas condições de transporte e
outras garantias do governo brasileiro - se decidirem a explorá-la resolutamente.
Madeiras para construções civis - Angelim amargoso (Andira anthelminthica, Benth.) -
cerne amarelo, quando recentemente serrado, passando à cor parda algum tempo depois. Aplicação: engradamento de casas, tendo a propriedade de
resistir aos insetos, principalmente ao cupim, que não o persegue devido ao princípio amargo - um alcalóide - que contém nos tecidos. Só por este
fato merece o mais vasto emprego nos climas quentes e úmidos em que as madeiras são vorazmente atacadas pelos térmitas ea vários outros insetos.
Altura, 20 a 25 metros; diâmetro, 1 a 2 metros.
Angelim pedra (Andira spectabilis, Sald. Gam.) - cerne de fibras salientes e escuras, lenho
pesado. Aplicação: engradamento e obras imersas; muito resistente e imune aos insetos. Altura, 25 a 30 metros; diâmetro, 1 a 2 metros.
Arapoca vermelha (Galipea rudra, Mart.) - cerne vermelho, tecido compacto. Aplicação:
madeiramento interno, barrotes, vigamento e frechais etc.
Araçá do mato ou guarajuba (Psidium araça, Raddi.) - cerne roxo claro, com veios escuros;
tecido compacto. Aplicação: assoalho, vigamento, portaladas etc.
Angico (Piptadenia rigida, Benth.) - cerne vermelho com manchas escuras, lenho pesado e
compacto. Aplicação: madeiramento interno. É uma árvore de muita utilidade: presta-se para o replantio das matas nos lugares devastados, de
crescimento rápido, mais rápido do que o próprio eucalipto; o seu tronco produz boa madeira; a casca contém curtim e exsuda uma goma de muita
aplicação na indústria de chapéus, e os galhos dão excelente lenha. Nas proximidades das cidades e à margem das vias férreas, dever-se-ia cultivar o
angico como produtor de boa madeira, boa lenha, dormentes rijos, curtim, goma; e a casca ainda é muito medicinal.
Bicuíba (Myristica becuhyba, Schott.) - cerne vermelho, tecido poroso. Aplicação: caibros,
vigamentos e móveis baratos. As sementes contêm 48% de óleo denominado sebo de bicuíba, que, empregado como lubrificante, evita a ferrugem.
Canela preta ou prego (Nectandra amara, Mees.) - cerne pardo escuro; tecido compacto.
Aplicação: tabuado para assoalho e forro, vigamento.
Grapiapunha ou garapa (Apuleia precox, Mart.) - cerne amarelo, de um ondeado
característico; lenho muito compacto. Aplicação: excelente madeira para tabuado, portaladas e vigamentos.
Guapeva vermelha (Lucuma laurifolia, De Cand.) - cerne vermelho compacto. Aplicação:
baldrame e engradamento.
Oiticica (Soaresia nitida, Fr. Allem.) - cerne vermelho claro com linhas brancas.
Aplicação: engradamento e assoalho.
Canela capitão-mor (Nectandra myriantha, Meissn.) - cerne amarelo com listas pretas.
Aplicação: engradamento e obras internas.
Cutucanhe (Phopala brasiliensis) - cerne vermelho claro com achamalotado característico.
Aplicação: vigamento e todas as construções civis.
Madeiras para construção naval, obras hidráulicas e imersas - Tapinhoã - cerne
amarelo pardo com veios mais escuros, tecido compacto e muito cruzado. Aplicação: construção de navios e qualquer obra hidráulica, pois resiste à
umidade e à água salgada. Presta-se também para esteios, estacadas ou dormentes, e ainda para a fabricação de tonéis, pipas e barris, representando
no Brasil o mesmo papel do carvalho na Europa. Altura, 25 a 30 metros; diâmetro, 0,80 a 2 metros.
Peroba parda ou ipê peroba (Aspidosperma gomesianum, Fr. Allem.) - cerne pardo com veios
mais escuros. É a madeira mais empregada no Brasil pela sua resistência e durabilidade; presta-se para construções navais, obras hidráulicas,
armações de casas, móveis de luxo e construções civis. No Rio de Janeiro, é a madeira mais procurada. Quem não conhece as magníficas mobílias de
peroba, que têm sempre procura e são as preferidas pelas famílias abastadas? Para assoalho, é a primeira madeira, não só pela duração, como pela
beleza dos desenhos. Mas é nas construções navais que se pode avaliar o seu enorme consumo, sendo ela empregada com vantagem nas cavernas dos navios
de guerra, nas quilhas etc. A peroba das montanhas é mais escura e revessa; a da várzea e baixada, mais amarela, ondeada, e mais resistente para
obras hidráulicas. É muito abundante nos estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo. Altura, 30 a 35 metros; diâmetro, 1 a
3 metros.
Peroba amarela ou de campo (Aspidosperma peroba, Fr. Allem.) - cerne amarelo com ondulações
muito interessantes; tecido compacto e resistente. As mesmas aplicações da precedente, marcenaria, escadaria, vagões e armações. Altura, 30 a 35
metros; diâmetro, 1 a 3 metros.
Ipê preto ou ipê una (Tecoma curialis, Fr. Allem.) - cerne pardo escuro, tendo um pó louro
entre as fibras. Aplicação: obras de porto, estacadas e todas as obras hidráulicas. Os argentinos a denominam Lapacho e têm uma grande
confiança em sua durabilidade. Altura, 25 a 30 metros; diâmetro, 1 a 2 metros.
Maçaranduba vermelha ou apraiú (Lucuma procera, Mart. ) - cerne vermelho homogêneo, tecido
resistente e muito compacto. Aplicação: obras imersas, estacadas e qualquer obra hidráulica, dormentes. Há um gênero, Mimnusops, que é
próprio do extremo Norte, sendo a Mimusops elata, Fr. Allem., a verdadeira maçaranduba vermelha. A espécie de que tratamos encontra-se na
Serra do Mar, desde o estado do Rio até a Bahia. O tronco deixa exsudar um látex que, coagulado, presta o mesmo serviço da guta-percha.
Jatobá ou jataí (Hymenoea courbaril, Linn.) - aplicação: rodas d'água, esteios, estacadas e
obras imersas.
Madeiras para dormente - Sapucaia mirim (Lecytis minor, Velle) - cerne vermelho
intenso com veios escuros. Aplicação: qualquer obra que demande resistência e duração. Excelente para dormentes, esteios e cercas. Altura, 25 a 30
metros; diâmetro, 0,80 a 2 metros.
Pau-ferro (Swartzia tomentosa) - cerne de cor parda avermelhada; tecido rijo e compacto.
Pela sua resistência e durabilidade é muito procurado para dormentes. É tão duro que quebra o machado. Altura: 12 a 15 metros; diâmetro, 40 a 80
centímetros.
Sapucaia (Lecythis pisonis, Cambe.) - cerne vermelho e lenho duro. Aplicação: dormentes,
cercas, esteios, mourões. Pode ser rachada perfeitamente. A casca produz uma excelente estopa para calafetar embarcações.
Mocitaíba preta (Zollernia nigra, Fr. Allem.) - cerne vermelho pardo com veios escuros.
Aplicação: dormentes e esteios.
Óleo pardo, jataúba, óleo de macacão (Myrocarpus frondosus, Fr. Allem.) - cerne pardo com
veios pretos. Excelente para chão, como dormentes e calçamento de ruas e pavimentos térreos.
Braúna, graúna, maria-preta (Melanoxylon brauna, Schott.) - Cerne da cor de pó de café
escuro. É uma das madeiras mais resistentes das florestas do Brasil. Além da braúna preta, há mais duas variedades: braúna maneca e braúna parda,
que são inferiores em resistência e durabilidade. Para dormentes, é uma das mais próprias; em esteios de casas, mourões, cercas e estacadas, ou
qualquer obra no subsolo, dura um século e mais.
Chibatã, ubatã (Astronium commune, Jacq.) - cerne vermelho pardo; tecido compacto.
Excelente madeira para dormentes.
Ipê tabaco (Tecoma ipe, Mart.) - cerne pardo esverdeado. Produz, quando é serrado, um pó
que faz espirrar os carpinteiros e serradores; pó amarelado, que se forma nos intervalos do tecido fibroso e é conhecido por tabaco de ipê. É
um alcalóide natural, aplicável nas moléstias sifilíticas. Aplicação: estacadas, mourões, dormentes, em geral todas as obras imersas. É uma das
melhores madeiras das florestas. Altura, 25 a 30 metros; diâmetro, 0,60 a 1 metro.
Carobuçu (Jacaranda copaia, Don.) - cerne preto de tecido compacto e fibras entrelaçadas.
Aplicação: dormentes, mourões, cercas e cubos de moinho.
Aroeira da mata (Schinus aroeira, Linn.) - cerne escuro e avermelhado; lenho muito pesado e
compacto, de uma rigidez de ferro. Enterrada, como esteio, dura eternamente. A madeira contém tanta matéria extrativa tânica como o quebracho
argentino, podendo substituí-lo na indústria do curtim. Há também aroeira do campo e aroeira da praia.
Madeiras para marcenaria e placagem - Jacarandá cabeúna (Dalbergia nigra, Fr. Allem.)
- cerne de cor chocolate, com veios pretos; tecido ondulado, de um belo efeito. Madeira especial para mobílias de luxo e para pianos. A Europa
importa grande quantidade desta espécie e bem assim dos jacarandás tan e violeta, que se denominam englobadamente Palissandre. A exportação
desta madeira está concentrada no Espírito Santo e Sul da Bahia. Em vista do seu preço elevado, é empregado em placagem. Altura, 15 a 20 metros;
diâmetro, 0,40 a 1 metro. Preço de procedência: 800$ a 1:000$, a dúzia de toras, pesando 8 toneladas mais ou menos. Imposto no Espírito Santo: 9$300
por m³.
Gonçalo Alves (Astronium fraxinifolium, Schott.) - cerne vermelho desbotado, com veios
pretos, de um efeito muito bonito. Rica madeira para móveis e placagem, pela sua dureza e brilho de suas ondulações. Há quatro variedades: preto,
rajado, sabão e amarelo, também conhecido por aroeira do sertão. Altura, 25 a 30 metros; diâmetro, 1 a 3 metros.
Óleo vermelho (Myrospermum erythroxylum, Fr. Allem.) - cerne vermelho; é um mogno sem
veios; tem um perfume delicioso. Aplicação: móveis de luxo, eixos de carro. A casca e a madeira propriamente dita contêm uma essência tão ativa e
penetrante que poderia substituir o sândalo em suas variadas aplicações. Altura, 20 a 25 metros; diâmetro, 0,80 a 2 metros.
Pequiá marfim (Aspidosperma eburneum, Mart.) - cerne amarelo claro, cor de flor de enxofre.
Aplicação: marcenaria, confecção de móveis e objetos de luxo, caixas para jóias etc. Altura, 15 a 20 metros; diâmetro, 0,40 a 0,80 metro.
Carne de vaca (Rhopala elegans, Schott.) - cerne cor de carne, com o tecido achamalotado.
Aplicação: móveis, bancos, mesas, travessas de bondes e vagões.
Araribá amarelo, putumuju (Centrolobium robustum, Mart. ) - cerne amarelo vivo, com veios
cor de ouro, de muito bonito efeito. Aplicação: móveis de luxo; o lenho absorve perfeitamente o verniz e tintas diversas.
Peroba revessa (Aspidosperma) - é uma variedade de tecido da própria peroba amarela e ipê
peroba. As fibras são de tal modo entrelaçadas que dão um belo aspecto ao lenho d a madeira, que é muito procurada para móveis de valor por causa de
sua anormalidade. As perobas amarelas e o ipê peroba são empregados em móveis, que são os mais cotados no Rio de Janeiro.
Imbuia (Nectandra sp.) - cerne pardo, com veios pretos muito bonitos, produzindo belo
aspecto. Excelente madeira para móveis de luxo e armações de gosto.
Vinhático (Echirospermum balthazaru, Fr. Allem.) - cerne amarelo, com veios e poros
visíveis. Aplicação: móveis e armações, sendo considerada uma das primeiras. Apresenta as variedades "testa de boi" e "flor de algodão". Altura: 25
a 30 metros; diâmetro, 1 a 3 metros.
Sebastião de Arruda (Physocabymma floridum, Pohl.) - cerne de lenho compacto, com veios
paralelos vermelhos, amarelos escuros e roxos. Preciosíssima madeira rara, para móveis de luxo, bengalas e placagem. Preço de procedência: 50$ a 60$
o m³.
Guatambu amarelo (Aspidosperma sessiliflorum) - cerne amarelo canário. Aplicação: mobílias
e placagem. Preço de procedência: 40$000.
Muirape-nima, pau-tartaruga (Brosimum discolor, Aubletil.) - cerne cor de chocolate, com
manchas pretas imitando a tartaruga. É uma das mais belas madeiras do Brasil. Serve para móveis de luxo, bengalas e obras de marchetaria, sendo
duríssima. Altura, 4 a 8 metros; diâmetro, 0,30 a 0,50 m. Preço de procedência, 50$ a 60$000 o m³. Vale do Amazonas.
Muirapiranga (Mimusops balata, G.) - cerne vermelho, quase roxo, muito resistente e pesado.
Aplicação: mobílias. Área: vale do Amazonas e Maranhão.
Madeiras para esquadras, segeria etc. - Cedro rosa (Cedrela brasiliensis, St. Hil.)
- cerne cor de rosa, aromático, macio, com os poros visíveis. Aplicação: muito empregado para esquadrias, caixas para charutos e confecções de
lápis, sendo muito leve e macio. Altura, 25 a 30 metros; diâmetro, 1 a 3 metros.
Canjirana (Cabralea cangerana, Sald. Gam.) - cerne vermelho, igual ao cedro, com o qual se
confunde; é muito aromático o lenho. Madeira de primeira qualidade para tabuado, esquadrias, portaladas etc.
Jequitibá rosa (Couratari legalis, Mart. ) - cerne vermelho róseo, tecido frouxo. Madeira
de lenho leve, que se emprega para forro, esquadria, vagões de estrada de ferro e bondes. É uma das maiores árvores das florestas, verdadeiro tipo
de elegância e majestade. Altura, 30 a 35 metros; diâmetro, 1 a 6 metros.
Roxinho ou gurubu (Peltogyne discolor) - cerne roxo. Aplicação: raios de roda e varais de
carroça. Atualmente se emprega também, conjuntamente com a peroba, para assoalho.
Sucupira (Bowdichia major, Mart.) - cerne pardo avermelhado, fibras salientes. Muito
empregada para cambotas e mesa de carro. Excelente também para dormentes, esteios e obras imersas.
Jaguá ou Pirutinga - cerne branco amarelado. Aplicação: cabos de ferramenta. Madeira macia e
polida, não esquentando a mão.
Pau Pereira (Geissospemum vellosii, Fr. Allem.) - cerne amarelo desbotado. Aplicação: cabos
de enxada, foice, picareta etc.
Catuaba falsa (Myrtacea) - cerne vermelho desbotado. A melhor madeira para cabos de enxada.
Louro pardo (Cordia exelsa, Mart. ) - para caixotaria, palitos e caixinhas de fósforos.
Caixeta (Tabebuia obtusifolia, Bur.), bóia ou unha d'anta (Sterculia chichá, St.
Hilaire), bacurubu (Schizolobium excelsum, Vogel.), pinho do brejo (Talauma ovata, St. Hil.), gameleira (Urostigma doliarum,
Miq.), pinho do Paraná (Araucaria brasiliensis) - as mesmas aplicações.
Monjolo cambui (Enterelobium lutescens, Fr. Allem.), monjolo preto (Enterelobium sp.),
jacaré (Enterelobium monjolo, Mart.), angico vermelho (Piptadenia rigida, Benth.), angico branco (Piptadenia sp.), mangalô
folha larga (Peraltea erythrinoe folia, Mart.), copaíba (Copaifera Langsdorff) - para coronhas de espingarda.
Palmeiras selvagens
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Fibras
Esta importante indústria vai tomando certo incremento no Brasil, onde algumas companhias se vão
formando para a exploração de plantas têxteis. A Cooperativa Sanseveriana, em Macaé, foi instalada na Fazenda de Sant'Antonio, cedida graciosamente
pelo Governo do Estado do Rio, como estímulo à nascente indústria de tanto consumo mundial.
Uma companhia com o capital inicial de 200:000$ foi fundada no próspero estado do Rio Grande do
Sul, para a cultura da piteira (Foucroya gigantea, Vent.), que é um vegetal já aclimado, dando 3 a 4% de superior fibra, já conhecida nos
mercados pelo nome de Maurice Hemp.
A indústria do rami (Bohemeria Nivea, Grand.), em pouco tempo será uma realidade,
encontrando nas baixadas fluminense e espírito-santense o seu terreno favorito, silico-argilo-humoso, e uma atmosfera úmida e quente, com chuvas
regulares, que ele tanto aproveita, adquirindo todo o seu vigor e crescimento. Já começam a aparecer capitais franceses para explorar a cultura e a
tecelagem dessa importante fibra.
Ativos industriais, também franceses, entusiasmados com o futuro da fibricultura no Brasil, tratam
de requerer vastos territórios para a cultura de plantas que julgam ser de maior percentagem e de mais pronto e fácil aproveitamento, incluindo
muitas indígenas, como: gosmenta, guaximas, vassouras, linho perini, vinagreira etc., e outras exóticas de grande percentagem, como o rami, sisal,
sanseveria, piteira etc., que encontram as melhores condições de solo e clima para o seu franco desenvolvimento.
O Brasil, que importa anualmente mais de 9.000:000$ de juta, cânhamo, sisal para as suas fábricas
de cordoalha e aniagem, não pode ficar indiferente ao desenvolvimento dessa indústria agrícola, que virá suprir as suas fábricas e preparar um
importante artigo de exportação.
Já no município de Valença, um ativo industrial belga, o sr. Mahieu, possui extensa cultura de
piteira, onde fabrica cordas comuns, cabos alcatroados tão bons como os melhores importados. Outros pequenos lavradores plantam milhares e milhares
de piteiras e a Sociedade Nacional de Agricultura já tem distribuído gratuitamente mudas de sisal, henequem, piteira e outras.
Custando cada 5 hectares de superiores terras de 50$ a 100$ nas melhores zonas, servidas por
estradas de ferro e rios navegáveis, a ocasião é a mais favorável para o capitalista adquirir ótimas terras baratas, aproveitando a uberdade do solo
para fibricultura e outras explorações agrícolas. Possante quedas d'água para força motriz, a proximidade dos mercados e portos de embarque, clima
ameno, regularidade de estações, tudo isso faz com que o capital possa ser compensado com liberalidade.
Guaxima (Urena lobata, Cav.) - Sub-arbusto muito comum nos pastos abandonados,
velhas palhadas e muito abundantes no interior do Brasil. Só os depósitos naturais podem produzir milhares de toneladas de boa fibra. A sua cultura
é facílima, bastando não capinar os guaximais para não mais se acabarem. Os lavradores consideram-na uma praga e não sabem como destruí-la.
As plantas novas e colhidas antes de inflorescência dão melhores fibras, mais alvas e macias. No
quarto mês, depois de semeadas, já estão aptas para produzir fibras; e, pela cultura racional, se conseguem hastes longas de 3 a 4 metros e sem
ramificação. Em São Paulo é conhecida pelo nome de "aramina" e no Amazonas pelo de "uaicima". Aplicações: cordoalha, tecelagem. Área: todos os
estados da União.
Gosmenta (Urena sylvestre) - É uma malvácea do mato, muito abundante e de cultura
fácil, de liber rico e de fibras alvas, longas e resistentes. Não exige mais de 4 meses para alcançar o período de aproveitamento. Nestas condições,
podem ser aproveitadas três vezes durante o ano; quer dizer que a mesma produz três colheitas de um vegetal de grande valor industrial.
A vantagem dessas fibras é o seu comprimento de 2 a 3 metros. É o vegetal indígena mais rico de
fibras. Aplicação: cordoalha, sacaria. Área: os estados centrais do Brasil, em cujas florestas se encontram viveiros de milhares de pés.
Vassoura (Sida carpinifolia, Lin.) - Planta comum em toda a parte, detestada pelos
agricultores pelo seu apego ao solo. Dá uma excelente fibra que pode substituir até o linho. Nos lugares mais úmidos e sombreados, pode alcançar um
a dois metros de comprimento. A haste se bifurca, não deixando de enfraquecer os fios, mas com uma cultura inteligente este defeito poderá ser
corrigido. Bastam 3 a 4 meses para produzir fibras, dando de 3 a 4 colheitas por ano. É, porém, necessária a semeadura para se conseguirem hastes
direitas. A brotação tem o inconveniente de ramificar-se, prejudicando a boa qualidade da fibra. Área: Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais,
São Paulo e Bahia.
Palmito doce (Euterpe edulis, Mart.) - O seu caule (estipite) novo dá excelente
fibra, igual à piaçava, que se presta para o fabrico de vassouras, escovas etc. O suco fresco, que se faz espremer do palmito novo, é um excelente
mostático. Possui uma sensação de queimadura, mas o sangue pára e a ferida cicatriza em poucos dias. O suco conservado por alguns dias fermenta e
produz muito álcool. O rebento terminal ou o palmito é muito apreciado na culinária. Área: Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Bahia.
Palmito amargoso (Cocos nikaneana, Mart.) - As cascas do rebento ou palmito, quando
deixadas n'água corrente por alguns dias (8 a 10), dão uma excelente fibra, muito resistente, que se presta para o fabrico de vassouras, escovas,
tapetes, capachos etc. Pode-se aproveitar o palmito para a culinária, pois é gostoso e estomacal. As vassouras mais duradouras fabricadas no
interior, são justamente as de palmito amargo ou palha branca. Área: Espírito Santo, Rio de Janeiro.
Gravatá de rede (Bromelia Sagenaria, Ar. Cam.) - Em toda a costa do Brasil existe
este gravatá, tomando em alguns lugares tal desenvolvimento que as folhas chegam a ter 2 metros e mais de comprimento. As populações praianas tiram
muita fibra desta planta para fazer redes, tarrafas, linhas de anzol, cordas etc. Infelizmente, a pequena quantidade só dá para o consumo local, não
se fazendo nenhuma exportação. Logo que aparecerem máquinas apropriadas e baratas, o imenso viveiro natural poderá ser desfibrado, produzindo
milhões de quilos que irão fornecer às fábricas de superior fibra, própria para tecidos finos. Além dessa qualidade, existem outras variedades
também fibrosas de fácil exploração e grande abundância.
Piteira (Foucroyha gigantea, Vent.) - As fibras dessa espécie já são vulgares nas
fábricas de cordoalhas e aniagem, sendo conhecidas na Europa pelo nome de Maurice Hemp. Seu preço varia de
£25 a £30
a tonelada. Há imensos piteirais no Brasil, que estão sendo aproveitados industrialmente. Área: todos os estados da União.
Sanseveria (Sanseveviera Guineensis) - Apesar de ser planta africana, a sua cultura,
como planta ornamental, é feita em larga escala nos jardins e chácaras. Agora é que se começa a sua cultura industrial para o aproveitamento de suas
fibras excelentes.
Planta agreste, encontra nos terrenos sombrios e úmidos os melhores predicados para o seu
desenvolvimento. Uma vez crescida nunca mais se acaba, devido ao risoma que brota e se estende pelo solo. Basta ceifar as folhas para virem outras
no espaço de 8 meses a um ano. Um campo de sanseveria é uma riqueza perene e fácil de explorar. Área - todos os estados da União.
Esponja vegetal (Luffa oegerciaca, Mill.) - Há duas variedades: uma, de frutos muito
grandes e alargados na base, que é a fibra que está à mostra; e outra de frutos menores e oblongos, de tecido muito alvo. O suco é um purgativo
enérgico e o tecido do fruto, depois de bem lavado, é uma esponja excelente que serve para diversos usos de toalete, para o fabrico de chapéus,
cestinhas, sapatos para banhos e outros muitos artefatos.
No Brasil, é muito usada para bucha de espingarda e como esponja para lavar pratos. A sua cultura
é fácil e em três meses começa a frutificar. Torna-se necessário fazer giraus de modo que os frutos fiquem suspensos, senão apodrecem em contato com
a terra. Cada pé produz 60 frutos, que são outras tantas esponjas vegetais. Área: todos os estados da União.
Cipó imbé (Philodendron imbe, Schott.) - Cipó muito conhecido no Brasil, e que se
presta para variados fins. A casca, preta e resistente, serve para preparar cordas fortes, que não sofrem a podridão, mesmo imersas n'água. A parte
lenhosa é aproveitada para fazer cestos, chapéus, balaios etc., e todo o cipó é usado para amarrar cercas. Área: todos os estados.
Cipó peba ou timbó (Ludovia lancifolia, Berg.) - Muito abundante e procurado como
amarrilho de cercas e casas rústicas, constitui o verdadeiro prego de pobre. É tal a sua resistência que vão além de 30 anos as casas cujas peças
são com ele amarradas. Um outro préstimo industrial de muito valor é a variedade de artefatos que se fazem de sua haste, desde os mais finos chapéus
até o grande cesto de conduzir produtos agrícolas das roças. Podem tornar-se uma boa fonte de renda para o país e proporcionar ocupação para
milhares de pessoas, sobretudo mulheres. Área: Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais.
Fibra de paineira miúda (Chorisia, S. P.) - A casca da paineira, depois de batida,
posta em maceração por 5 dias n'água corrente, dá uma boa fibra própria para a indústria de aniagem. E pode substituir a juta e o cânhamo na
tecelagem de sacaria. Como se trata de um vegetal abundante nas florestas, podendo ser cultivado com facilidade, as fábricas poderão estimular a sua
extração como uma matéria de grande valor industrial.
As paineiras silvestres ainda virão representar um papel saliente na tecelagem e na preparação da
pasta para papel, que para esse fim pode servir também a madeira leve e muito fibrosa.
Rami (Bohemeria nivea) - É a mais forte das fibras: o seu fio é quase igual ao da
seda e superior a este quanto à solidez e duração. Constitui uma matéria-prima preciosa para tecelagem; pode-se misturar com a seda, dando um tecido
superior.
O rami é originário da China; e as suas fibras são conhecidas na Europa por "China grass".
Os terrenos do Brasil são apropriados para essa cultura, conseguindo-se perfeitamente oito cortes por ano.
Em Mimoso, estação da Leopoldina Railway, estado do Espírito Santo, há uma grande cultura deste
têxtil, o primeiro e mais importante em todo o Brasil. Com certeza vai ser o mais importante fornecedor desse produto às grandes fábricas da Europa.
Área: Mimoso, Espírito Santo; Teresópolis, estado do Rio de Janeiro.
Vinagreira (Hibiscus bifurcatus) - A vinagreira ou caruru azedo é igual ao quiabo
com as folhas roxeadas e partidas; o seu fruto tem a mesma cor roxa e não contém suco, como o quiabo (Hibiscus esculentum). A haste dessa
planta produz excelente fibra, sedosa e longa, alcançando às vezes três metros de comprimento. A sua cultura é fácil e só exige quatro meses para o
completo desenvolvimento, desde o plantio por meio de sementes até a colheita ou corte das hastes. Área: estado do Rio de Janeiro e capital federal
(N.E.: lembrando que esta era, então, a cidade do Rio de Janeiro).
Linho perini, ou cânhamo do Brasil (Hibiscus sp.) - Produz fibras muito alvas,
resistentes e longas. A sus cultura já foi iniciada com proveito no lugar denominado Rodeio por um médico italiano, o dr. Perini; por isso, a fibra
é mais conhecida pelo nome de seu propagandista. É planta brasileira que vive em abundância no vale de S. Francisco, limites dos estados de Minas
Gerais e Bahia. Tem muita semelhança com a vinagreira. Pode-se cultivar por meio de sementes e o seu ciclo vegetativo é de três a quatro meses
apenas. Área: Minas, Bahia e Rodeio.
Tucum (Bactris setosa - Mart.) - Fibras extraídas das folhas de uma palmeira muito
comum nos alagadiços desde o Amazonas até o Rio Grande do Sul. A extração é feita à mão, e a fibra, igual à lã, é considerada uma verdadeira lã
vegetal. A sua resistência é extraordinária; os índios fazem do tucum redes e cordas para os seus arcos. Há outras palmeiras do mesmo gênero que dão
fibras iguais. Área: todos os estados do Brasil.
Croá ou croatá (Bromelia variegata) - É um gravatá de folhas longas e estreitas,
listradas e cheias de espinhos nos bordos, que vive no sertão dos estados do Norte. A outra variedade, chamada gravatá de rede (Bromelia
sagenaria - Ar. Cam.), só vive no litoral, internando-se até 40 quilômetros no máximo; desta distância em diante, começa o croá ou croatá. As
fibras do gravatá de rede são mais finas e sedosas, prestando-se para tecidos finos; as do croá são mais ásperas e grosseiras, próprias para
cordoalha. As zonas de uma e outra espécie são bem discriminadas: um produz um fruto igual a um ananás comum, que é a Bromelia sagenaria
(gravatá de rede); o outro, um cacho cheio de pequenos frutos vermelhos amarelados, de um bonito aspecto. Área: todos os estados do Norte até São
Paulo.
Palmeira que emerge duma figueira
Foto publicada com o texto, página 46
As frutas
O Brasil possui muitas das mais apreciadas e saborosas frutas, tão delicadas pelo seu gosto
adocicado como agradáveis pelo seu aroma intenso. Sob a ação de um clima quente e úmido, a transformação de glicose em pectose é um fato normal e
constante, fazendo com que as frutas ácidas nos países frios se tornem doces e saborosas nos trópicos. As afamadas laranjas da Bahia, principalmente
as cultivadas na Cabula, tão doces, são atestados vivos da excelência do clima e do solo.
Foi justamente desta qualidade a primeira muda enviada para a Califórnia, a origem dessas imensas
culturas, que fazem a delícia dos ianques e o formidável comércio de frutas na Norte América. A Bahia forneceu a primeira planta que transformou os
alagadiços dessa Califórnia, outrora aurífera, no mais belo pomar que abastece todo sos outros estados americanos e ainda manda, para a velha
Europa, vapores e mais vapores dessas excelentes frutas.
E a Bahia, como o resto do Brasil, não exporta uma laranja e não produz para o consumo de seus
mercados. É que este clima morno, de uma primavera perene, não incita ao trabalho o homem, que prefere muitas vezes esta pobreza voluntária ao
esforço ou a atividade tão compensadora nos países novos e de tantos recursos.
Há diversas variedades de laranjeiras que são cultivadas em todos os estados, sobressaindo sempre
em sabor e tamanho as da Bahia, conhecidas por laranjeira de umbigo, e outra qualidade também superior, lisa. Assim, poderemos citar
as seguintes espécies de laranjeiras: da Bahia, de umbigo, lisa, seleta, seleta branca, pêra, natal, rosa, saúde, mandarim, campista, melão,
imperial, macaé, lima, melancia, toranja, cametá, cravo, china, sanguínea e finalmente laranjeira amarga ou da terra.
Hoje não se cultivam senão aquelas que se obtêm pela enxertia e que começam a frutificar no
primeiro ano; as de semente só dão frutos do sexto ano em diante. A diferença que se nota entre os pés provenientes da enxertia e dos das sementes,
é que aqueles são de pequeno porte e os frutos são em menor número do que estes, que tomam grande desenvolvimento e carregam de um modo
extraordinário.
A sua exportação para o estrangeiro é quase nula e não tem, por assim dizer, passado de
tentativas. Ainda não se tratou de formar tipos especiais para a exportação e, em geral, as qualidades que existem são de pouca atração para os
mercados exigentes, excetuando-se as de "umbiguda", da Bahia, que podem competir com as melhores da Califórnia. O seu preço nos mercados, em
primeira mão, varia de mil réis a dois mi réis cada cento, quando adquiridas dos lavradores; no comércio valem de 6$000 a 10$000.
Da laranja, fabrica-se um vinho delicioso muito estomacal e saudável que conserva intacto o gosto
da fruta. Em várias localidades do Norte e dos estados de Minas, Rio e S. Paulo, faz-se regular comércio desta agradável bebida, que mais tarde se
tornará um sucedâneo do vinho. Das cascas e flores da laranja-da-terra extrai-se uma essência conhecida - Neroli - muito empregada na
perfumaria. Das flores consegue-se uma água destilada, de vasto emprego na Medicina como calmante. As folhas, quando em infusão, constituem um
excelente chá aromático e sudorífico, de grande resultado nos resfriamentos e bronquites.
O abacaxi é uma outra fruta muito saborosa e saudável. As melhores qualidades são de Pernambuco,
as quais têm um sabor especial e um formato cônico, diferente das outras localidades. Vai tendo um certo incremento a exportação do abacaxi, que
futuramente se tornará um artigo importante de intercâmbio.
Esta fruta contém um fermento igual à papayotina; por este motivo é de vantagem usar-se às
refeições como fruta saudável e de suco digestivo. Com os frutos, prepara-se uma bebida muito agradável e confortante, deixando-os em maceração
n'água durante três dias; depois coa-se o líquido, junta-se açúcar e engarrafa-se, amarrando-se bem a rolha; do contrário, não resiste. No quinto
dia, pode-se tomar a deliciosa bebida espumante, igual ao champanha, de tanta vantagem no tempo de verão como refrigerante e estomacal. Os frutos em
fatias prestam-se perfeitamente para compotas, artigo de exportação e de grande consumo no país. Os sorvetes e abacaxi são sempre preferidos pelos
cariocas e turistas, amantes das frutas tropicais.
Do ponto de vista econômico, a cultura do abacaxi deixa muito resultado. Cada hectare de terreno
comporta bem 10.000 plantas, que podem produzir 8.000 frutos, do valor de cem réis cada um na porta, ou 800$ de renda por hectare. A cultura é fácil
e a produção de ano a ano. Futuramente, quando forem aproveitadas as excelentes fibras das folhas do abacaxi, obter-se-á duplo resultado. Os
terrenos à beira-mar prestam-se perfeitamente para essa cultura. No Rio de Janeiro, cada fruto, no tempo de colheita - dezembro a janeiro - custa de
200 a 300 réis, conforme o desenvolvimento; e esse comércio é feito em carroça, pelos próprios lavradores ou intermediários. Ainda existe uma
importante fábrica de conservas que compra qualquer quantidade a preços mais reduzidos.
As bananas são outros frutos que encontram nos terrenos do Brasil os melhores predicados para o
seu desenvolvimento, elevada produção e sabor agradável. Já o estado de S. Paulo cultiva em grande escala, nas encostas da serra do
Cubatão, a bananeira denominada caturra, anã ou nanica, que cresce pouco e produz enormes
cachos, com uma média de 150 bananas. Quando a colonização italiana era mais volumosa no estado, toda a produção era consumida pelos colonos; porém,
com a sua diminuição evidente, a exportação daquela banana é feita para a República Argentina, no valor aproximado de 3.500:000$. Esta espécie de
bananeira é a mais rendosa, em razão de seus cachos volumosos que contêm grande porção de frutos.
Depois dessa qualidade, a mais cultivada é a denominada banana prata que se encontra, em
maior porção, nos mercados, apesar dos frutos não serem dos melhores.
A banana ouro é muito doce e saborosa; a maçã, de um gosto delicioso e aromática,
sendo preciso, porém, ser colhida quando ligeiramente amadurecida, para a polpa não ficar empedrada, como dizem os roceiros.
A banana-da-terra é ótima e nutritiva; come-se frita, em fatias, ou cozida com um pouco de
açúcar e manteiga, constituindo um prato o mais saboroso, superior aos melhores doces de confeitarias. Os cachos são enormes, a tal ponto que a
bananeira não resiste ao peso do seu próprio produto e, ao primeiro vendaval, cai, se não se escorar, por meio de espeques, o seu tronco. Cada cacho
tem, em média, 200 frutos, quando a terra é nova e bem humosa; e há cachos tão grandes que um homem, mesmo valente, não os levanta do chão.
A banana pacova é a maior da espécie, mas os seus frutos são poucos e os cachos pequenos.
Ainda há muitas outras variedades; banana da Índia, figo, melão, Pará, roxa etc. etc. Há uma variedade denominada S. Tomé, que é muito usada,
assada, para alimentar crianças de tenra idade, por causa de sua polpa doce e de fácil digestão e por possuir grande poder nutritivo.
Infelizmente, a exportação de bananas do Brasil é muito limitada; apesar de bons mercados no Rio
da Prata, somente os estados de S. Paulo, Santa Catarina e Paraná exportam para a República Argentina. Em todos os estados, se cultivam as
bananeiras para consumo local; e não há nenhuma residência no interior do País que não tenha a sua touceira do apreciado "fruto do paraíso".
Não existindo a cultura intensiva, essas touceiras no terceiro ou quarto ano deixam de produzir
cachos, devido ao pouco alimento, por ficarem muito na superfície da terra as suas raízes. As covas precisam ser bem fundas e todos os anos é
necessário enterrar bem os renovos.
A farinha de banana é um artigo de futuro e o seu consumo tende a aumentar de ano para ano. Também
a banana passada se pode tornar uma mercadoria de grande valor comercial, pelo fato de conservar todos os predicados da fruta madura. Do seu tronco
ainda se aproveitam as fibras para a confecção de tecidos para gravatas e outros artefatos.
A bananeira é planta extraordinariamente variada: do tronco, tira-se o enxoval do pobre, e a sua
seiva é de muito valor medicinal no tratamento da tuberculose; o fruto é o pão e a carne; os grelos, o legume; as folhas, os pratos, a toalha, os
guardanapos; a fibra, a roupa; a polpa, o vinho e o vinagre etc. O fruto maduro, o pão dos primeiros homens, come-se cru, cozido, frito ou assado.
Nas zonas agrícolas, o preço do cacho é de 200 a 400 réis conforme a sua robustez; mas da banana da terra, custa mil réis cada um. Nos mercados
varia de 1$ a 2$ cada cacho das bananas comuns, e 3$ a 5$ das melhores, como da terra e S. Tomé.
As goiabas merecem uma referência particular pelo seu extraordinário papel na economia do país. O
afamado doce de goiaba ou goiabada é uma indústria importante no município e cidade de Campos e na Pesqueira, em Pernambuco. Felizmente, ao lado da
fruta está o açúcar, de modo que a manufatura de uma ajuda a consumir o outro.
Sobretudo para o Brasil, onde há a indústria sacarina aperfeiçoada, de produção às vezes superior
ao consumo local, a manufatura de suas frutas é uma necessidade, como um meio protetor do gasto do açúcar. Em lugar de exportar as frutas em
natureza ou o açúcar bruto, será de melhor aviso preparar as compotas e outros doces adequados.
O marmelo, que só se desenvolve nos planaltos das montanhas elevadas ou nos campos de Minas,
também tem sua manufatura, isto é, a marmelada, de muita procura e consumo nas cidades, como um excelente doce muito nutritivo e agradável. Ao
contrário das goiabeiras que vivem nas baixadas quentes e arenosas, os marmeleiros gostam dos climas suaves e temperados.
O abacateiro produz boa fruta polpuda, de muito valor nutritivo - o abacate. Com ele se prepara um
creme delicioso que seria muito apreciado no estrangeiro, se se pudesse exportá-lo, o que sem dúvida virá a acontecer mais tarde.
As apreciadas mangas são bem conhecidas, principalmente as oriundas das ilhas de Itamaracá, em
Pernambuco, e Itaparica, na Bahia. As melhores qualidades são as seguintes: rosa, espada, carlota, augusta etc. Quem visita o Rio de Janeiro, logo
recebe a impressão magnífica das colossais mangueiras, espalhadas por todo o Distrito Federal e de ramagens tão desenvolvidas que algumas podem
abrigar centenas de pessoas.
A sua produção não é constante, quando plantada de semente; por este motivo, o seu preço nos
mercados é elevado. As melhores qualidades vêm de Pernambuco e Bahia, que exportam também para a Europa. Há nos estados de Minas, zona da mata e Rio
de Janeiro grandes culturas de mangueiras que deixam resultado aos lavradores. No Porto Novo há uma grande fazenda que vende, à porta, mais de
30:000$ de mangas. O seu preço, no produtor, regula de 10$ a 20$ o cento, e nos mercados de 2$ a 4$ a dúzia.
A fruta-do-conde, conhecida no Norte pelo nome de pinha ou ata, é muito saborosa, saudável e de
fácil digestão. Nos arredores do Rio de janeiro cultivam-se com certo incremento pelo grande resultado dessas frutas. Prosperam perfeitamente nos
terrenos arenosos de beira-mar, e levam três anos para começar a produzir. Cada fruteira produz anualmente 50 frutos, que são vendidos na porta por
dez mil réis, o que já é um lucro apetitoso. No mercado custam de 4$ a 10$000 a dúzia.
Esta espécie frutícola é muito perseguida por uns insetos denominados brocas, que não
deixam a fruta se desenvolver, perdendo-se grande quantidade em cada pé. Por esse motivo, os fruticultores não se alargam em suas plantações, com
receio da praga. Há outras variedades que não têm os mesmos atrativos de sabor: o beribá, a fruta-da-condessa, a pasmada etc.
O abieiro produz boa fruta cuja polpa, que circunda as sementes, é um verdadeiro creme natural.
Fruta tropical, tem a sua origem no vale do Amazonas, onde toma grande desenvolvimento. Apesar da excelência de seu sabor, não é considerada fruta
comercial pelo fato de não se poder conservar.
O sapoti é outra fruta deliciosa, muito cultivada nas chácaras das grandes cidades. Não amadurece
no pé, sendo necessário colhê-lo ainda verde, conservá-lo por longos dias, em caixa, para amadurecer.
As limas, tão abundantes, são frutas medicinais, usadas como diuréticas e refrigerantes. Há duas
variedades; lima "da Pérsia" e de "umbigo". O limão azedo é de muita procura nos mercados, alcançando às vezes preços altos, no tempo do verão. É
empregado na confecção de limonadas refrigerantes, de grande consumo nas cidades do litoral, na época estival. O limão doce, que é um produto de
enxertia, também é uma fruta muito diurética e saudável, e com ele se pode fazer grande comércio pela sua conservação e grande potência produtiva,
pois as fruteiras ficam abarrotadas.
O caju, tão comum na costa, principalmente no Norte, é uma fruta muito suculenta, aproveitada para
"cajuadas", que são sempre apreciadas no tempo do verão. O suco dessa fruta é considerado depurativo e algumas pessoas que sofrem de moléstias de
pele comem os frutos, dos quais se prepara também um vinho de caju, muito apreciado, e que constitui importante artigo de comércio no Ceará e outros
estados do Norte.
Justamente em janeiro entram em maturidade os cajus, ora amarelos, ora vermelhos. O cajueiro dá
muito bem nas restingas; e nos campos de Minas há uma variedade muito saborosa e nativa, com o pé rasteiro e os frutos grandes. Pode-se preparar o
fruto seco ou em compota. Os médicos receitam o vinho de caju como veículo dos sais de mercúrio e ioduretos. Bastariam as deliciosas cajuadas para
dar valor a essa fruta tropical.
As jabuticabas, tão doces, são filhas dos trópicos e encontram-se em abundância nas florestas. A
sua polpa parece um creme natural, tal a delicadeza e finura da massa saborosíssima. É uma pena que fruta tão gostosa não possa resistir ao
transporte. As jabuticabas arruínam-se completamente em 24 horas, depois de colhidas.
O jenipapo é um fruto muito aromático, que se presta antes para licores, vinhos e xaropes do que
para comer. O licor de jenipapo é um néctar com um aroma especial da fruta e muito estomacal. Há muito no Norte, à margem dos rios e junto à costa.
A pitangueira é das praias e forma um matagal emaranhado que se cobre dos pequenos frutos acídulos
e de cor vermelha, como pontos rubros no verde pálido. Muitas pessoas apreciam as pitangas por serem ácidas, mas a sua melhor aplicação é no preparo
de geléias e doces.
O bacupari é uma fruta silvestre, de cor vermelha, de pouco suco adocicado. Há uma variedade de
grandes frutos que são muito saborosos. No Pará há o bacuri, que é a mesma fruta e se presta para compota, sendo muito apreciada nas melhores mesas.
Infelizmente, a sua pequena quantidade mal chega para o consumo local, tal é a sua procura pelos apreciadores.
O maracujá, de que há muitas qualidades, tem uma polpa ácida e indigesta. Presta-se perfeitamente
para doces secos, feitos de seu mesocarpo carnudo.
A guabiroba do campo, tão comum em Minas, S. Paulo, Goiás e Mato Grosso, é um fruto muito gostoso
e abundante. A planta sub-arbustiva, quase rasteira, carrega-se de frutos pequenos e amarelos. O butiá do Norte, o poquaçu e outras muitas frutas
indígenas são saborosas para se comerem e, ao mesmo tempo, prestam-se para compotas.
As videiras vão tendo incremento no RIo Grande do Sul, onde já se preparam vinhos superiores que
são exportados para o Rio de Janeiro. Em S. Paulo, Minas e Rio de Janeiro já existe também plantio regular de videiras pra mesa e para vinhos. Além
dos vinhos de videira, preparam-se outros de várias frutas do país: de laranja, de abacaxi, de caju, de araçaí (palmeira abundante no Amazonas), de
jenipapo, de bacaba (palmeira do Amazonas), de cajá etc.
Seria preciso muito espaço para enumerar todos os produtos confeccionados com as frutas do Brasil.
Mais tarde, a sua exportação, in natura e sob a forma de compotas, tomará tal desenvolvimento que a fruticultura se tornará um dos mais importantes
ramos de agricultura. E o país tem todo o interesse em incrementar essa cultura, como fator econômico importante para o consumo do açúcar na forma
de calda para conservação das frutas. É um meio fácil para exportá-lo, visto que o açúcar granulado tem pouco valor no exterior.
Só o comércio de bananas pode representar uma verba extraordinária, principalmente se um sindicato
tomar a iniciativa de adquirir terrenos e constituir uma flotilha de pequenos vapores apropriados para o seu transporte. Com as boas qualidades de
bananas que se dão tão bem no país, o lucro no negócio seria muito compensador e daria mais uma importante indústria ao Brasil, que precisa
valorizar tanta riqueza abandonada. |